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Criação e manutenção da cultura de segurança

Capítulo 3 – A segurança do paciente inserida na gestão da qualidade dos serviços de saúde

5 Gestão da qualidade focada na segurança do paciente

5.4 Criação e manutenção da cultura de segurança

O sucesso na gestão da segurança do paciente passa por um reconhecimento do risco relacionado à assistência à saúde moderna, que utiliza processos complexos e tecnologias potentes, cuja segurança muitas vezes depende do desempenho humano. Os objetivos da organização precisam ser consistentes com a meta de melhoria da segurança, que passa por uma comunicação aberta e não punitiva sobre os eventos adversos e falhas de segurança.

Segundo o NQF15, é preciso promover uma cultura de segurança em todos os âmbitos de serviços de

saúde – um componente estrutural básico das organizações que reflete uma consciência coletiva relacio- nada a valores, atitudes, competências e comportamentos que determinam o comprometimento com a gestão da saúde e da segurança. Além disso, significa olhar os incidentes de segurança não simplesmente como problemas, evitando culpabilizar aqueles profissionais que cometem erros não intencionais, mas tratar o assunto como uma oportunidade de melhorar a assistência à saúde.

Embora a evidência sobre a importância da segurança venha de outros setores com tradição em se- gurança (aviação, indústria nuclear e outros), sem estudos que comprovaram seus efeitos em resultados clínicos, trata-se de uma intervenção com forte validade aparente e algumas comprovações da sua relação

com melhores resultados em segurança do paciente27. As quatro práticas seguras do NQF15 para melhorar

a segurança por meio de criar e manter uma cultura de segurança são:

1. Definir estruturas e sistemas de liderança: segundo o consenso, “os líderes dirigem valores, os valores dirigem os comportamentos, e os comportamentos coletivos dos indivíduos de uma or- ganização definem a sua cultura”. Assim, os líderes devem estar envolvidos no processo de criar e transformar a cultura de segurança do paciente, sendo que estruturas de liderança devem ser estabelecidas com a intenção de sensibilizar, responsabilizar, habilitar e agir em favor da segurança de cada um dos pacientes atendidos. Especificamente, podemos enfatizar a necessidade de existir

um Programa ou Sistema de Gestão da Qualidade com responsabilidades claras e “accoutability” a todos os níveis, não somente no nível dos gerentes.

2. Avaliar a cultura, informar sobre os resultados e intervir: parte da ideia de que somente podemos melhorar o que podemos medir. O serviço de saúde deve utilizar algum dos questionários valida-

dos para esta finalidade28-30, que englobam as várias dimensões que compõem o construto da cul-

tura de segurança e realizar avaliações periódicas da cultura de segurança. Ainda, cabe ao serviço de saúde informar os resultados destas avaliações aos profissionais e gestores, além de tomar as medidas de melhoria necessárias localmente.

3. Promover o trabalho em equipe: os erros devido a um trabalho em equipe deficiente são reconhe-

cidos nos serviços de saúde e em outras áreas como causas de dano e óbito.Por isso, se recomenda

estabelecer um enfoque proativo, sistemático e organizacional de formação em trabalho em equi- pe, com construção de habilidades e melhoria dos desempenhos das equipes para diminuir os danos preveníveis.

4. Identificar e mitigar os riscos e perigos: as organizações que prestam serviços de saúde devem sistematicamente identificar e diminuir os riscos e perigos relacionados com a segurança do pa- ciente por meio de um enfoque contínuo de redução dos danos preveníveis. Isso deve incluir uma série de métodos internos, sejam retrospectivos, concorrentes ou prospectivos, para analisar os riscos genéricos, além de esforços dirigidos a riscos específicos, tais como o risco de quedas, má- -nutrição, isquemia por torniquetes pneumáticos, aspiração e fadiga do pessoal. Também mostra a necessidade de o serviço de saúde contar com um bom sistema de monitoramento que revele os prováveis problemas de segurança, reforçando a importância de ter bons indicadores.

6 Considerações finais

Este capítulo aponta a segurança do paciente como um dos atributos ou dimensões da qualidade dos serviços de saúde, pois está diretamente envolvida com o cumprimento das necessidades e expectativas dos usuários desses serviços. Definitivamente, um serviço de saúde não pode ser de qualidade se os riscos de dano ao paciente não estiverem reduzidos e controlados. Entretanto, a segurança do paciente é uma dimensão da qualidade peculiar, pois foca a ausência de dano, em vez da produção de algum benefício direto para o paciente. Além disso, tem interseção e sinergias com várias outras dimensões, especialmente com aquelas ligadas à qualidade técnico-científica. Finalmente, em consonância com o entendimento da segurança como parte da qualidade, todas as atividades que regem a avaliação e melhoria contínua da qualidade ou gestão da qualidade são aplicáveis à gestão da segurança.

Especificamente, as atividades nesse sentido podem focar o monitoramento de problemas de segurança, a reação e solução dos problemas identificados por meio do monitoramento, o planejamento da segurança através da implantação sistemática de boas práticas de segurança, sendo tudo isso favorecido por um clima ou cultura favorável em relação a estes esforços entre os profissionais da organização.

ASSISTÊNCIA SEGURA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA APLICADA À PRÁTICA

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