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3.3. Percepção de risco e comunicação de risco

3.3.4. O processo de comunicação de risco

Em seu livro, Understanding Risk: Informing Decisions in a Democratic Society, o National Research Council (U.S.). Committee on Risk Characterization, W. Dc. (1996) define caracterização do risco como uma síntese da informação sobre um perigo, endereçada aos tomadores de decisão e à população afetada, e que depende de um processo interativo e analítico-deliberativo.

A percepção de risco é analítica e afetiva. Isso explica por que os temores do público nem sempre estão associados com os acontecimentos reais. O reconhecimento desse ponto de vista permite que os governos façam um trabalho mais efetivo de comunicação de risco através de políticas, e de opiniões que surgem como resultado delas.

Estudiosos da percepção de risco têm investigado sobre as características de perigo que têm influência sobre a maneira de perceber o risco por um indivíduo ou população. O Quadro 3.1 mostra algumas dessas características, apresentadas por Fischoff et al., (1981) consideradas essenciais para um desenvolvimento de um processo de comunicação de risco mais eficaz.

É importante que se entenda que a percepção pública do risco muda constantemente e evolui da mesma forma que a dinâmica de mudança da opinião pública, pois é uma resposta ao ambiente em que se vive. Conhecer e entender os fatores que influenciam a evolução da opinião contribui para a estruturação, o desenvolvimento e a evolução das estratégicas de comunicação relacionadas aos riscos.

Quadro 3.1 – Características de perigo que tem influência na percepção do risco Características de perigo que têm influência na percepção do risco

Riscos aceitáveis Riscos inaceitáveis

voluntários involuntários sob controle descontrolados

claramente benéfico de pouco ou nenhum benefício distribuído de maneira justa distribuído de maneira injusta

naturais causados pelo homem estatísticos catastróficos de uma fonte confiável de fonte desconhecida

familiares não-familiares (exóticos) que afetam os adultos que afetam as crianças

Fonte: Fischhoff (1981)

Já foram identificados mais de vinte desses fatores, chamados “fatores de ultraje” ou “fatores de indignação”. Covello e Sandman (2001) destacaram alguns, considerados os principais: compreensão, incerteza, efeitos retardados, efeitos em crianças, efeitos nas gerações futuras, medo, justiça, capacidade de ser recordado, mortalidade, difusão no tempo e no espaço, confiança, atenção à comunicação pela mídia, reversibilidade, natureza moral e ética, criado pelo homem versus origem natural.

Porém, segundo Sandman (2006), os dados coletados e analisados durante vinte anos indicam que a voluntariedade, o controle e a justiça, além dos demais fatores citados, são componentes importantes da definição que a sociedade faz do risco.

Quando um gestor de risco passa por cima desses fatores, e continua a se surpreender com a resposta e a indignação do público, vale a pena perguntar de quem é o comportamento irracional.

De maneira análoga, para poder reduzir a preocupação pública com os perigos moderados, os gestores devem tratar de diminuir o ultraje. Cada indivíduo, ou uma comunidade no seu conjunto tem uma noção subjetiva de risco, que envolve as noções de receio e de perigo, o grau de possibilidade de ocorrência do evento indesejável e a avaliação de perdas ou prejuízos. Essa apreciação é o resultado de diversos fatores do tipo

cultural e psicológico, além de envolver valores sociais que influenciam a postura de cada membro de uma comunidade perante a segurança e a incerteza da mesma no futuro.

A percepção do risco depende, no nível individual, da experiência vivida e da postura perante a vida e, ainda de fatores tais como idade, sexo, nível de escolaridade e a condição física social e psicológica. A comparação dos fatores envolvidos na percepção de risco por parte dos especialistas e por parte do público é apresentada na Figura 3.8.

Figura 3.8 – Percepção da avaliação de risco

Fonte: Adaptado de Canadian Food Inspection (2003)

Diversos estudos têm demonstrado que, raras vezes, os especialistas e o público estão de comum acordo em relação ao risco. Os especialistas estão propensos aos mesmos tipos de viés que o público em geral, sobretudo quando se vêem forçados a ir além dos limites dos dados disponíveis e são obrigados a se apoiar na intuição na tomada de decisão.

Entretanto, sabe-se que não há uma “receita pronta” para que um processo de comunicação de risco seja realizado com sucesso. Porém a USEPA recomenda que, é muito útil considerar as sete regras fundamentais da comunicação de risco, propostas por Covello e Allen (1988): (1) aceitar e envolver o público como legítimo parceiro; (2) escutar o público; (3) ser honesto, franco e aberto; (4) coordenar e colaborar com outras instituições e grupos que têm credibilidade; (5) satisfazer as necessidades da mídia; (6) falar com clareza e com empatia; (7) planejar e avaliar cuidadosamente as ações.

Deve-se destacar que quando as pessoas são tratadas com justiça, honestidade e respeito e se reconhece seu direito de tomar suas próprias decisões, é muito menos provável que elas subestimem os perigos pequenos. Neste sentido, a comunicação de riscos pode ajudar a explicar o perigo (SANDMAN, 1987). Ao contrário, a comunicação de risco em si não impede que as pessoas expressem sua ira abertamente, independentemente do alcance do perigo. A maioria dos indivíduos não se comportaria de maneira diferente.

Afinal, quando se deve comunicar sobre o risco?

“A comunicação deveria ser rotineiramente considerada dentro da

análise de risco a menos que estivéssemos esperando que uma comunicação

óbvia surgisse(Communicating about Risks to Public Health, Department of Health –

UK Resilience, 2008)

Essa questão também fica bem respondida ao se levar em conta que a comunicação de riscos é um dos elementos do programa de gerenciamento de riscos e que este, para ser efetivo, deverá ser integrado e construído em uma avaliação confiável, ser socialmente e eticamente aceitável pelas pessoas, e refletir seus valores.

O gerenciamento de risco efetivo requer uma comunicação de risco contínua com o público e as partes interessadas e envolvidas, considerando ambos a caracterização e o gerenciamento do risco.

É sabido que para a comunicação com o público ser bem sucedida, é preciso levar em conta o processo de gerenciamento de riscos. A estratégia do Departamento de Saúde do Reino Unido (UNIT), nesse sentido, foi a de propor uma estrutura na qual a comunicação de risco passa a ser o ponto central de todo o processo e sugerir que ela seja uma atividade contínua e que interaja com cada etapa do processo de gerenciamento de risco.

A Figura 3.9 representa a organização do processo de gerenciamento de risco com base na proposta da UNIT-UK. A estrutura resultante é muito útil, pois fornece uma visão crítica de todo o processo de gerenciamento de riscos, além de mostrar que as atividades que acontecem ou podem estar acontecendo em paralelo servirão para retro-alimentar essa estrutura, de acordo com a seguinte sequência: 1º. adotar medidas para identificar as questões de interesse do público enquanto os problemas estão sendo identificados e

explorados; 2º. facilitar as discussões entre as partes interessadas durante a análise e a criação de políticas, enquanto opções estão sendo avaliadas e desenvolvidas ; 3º. informar, tranqüilizar e explicar, enquanto políticas estão sendo implementadas; 4º verificar a satisfação das partes interessadas após a implantação das medidas de controle de risco, enquanto políticas estão sendo monitoradas e avaliadas.

Figura 3.9 – Comunicação de Risco no processo de gerenciamento de risco

Fonte: Adaptado de Comunicating Risk UK-Resilience (2008)

Finalmente, é preciso que se faça uma diferenciação clara entre Comunicação de Risco e Comunicação de Crise (ou Comunicação de Emergência), pois são situações bem diferentes.

A Comunicação de Risco e a Comunicação de Crise se diferem no que diz respeito à urgência para a informação compartilhada. A Comunicação de Risco tem o seu foco na possibilidade de ocorrência de eventos no futuro, onde as decisões sobre o gerenciamento e a prevenção em relação às expectativas e as possibilidades de perda são o foco. A Comunicação de Crise, por outro lado, está relacionada com um evento que já ocorreu (um acidente) onde há necessidade imediata de informar e de adotar medidas para a mitigação dos danos.

O principal foco da Comunicação de Crise é fornecer a informação que sustente de imediato os objetivos do gerenciamento e da mitigação da crise, isto é, evitando maior perda de vida, propriedade e o meio ambiente natural. Os Planos de Comunicação de Crise são atividades distintas da Comunicação de Risco, contudo eles estão inter-relacionados e, devem, portanto, ser preparados e ensaiados (repetidas vezes) como parte da rotina de preparação para a ação nas situações de emergência.

Capítulo 4 – Estudo de caso: O pólo de petróleo e gás natural da RMBH

Este capítulo tem o objetivo de apresentar o estudo de caso, inserindo na análise pretendida o cenário constituído não somente as estruturas técnicas, mas também as estruturas sociais. A compreensão da extensão do risco se dará a partir da caracterização da área, considerando as características do meio físico e biótico, do meio sócio-econômico e destacando os empreendimentos sob investigação.