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Linhas de significação do vocábulo

CAPÍTULO 1 – AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E DINÂMICAS DE

1.4 O campo semântico do vocábulo grupo

1.4.1 Linhas de significação do vocábulo

Segundo Anzieu (1971), uma das primeiras acepções do termo groppo, anterior ao conceito de reunião ou conjunto de pessoas, era nó. Deriva do antigo provençal grop = nó, que deriva do germano Kruppa = massa arredondada, devido à forma circular.

Podemos buscar referência a algumas das definições apresentadas ao conceito de grupo. Se refletirmos analogicamente sobre os conceitos de nó e coesão ainda inscritos na concepção atual de grupo e principalmente a idéia de círculo às reuniões de grupo transcendente a conotação do próprio espaço, indo além da eventual organização do próprio espaço, possibilitando os intercâmbios a partir dessa circulação e os olhares.

O vocábulo grupo, em sua acepção atual, se faz num momento histórico em que se mostra necessária para a produção de representação do mundo social marcado pela sociabilidade obrigatória para ser considerado enquanto indivíduo “normal” e aceito pelo grupo com que convive, inscrito num complexo processo de transformações globais tanto das formas de sociabilidade, das práticas sociais e das subjetividades, tanto nas figurações que damos enquanto

atores sociais às representações que construímos do mundo em que vivemos.

Kruppa (alemão) Grop (provençal) Groppo (italiano) Grupo Círculo Nó Coesão Grupo Massa arredondada

1.5 - Dinâmicas de grupo

Figura 5

Dinâmicas de grupo6

Quer se deseje compreender, que se deseje aperfeiçoar o comportamento humano, é preciso conhecer a natureza dos grupos. Não é possível ter uma visão coerente do homem, nem uma tecnologia social adiantada, sem respostas seguras a uma série de questões referentes ao funcionamento dos grupos e à relação entre estes e a sociedade mais ampla.... Precisam, também, ser respondidas antes de podermos esperar o planejamento e a realização de uma sociedade melhor. (CARTWRIGTH e ZANDER, 1967, p. 04).

Toda atividade que se desenvolve com um grupo (reuniões, workshops, grupo de trabalho, etc.) que objetiva integrar, divertir, aprender, promover o conhecimento, pode ser denominada dinâmica de grupo.

Ao pesquisarmos sobre a conceituação de dinâmica de grupo nos deparamos com as mais variadas conceituações, que não chegam a contradizerem-se entre si, mas abrangem diferentes campos da ciência e da sociedade, enquanto ideologia política, conjunto de técnicas e campo de pesquisa.

Segundo Cartwright e Zander (1967, p.23):

A dinâmica de grupo é o estudo das forças que agem no seio dos grupos, suas origens, conseqüências e condições modificadoras do comportamento do grupo. Sua importância para organização é a de que, considerando os grupos responsáveis pelos atingimento dos objetivos organizacionais, a variação no comportamento do grupo é de conhecimento vital para o administrador. A formação do grupo fundamenta-se na idéia de consenso nas relações interpessoais, ou seja, concordância comum sobre os objetivos e sobre os meios de alcançá-los, resultando a solidariedade grupal.

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A dinâmica de grupo enfatiza a pesquisa empírica, os fenômenos do funcionamento dos grupos, a busca de apoio em outras disciplinas das ciências sociais que demonstram interesse pelos grupos e destaca a aplicabilidade potencial dos resultados para o aperfeiçoamento da prática social.

Cartwright e Zander (1967, p. 5) definem a dinâmica de grupo como:

Um tipo de ideologia política, interessada nas formas de organização e direção dos grupos. Essa ideologia acentua a importância da liderança democrática, a participação dos membros nas decisões e as vantagens, tanto para a sociedade quanto para os indivíduos, das atividades cooperativas em grupos, É um ramo do conhecimento ou uma especialização intelectual. Como se interessa pelo comportamento humano e pelas relações sociais, pode ser localizada entre as ciências sociais.

Menegazzo (1995, verbete) denomina dinâmica de grupo “o conjunto de teorias que estudam e explicam os fenômenos grupais”. A denominação “dinâmica de grupo” foi incorporada às ciências humanas em geral e à psicologia social em particular por Kurt Lewin e pelos continuadores de sua linha de investigação. Jacob Levy Moreno denominou essa disciplina sociometria.

Já para Minicucci (2002, p.15) dinâmica de grupo “é um conjunto de pesquisa voltado ao estudo de natureza do grupo, às leis que regem o desenvolvimento e as relações indivíduos-grupo e grupo-instituição".

Aplicar uma Dinâmica de Grupo é possibilitar o exercício de uma vivência, das inter- relações pessoais. É um processo vivencial que pode objetivar uma interação entre o grupo ou reflexões e aprendizados mais profundos e elaborados.

Weil (1993, p.79) nos diz que:

A dinâmica de grupo sob suas diferentes formas: T-Groups, laboratórios de sensibilização das relações interpessoais, laboratórios intergrupais, liderança de reuniões, treinamento de lideranças. Seu principal objetivo é identificar e tratar os obstáculos à comunicação e às causas do conflito.

O interesse científico pela Dinâmica Grupal surgiu no século XX. No entanto, já no século XVIII que, por ter sido caracterizado por enormes avanços no conhecimento humano e pelas grandes revoluções políticas da Inglaterra, da França e da Independência Americana, foi chamado de “Século das Luzes”, viveu Giambattista Vico (1688-1744), um pensador italiano que

hoje é reconhecido por sua aura de precursor das ciências humanas. Vico, em sua obra Princípio

de Uma Ciência Nova, estabeleceu a diferença entre Ciências Naturais e Ciências Humanas.

Segundo Carneiro (2005, [s. p].):

Vico propôs como base de estudo das Ciências Humanas um princípio epistemológico considerado fundamental para o desenvolvimento dos diversos campos do conhecimento humanista. Sejam eles: a Antropologia, Sociologia, Psicologia e a Dinâmica de Grupo, um ramo da Psicologia Social. Esse princípio está expresso na fórmula latina: verum ipsum factum; isto é, só o feito é verdadeiro; ou, só posso demonstrar logicamente o que é obra minha.

Nos termos da Dinâmica Grupal esse preceito implicou diretamente a contemporânea metodologia científica denominada de pesquisa-ação – nessa, o sujeito pode demonstrar logicamente um fenômeno grupal do qual também participa enquanto membro desse grupo em estudo. Ou seja, ele torna-se sujeito objeto da pesquisa.

Posterior a Vico, já durante o século XIX, ocorreram os avanços nas ciências humanas que permitiram o estabelecimento das bases conceituais e operativas e a atual sistematização científica da dinâmica de grupo. Dos avanços, três fatos científicos foram fundamentais:

1- Em 1879, o psicólogo alemão Wilhelm Wundt criou, na Universidade de Leipzig, o primeiro Laboratório de Psicologia que, com isso, tornou-se objetiva e experimental;

2- Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841-1931) apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre as multidões, a proposição básica para o entendimento de uma Psicologia Social: sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter, ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento. Essa proposição e os argumentos de Le Bom para justificá-la, serviram de parâmetro para o estudo sobre Psicologia de Grupo publicado por Freud em 1921;

3- Em 1939, o pensador francês Augusto Comte em seu Curso de Filosofia Positiva criou o termo Sociologia, formado do latim socius - companheiro; e do grego logía, estudo, para definir a nova ciência da sociedade.

Beal (1972, introdução) relata a contribuição da Sociologia nas pesquisas envolvendo as relações humanas:

As relações humanas estão rapidamente deixando de ser consideradas como arte regulada pelo bom-senso. Um dos fins da Sociologia é estudar cientificamente o comportamento do grupo através da análise, experimentação e generalização. Desses estudos estão surgindo conceitos, princípios e meios que, quando totalmente compreendidos, facilitarão enormemente a conquista da capacidade de liderança. Os princípios básicos das relações humanas, uma vez assinalados, podem ser hábil e adequadamente aplicados sem os incertos resultados dos métodos das tentativas.

Contudo só no século XX, foram estabelecidas as condições para se conferir cientificidade aos termos da dinâmica grupal, objetivando uma busca de novos modos de comunicação. Um relato sobre essas condições pode ser feito considerando-se dois fatores: desenvolvimento da dinâmica de grupo e dinâmica grupal e condições históricas dos Estados Unidos da América – EUA.