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Etapas de desenvolvimento da investigação

CAPÍTULO 2 – SOCIONOMIA

2.2 Sociatria

2.2.2.2 Etapas de desenvolvimento da investigação

O desenvolvimento de cada investigação psicodramática acontece de acordo com três etapas: aquecimento, dramatização, comentários e análise.

2.2.2.2.1 – Aquecimento

O aquecimento desdobra-se, da interação grupal até o surgimento do protagonista e pode ser inespecífico ou específico.

O aquecimento inespecífico no jogo dramático corresponde ao primeiro momento da sessão em que o diretor, em contato com o grupo, se propõe a realizar uma tarefa conjunta: a escolha de um jogo e o estabelecimento das regras, isto é, a delimitação do campo no qual o jogo irá se desenvolver, a duração e o Papel que cada participante do grupo irá desempenhar. É a preparação para agir de acordo consigo mesmo e com outrem; é um processo que constitui como uma indicação concreta e mensurável de que a Espontaneidade começa a atuar. Ele é disparado por meios de provocação do organismo, voluntários e involuntários, e que podem ser de natureza física, química, mental e social.

O aquecimento específico já deve ocorrer no contexto dramático. Seria, mais especificamente, a construção do Papel, para que ocorra maior facilidade no seu desempenho.

Segundo Moreno “O aquecimento do sujeito para a representação psicodramática é estimulado através de diversos métodos; citamos apenas alguns: auto-apresentação, solilóquio, projeção, interpolação de resistência, troca de papéis, duplo, método do espelho”. (1959, p.107)

Os diversos métodos não têm por objetivo transformar o paciente em ator de teatro, mas levá-lo a ser, no cenário, o que ele é, mais clara e profundamente do que parece na vida real.

2.2.2.2.2 - Dramatização

A dramatização começa, em geral, com a dramatização da primeira cena, possibilitando a busca do Papel cristalizado (em conflito) de seu contrapapel. A partir desse entrave, considerado como sintoma, ou qualquer outro sinal surgido na interação, segue-se o fio condutor para desembocar na rememoração da cena que originou o conflito. É o segundo tempo da sessão psicodramática quando o protagonista representa no contexto dramático os dramas pessoais de seu mundo interno, que convivem com ele desde o passado, no presente e com projeção no futuro.

Segundo Monteiro (1979, p. 11):

A dramatização é o jogo. É o ponto principal para qual caminhamos até agora. É quando podemos observar a atuação e evolução dos participantes, o grau de espontaneidade e criatividade dado ao papel, bem como o grau de participação de cada um.

A dramatização é uma oportunidade para que o protagonista examine, através da experiência no “como se”, o sentido profundo de Papéis em que vem investindo sua fantasia. A ação no “como se” permite o reconhecimento e a posterior libertação de Papéis idealizados, que vêm impedindo a ação espontânea no cotidiano do protagonista.

No contexto protegido da sessão psicodramática, cada participante tem a oportunidade de tecer a sua história e conhecer as tramas de sua história re-inventada e re-significada. Realiza-se, então, o homem cósmico, saído do caos em direção à organização criativa e simbólica. Por símbolo entendemos aquilo que representa ou substitui outra coisa, por analogia ou comparação.

A dramatização ajuda a conscientizar conflitos, elucidar dificuldades e encaminhar resoluções, através das constantes elaborações e mobilizações de afetos e emoções ocorridas na inter-relação dos participantes do grupo.

A dramatização é o método por excelência, segundo Moreno, para o auto-conhecimento, o resgate da Espontaneidade e a recuperação de condições para o inter-relacionamento. É o caminho através do qual o indivíduo pode entrar em contato com conflitos, que até então permanece em estado inconsciente. Todos os instrumentos e técnicas utilizados na sessão de

Psicodrama visam propiciar a ocasião para que o protagonista encontre os Papéis que vem evitando ou mesmo vem desempenhando sem convicção nem Espontaneidade.

2.2.2.2.3 - Comentários e análises

É a etapa que encerra o procedimento, pode ser desdobrada em uma sub-etapa, denominada momento de compartilhamento, em que os companheiros de grupo abandonam seus Papéis de participantes da platéia e comunicam ao protagonista tudo que sentiram vibrar, manifestar neles mesmo, com a dramatização. Termina o procedimento psicodramático com uma segunda etapa, denominada análise, que é o momento dos comentários terapêuticos e das interpretações pessoais e grupais pertinentes a cada caso.

Nessa etapa final o grupo expressará suas emoções, a partir do modo como a dramatização atingiu seus sentimentos. O grupo não fará observações de ordem técnica, nem críticas ao comportamento, mas sim participará afetuosamente dividindo experiências e os conflitos vividos ali. Os participantes fora do contexto dramático e, portanto, já não mais no Papel de jogadores, comentam no contexto grupal, junto ao diretor e ego-auxiliar, tudo o que observaram e sentiram. É a leitura por parte de todos do que foi expresso dramaticamente.

2.2.2.2.4 - Comentários Complementares

Fundamentada em experiências pessoais e na observação das atividades de outros psicodramatistas, Arantes (1993, p.115) acrescentou uma quarta etapa, “também de comentários, efetuada pelo diretor e egos-auxiliares, sem a presença dos outros elementos do grupo, onde se discute a sessão mais particularmente”.

2.2.2.3 - Contextos

Uma sessão psicodramática envolve três contextos: social, grupal e dramático. Chamemos de contexto o encadeamento de vivências e experiências das pessoas envolvidas num processo de inter-relação, dentro de uma situação espaço-temporal.

2.2.2.3.1 - Contexto Social

O contexto social traduz a realidade dessa comunidade, por isso dizemos que ele é constituído pela realidade tal “como é”, pelo tempo cronológico, do relógio e do calendário, e pelo geográfico concreto. Uma sessão psicodramática origina-se do contexto social, de modo amplo. Segundo Monteiro (1979, p. 10), “É nesse contexto que vamos encontrar o jogo em um sentido amplo, puramente lúdico, e trazê-lo para o psicodrama”.

O contexto social engloba o mundo em que vivemos, como por exemplo: a escola, a família, o trabalho. Possui regras e padrões próprios, segundo os quais, norteamos nossa conduta.

2.2.2.3.2 - Contexto Grupal

Forma-se a partir de interesses estabelecidos, situações definidas e objetivos específicos. É no contexto psicodramático que se vai delinear o trabalho a ser realizado na sessão psicodramática. Ao se formar o grupo, espera-se que ele se desenvolva desvinculando dos modelos sociais controladores e restritivos, estimulando a Espontaneidade e a Criatividade de seus membros e observa-se seu desenvolvimento. Num determinado momento surge o protagonista, passando-se para o contexto dramático.

3.2.2.3.3 - Contexto Dramático

No contexto dramático, tudo ocorre no “como se” do imaginário e da fantasia, desenvolvendo-se os Papéis Psicodramáticos ou representando-se os Papéis Sociais. O tempo será subjetivo e o espaço será virtual, isto é, aquele demarcado pela imaginação e Criatividade sobre o espaço concreto.

O Psicodrama é um procedimento de profundo alcance elaborador, mas, ao mesmo tempo, de profunda repercussão na dignidade e no pudor pessoal. Por essa razão, a prescrição deve ser reservada, mediante privacidade terapêutica, garantida pela intimidade profissional e pelo segredo grupal.

A representação dramática é o núcleo central da proposta resolutiva apresentada pelo método psicodramático, vivenciando o modo de ser do homem, sua conduta, a maneira como eles

se relaciona com os demais. A ação dramática, por ser em si um ato temporal-espacial, nos permite apontar os esclarecimentos da temporalidade-espacialidade íntima do homem. Por isso, o método que Moreno nos ofereceu, além de nos permitir explorar a temporalidade-espacialidade humana, também nos permite operar sobre ela, sendo extremamente valiosa na estratégia psicoterapêutica.

A ação dramática aponta de maneira essencial para uma atuação sobre os estados de ânimo do homem e nos permitem trabalhar com as paixões, os sentimentos e os valores, indicando fundamentalmente para o imaginário do homem, operando sobre suas fantasias e ilusões, seus sonhos e mitos íntimos. Segundo Menegazzo (1994, p.95):

O fundador do psicodrama considera o nascimento humano um verdadeiro ato de liberdade, de espontaneidade e de criatividade. Por ser o ato do nascimento o modelo e o fundamento de toda mudança humana, o renascimento ou a mudança terapêutica será, fundamentalmente, um ato de liberdade, de espontaneidade e de criatividade, implicando necessariamente a consideração de valores... Graças à mudança originada no átomo cultural desse indivíduo (o conjunto de papéis que constitui seu eu) e em seu átomo social perceptivo ou subjetivo (o conjunto de papéis complementares com os quais está vinculado) e graças também aos novos reencontros e aos conseqüentes enriquecimentos preceptivos, o mundo lhe parecerá realmente novo.

O método psicodramático, por ocupar-se das formas de relacionamento do homem consigo mesmo e do inter-relacionamento com os demais, assim como das dificuldades de ambos é proposto como um caminho para que se vá ao encontro dos entraves que incapacitam o sujeito frente às exigências do mundo e que serão motivos de suas crises, neuroses e psicoses.