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A criatividade através dos tempos: mitos, principais abordagens teóricas e

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A criatividade através dos tempos: mitos, principais abordagens teóricas e

No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia.

Gênesis, 1:1

Ao principiar este item, faz-se necessário estabelecer distinção entre criação, potencial criativo e criatividade. A criação é tão antiga quanto o surgimento do homem que, ativando o seu potencial criativo, aprimorou técnicas de sobrevivência contra as ameaças da natureza e dos seus competidores, elaborando sistemas culturais sofisticados e abstratos. A criação é contínua, desde os seus primórdios, sendo o homem ao mesmo tempo produtor e produto, artífice e artifício, criador e criatura, segundo Masi (2002). O mesmo autor acentua que quase tudo aquilo que nos circunda é criado ou marcado pelo homem, pois o homem sempre foi criativo e isso o distingue dos outros animais. Também Gardner (2007, p. 72) ratifica que a “criação é parte do tecido do mundo”. Com a mesma ideia, Ostrower (2007) afirma que criar é, basicamente, dar forma a algo novo e o ser humano é um ser formador. Para esta autora, o potencial criador do ser humano surge na história como um fator de realização e constante transformação e a criação é o resultado de um ato intencional, de uma ação consciente. Ainda para Ostrower (2007), o homem cria porque precisa, já que seu crescimento como ser humano se realiza à medida que dá forma e cria. Sob o mesmo pensar, Rodríguez Hernandez (2008) afirma que a criatividade é um valor supremo da humanidade, uma energia dinamizadora da história, uma exigência social. Enfim, para se ter criação é preciso usar a criatividade, exercitar a capacidade criadora, trazer à tona o potencial criativo.

Segundo Albert e Runco (1999), a humanidade tem se esforçado para compreender o significado do que hoje reconhecemos como criatividade. Os entendimentos pré-cristãos, que permaneceram influenciando o pensamento de muitos ao longo dos séculos, resultam no conceito de gênio que foi originalmente associado com poderes místicos de proteção e boa sorte. Assim, durante muito tempo, assinala também Lubart (2007), a criatividade foi vista pelo lado místico, prevalecendo a ideia de inspiração divina; por exemplo, para Platão um poeta só criava quando a musa desejava e, então, o inspirava. Para Zugman (2008), a criatividade, associada ao misticismo, leva à crença de que é algo incontrolável, impossível de ser incentivada e, apesar de os deuses da Antiguidade já terem caído no ostracismo, a ideia de inspiração, oriunda da crença neles, continua presente em muitas pessoas.

Quando os gregos enfatizaram o „guardião do espírito‟ de um indivíduo, a ideia de gênio tornou-se mundana e foi progressivamente associada com habilidades de um indivíduo

e a criatividade tornou-se um valor social (ALBERT; RUNCO, 1999). Daí, surgiu nova concepção de criatividade e a visão de Aristóteles era que a inspiração se originava dentro do indivíduo, por meio de suas associações mentais e não por intervenções dos deuses (LUBART, 2007). Ao examinar o ponto de vista dos romanos, Albert e Runco (1999) se depararam com uma visão de gênio, significando uma potência criativa de homens ilustres que poderia ser passada para seus filhos.

Outra tendência, desde a Antiguidade, era associar criatividade com loucura, desajustamento ou mesmo doença mental. Alencar e Fleith (2003a) afirmam que não há, necessariamente, ligação entre a loucura e a genialidade. Entretanto, muitas pesquisas continuam sendo feitas, buscando identificar ligações entre a criatividade e desordens de comportamento e psicopatologias, como mostram Guastello, J., Guastello, D. e Hanson (2004), Lubart (2007), entre outros.

Tais ideias apresentadas constituem mitos sobre criatividade, sendo frequente pessoas acreditarem ser a criatividade um dom, um talento natural apenas de algumas, uma inspiração divina ou mesmo um ato de loucura. Isso fica notório em afirmações do tipo: “Ah, não tenho esse dom de ser criativo.” “Não nasci com este talento.” “Não sou gênio.” “Falta a inspiração divina.”

Nota-se que criatividade provém do termo de origem latina - creare - que significa fazer, e do termo grego krainen, que significa realizar e já nessa origem está a preocupação com o que se faz e como pensar e produzir (WECHSLER, 2002). Ao se defrontar com o conceito de criatividade, Uano (2002) verificou que não há um acordo sobre ele, o qual tem sido usado com diferentes níveis de extensão e profundidade. Os dicionários e enciclopédias por ela pesquisados indicaram que criatividade é a faculdade de criar; criar significa produzir algo do nada; criativo é aquele que possui ou estimula a capacidade de criação, invenção. Feldman, Csikszentmihalyi e Gardner (1994) afirmam que a criatividade é uma palavra que parece estar em toda parte, com muitos significados, os quais não são bastante claros. É um fenômeno complexo, multifacetado e pouco explorado, sobretudo no ambiente educacional (ALENCAR; FLEITH, 2003a; BODEN, 1999). Também De La Torre (2008) acentua a falta de consenso, a polivalência semântica, a diversidade da linguagem, os diferentes enfoques teóricos que subjazem em cada conceito de criatividade.

Nas últimas décadas, distintas abordagens sobre criatividade surgiram, apontando diversos elementos que contribuem para o seu desenvolvimento e expressão, conforme apontam autores como Alencar e Fleith (2003a) e Wechsler (2002).

A abordagem biológica foi fortemente influenciada pelas ideias evolucionistas de Darwin, sendo que a criatividade passou a ser considerada como força criadora inerente à vida e a hereditariedade era seu componente principal (WECHSLER, 2002). Desta forma, a criatividade era transmitida, algo fora do controle pessoal e, portanto, não era passível de ser educada ou desenvolvida. Ainda hoje, essa ideia predomina em pessoas que não acreditam no seu potencial criativo, defendendo-se com frases do tipo: “não adianta, não nasci criativo”; “não puxei a ninguém criativo”; “isso não está no sangue de minha família”.

As abordagens psicológicas, segundo Wechsler (2002), são compostas pelos seguintes grupos de teorias: associativas, comportamental e gestaltista; psicanalíticas; humanistas e „desenvolvimentais‟2. Para as teorias associativas, o corpo e a mente se inter-relacionam e a

repetição é o princípio fundamental de toda associação; há um paralelo entre as sensações e as ideias. A teoria comportamental vê o funcionamento humano como uma relação estímulo- resposta. Wechsler se refere à visão de Skinner, como um dos representantes desta abordagem, para a qual a criatividade é formada por associações entre estímulos e respostas, não estando os elementos associados relacionados. Alencar e Fleith (2003a) ainda lembram que os comportamentos criativos são resultados da história de vida da pessoa. Para a teoria gestaltista, a criatividade constitui-se na “procura de uma solução para uma Gestalt ou forma incompleta”, conforme Wechsler (2002, p. 29), caracterizando-se o insight como o momento criativo repentino. Alencar e Fleith (2003a, p. 68) assinalam que, para a Gestalt, “um problema existe quando há tensões não resolvidas”, as quais são resultantes da interação de fatores perceptuais e da memória e que, para resolver o problema, é preciso haver uma reestruturação no campo perceptual, fato que sugere a relação existente entre percepção e pensamento. Assinalam ainda que a Gestalt dá maior ênfase ao presente, pois que as ideias baseadas no passado tendem a reproduzir um pensamento, enquanto que o pensamento produtivo implica responder às forças do campo.

As teorias psicanalíticas, segundo Alencar e Fleith (2003a) e Wechsler (2002), incluem, entre outras, as ideias de Freud e de Jung. Para o primeiro, a criatividade seria uma força que emerge do inconsciente para a consciência e que soluciona conflitos quando posta para fora e, quando reprimida, provoca neuroses. Para Jung, o processo criativo não depende apenas do inconsciente, mas da energia física da pessoa para trazer os pensamentos inconscientes à tona; o autor não acreditava na possibilidade de explicar o ato criativo, que

2 Este termo foi mantido, conforme citação de Wechsler (2002, p. 34), em seu livro “Criatividade: Descobrindo e

considerava a antítese da ciência, e a criatividade teria como fonte principal as lembranças do inconsciente (WECHSLER, 2002).

As teorias humanistas têm a criatividade como forma de o ser humano atingir a sua autorrealização, tendo Carl Rogers como um de seus expoentes. Tais teorias equiparam a criatividade com a saúde mental, salientando que o potencial das pessoas se desenvolve sob condições adequadas de liberdade e segurança psicológica ou se reprime mediante barreiras ou defesas psicológicas. Para May (1982, p. 9), um de seus representantes, a criatividade é “como um encontro intenso com uma ideia, uma imersão total em alguma coisa ao redor, ou com um pensamento”.

Entre os vários estudos das teorias desenvolvimentais, encontram-se os de Piaget, para quem a imaginação criadora provém do processo de assimilação, em estado de espontaneidade, e a criatividade se integra com a inteligência à medida que se cresce em idade, num processo de acomodação. Outros estudiosos, como Gowan, Lesner e Hillman, tentaram também analisar o desenvolvimento da criatividade em etapas ou níveis (WECHSLER, 2002).

A abordagem psicoeducacional tem o conceito de criatividade ligado às teorias cognitiva e educacional. A primeira tem como expoente Guilford, que estudou a mente humana tridimensionalmente: as operações que acontecem ao pensar, o conteúdo sobre o qual se pensa e os produtos resultantes desse processo (WECHSLER, 2002). Entre as operações desenvolvidas ao pensar, continua a autora, está a produção divergente, que consiste na formulação de várias alternativas a partir da informação dada, na procura de diferentes soluções para o problema onde se situa, predominantemente, a criatividade. Assim sendo, para Guilford, o pensamento criativo implica a produção de diferentes respostas e alternativas para um dado problema. A teoria educacional tem como representante Torrance, que definiu criatividade “como o processo de tornar-se sensível a falhas, deficiências na informação ou desarmonias; identificar as dificuldades ou os elementos faltantes; formular hipóteses a respeito das deficiências encontradas; testar e retestar essas hipóteses e, por último, comunicar os resultados encontrados” (WECHSLER, 2002, p. 40).

A abordagem psicofisiológica provém dos estudos sobre os hemisférios cerebrais e suas diferentes funções: o processamento de informações de forma sequencial, lógica, linear, detalhista, organizada e analítica está ligado ao hemisfério esquerdo, enquanto que ao direito ligam-se os aspectos emocional, não linear, intuitivo, geração de imagens, metáforas e analogias e, portanto, a criatividade. A criatividade ligada somente ao hemisfério direito é questionada por vários pesquisadores, como Alencar e Fleith (2003a) e Wechsler (2002), pois,

na realidade, o processo criativo envolve os dois hemisférios cerebrais, valendo-se na fase inicial do processo criativo do direito, mas nas fases posteriores, do esquerdo, sendo necessária a integração de coordenação de processos realizados em ambos os hemisférios. Para Carneiro (2004), os estudos sobre os dois hemisférios têm facilitado a prática de exercícios para ativar as regiões menos utilizadas, de modo que, com o passar do tempo, é aprimorada a capacidade de a pessoa agir como um ser humano integral, possibilitando-a ser lógica, intuitiva, prática, sonhadora, racional e emotiva.

De 1980 em diante, nota-se a prevalência da visão sistêmica da criatividade, fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas, do biólogo Ludwing Von Bertalanffy. Pesquisas mais recentes, segundo Lubart e Guignard (2006), indicam que os recursos necessários para a criatividade provêm de combinações dos atributos cognitivos, conativos e ambientais, apontados por distintas teorias. Neste sentido, as abordagens sistêmicas concebem a criatividade como um fenômeno sociocultural, sinalizando uma rede complexa de interações entre variáveis do indivíduo e da sociedade para a expressão criativa. Entre elas, podem ser apontadas: o Modelo Componencial da Criatividade, proposto por Amabile (1996), a Perspectiva de Sistemas de Csikszentmihalyi (1996) e o Investimento em Criatividade, formulada, inicialmente, em 1988, por Sternberg e reformulada mais tarde, em 1996, por ele e Lubart.

Amabile (1996) explica de que forma os fatores cognitivos, motivacionais, sociais e de personalidade influenciam no processo criativo. O modelo por ela proposto inclui três componentes essenciais: habilidades de domínio, que correspondem ao nível de expertise em um determinado domínio como, por exemplo, conhecimento e talento; processos criativos relevantes, que se referem ao estilo cognitivo e de trabalho e ao domínio de estratégias que favorecem a criatividade; motivação intrínseca, que envolve as razões pelas quais uma pessoa se engaja num trabalho, numa tarefa. Segundo Amabile (1996), motivação intrínseca significa a satisfação e o envolvimento da pessoa com aquilo que faz, sendo que as pessoas mais criativas são aquelas que, motivadas intrinsecamente, produzem pelo interesse, prazer, satisfação, desafio e não por pressões externas. Mais recentemente, a autora reavaliou e revalorizou o papel da motivação extrínseca, oriunda de forças externas e que pode ter também efeitos positivos como os da motivação intrínseca, denominando-a motivação extrínseca sinergética. A motivação extrínseca surge quando o indivíduo se envolve com algo com o objetivo de alcançar uma meta externa à tarefa como, por exemplo, recompensas e reconhecimentos.

A Perspectiva de Sistemas, de Csikszentmihalyi (1996), cujos estudos focalizam especialmente os sistemas sociais, considera a criatividade como um fenômeno que se constrói entre o criador e a sua audiência, valendo-se da interação e gerando um ato, uma ideia ou um produto que modifica um domínio já existente ou o transforma em um novo. Para o pesquisador, a criatividade não acontece na cabeça das pessoas simplesmente, mas provém da interação entre os pensamentos pessoais e o contexto sociocultural, sendo, portanto, sistêmica e não individual. A criatividade é o resultado da integração de um sistema que se vale de três fatores: o indivíduo, portador de uma herança genética e suas próprias experiências; o domínio, que é um sistema simbólico com um conjunto de regras para representação do pensar e do agir e que, em síntese, é a cultura; o campo, parte do sistema social que tem o poder de determinar a estrutura do domínio e sua maior função é preservá-lo como tal.

Embora as duas teorias sistêmicas citadas tenham vários pontos em comuns com a do Investimento em Criatividade, esta teoria será mais detalhada porque foi escolhida como suporte da presente pesquisa, pois, além de seu enfoque sistêmico, utiliza termos que se coadunam com os objetivos propostos, de se incentivar o investimento em criatividade por meio da conscientização das instituições de ensino e dos procedimentos pedagógicos dos professores. A teoria do Investimento em Criatividade de Sternberg e Lubart (1996) recorre à imagem da bolsa de valores. Ideias, afirmam Sternberg e Lubart (1993), são como ações no sentido de que elas podem ser mais ou menos favorecidas e, quando menos favorecidas, mas mesmo assim têm potencial de crescimento, elas são de grande valor e muitos a compram, mesmo com custo baixo. A palavra investimento também reforça a escolha dessa teoria. Em economia, investimento significa a aplicação de capital em meios de produção, visando o aumento da capacidade produtiva (instalações, máquinas, transporte, infraestrutura). O investimento produtivo se realiza quando a taxa de lucro sobre o capital supera ou é pelo menos igual à taxa de juros. Na educação, por analogia, pode-se dizer que, se o professor investe intencionalmente no desenvolvimento do potencial criativo dos estudantes, haverá maior produtividade, a aprendizagem se dá com o prazer de estudar .

Em entrevista concedida por Sternberg a Henshon (2008), o autor expõe a ideia básica dessa teoria, ou seja, as pessoas criativas são como um bom investidor que compra barato e vende caro, lucrando, mas em vez de viverem no mundo das finanças, pessoas criativas investem no mundo das ideias. Geram ideias que desafiam o mundo, convencem outras pessoas do valor dessas ideias, veem as coisas de maneira diferente dos outros, assumem riscos, superam obstáculos enormes, são persistentes, quando os outros estão prontos para sair

da jogada, percebem as coisas de novas formas.

Nesta visão, a criatividade é em grande parte uma atitude diante da vida, é uma vontade de manter o seu fundamento em face da grande oposição, é muito mais uma atitude do que uma habilidade. Sternberg (2002a, 2002b, 2003) ainda reforça que a criatividade é uma decisão: a decisão de ser criativo, a decisão de como ser criativo e a implementação dessa decisão. E esta visão é fundamental para todos, em face de que é necessário saber que cada um tem um potencial criativo, que pode ser desenvolvido, em qualquer idade e em qualquer contexto, tanto por homens quanto por mulheres, crianças e adultos. Ideias criativas são valiosas, mas muitas vezes são rejeitadas, afirmam Sternberg e Grigorenko (2000), não por malícia ou teimosia; o que ocorre é que as pessoas as percebem como oposição ao seu status quo, sendo um incômodo e por isso tendem a ignorá-las e com isso não percebem, muitas vezes, que tais ideias novas representam uma forma de pensar válida e superior. Quando as pessoas aceitam uma ideia criativa, esta se valoriza e como as ações, seu preço sobe. Embora as pessoas desejem que suas ideias sejam compradas, a aprovação universal para uma ideia não é um indicativo de que ela seja criativa (STERNBERT; GRIGORENKO, 2000). Mas, é preciso investir nisso, vencendo barreiras, inclusive superando frustrações, quando, por exemplo, uma ideia é rejeitada ou podada. E quantas o são? Quantas vezes o professor por sua atitude em sala de aula, por exemplo, não dando abertura à emissão de críticas, não ouvindo os alunos, não permitindo debates, inibe a criatividade do aluno? Sob o ponto de vista de investimento, somente depois que outras pessoas forem convencidas do valor a respeito de uma ideia, é que esta realmente agrega valor e passa a valer mais.

Para os autores da Teoria do Investimento em Criatividade, criatividade é a habilidade de produzir um trabalho novo, original, inesperado, apropriado ou útil. É um tópico de larga importância, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, para a qual possibilita novos achados científicos, novos movimentos na arte, novas invenções, novos programas sociais. Como valor econômico, a criatividade, ao propiciar a geração de produtos e serviços novos, por exemplo, possibilita a criação de novos serviços e empregos.

Também Howkins (2007) realça a importância da criatividade e incentiva o seu investimento por ser um grande fator do capital humano e impulso da economia criativa. Segundo ele, pode-se colocar dinheiro sob o colchão e ver o seu valor murchar ou gastá-lo ou investi-lo esperando aumentar. Da mesma forma, pode-se deixar o capital criativo latente, gastá-lo ou investi-lo. É preciso deixá-lo florescer em todas as estruturas, saber quando as ideias podem ou devem ser transformadas em inovação.

Ainda Estrin (2010) ratifica Sternberg e Howkins, quando afirma que a inovação não é um golpe de sorte, mas um trabalho árduo. É preciso investimento sério, é necessário mais do que nunca reacender a chama da inovação nos setores educacional, empresarial, profissional e governamental, a fim de garantir sucesso na economia global. Para tanto, é preciso se investir em criatividade, especialmente no âmbito educacional.

A criatividade provém de seis fatores distintos que se inter-relacionam e não podem ser vistos isoladamente: inteligência, estilos intelectuais, conhecimento, personalidade, motivação e contexto ambiental (STERNBERG; LUBART, 1996; STERNBERG, 2006). Com referência à inteligência, o autor considera três habilidades intelectuais particularmente importantes, bem como a sua confluência: a habilidade de sintetizar para ver os problemas por novos ângulos e escapar do pensamento convencional; a habilidade analítica para reconhecer quais ideias devem ser desenvolvidas; as habilidades práticas-contextuais para persuadir os outros a “comprarem” suas ideias.

Quanto aos estilos intelectuais, são três e referem-se ao modo como a pessoa usa e explora a sua inteligência e as suas habilidades. O estilo legislativo é pertinente à pessoa que gosta de formular problemas, criar novas regras, ver as coisas de formas diferentes do convencional, constituindo um estilo apropriado para a criatividade. O segundo estilo, o executivo, é próprio de pessoa que gosta de implementar ideias, já partindo de um problema estruturado. O terceiro estilo, denominado judiciário, caracteriza a pessoa que tem prazer em opinar e avaliar.

O conhecimento pode ser de caráter formal e informal. É preciso tê-lo profundamente sobre o campo de atuação, mas com olhos abertos e horizontes alargados, porque muito conhecimento pode não dar abertura à criatividade e mostrar novas perspectivas. Sem o conhecimento de determinado campo é difícil para a pessoa acessar os problemas deste campo e distinguir o que é importante. Mas, o conhecimento pode ser uma faca de dois gumes, simplesmente porque pode estreitar o túnel de visão, não permitindo ver outras perspectivas, outros ângulos, ter uma visão interdisciplinar, acentuam Sternberg e Lubart (1993).

A personalidade é importante e muitos de seus atributos, como disposição para superar obstáculos, correr riscos, enfrentar desafios, tolerar ambiguidades e manter a autoconfiança e a autoestima em alta, contribuem para o desenvolvimento e expressão da criatividade. Traços de personalidade, embora sejam relativamente estáveis, podem sofrer alterações ao longo da vida e serem influenciados pelas condições ambientais. Também estão parcialmente sob o controle da pessoa, podendo ser autodesenvolvidos.

motum e o substantivo motivum, do latim tardio, deram origem ao termo „motivo‟, que é o que leva uma pessoa à ação. É um conjunto de forças impulsionadoras para alguma coisa (BZUNECK, 2002). Embora a motivação intrínseca seja essencial à criatividade, também Sternberg e Lubart (1995) não descartam a motivação extrínseca, ou seja, aquela proveniente de forças externas e consideram que ambos os tipos de motivação estão frequentemente em interação e combinação.

O contexto ambiental, para os autores, é também importantíssimo, pois a criatividade não ocorre no vácuo e todo produto criativo é julgado e avaliado pela sociedade. Ele pode