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Prática baseada em evidência e a prevenção de eventos adversos

Capítulo 4 – O erro humano e sua prevenção

4 Prática baseada em evidência e a prevenção de eventos adversos

Atualmente, a segurança do paciente é uma das questões mais críticas para a saúde. A necessidade crescente de diminuir complicações evitáveis e prevenir os erros serve como um catalisador significativo para incentivar o uso da prática baseada em evidências (PBE) à beira do leito, possibilitando a diminuição de complicações evitáveis. Para tanto requer uma relação sinérgica entre os profissionais da beira do leito

e a liderança da instituição15.

Os profissionais de saúde que prestam cuidado ao paciente, incluindo os enfermeiros, são elementos chave no processo de evitar erros, impedir decisões ruins, referente aos cuidados e também de assumir um papel de liderança no avanço e no uso de estratégias para promover a segurança e qualidade do cuidado.

É imprescindível repensar a prática, e saber que é possível reduzir complicações para o paciente. Existe grande interesse em encontrar maneiras de tornar a assistência de saúde mais segura para os pacientes e há exemplos de intervenções bem sucedidas dirigidas a problemas clínicos específicos, como a prevenção

de infecções adquiridas no hospital. Um exemplo clássico, neste sentido, foi o trabalho realizado por Peter

Pronovost e et al.16, em Michigan, nos EUA, no qual conseguiram reduzir drasticamente, ou seja, para zero,

após 18 meses de intervenção, as taxas de infecção de corrente sanguínea associada a cateter, em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por meio da realização de cinco intervenções combinadas (bundles), a saber: higiene das mãos; barreira máxima de proteção; antissepsia da pele no local de inserção com clorexidina; evitar o sítio femoral e a pronta remoção de cateteres desnecessários, associadas a outras estratégias como a construção de cartazes contendo todas as informações necessárias para realização do procedimentos, checklist de procedimentos, interrupção do procedimento quando práticas não baseadas em evidência eram realizadas, identificação de cateteres desnecessários durante as visitas clínicas, retorno para a equi-

pe quanto às taxas de infecção da corrente sanguínea.16 Atualmente, outros serviços utilizam as mesmas

intervenções e estratégias desenvolvidas por este grupo de pesquisadores em seus serviços.

Na área de enfermagem, o desenvolvimento do cuidado tem sido baseado mais na tradição do que em evidências. É necessário capacitar e apoiar enfermeiros para identificar e utilizar práticas baseadas em evidências relacionadas à segurança do paciente. O próprio sistema de saúde está exercendo pressão com relação ao uso de boas práticas, impondo condições não reembolsáveis de custos relacionados aos

cuidados pós-queda, infecções urinárias, úlcera por pressão, dentre outras12.

Estas questões de reembolso, juntamente com o aumento da sensibilização do público para erros e complicações evitáveis que ocorrem em ambientes hospitalares, estão de certa forma, criando um novo sentido para os hospitais, na tentativa de encontrar formas de prevenir complicações. Consequentemente, os hospitais estão sendo pressionados a alocar recursos significativos para a identificação e a implemen- tação de estratégias e processos de segurança.

Portanto, é imperativo que os profissionais de saúde sejam capazes de empregar ações mais efetivas para evitar resultados não desejáveis. Expertos em segurança referem que o cuidado de saúde de alta qualidade pode ser obtido por meio do uso de PBE, e uma força de trabalho de enfermagem fortalecida e habilitada. A verificação de que a PBE pode diminuir as complicações e eventos adverso ao paciente, fica perceptível que os hospitais e líderes de enfermagem criem estruturas e processos para promover o desenvolvimento e implementação de PBE. Entende-se, portanto, que a não utilização da PBE pode ser

considerada como uma situação antiética12.

Nesta direção, Bradley e Dixon (2009)15 sugerem a aplicabilidade do modelo Baylor Health Care Sys-

tem Professional Nursing Practice Model – (Figura 3) conhecido como Modelo Sinergético, na prática do cuidado de enfermagem, pois apresenta uma visão geral dos conceitos, estruturas e processos específicos

empregados para aumentar a utilização de PBE e melhorar a segurança do paciente15.

O Modelo Sinergético é baseado em estudos de prática e expressa claramente a importância da ar- ticulação entre as competências de enfermagem e as necessidades do paciente, independentemente da especialidade prática. A premissa do Modelo Sinergético é que quando o paciente tem necessidades, estas são ajustadas às competências de enfermagem (excelência clínica), com as necessidades do pacien- te, utilizando-se as PBE para obter-se uma “passagem segura” do cuidado, interagindo no ambiente de trabalho, utilizando-se da colaboração dos membros de forma verdadeira, habilidade na comunicação, liderança, recursos humanos e estrutura adequada, possibilitando, portanto uma tomada de decisão efetiva.

ASSISTÊNCIA SEGURA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA APLICADA À PRÁTICA

Figura 3. Modelo Sinergético – Baylor Health Care System Professional Nursing Practice Model

Competência do enfermeiro Julgamento clínico Invetigação clínica Facilitação do aprendizado Colaboração Sistemas pensantes Conduta moral Prática de cuidados Reposta a divesidade Necessidade do paciente Resiliência Vulnerabilidade Estabilidade Complexidade Disponibilidade de recursos Participação no cuidado Participação na tomada de decisão Previsibilidade Excelência clínica Prática de enfermagem Sinérgica Pesquisas de enfermagem Resultados ótimos do paciente Prática baseada em evidência Habilidade de comunicação Colaboração verdadeira Recursos humanos e estruturais adequados Reconhecimento significativo Liderança autêntica Tomada de decisão efetiva AMBIENTE DE TRABALHO Prestação de contas Autoridade Autonomia PRÁTICA DE ENFERMAGEM Passagem segur a Necessidades do paciente Competências do enfermeiro Sinergia

Fonte: Adaptado de: Bradley D, Dixon J. Staff nurses creating safe passage with Evidence-Based Practice. Nurs Clin N AM. 2009; 44:71-8115.

Dentro do Modelo Sinergético, existem oito áreas de necessidade do paciente e oito competências de enfermagem, conforme descritas na Figura 3. As competências de enfermagem têm definições operacionais que são definidas de forma contínua por especialistas. As áreas pertinentes aos pacientes devem refletir uma visão holística, sendo que a avaliação deve ir além da abordagem fisiológica do paciente, seguindo o modelo médico tradicional. Esta abordagem holística deve incluir atividades específicas, realizadas pela enfermagem por meio de intervenções tais como: a facilitação da aprendizagem do auto cuidado; resposta

à diversidade; e criação de ambientes de apoio e cura terapêuticas15.

O modelo também reflete a importância dos enfermeiros serem autônomos, terem autoridade para alterar ou modificar sua prática e a expectativa de que estes assumam a responsabilidade por suas ações e os resultados daí esperados. Além disso, o modelo reconhece que a prática de enfermagem não ocorre

dentro de um vácuo, mas sim interage com um ambiente de trabalho complexo que o rodeia12.

5 Considerações finais

Enormes progressos foram feitos para a segurança do paciente nos últimos anos. Têm-se desenvolvido diferentes estratégias, ferramentas e abordagens que estão ajudando a manter os pacientes mais seguros em todo o mundo.

Contudo, torna-se necessário avançar e reforçar as defesas no sistema de saúde por inteiro. Esta ques- tão deve ser repensada, sem eminentemente aventar a possibilidade de culpar os indivíduos envolvidos no processo. Isso não quer dizer que os indivíduos nunca devem ser responsabilizados por suas ações. No entanto, contando com a abordagem de culpa por si só, a condução dos problemas é feita de maneira superficial, impedindo a utilização de estratégia correta e eficaz para melhorar a segurança do paciente.

O que se tem visto frequentemente é a punição do profissional e a manutenção de sistemas precários e de risco inalterados, colocando a população em risco constante.

As taxas de erros em serviços de saúde giram em torno de 5-15% no mundo desenvolvido. Informações sobre segurança do paciente de forma geral nos países em transição e em desenvolvimento são menos

conhecidas devido à escassez de dados. Segundo Liam Donaldson16, presidente na OMS do Programa

Mundial para a Segurança do Paciente, para se enfrentar de forma eficaz as questões que envolvem a se- gurança do paciente, é necessário entender a extensão dos problemas que enfrentam os profissionais de saúde. É importante também fazer um esforço para medir sistematicamente estratégias que funcionam

e como funcionam17.

É necessário ainda que os sistemas de informação sejam facilmente acessíveis a todos os profissionais de saúde e que estes facilitem o aprendizado. Adicionalmente, ainda falta uma forma exata de classifica- ção de erros, para que se possa compartilhar conhecimento internacional e dar sentido a informações de

sistemas de notificação diferentes17.

Enfim, são necessárias estratégias para reduzir os danos aos pacientes. Isto significa desenvolver pes- quisas direcionadas a identificar os melhores mecanismos de prevenção, modos eficazes de difusão de novas ideias e entusiasmo na adoção delas. Garantir segurança no cuidado é um enorme desafio para os serviços de saúde.

ASSISTÊNCIA SEGURA: UMA REFLEXÃO TEÓRICA APLICADA À PRÁTICA

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Capítulo 5 – Estratégias para a segurança do