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CAPÍTULO 2 – SOCIONOMIA

2.3 Sociometria

2.3.3 Sociograma

O complexo processo de organização e reorganização de grupos reais deve ser composto por uma miríade de laços e escolhas. Grupos formados espontaneamente podem parecer exemplificar a auto-organização, mas na realidade, os grupos são co-organizados pela interação

de muitos processos contraditórios. Em diferentes aspectos e em diferentes momentos podemos conceber as pessoas como sendo atratores-repelidores no terreno interpessoal. Cada ação e cada escolha representam o resultado conjunto de uma multiplicidade de processos pessoais e grupais. Os Sociogramas são representações visuais do processo de escolhas interpessoais entre as pessoas num grupo.

No Sociograma, cada pessoa está conectada às demais por uma flecha codificada denotando escolha ou rejeição. Os dados do Teste Sociométrico revelam informações sobre o grupo, inclusive a existência de subgrupos e a identificação de lideranças unindo-as às outras. As configurações visuais entre os membros do grupo refletem a maneira pela qual os membros se organizam ao redor de um critério particular, de forma objetiva, de modo que mesmo aqueles não familiarizados com o método sociométrico podem ter um bom entendimento sobre o grupo a partir deste. Com o uso do teste, os padrões de relacionamento podem ser identificados, e as intervenções, para promover as conexões que podem ser planejadas.

As escolhas são lidas e, de posse dos dados obtidos, procede-se à confecção dos Sociogramas: o das mutualidades e o das incongruências. Esses gráficos consistem numa série de círculos concêntricos, tantos quantos forem as posições sociométricas encontradas.

No Sociograma das mutualidades, coloca-se no círculo central o elemento que detém o maior número de mutualidades, esse indivíduo é a estrela sociométrica do grupo. No círculo mais periférico será inserido o detentor do menor número de mutualidades, ou nenhuma mutualidade e, nos círculos intermediários, situam-se os elementos que obtiveram mutualidades intermediárias nessa rede vincular. Os símbolos utilizados em um Sociograma são: o círculo para as mulheres e triângulo para os homens. As relações entre os indivíduos (escolha, rejeição, reciprocidade) são desenhadas sob a forma de flechas entre esses triângulos e círculos.

Fica, então, retratada a rede sociométrica dos vínculos grupais, onde a posição de cada elemento adquire sentido a partir da perspectiva da totalidade o grupo, denunciando as necessidades de intervenção na situação grupal e ou individual.

O Sociograma, representação gráfica dos resultados do Teste Sociométrico, pode revelar as seguintes estruturas:

1. Cadeia: quando as pessoas se elegem sucessivamente levando a uma corrente ininterrupta de transmissões afetivas com a última escolhendo a primeira e fechando a

cadeia. Esta configuração dá ao grupo maior plasticidade e capacidade de estruturar configurações mais maduras;

2. Triângulo: quando três pessoas se elegem mutuamente. Esta é uma configuração sociométrica de difícil abordagem e penetração, pois o maior problema se apresenta quando examinamos a estrutura dinâmica interna do triângulo, onde os sentimentos negados e projetados sobre o vínculo grupal aparecem como parte dos três entre si e a fidelidade os protege contra si mesmos. Para se lidar com situações triangulares necessita- se de cautela e habilidade;

3. Quadrado: quando quatro elementos se elegem mutuamente por pelo menos dois entre eles;

4. Estrela: o indivíduo que detém o maior número de mutualidades; 5. Isolados: pessoa sem mutualidade de escolha;

6. Ilhas: pares ou pequenos grupos não escolhidos pelos demais colegas do grupo.

No Sociograma de rede, as pessoas de um grupo são designadas com círculos numerados e ligadas com linhas e colunas conforme suas escolhas que se podem ser reforçadas pela escolha recíproca.

Moreno trouxe inúmeras contribuições para a ciência e para a humanidade, já que chamou a atenção para o homem na sociedade, não de forma superficial, mas, inserido nela. Além de criar uma teoria com conceitos inovadores, ainda ousou questionar e lapidar conceitos apresentados por pensadores renomados como: Rousseau, Freud, Bergson, Froebel, Marx, Nietzsche, Kierkegaard, Pestalozzi e outros.

Os instrumentos e as técnicas apresentadas por Moreno permitem que nos vejamos como também aos demais, como seres humanos complexos e não meras “peças de engrenagem” sem vontade própria. Seres humanos que carregam consigo alegrias, tristezas, frustrações, prazeres, ansiedades, empatias, apatias, transferências. Seres que carregam toda essa afetividade e emoção sem negar o racional, o intelectual e que, principalmente, conseguem conviver entrelaçado na “teia de aranha” que se dá nas inter-relações, no emaranhado e no lado oculto da “eras” que crescem junto com a nossa história.

Através da reflexão, observação e reconstrução de nossos Papéis podemos arriscar dizer se somos pessoas minimamente realizadas, que transportam a alegria e a satisfação ou daquelas frustradas que levam o rancor por onde passam.

Vivemos numa sociedade que privilegia o racional, e menospreza a afetividade, as emoções. Se negarmos a afetividade como poderemos ser pessoas realizadas, felizes? Como poderemos compartilhar os bons e os maus “momentos” com os que nos cercam? Como poderemos manter as inter-relações sociais, grupais, sem sermos rejeitados ou tolerados?

Moreno, ao trazer no “aqui-agora” a valorização do presente, de maneira a não menosprezarmos, mas também, não enfatizarmos com tamanha veemência as frustrações do passado nem as ansiedades do futuro nos mostra o caminho para nossa auto-realização e conseqüentemente para melhores relações sociais.

Ao chamar a atenção para a Espontaneidade e a Criatividade, nos dá a chave para sermos indivíduos mais livres e autênticos, contribuindo para desarmar as Conservas Culturais que podem nos impedir de nos abrirmos para novas experiências, auto-descobertas, novos olhares (sem os óculos viciados que nos são impostos).

Sendo o homem habilitado a construir a partir do caos, podemos, a partir de tudo que Moreno nos ensinou, construir um mundo melhor para nós e os que nos cercam, aparando as “eras” que nos cegam e nos prendem às “paredes” sufocantes e enxergando com mais clareza, mais brilho nos olhos e no sorriso, nas inter-relações e na construção daquilo que almejamos para nós e para quem amamos.

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CAPÍTULO 3