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Influência da teoria rogeriana para a educação

CAPÍTULO 1 – AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E DINÂMICAS DE

1.4 O campo semântico do vocábulo grupo

1.6.5 Carl Rogers e a abordagem centrada na pessoa

1.6.5.2 Influência da teoria rogeriana para a educação

Uma das influências essenciais da teoria Rogeriana para a Educação é a autenticidade tanto do facilitador como do aprendiz. Quando o facilitador se apresenta de maneira autêntica, sem a ostentação de uma aparência que não é a dele, a sua eficiência no processo de ensino e aprendizagem é muito maior, trazendo de maneira clara ao aprendiz e de maneira compartilhada para com ele, os sentimentos e a experimentação desse processo, caminhando para um encontro pessoal direto com o aprendiz, fundamentado na relação de pessoa-a-pessoa. O autor (1972, p.214) nos traz o seguinte relato em relação à autenticidade:

Tenho uma sensação de prazer quando ouso comunicar a minha autenticidade a outrem. Isso está longe de ser fácil, em parte porque o experimento muda a cada instante e, ainda por causa da complexidade dos sentimentos... no entanto, é experiência muito mais satisfatória poder comunicar o que há de real em mim. Sinto-me genuíno, espontâneo, vivo.

Nessa perspectiva o professor é uma pessoa real, sem a necessidade da imposição do conhecimento, numa relação de apreço ao aprendiz, aos sentimentos e opiniões do mesmo, num processo de aceitação do outro enquanto indivíduo com características próprias e não como massa, possibilitando assim melhor relacionamento entre o facilitador e o aprendiz.

Rogers em sua obra Liberdade para Aprender contesta o papel da escola no processo de aprendizagem, afirmando que o que a escola faz na sua prática é ensinar enquanto instrução e de maneira exageradamente valorizada, afirmando que:

Ensinar significa instruir. Pessoalmente, não estou interessado no outro sobre o que deveria saber ou pensar. “Comunicar conhecimento ou habilidade” – Minha reação é: porque não ser mais eficiente usando um livro ou atividade programada? “Fazer saber” – aqui fico com o cabelo arrepiado; não tenho vontade de fazer ninguém saber coisa nenhuma. “Mostrar, guiar, dirigir” – parece-me que se tem mostrado, guiado e dirigido a gente demais. Assim chego a conclusão que tem significado o que eu disser. Ensinar é, a meu ver, atividade relativamente sem importância e enormemente supervalorizada (1972, p.103).

Rogers, na mesma obra acrescenta que o ensinar não necessariamente leva ao aprendizado, colocando que enquanto suposição seqüencial afirmativa está obviamente errada, já que nem tudo que é ensinado é aprendido e que nem tudo que é apresentado é assimilado, esclarecendo que:

Ensinar e transmitir conhecimento tem sentido num meio imutável. Eis porque essa tem sido a sua questão inquestionada durante séculos. Mas se há uma verdade em relação ao homem moderno é que ele vive num meio continuamente em mudança... enfrentamos, ao meu ver situação inteiramente nova em matéria de educação, cujo objetivo, se quisermos sobreviver, é o de facilitar a mudança e a aprendizagem. O único homem

que se educa é aquele que aprendeu como aprender; que aprendeu como se adaptar e mudar; que se capacitou de que nenhum conhecimento é seguro, que nenhum processo de buscar conhecimento oferece uma base de segurança. Mutabilidade, dependência de

um processo, antes que de um conhecimento estático, eis a única coisa que tem certo sentido como objetivo da educação, no mundo moderno. Vejo a facilitação da

aprendizagem como o fim da educação (1972, p.105).

Na educação rogeriana, o trabalho do educador, assim como o do terapeuta, está intrinsecamente envolto em valores, já que a escola é uma das instituições pela qual a cultura de um determinado grupo/sociedade transmite seus valores de uma geração à outra.

O autor ressalta também que para que haja um clima propiciador para a aprendizagem qualitativa se az necessário que ocorra o apreço, a aceitação e a confiança. Quando a aprendizagem se dá caracterizada por esse clima o facilitador pode aceitar o temor e a hesitação do aluno, quando ele se acerca de um novo problema, tanto quanto à sua satisfação ao ter êxito, aceita com mais segurança uma ocasional apatia do estudante, sentimentos pessoais que possam vir a perturbar o aprendizado, aversão à autoridade e o interesse por sua própria adaptação.

Rogers defende que para que ocorra uma aprendizagem espontânea se faz necessário que o aluno esteja em contato com um problema significativo e possa enfrentá-lo. Transfere para a Educação e para o professor as três condições necessárias para a criação do clima ideal na relação entre o terapeuta e cliente, incluindo:

1- A importância da autenticidade e da ausência de máscaras na atuação do professor,

podendo não gostar do que o aluno fez, mas nem por isso, supondo que o ato é subjetivamente mau ou que o aluno é mau.

2 – A aceitação e valorização do estudante por parte do professor, avaliando o aluno na

3 – A relevância da consciência empática do professor para compreender as reações do

aluno, a maneira pela qual esse aluno vê o processo de aprendizagem. O autor alega que esse tipo de compreensão quase nunca se faz presente na sala de aula.

Para o autor, a sala de aula caracterizada por essas três condições, proporciona ao aluno um clima propício para o aprendizado significativo, ocorrendo mudanças pessoais, na direção de maior liberdade e espontaneidade e “um indivíduo que vive nesse clima estimulante pode escolher livremente qualquer direção, mas na verdade escolhe caminhos construtivos e positivos. A tendência à auto-realização é ativa no ser humano” (1983, p.50).

Para Rogers somos seres em relacionamento. Afirma que não seja “coisa fácil de se fazer... mas que acho que é algo que vale a pena e é algo que espero facilitar” (1972, p.207). Destaca que para que haja um bom relacionamento interpessoal, precisamos saber ouvir, não pela obrigação, mas pelo prazer de realmente ouvir alguém em profundidade, como algo universalmente verdadeiro. Segundo o autor (1983, p.5):

Quando digo de ouvir alguém, estou me referindo evidentemente a uma escuta profunda. Quero dizer que ouço as palavras, os pensamentos, a tonalidade dos sentimentos, o significado pessoal, até mesmo o significado que subjaz às intenções conscientes do interlocutor. Em algumas ocasiões, ouço, por trás de uma mensagem que superficialmente parece pouco importante, um grito humano profundo, desconhecido e enterrado muito abaixo da superfície da pessoa.

Fala que foi ouvindo as pessoas que aprendeu tudo o que sabe sobre as pessoas, a personalidade e as relações interpessoais, ressaltando que existe ao mesmo tempo a satisfação de ouvir esta pessoa e a satisfação de sentir o próprio eu em contato com uma verdade universal. Faz referência também ao prazer proporcionado ao ser ouvido, sem necessariamente a presença de julgamentos, diagnósticos, apreciação ou avaliação. Através desse ser ouvido, sentimentos antes completamente apavorantes se tornam suportáveis, voltando a fluir em cursos relativamente límpidos.

Através dos verdadeiros relacionamentos interpessoais podemos suscitar o crescimento e as mudanças em todos os envolvidos. O estar em relacionamento com outras pessoas enquanto movimento enriquecedor e engrandecedor.

Na temática das relações interpessoais envolvendo a aprendizagem, Rogers faz referência ao trabalho em grupo como:

Um dos mais eficazes meios já descobertos de facilitar a aprendizagem construtiva, o crescimento e a mudança – nos indivíduos como nas organizações por eles compostas – é a experiência intensiva do grupo. Conhecida por uma variedade de termos (T-group, treinamento de laboratório, treinamento de sensibilidade, grupo de encontro básico, seminário) tem ela, subjacentes, tema e características comuns (1972, p.281).

Nos trabalhos em grupo se tornam transparentes as experiências individuais de frustração, desconfiança, raiva, desespero, assim como também as experiências gratificantes e nessa inter- relação grupal tanto o grupo como o indivíduo experienciam esses sofrimentos como parte de um processo no qual participam e no qual confiam de alguma forma, ocorrendo uma transformação no critério da escolha de valores feita pelos participantes desse grupo. Valores fundamentados no autoritarismo tendem a enfraquecer e os valores satisfatórios e plenos de sentido tendem a ser reforçados, encontrando-se o centro de avaliação na pessoa e não fora dela.

No convívio em grupo, o indivíduo passa a determinar predominantemente, a partir de um conjunto de regras que têm base interna, pessoal. Numa experiência grupal o indivíduo se torna menos rígido e mais sociável, sem que para isso, se anule a liberdade de escolha individual.

Alguns princípios de aprendizagem na teoria rogeriana

a) Os seres humanos têm natural potencialidade de aprender;

b) Na aprendizagem significativa o estudante percebe que a matéria se relaciona com seus próprios objetivos;

c) A aprendizagem que envolve mudança na organização de cada um e na percepção de si mesmo tende a suscitar reações;

d) As aprendizagens envoltas a transformações do próprio ser são mais facilmente percebidas e assimiladas quando as ameaças externas são reduzidas ao mínimo;

e) Quando a ameaça ao “eu” se dá de maneira fraca, pode-se perceber a experiência da aprendizagem sob formas diversas;

f) A aprendizagem mais significativa se adquire por meio de atos;

g) Quando o aluno participa responsavelmente do seu processo de aprendizagem, a mesma é facilitada;

h) A aprendizagem auto-iniciada que envolve toda a pessoa do aprendiz, seus sentimentos e sua inteligência é mais durável e impregnante;

i) Quanto à autocrítica e à auto-apreciação são básicas e a avaliação feita por outros tem importância secundária, a independência, a criatividade e a autoconfiança são facilitadas;

j) A aprendizagem socialmente mais útil, no mundo moderno, é a do próprio processo de aprendizagem, numa contínua abertura à experiência e a incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança.

Pelos critérios acima descritos em relação à Educação para Rogers, descrevemos o professor enquanto facilitador no processo de aprendizagem e a aceitação do facilitador em relação ao aprendiz enquanto uma expressão operacional da sua essencial confiança e crédito na capacidade do homem como ser vivo. Ao criarmos um clima psicológico permitimos que as pessoas, sejam elas clientes, estudantes, trabalhadores ou membros de um grupo, participem de forma ativa no processo inscrito e descobrimos com isso uma tendência que permeia toda a vida orgânica em sua complexidade, em sintonia a uma tendência criativa e poderosa que envolve o universo, desde o menor grão de areia até a maior galáxia, atingindo o ponto crítico da nossa capacidade de criar direções novas e mais espirituais na evolução humana.