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A área de estudo compreende áreas dos municípios de Betim e Ibirité, na vertente Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte21, e caracteriza-se como “um ambiente

onde a atividade industrial intensa convive com núcleos populacionais que se desenvolveram em seu entorno, constituindo cenários que apontam elevada vulnerabilidade dessas populações aos riscos ambientais decorrentes das atividades de

refino de petróleo e distribuição de derivados e gás natural que aí ocorrem

(PEDERSOLI, 2007).

A área de influência ambiental em estudo compreende áreas situadas em diferentes municípios relacionadas aos seguintes empreendimentos: Refinaria Gabriel Passos, da Ibiritermo, anteriormente denominada Usina Termelétrica de Ibirité22 e das bases de distribuição de derivados de petróleo e de gás natural.

21 A Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH foi criada em 1973 e a integravam, à época um

conjunto de 14 municípios (FJP, 1997). De lá até hoje, outros 19 municípios passaram a fazer parte do aglomerado metropolitano – por força de lei ou pelo desmembramento de distritos – totalizando 33: Belo Horizonte, Baldim, Betim, Brumadinho, Caeté, Capim Branco, Confins, Contagem, Esmeraldas, Florestal,

Ibirité, Igarapé, Itaguara, Jaboticatubas, Juatuba, Lagoa Santa, Mário Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima, Nova União, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo, Taquaruçu de Minas e Vespasiano (FJP, 2002). Os municípios de Baldim, Capim Branco, Itaguara, Jaboticatubas, Matozinhos, Nova União e Taquaruçu de Minas foram incorporados à RMBH pela Lei Complementar n.º 56, de 12 de Janeiro de 2000. A população é predominantemente urbana, distribuída em área de cerca de 9200 quilômetros quadrados. Belo Horizonte tem 2,2 milhões de habitantes e forma com os municípios de Contagem e Betim à Oeste, Brumadinho e Nova Lima ao Sul, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano ao Norte, uma única mancha urbana, praticamente contínua, assentada em sua maioria na bacia do rio das Velhas e o restante na bacia do rio Paraopeba103, rios que nascem e percorrem a região de maior atividade mineradora e industrial

de Minas Gerais, e que vão desaguar no rio São Francisco. A Região Metropolitana de Belo Horizonte constitui o maior pólo industrial do Estado de Minas Gerais.

22 A sociedade Ibiritermo Ltda possui a participação da PETROBRAS e da FIAT Energia, cada uma com

Essa área estende-se por três sub-bacias hidrográficas: a sub-bacia do córrego do Pintado, pertencente à bacia hidrográfica do rio Paraopeba, afluente do rio São Francisco, que se encontra inserida nos municípios de Betim e Ibirité; a sub-bacia do ribeirão Ibirité, formado pelos córregos do Retiro e da Onça (ou córrego Grande), cujo represamento deu origem à Represa de Ibirité; e a sub-bacia do Imbiruçu, que delimita as áreas dos municípios de Betim e Contagem, constituindo a porção norte da área de estudo (PEDERSOLI, 2007).

Essa área pode ser definida, segundo ROSA et al. (2003), como um espaço marcado pela atividade industrial e por parcelamentos urbanos destinados à ocupação e aos assentamentos humanos implantados, na maior parte das vezes, de forma desordenada, onde um contingente populacional de baixa renda atraído pela possível oferta de empregos e melhores oportunidades de trabalho, passou a residir em locais com baixo padrão de construção e de infra-estrutura básica, inadequados sob o aspecto ambiental e do uso e ocupação do solo.

Os municípios de Betim e Ibirité estão inseridos na Mesorregião Central do Estado de Minas Gerais, cuja ocupação iniciou-se no século XVI, com a chegada dos bandeirantes, motivados pela corrida do ouro (PEDERSOLI, 2007). O aumento significativo dos níveis de urbanização do município de Betim, cuja emancipação ocorreu em 1938, quando a base econômica municipal era a agricultura e a pecuária, e do município de Ibirité, que se emancipou em 1962, então considerado grande produtor de hortifrutigranjeiros, está relacionado com o grande impulso econômico ocorrido na década de 1960, com a implantação de Refinaria Gabriel Passos e a implantação da FIAT Automóveis dez anos depois. Essas indústrias induziram a formação de um pólo industrial constituído por empreendimentos tanto do setor de autopeças como de distribuição de derivados de petróleo, que, segundo ROSA et al. (2003), "atraiu um grande contingente de

pessoas em busca de oportunidades de trabalho, conformando uma extensa periferia com assentamentos populacionais implantados de forma desordenada, inclusive com processos de favelização, os quais foram causados, principalmente, pela migração de moradores expulsos das áreas urbanizadas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, devido ao alto custo das moradias".

Na região, nos anos que se seguiram, foram implantadas várias distribuidoras de combustíveis pertencentes às empresas do setor de petróleo – Shell, Exxon-Texaco, Br Distribuidora, Ipiranga, Ale, Agip, Utragás, Minasgás, Supergasbras, Betingás completar. No primeiro semestre de 2002 foi inaugurada a Usina Termelétrica de Ibirité, posteriormente batizada de Ibiritermo, projetada para gerar 240MW, operando com gás natural (COPAM, 2002).

A área em estudo recebe gás natural, para uso e distribuição, cujo sistema de gasodutos se estende a partir de Cabiúnas, em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, recebendo gás natural dos poços da Bacia de Campos, com um tronco para chegando a Minas Gerais pelo GASDUC, até Duque de Caxias, e daí, pelo GASBEL, que opera desde 1993, passando por Juiz de Fora, Barbacena e Congonhas, e abastece, principalmente, indústrias da Região Metropolitana de Belo Horizonte (SEVÁ Fº. et al., 2002).

A caracterização da área de estudo refere-se aos aspectos do ambiente físico e biótico e sócio-econômico da área de influência que direta ou indiretamente, estão ligados aos empreendimentos e tem como objetivo subsidiar a análise de exposição aos riscos associados às atividades industriais desenvolvidas naquela região.

O clima da região23 é caracterizado pela interação de fatores atmosféricos e geográficos e intensa radiação solar. O regime pluviométrico descreve um ciclo básico unimodal, com verão chuvoso e inverno seco. A estação chuvosa estende-se de outubro a março e a estação seca vai de abril a setembro. De acordo com os dados da estação meteorológica instalada na Refinaria Gabriel Passos, os ventos predominantes são do quadrante Nordeste, seguidos dos ventos do quadrante Norte. A velocidade média do vento é de 1,7m/s, com amplitude variando entre 0,5m/s e 3,6m/s (SANTI, 2001).

A área de estudo insere-se, essencialmente, no domínio geomorfológico correspondente a zonas de colinas esculpidas em rochas granito-gnáissicas do Complexo de Belo Horizonte, que corresponde a mais de 60% da área da RMBH, abrangendo os

23 O clima da região é classificado como Tropical Subquente e Semi-Úmido, A temperatura média anual é de

20,5ºC, sendo registrada a máxima mensal em fevereiro, de 29,5ºC e a média mensal mínima em junho, de 8,7ºC, sendo que as temperaturas mínimas ocorrem nos meses de junho e julho. A precipitação média anual é de 1.480mm e a taxa média de insolação é de 2.492 horas, sendo que a insolação máxima ocorre no mês de agosto. A umidade relativa média anual é de 75,5%, sendo os níveis de umidade relativa mínima, registrados no mês de setembro (PEDERSOLI, 2007; PROENCO, 2004; SANTI, 1999).

municípios de Betim, Contagem, Juatuba, Esmeralda, Ribeirão das Neves, São José da Lapa, Vespasiano, Santa Luzia e parte significativa dos municípios de Belo Horizonte,

Ibirité, Mateus Leme, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Sarzedo, Igarapé, Florestal,

Pedro Leopoldo, Sabará e Caeté. Seus limites correspondem, ao Sul, à Serra do Curral e seus prolongamentos e, ao Norte, ao vale do Ribeirão da Mata. Suas características geomorfológicas constituem um dos fatores que propiciaram a concentração urbano- industrial nessa área (PEDERSOLI, 2007; PROENCO, 2004; SANTI, 2003).

Os córregos e ribeirões correm ao longo de vales abertos, em padrão dendrítico, estão relativamente encaixados e possuem vazões pequenas e suas águas estão bastante poluídas. O córrego do Pintado nasce no município de Betim, a montante da REGAP, ao norte da Rodovia Fernão Dias. Após passar pela área de refinaria por meio de um canal, recebe o córrego Palmares. O córrego Palmares nasce no município de Ibirité, em região dos bairros Cascata e Jardim das Rosas; passa, a seguir, pelo bairro Petrolina, recebendo ao longo de seu percurso aporte de esgotos sanitários sem tratamento.

A partir da confluência com o Palmares, o córrego do Pintado entra no município de Ibirité, passando pelo Distrito Industrial implantado no município e corta os bairros Jardim das Rosas e Eucaliptal. Nota-se, portanto, que, com exceção da área drenada pelo córrego do Pintado no município de Betim, a bacia do ribeirão Ibirité engloba grande parte do território de Ibirité, inclusive a área urbana, tendo seus limites coincidentes com a divisa municipal de Ibirité com Belo Horizonte e Brumadinho (COPAM, 2005).

Além da bacia do córrego do Pintado, a área de estudo abrange área da sub-bacia hidrográfica do córrego do Imbiruçu, cujo divisor na região de montante, delimita os municípios de Betim e Contagem. Esse curso d’água flui para o Oeste, sendo acompanhado pelo traçado da Rodovia Fernão Dias e do eixo ferroviário da Ferrovia Centro Atlântica – FCA. No seu percurso, corta os bairros do Imbiruçu e Jardim Teresópolis, onde estão instaladas as bases gasíferas e o Pool de Imbiruçu. Depois de passar por outros bairros, deságua no rio Betim, afluente do rio Paraopeba (PEDERSOLI, 2007; PROENCO, 2004).

A Refinaria Gabriel Passos está inserida na sub-bacia hidrográfica do ribeirão Ibirité, que nasce no município de Ibirité e, após um percurso de 3,7km, é barrado

formando a Represa de Ibirité. Tem um comprimento de aproximadamente 18,3km e deságua na margem esquerda do ribeirão Sarzedo.

As áreas de influência direta e indireta dos empreendimentos objeto desse estudo estão inseridas em um distrito industrial, onde vários estabelecimentos industriais se encontram instaladas, como a REGAP, a FIAT, além de outras empresas de pequeno e médio porte. A ocupação industrial, juntamente com a ocupação humana e as atividades de monocultura restringiram as áreas de vegetação nativa a pequenas ilhas.

As florestas remanescentes da região encontram-se fragmentadas, em diversos estágios e graus de preservação. A região de inserção do empreendimento é classificada como uma faixa de transição entre os domínios de Cerrado e mares de morros ou Florestas Tropicais Atlânticas. Dessa forma, localiza-se na zona de influência destes domínios fitogeográficos: os Cerrados, que se estendem em direção Norte e Oeste, em direção ao planalto central brasileiro, e o da floresta atlântica que ocupa as regiões ao Sul e à Leste, estendendo-se em direção ao litoral do País (COPAM, 2005; AB’SABER, 2003, 1977).

A região, que antes era coberta por florestas de grande porte e algumas áreas de cerrado em encostas, apresenta, atualmente, alguns fragmentos florestais em estágio secundário inicial e bastante alterado em função dos aglomerados urbanos e crescente industrialização. Além disso, há ainda o problema das monoculturas, principalmente de eucalipto, e os pastos sujos sem manejo, onde são criados animais domésticos.

Com relação à fauna, as características de contato de biomas distintos, em área de transição da Mata Atlântica para o Cerrado, favorecem a biodiversidade de espécies, mas a intensa alteração da paisagem inibiu o desenvolvimento das espécies mais exigentes quanto à integridade dos habitat (PEDERSOLI, 2007). Apesar de haver uma predominância de biótipos antropizados devido à grande ocupação humana e à presença de diversas indústrias, a existência de remanescentes florestais favorece a fauna local onde há maior oferta de alimento e refúgios. Apesar disso, com a pressão antrópica existente, as condições de sobrevivência oferecidas para a fauna, em geral, são restritas. Os mamíferos são os maiores prejudicados, por serem mais vulneráveis e de deslocamento terrestre. Uma vez que eles tendem a utilizar corredores ecológicos para seu deslocamento, sua

sobrevivência em uma área tão fragmentada fica prejudicada. Dessa forma, as aves são os elementos da fauna mais representativos desse ambiente (COPAM, 2005).

A Represa de Ibirité24 – conhecida como lagoa da Petrobras – é uma lagoa artificial construída em 1965 com a finalidade de atender a demanda hídrica da Refinaria Gabriel Passos – REGAP, mas funciona também como o receptor final dos seus efluentes após tratamento.

A área desapropriada para a construção dessa lagoa possuía, naquela época, baixa densidade populacional, sendo formada por algumas fazendas e por terras de propriedade do município de Ibirité. Com a implantação da Refinaria, as áreas no entorno passaram a ser rapidamente ocupadas pela população. Desde a sua formação, a Lagoa de Ibirité é utilizada para recreação (banho e pesca artesanal) pelas comunidades vizinhas, vindo a tornar-se o principal ponto turístico e, muitas vezes, a única alternativa de lazer para a população do município e das cidades próximas (RODRIGUES, 2004).

Ao longo dos anos, a ação antrópica no seu entorno tem causado progressiva degradação da lagoa, ameaçando a qualidade de suas águas, tanto para uso da população vizinha, quanto abastecimento industrial, da REGAP e da Ibiritermo.

Segundo Rodrigues (2004), alguns dos principais impactos sofridos pela lagoa são: a) lançamento de esgoto doméstico in natura na lagoa e seus afluentes, provocando, entre outros efeitos, a contaminação por esquistossomose, a tendência à floração de cianobactérias (algas azuis) e o crescimento intensivo de aguapés (problemas agravados pela expansão da rede de esgotos no município sem qualquer investimento no tratamento do esgoto coletado); b) coleta de lixo deficiente nos bairros situados às margens dos afluentes da lagoa, resultando no lançamento nos cursos d’água de detritos que são subseqüentemente carreados para a lagoa (lixo flutuante e submerso); c) remoção descontrolada da cobertura vegetal devido à ocupação desordenada do solo, resultando no assoreamento da lagoa, na erosão devido à destruição das matas ciliares e no desaparecimento de nascentes.

24 A Represa constitui um sistema lêntico e, pela elevada carga de material orgânico e mineral que chega pela

rede de drenagem, ela encontra-se eutrofizada, com conseqüências ecológicas e sanitárias que se refletem nos usos múltiplos das águas da represa, como abastecimento industrial, pesca e lazer (PEDERSOLI, 2007).

Os contaminantes tóxicos que chegam à Represa de Ibirité são originados dos efluentes das indústrias localizadas nas sub-bacias do ribeirão Ibirité e do córrego do Pintado, e do esgoto doméstico da área urbana adjacente à lagoa, mas também podem ser provenientes de fontes difusas, como as atividades agrícolas desenvolvidas nas regiões vizinhas e a extração de recursos minerais (PEDERSOLI, 2007).