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CAPÍTULO 2 – SOCIONOMIA

2.2 Sociatria

2.2.2.4 As quatro universais de psicoterapia

2.2.2.4.4 Cosmos

Numa sessão de Psicodrama, quando consideramos as razões humanas por detrás dos sentimentos, pensamentos e ações de uma pessoa, nós a escutamos com mais atenção. Compreendemos mais claramente que as pessoas são produtos de suas experiências e das relações entre si. Nossas vidas fazem de nós o que somos e como somos. A escuta atenta é uma das primeiras tarefas de uma sessão. O Psicodrama é uma educação e uma terapia, dentro e sobre as relações.

Para Moreno (1997), o homem é um Homem Cósmico e não só um homem social como em Karl Marx ou um homem individual como para Sigmund Freud. Tal como nossos ancestrais buscaram nas fábulas, mitos e contos de fadas recursos para compreender e buscar as mudanças podemos buscá-las nas técnicas excedentes da cosmodinâmica. No Psicodrama não existe sexo, idade, vida ou morte: os vivos morrem e os mortos vivem. É a arte excedente aplicada à cosmodinâmica.

Para o autor, o cosmo, incluindo o Ser, é imanente e não contraditório: as oposições e respectivos movimentos são externos ao homem. O movimento desse mundo é de auto- realização, aves da superação dos transtornos, amarras e obstáculos, os seres que nele habitam, sãos seres ontológicos positivos, postados no caminho da realização da plenitude.

Segundo Moreno (1959, p.26), “Os novos valores são de natureza cosmodinâmica. As novas forças vitais do homem refluirão de suas relações cósmicas. A próxima guerra tal como será vivida pelo homem será a luta pelo cosmo. A nova solução é uma nova ordem mundial terapêutica, útil”.

A filosofia, criativamente aplicada por meio de técnicas, une arte e ciência. Se aceitarmos o conceito de um drama cósmico contínuo, poderemos considerar também que a humanidade faz parte desse drama. Não importa onde estejamos o drama cósmico está à nossa volta e fazemos parte dele.

Weil apud Moreno (1959, introdução) coloca a hipótese de que: “O cosmo em devir é a primeira e última existência e o valor supremo, apenas atribuindo sentido a qualquer partícula do universo, seja homem ou protozoário, se houver a pretensão de serem verdadeiros, sendo aplicáveis à teoria do cosmo”.

A cosmovisão moreniana está fundamentada no monismo e na imanência. Santos (1994, p.40) nos faz a seguinte referência em relação à cosmovisão:

O monismo é um sistema de pensamento que reduz a multiplicidade das coisas a uma unidade fundamental. Na concepção pré-socratiana o único é a substância (archê), tudo é Um. Parmênides audazmente deslocou-o da substância para o Ser, que é possível de ser pensado ao contrário da multiplicidade. O ser é para ele uno, contínuo, indivisível imóvel, incriado e eterno. Spinoza, continuador desse modo de pensar, sustenta que a substância enquanto tal não comporta nenhuma falta negativa e que coisas de natureza contrária não podem existir no mesmo indivíduo, senão haveria destruição do mesmo. Para o filósofo holandês a negatividade, a morte, vêm de fora, de coisas externas. A substância, o mundo sagrado, age sobre si mesmo, visto que nada existe fora dele. A causa imanente produz efeitos em si mesma. E Deus enquanto tal é substância infinitamente infinita que se auto-reproduz e produz todas as coisas necessariamente.

O cosmodinâmico situa-se em posição intermediária entre o psicodinâmico, de natureza individual e o psicodinâmico relativo à humanidade. Segundo Loch (1982, p.36):

Representa a possibilidade que o homem tem de criar, pois, no cosmo psicodramático, ele pode ser um animal, uma planta, uma estrela, participar de batalhas passadas e de viagens espaciais. A experiência, decorrente deste treinamento psicodramático, pode ser extrapolada para outras situações existenciais.

A natureza primordial da postulação do caráter liberador da ação no homem retorna a cada geração e assegura a integração do homem no cosmo, a harmonia da realização do homem com a necessidade eterna, proporcionando a eternidade dos ciclos cósmicos, numa repetição diferencial, mas dentro do sentido imanente do mundo.

O contexto psicodramático assim concebido, portanto, está longe de conduzir a uma evasão da realidade. Antes, é um convite à Criatividade e ao compromisso criador. E isto se consegue, conforme Loch (1982, p.36) “através da fé do homem na infinita criatividade do cosmo, porque encarna, no mundo psicodramático, aquilo que, nesse mundo pode chegar à realidade”.

Moreno destaca também a temática da ansiedade cósmica na formação da identidade. Segundo o autor (1983, p.199):

A ansiedade é cósmica e é provocada pela fome cósmica de manter a identidade como universo inteiro. Esta fome cósmica de manter a identidade pela manutenção (ou estabelecimento) de uma identidade é aquela em que os homens tentam cobrir a distância entre o que desejam ser (imagens que fazem de si mesmos para algum momento futuro) e o que são. Estas imagens são compostas de diversas transformações segmentais que a pessoa deveria atravessar para tornar-se. Neste caso, a ansiedade relaciona-se como o sentimento difuso de que isto talvez jamais se torne possível; ou de que a vida é curta demais para que os segmentos consigam chegar a formar um padrão integrado do si - mesmo no universo.

Numa sessão psicodramática coisas mágicas podem acontecer quando se está conectado ao drama cósmico. O fenômeno cósmico traz a inspiração para que se conecte o drama pessoal da sessão com o drama universal, o universal entrará em sintonia com o pessoal.

Quando Moreno pediu que nos considerássemos não apenas como indivíduos ou seres sociais, mas também como seres cósmicos, ele estava enxergando muito além das paredes do consultório, numa visão do cosmo grandioso. Estava sugerindo que somos parte do todo, uma parte essencial, embora pequena, de um sistema maior em funcionamento. O que faz com que nossa pequenez seja mais significativa é o fato de que somos criadores. Temos a capacidade de atuar, pensar e sentir.

Juntamente com essa capacidade está a nossa própria responsabilidade, com o mundo ao nosso redor e com os céus que circundam nosso planeta, trazendo uma visão holística do universo.

O método psicodramático é construído de tal forma que pode pesquisar ou tratar o comportamento imediato dos indivíduos em todas as dimensões... como é impossível penetrar diretamente no espírito do homem e ver e reconhecer o que ali se passa, o Psicodrama procura trazer “para fora” o conteúdo espiritual do indivíduo e fazê-lo objetivo em uma situação concreta e controlável.

Numa sessão psicodramática, sempre se está atento para a observação das menores minúcias dos acontecimentos nos espaços físicos, psíquicos e sociais que devem ser pesquisados, tornando visível o comportamento. O Psicodrama se aproxima da própria vida.

O Psicodrama vem se transformando, ao longo das últimas décadas. Profissionais da área clínica e pedagógica foram adaptando esta metodologia para o atendimento processual em consultórios, empresas, escolas e na comunidade. Dessa maneira, os participantes recriam no grupo seus modelos de relacionamento, confrontando e sendo confrontados com as diferenças individuais, condição necessária para aprenderem a distinção entre sua experiência emocional e a dos outros, sendo cada um deles agente terapêutico dos demais. Os Psicodramatistas são profissionais de diferentes áreas: médicos, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, profissionais de Recursos Humanos, todas as pessoas que em sua prática profissional trabalham com grupos.