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3.2. Desenvolvimento dos Estudos de Análise de Risco

3.2.2. Critérios de tolerabilidade de risco

Os riscos estimados devem, então, ser comparados com critérios tolerabilidade e aceitabilidade. O Health Safety Executive (2001), do Reino Unido, define Tolerabilidade de Riscos (Tolerability of Risk – TOR) como um meio para “alcançar decisões, se os

aceitáveis e sua aplicação na prática”. Neste contexto, “tolerável” não significa “aceitável”.

Para Pidgeon (2003), a tolerabilidade refere-se a conviver com um risco garantindo certos benefícios e com a confiança de que ele é adequadamente controlado. Tolerar um risco não significa considerá-lo negligenciável ou que, de alguma forma, se possa ignorá- lo, mas algo que precisa ser mantido sob constante revisão, e que deve ser reduzido até onde for possível.

Vários estudos têm sido realizados no sentido de estabelecer critérios de tolerabilidade de riscos, que são de grande valia na avaliação dos riscos impostos por atividades industriais à população.

O relatório Risk Assessment, A Report 01 a Royal Society Study Group (RSSG), elaborado no Reino Unido em 1983, é uma referência para a definição de critérios de tolerabilidade de riscos. Esse trabalho define uma faixa de valores de riscos, acima da qual eles são considerados inaceitáveis, exceto em atividades voluntárias ou em tempos de guerra. Da mesma forma, é sugerido um limite inferior, abaixo do qual os riscos podem ser considerados aceitáveis; já, para riscos existentes entre esses dois níveis, há a necessidade dos mesmos serem reduzidos.

O relatório do RSSG sugere que para a maioria das pessoas riscos de morte da ordem de 10-6 mortes/ano podem ser considerados como insignificantes; portanto, esse valor pode ser considerado como o limite inferior, ou seja, riscos menores que este valor devem ser considerados como aceitáveis. Já, para o limite superior, o mesmo documento sugere um valor de 10-3 mortes/ano.

Também no Reino Unido, o Advisory Committee on Major Hazards (ACMH) há alguns anos vem estudando critérios voltados para a tolerabilidade de riscos impostos à população. Na terceira edição de relatório sobre esse tema, publicado em 1984, o trabalho menciona que o critério estabelecido considera os seguintes princípios:

o risco de um perigo maior para um trabalhador ou para um indivíduo do público não deve ser significativo, quando comparado com outros riscos aos quais a pessoa é exposta em sua vida diária;

o risco decorrente de qualquer perigo maior deve, tanto quanto razoavelmente praticável, ser reduzido;

onde houver o risco de um perigo maior, o desenvolvimento de um perigo adicional não deve ser significativo para o risco existente;

se o possível dano decorrente de um acidente é alto, o risco de que o acidente ocorra deve ser o mais baixo possível.

Critérios comparativos de riscos individuais são bastante utilizados, considerando atividades rotineiras da vida cotidiana dos cidadãos. Kletz (1982), Kletz (1985) e Gibson (1988) realizaram diversos estudos no Reino Unido, comparando os riscos para os trabalhadores em plantas de processo com outros riscos, voluntários e involuntários, conforme apresentado na Tabela 3.1, que apresenta uma listagem de valores para o risco individual relacionado às diversas atividades.

O governo holandês estabeleceu um critério para a aceitabilidade de riscos individuais, fixando os valores de risco em 10-6 ano-l como máximo permissível e em 10-8 como risco insignificante.

No Reino Unido, o Health & Safety Executive (HSE) estabeleceu um critério para o planejamento de uso e ocupação de solo na vizinhança de plantas industriais (Risk Criteria

for Land-use Planing the Vicinity of Major Hazards, 1989). Esse critério divide as áreas

existentes ao redor das plantas perigosas em três zonas, combinando essa divisão com os tipos de empreendimentos existentes, de forma a subsidiar o uso do solo nessas regiões.

Tabela 3.1 – Risco individual estimado para diversas atividades Atividade Risco Individual (ano-1)

Tomar Pílula(1) 2,0 x 10-5

Jogar Futebol(1) 4,0 x 10-5

Dirigir Automóvel(1) 1,7 x 10-6

Fumar ( 20 cigarros/dia)(1) 5,0 x 10-3

Meteoritos(2) 6,0 x 10-11

Transporte de Substâncias Químicas(2) 2,0 x 10-6

Explosão de um vaso pressurizado (USA)(2) 5,0 x 10-6

Raio (UK)(2) 1,0 x 10-7

Enchentes por Barragens (Holanda)(2) 1,0 x 10-7

Vazamento de uma Planta Nuclear a 1km (UK)(2) 1,0 x 10-7

Leucemia(2) 8,0 x 10-5

(1) Risco Voluntário (2) Risco Involuntário Fonte: HSE (1988)

Os limites dos níveis de risco individual, considerados para a definição das zonas de riscos são os seguintes (HSE, 1988):

Zona I: riscos acima de 10-5mortes /ano

Zona II: riscos situados entre 10-6mortes/ ano e 10-5mortes /ano-1 Zona III: riscos situados entre 10-7 mortes/ano e 10-6 mortes/ano-1.

Em relação a essas zonas de referência, foi estabelecido o princípio ou critério ALARP (As Low As Reasonably Praticable)17, embora situados abaixo da região de

inaceitabilidade, os riscos devem ser reduzidos tanto quanto for razoavelmente praticável. As

Figuras 3.4, 3.5 e 3.6 apresentam o critério mencionado para o risco individual e social, cuja composição define o perfil de vulnerabilidade da instalação em relação aos riscos que ela está impondo à população concernida, ao meio ambiente e ao patrimônio.

No Brasil, os estudos no sentido de se estabelecer um critério para a tolerabilidade de riscos impostos por instalações ou atividades perigosas, ainda se encontram em fase inicial, não havendo, portanto critérios quantitativos estabelecidos. A prática utilizada, em especial para nortear o licenciamento ambiental, tem sido a adoção de critérios internacionais para subsidiar a tomada de decisão quando da aprovação da instalação de empreendimento de maior risco. A FEAM aceita os critérios de Hong Kong e do Health & Safety Executive (HSE), no contexto da norma P2461 da CETESB/SP.

17 Às vezes também representado como ALARA (As Low As Reasonably Achievable), ou seja, “tanto quanto

Figura 3.4 – Critério de tolerabilidade de risco (ALARP)

Fonte: Adaptado de HSE (2001)

Figura 3.5 – Critério de tolerabilidade para o risco social (A)

Figura 3.6 – Critério de tolerabilidade para o risco social (B)

Fonte: Governo de Hong Kong (2003)