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2 O PERCURSO HISTÓRICO DO CURSO LIVRE

2.3 O CURSO LIVRE DO TEATRO CASTRO ALVES

O Curso Livre do Teatro Castro Alves aconteceu entre os anos de 1979 e 1983. Foi um marco na atividade teatral do período e se transformou rapidamente em um grande sucesso, tanto nas realizações artísticas (suas montagens), como no trabalho de formação de atores. É deste primeiro momento a expressiva marca de cerca de seiscentos candidatos por ano, concorrendo às vagas oferecidas.

Iniciamos aqui a apresentação de suas cinco edições: no ano de 1979, a trajetória tem início com o I Curso Livre de Teatro do TCA. Seu corpo docente era formado pelos professores: Paulo Dourado (interpretação), Cleise Mendes (dramaturgia), Nilda Spencer

30 Diretor teatral baiano, formado pela Escola de Teatro da UFBA, da qual já foi diretor e, atualmente, é professor. Foi coordenador das 3 primeiras edições do Curso Livre de Teatro no TCA. Nos Cursos Livres de Teatro da UFBA, o professor Paulo Dourado não teve participações.

31 Diretor teatral, arte-educador, dramaturgo, jornalista, administrador, doutor em Artes Cênicas e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas. É professor da Escola de Teatro UFBA. Grande nome do teatro baiano contemporâneo, Marfuz dirigiu espetáculos teatrais e espetáculos musicais com grandes artistas nacionais. Foi coordenador da 4ª e 5ª edições do Curso Livre no TCA e da 3ª edição do Curso Livre da ETUFBA.

(voz), Conceição Castro (corpo) e Jurema Penna (improvisação). A montagem de conclusão foi Apesar de tudo a Terra se Move, uma adaptação de Cleise Mendes, sob a direção de Paulo Dourado. A equipe técnica contou com os nomes de Márcio Meirelles (cenário e figurino) e Tom Tavares (direção musical).

O primeiro espetáculo do Curso Livre do TCA foi um absoluto sucesso de público e crítica, sendo comentado pela classe teatral como um dos melhores espetáculos daquele ano. A montagem era um recorte, uma colagem de vários textos de Bertolt Brecht. O título corresponde à frase dita por Galileu após negar suas descobertas por ordem da Igreja: Apesar

de tudo a terra se move..., o que para Paulo Dourado era: “uma frase carregada de forte

conteúdo transgressor e de lucidez”32, pois correspondia a tudo que ele estava sentindo naquele momento com aquele grupo de atores, tão jovens quanto ele, sedentos para se expressar no teatro.

Vale ainda ressaltar que já na sua primeira edição, o Curso Livre conseguia encher a sala principal do Teatro Castro Alves, onde ficou em cartaz porque o teatro queria lançar em grande estilo a primeira turma formada pelo projeto. Apesar de tudo a Terra se Move estreou no dia 7 de outubro de 1979, ficando em cartaz até dezembro do mesmo ano.

Em 1980, acontece o II Curso Livre de Teatro do TCA, tendo o seu corpo docente formado pelos seguintes professores: Paulo Dourado (interpretação), Cleise Mendes (dramaturgia), Nilda Spencer (voz) e Conceição Castro (corpo). A equipe de trabalho foi mantida e a montagem de conclusão de curso foi A Terceira Margem, com direção e iluminação de Paulo Dourado. Na equipe técnica, destacava-se o trabalho múltiplo de Márcio Meirelles no cenário, figurino e caracterização. Vale citar também a dramaturgia de Cleise Mendes que organizou textos de sua autoria e outros vários autores.

O segundo espetáculo do Curso Livre repetia – e até ultrapassava – o sucesso do ano anterior. A montagem que estreou na Sala do Coro do TCA cumpriu excelente temporada e depois viajou pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, integrando um projeto de circulação cultural do Serviço Nacional de Teatro, denominado Mambembão.

Ovacionado pelo público e consagrado pela crítica, tanto a local como a do eixo Rio-SP, o espetáculo foi mencionado em matérias de jornais como O Globo e Jornal do Brasil, além da revista Isto É. Sobre o encanto da montagem, cabe citar aqui trechos das críticas teatrais de Paulo Emanuel e Rogério Menezes, publicadas no jornal Correio da Bahia nas datas de 29/10

e 22/10/80, transcritas pela historiadora Aninha Franco (1994, p. 287) em seu livro O teatro

na Bahia através da imprensa – século XX:

Domingo que passou foi a última apresentação do melhor espetáculo do ano apresentado em Salvador. A maravilhosa montagem de Paulo Dourado. [...] Resta ao teatro baiano seguir o exemplo dos meninos e meninas de A Terceira margem e perceber que o melhor nem sempre está na cópia do que o sul maravilha faz.

No ano de 1981, acontece o III Curso Livre de Teatro do TCA. O corpo docente foi basicamente mantido com os professores Paulo Dourado (interpretação), Cleise Mendes (dramaturgia) e Nilda Spencer (voz). A única alteração foi a entrada de Marlene Andrade em substituição a Conceição Castro nas aulas de preparação corporal.

O resultado de conclusão de curso foi o espetáculo Ubu Rei – Efemérides Patafísicas, texto de Alfred Jarry, também adaptado por Cleise Mendes e com direção de Paulo Dourado. A peça estreou na Sala do Coro do TCA e permaneceu em cartaz durante o mês de dezembro de 1981. Paulo Dourado, além da direção, assinava a iluminação e a direção musical. Na equipe técnica, novamente Márcio Meirelles (cenário e figurino), além de Rô Reyes (ex-aluna do I Curso Livre do TCA) na assistência de direção.

O terceiro espetáculo do Curso Livre do TCA seguiu a tradição de sucesso de público e crítica, com lotação freqüente das apresentações. A montagem trazia a marca irreverente do jovem diretor e causou furor ao público da época. O texto de Jarry ganhou uma adaptação própria com o estilo provocativo de Dourado, abalando os “alicerces tradicionalistas” da sociedade baiana. Sobre a repercussão da peça, vejamos aqui um fragmento da crítica teatral de Benvindo Siqueira ao Jornal da Bahia em 11/12/81 (apud FRANCO, 1994, p. 298-299): “Paulo Dourado, a partir do seu desejo, captou, capturou e cooptou o desejo inconsciente do grupo e da platéia, daí o sucesso de público de Ubu Rei [...] Ubu não é o espetáculo do ano, [...] mas é o fenômeno teatral do ano.”

Também é importante citar o trecho da crítica teatral de Jacques de Beauvoir ao Correio

da Bahia em 23/12/81 (apud FRANCO, 1994, p. 299): “Direção segura de Paulo Dourado e a

perfeita integração do elenco [...] e que o Curso Livre consolida-se como mais uma conquista [...] da arte cênica baiana.”

O ano de 1982 trouxe mudanças significativas para a equipe responsável pelo IV Curso Livre de Teatro do TCA. Paulo Dourado se afastava do projeto, abrindo espaço para outro

jovem diretor, já consagrado na cena local: Luiz Marfuz. O corpo docente deste ano foi assim formado: Luiz Marfuz (interpretação), Cleise Mendes (dramaturgia), Lia Mara (voz), Beth Rangel (coreografia) e Lia Robatto (corpo).

A montagem de conclusão de curso foi Decamerão, adaptação do original de Boccaccio por Cleise Mendes, sob a direção: Luiz Marfuz. A equipe técnica contou com os nomes de Márcio Meirelles (iluminação), Gilson Rodrigues (cenário e figurino) e Sérgio Souto (direção musical).

O espetáculo estreou na Sala do Coro do TCA e manteve a característica dos primeiros Cursos Livres, sendo sucesso de público e de crítica, com lotação freqüente. Além disto, a montagem também viajou para o Rio de Janeiro, tendo grande êxito de público em sua temporada no Teatro Ipanema. Sobre a repercussão do espetáculo, vejamos as palavras de Aninha Franco (1994, p. 304-305):

Em mais uma produção do já famoso Curso Livre do TCA estreou Decamerão (Boccaccio e Cleise Mendes, Luiz Marfuz), que depois de uma excelente temporada em Salvador, ocupou outras praças do país com ótima receptividade da crítica.

Outro fato relevante foi a escolha de um dos atores formados pelo Curso Livre no

Prêmio Martim Gonçalves de Teatro, principal premiação teatral da Bahia. O prêmio era

oferecido pela TV Aratu e pelo Jornal A Tarde. O jovem ator Filinto Coelho foi eleito o ator revelação de 1982.

Em 1983, Luiz Marfuz seguiu a trilha iniciada no ano anterior. O V Curso Livre de Teatro do TCA também foi pleno em realizações. O espetáculo de conclusão deste curso foi o elogiadíssimo Cabaré das Ilusões, adaptação de textos de Nelson Rodrigues por Cleise Mendes. A direção foi novamente de Luiz Marfuz que liderou a equipe técnica contando com os nomes de: Márcio Meirelles (cenário e figurino), Hebe Alves (assistência de direção) e Paulo Cunha (assistência dramatúrgica).

Nesta 5ª edição, o corpo docente foi formado pelos professores Luiz Marfuz (interpretação), Cleise Mendes (dramaturgia), Hebe Alves (voz), Beth Rangel (coreografia) e Marlene Carvalho (corpo).

O Cabaré das Ilusões estreou na Sala do Coro do TCA, mantendo o alto nível de realização dos anos anteriores. O espetáculo também concorreu ao Prêmio Martim Gonçalves

de Teatro e, desta sorte, foi a vez de uma das atrizes formadas pelo Curso Livre, Gisele

Machado, ser eleita a atriz revelação de 1983.

Antes de encerrarmos o registro deste período, cabe ainda fazer menção a alguns dos alunos formados nestes primeiros cinco anos do Curso Livre do Teatro Castro Alves. São artistas que se tornaram profissionais atuantes da cena local (e brasileira), sendo alunos desses primeiros passos do curso. Destacam-se: Gideon Rosa (I e II CL - 1979 e 1980), Rô Reyes (I CL - 1979); Eduarda Uzêda e Paulo David (II CL - 1980); Hirton Fernandes Júnior, Iami Rebouças, Meran Vargens e Luís Sérgio Ramos (III CL - 1981); Lelo Filho (IV e V CL - 1982 e 1983); Agê Habib, Filinto Coelho, Hilton Cobrinha, Lino Costa, Moacir Moreno, Nélia Carvalho e Yulo Cezar (IV CL - 1982); Frank Menezes, Kita Veloso, Meire Moreno e Ricardo Bittencourt (V CL - 1983).

A quinta edição marca também a despedida do Curso Livre de Teatro do Teatro Castro Alves. Mesmo com a vitoriosa trajetória alcançada, tendo se tornado rapidamente um grande sucesso artístico e formativo, o Curso Livre não teve o seu êxito reconhecido pela gestão pública, quando da troca de governo no Estado da Bahia. Em 1983, Eduardo Cabús assume a direção artística do TCA e, sob o argumento de que o Curso Livre não era economicamente viável, extinguiu o projeto. Sobre o fato assim se posicionou a historiadora Aninha Franco (1994, p. 315), em sua obra O teatro na Bahia através da imprensa – século XX:

Cabaré das Ilusões [...] estreou como resultado do V – e último – Curso Livre de Teatro do TCA, criado pela gestão Theodomiro Queiroz e J. A. Burity no Castro Alves. Suas montagens sempre foram sucessos de crítica e público em Salvador e fora do Estado, responsáveis pela iniciação de atores como Gideon Rosa, Iami Rebouças, Filinto Coelho e Frank Menezes. Mas nada disso pesou na decisão do diretor artístico do TCA – Eduardo Cabús – que resolveu pela extinção do projeto.