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Importância/concepções de criatividade e características da pessoa

5 DISCUSSÃO

5.1 Importância/concepções de criatividade e características da pessoa

O mundo vive um momento de possibilidades, necessidades e de questionamento de limites e paradigmas, uma complexidade crescente. Mudanças e contramudanças ocorrem ao nosso redor e no interior de nós mesmos, assinala Toffler (2007) em espantosa velocidade. Há necessidade crescente de inovação no mundo dos negócios e das ideias, que valem dinheiro, capital e benefícios e são essenciais neste mundo competitivo. Da mesma forma, professores e estudantes entrevistados vislumbraram esse mundo novo complexo, com características peculiares apontadas por diversos autores, como Bauman (2004), Castells (1999, 2003), Giddens (2008), entre tantos outros, e sinalizaram a importância de ser criativo na atualidade, no contexto da pós-graduação - celeiro de pesquisas - e também na vida pessoal e profissional.

É preciso investir em ideias que solucionem problemas e desafios da humanidade e, por isso, a criatividade precisa ser plenamente reconhecida no meio educacional e profissional e, não só isso, é indispensável haver sensibilização de todos quanto à sua importância para que possam realmente incorporá-la em suas atividades. Conforme a teoria de Investimento em Criatividade, suporte deste trabalho, uma ideia realmente pode ser boa, ruim, indiferente. Por isso, é mister avaliá-la, verificar seu real valor e escolher a melhor estratégia de investimento; isso é um dos papéis fundamentais de professores e pesquisadores no âmbito da formação do pesquisador. E os professores entrevistados tinham consciência disso.

A ciência, acentua Weisberg (1993), vai muito além de mera coleção de fatos importantes e, muitas vezes, é necessária a criatividade tanto para o indivíduo lidar com coisas simples ou com métodos sofisticados. Lembrando as palavras de Estrin (2010, p. 4), “o

papel da educação e cultura, no que tange instruir, inspirar e motivar inovadores do futuro, é imprescindível”. A inovação não provém do vazio, do nada; ela procede da pesquisa, do desenvolvimento e da aplicação; e a pós-graduação foi reconhecida pelos entrevistados como o tempo para se romper fronteiras, ir até o desconhecido, buscar o novo, o que vem confirmar o que Craft (2007), Ponti e Ferraz (2006) e outros já tinham declarado. Entretanto, as respostas dos entrevistados deixaram transparecer que a criatividade não vem sendo estimulada na universidade na extensão desejável, inclusive apontaram barreiras ao seu fomento naquele contexto. Tal fato já havia sido evidenciado por outros pesquisadores como Rosas (1987), Alencar (1997b, 2002b), Cropley (2005) Jackson (2007a, b).

É evidente que o desenvolvimento da criatividade não pode se restringir à educação superior. Como muitos professores entrevistados e alguns estudantes salientaram, ela deveria ser incentivada desde a pré-escola e, se desde então, fosse desenvolvida, os indivíduos chegariam à universidade utilizando-a de forma mais plena. Alguns se surpreenderam com a perspectiva colocada pela entrevistadora de que as teorias sistêmicas afirmam que a criatividade pode ser desenvolvida em vários ambientes onde a pessoa vive e convive, independentemente da idade e da condição social, dependendo dos estímulos que receber, inclusive na fase adulta.

Antes de se discutir as concepções de criatividade apresentadas por estudantes e professores, faz-se relevante para esse entendimento o significado de concepção: do latim conceptus, do verbo concipere, significa conter completamente, formar dentro de si; é aquilo que a mente concebe ou entende; uma ideia ou noção, representação geral e abstrata de uma realidade. Pode ser também definida como uma unidade semântica, um símbolo mental ou uma unidade de conhecimento. Conceitos são portadores de significado.

Disso decorre ser importante se conhecer as concepções de criatividade de estudantes e professores. Nas concepções apresentadas, não houve surpresas: ênfase na inovação, na quebra de padrões, no vencer limites e fronteiras, na solução de problemas, ideias essas que coexistem entre os especialistas da área de que a criatividade implica a produção de algo novo, seja de forma totalmente original ou incremental e na solução diferenciada a problemas como consta, por exemplo, na definição de Torrance e de outros.

Da mesma forma que algumas pesquisas empíricas citadas neste trabalho, como as de Oliveira Z. e Alencar (2007), Oliveira E. (2007) que enfatizaram a dificuldade em se obter uma definição precisa, até porque a própria criatividade é um assunto complexo, multifacetado, indescritível em sua totalidade, conforme sinalizado por vários pesquisadores como Alencar, Fleith, Lubart, Sternberg, Wechsler, também as entrevistas realizadas com

estudantes e professores da pós-graduação stricto sensu ratificaram essa constatação, com concepções baseadas no senso comum. Alguns entrevistados não deram precisamente uma concepção de criatividade, mas a relacionaram com produtos inovadores e com características das pessoas criativas, o que já fora salientado por Weisberg (1993). Segundo esse autor, ao se pensar em criatividade, logo vem seu relacionamento com o processo, a seguir com as pessoas criativas e por último com os produtos novos. Salienta ainda que o critério primário para denominar um produto de criativo é o fato de ser uma novidade. Lembra, também, que nem todo produto criativo tem o mesmo grau de importância.

De modo geral, os entrevistados demonstraram ter pouco ou nenhum conhecimento científico sobre criatividade e suas implicações educacionais, por não terem cursado disciplinas sobre o assunto, participado de cursos e lido muito pouco ou mesmo nada a respeito do tema. Tal fato já havia sido evidenciado por Alencar e Fleith (2010), quando afirmaram que grande parte dos professores universitários desconhece o que está sendo pesquisado a respeito de criatividade. A mesma conclusão pode-se estender aos professores de pós-graduação stricto sensu. Talvez por isso tenham tido dúvidas e dificuldades em expressar um conceito, sobretudo os estudantes, embora todos tivessem noção sobre esse tema, sabiam identificar quem é criativo e nesse aspecto citaram várias características do indivíduo criativo, também já catalogadas pelos pesquisadores de criatividade, como Alencar e Fleith, De La Torre, Wechsler, entre outros, citados na revisão de literatura deste trabalho, como: flexibilidade, imaginação, originalidade, coragem, persistência, dedicação, curiosidade, conhecimento, paixão pelo que faz, entusiasmo, entre outras.

Com referência às diversas áreas da ciência de procedência dos entrevistados, verificou-se que não importa a área a que pertençam, todos entendem o que vem a ser criatividade, embora não de forma precisa. Ademais, observou-se consonância entre as concepções apresentadas pelos participantes e aquelas registradas na literatura da área, incluindo as dimensões de novo, original, útil, de valor social, já indicadas por pesquisadores do constructo criatividade, como Alencar, Csikszentmihalyi, Fleith, Lubart, Wechsler, entre outros.