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3 O PROCESSO FORMATIVO ATRAVÉS DO EXERCÍCIO DE

3.16 DÉCIMA ATIVIDADE: FIGURINO

É uma atividade que demanda preparação do condutor. Antes do começo da aula, todos os alunos se caracterizam. A rotina de se vestir e maquiar acompanhará os alunos em toda sua vida prática profissional posterior. Há neste ato um treino de preparação e afinação do ator, que deve ser visto com concentração e não dispersão. É difícil conter o frisson deste dia! Mas, o condutor deve reunir todos, antes de tudo, para estabelecer um clima de tranqüilidade e seriedade antes do começo dos trabalhos.

PESQUISA INDIVIDUAL com RODA DE PERSONAGENS:

O trabalho começa a ser realizado sem falas. A comunicação com os outros acontece a princípio, somente pelo olhar no círculo. O condutor indica a instalação das personagens a partir da lembrança dos pontos de segurança. Os alunos começam a andar pela sala com o andar da personagem, buscando pontos da sala onde foram realizadas as improvisações mais importantes para sua construção.

Retorno ao círculo de personagens. Cada aluno dirá ao grupo uma fala característica da sua personagem. Todos repetem este texto, não imitando a forma da personagem, mas adequando o texto à realidade da sua personagem – “como você diria este texto?”

Concluídas todas as falas, cada aluno deve escolher um texto que ele adaptou às circunstâncias da sua personagem, e o apresenta no círculo de um modo absolutamente seu. Nova apresentação individual, dizendo a fala do outro como se fosse da sua personagem.

ESTÍMULOS DO CONDUTOR:

Todos voltam a andar pela sala até que o condutor organize as personagens numa fila frontal. Uma por vez, cada personagem vai passando sob o crivo dos olhares julgadores das outras personagens. “Como você reage aos olhares do mundo? O que você vê nessa pessoa, como ela o julga?”

O condutor, então, dispõe as personagens em uma platéia. No palco, a cada improviso será montado um cenário improvisado. O aluno deve entrar quando perceber que o cenário instalado serve de ambientação à sua personagem. O aluno pode sair da cena quando quiser, mas deve buscar a interação com os outros. O cenário proposto pode servir para a realização de uma ou mais cenas, dependendo da quantidade de alunos que se interessem por este. O condutor salienta que não se deve improvisar dentro do cenário, mas sim, interagir com os outros. Sendo assim, não é importante entrar por conta de um cenário, mas sim revelar sua personagem e não guardá-la dentro de si.

CENÁRIOS A SEREM UTILIZADOS: a) Fila de Banco

b) Praça c) Bar

e) Ponto de ônibus de noite f) Repartição pública g) Shopping

h) Foyer de um teatro

i) Balaustrada ou barraca de praia

O condutor pode e deve pensar em outros cenários para improvisação. Cada aluno deve participar em pelo menos um cenário.

RODA DE PERSONAGENS:

Após as improvisações, dá-se o retorno ao círculo de personagens, a uma prática que foi denominada “chuveiro de emoções”. Desta vez, com todos bem próximos, ombro a ombro, num círculo fechado e com a luz apagada. É um momento solo de trinta segundos – quando a personagem entra e fala, sem intenção de apresentações, sem pausas, sem reflexão – porque o ator cria apenas as circunstâncias da brevíssima cena como um desabafo, um “vômito”, uma necessidade da personagem de se revelar e não se esconder. Os colegas não reagem.

O condutor não dirá quem entra cada vez, ele surpreenderá cada integrante empurrando- o para dentro do círculo. Nenhuma personagem sabe a hora que entrará – nem deve construir mentalmente sua ação – apenas deve deixar que a dinâmica do momento guie sua cena sucinta.

ESTÍMULOS DO CONDUTOR:

Concluído o “chuveiro de emoções”, todos ainda bem próximos, dão um abraço coletivo, relaxando. O condutor deve dar alguns momentos antes de desconstruir a roda e acender a luz da sala para uma conversa. Todos buscam seus cadernos para breves anotações; o condutor dita algumas perguntas para que o aluno anote, reflita e as responda em seu diário de bordo:

a) “A ansiedade para fazer a cena o atrapalhou?” b) “Quanto você pôde revelar da sua personagem?”

c) “Você possui um conhecimento grande da personagem. Aplicou isto na cena?” d) “Com certeza, ao se relacionar com os outros, imprevistos aconteceram nos

improvisos. As novidades podem aumentar sua visão da personagem? Foi possível descobrir algo nunca pensado anteriormente?”

e) “A racionalidade excessiva lhe prende? Você ainda pensa antecipadamente sobre o que sua personagem vai falar?”

f) “Como você lida com este impulso retira o auto-controle para dar vazão ao desconhecido da sua personagem?”

g) “Você precisa deixar sua personagem ir além dos seus registros ou pensamentos? Não aprisione seu passarinho na gaiola, deixe-o voar por onde ele não conhece. Não tenha medo do vôo, tudo aquilo que você plantou será de algum modo aplicado.”

NA PRÓXIMA ATIVIDADE...

No próximo encontro, cada aluno apresentará uma cena, contracenando com um personagem imaginário. A cena é um diálogo da personagem com alguém da sua vida. Evidentemente, a platéia não ouvirá o que a outra personagem diz, mas através das falas e ações da sua personagem, deduzirá o que acontece na cena. É importante que a condução da cena seja da sua personagem.

O aluno deve construir um gráfico de emoções da cena; é necessário, pelo menos, cinco variações de estados emocionais em três minutos. Um exemplo deste gráfico de emoções poderia ser: calma / riso / indiferença / raiva / explosão.

A cena apresentará uma estrutura clara de início, meio e fim com duração de, pelo menos, três ou quatro minutos. A cena deve ser ensaiada antes da apresentação, mas não precisa de texto totalmente memorizado. Contudo, o aluno deve estar ciente de que não é um improviso em sala. Todas as circunstâncias propostas pela cena são definidas pelo aluno: local, hora do dia, quem chega... Vale lembrar que o figurino pode ser alterado já que as circunstâncias da cena podem ser completamente diferentes.

INDICAÇÕES AO CONDUTOR:

O condutor não pode permitir que a caracterização se desenvolva numa “algazarra” – o que pode facilmente ocorrer. Deixe claro que o trabalho exige seriedade e concentração. O condutor deve falar da importância que tais rituais têm a cada noite nos camarins dos teatros.

Nos cenários improvisados, a aula se revela como uma atividade fundamental – um divisor de águas – para o condutor perceber os alunos que ainda encontram dificuldade na construção da personagem. Ele deve perceber os alunos que apenas demonstram a personagem. Um aluno que, por exemplo, entra no improviso e não se disponibiliza ao

diálogo com as outras personagens. Que se faz foco único na cena. Na realidade, o cenário apenas cria uma ambientação para as personagens. A importância está no relacionamento entre os participantes. O condutor não deve estabelecer um número – máximo ou mínimo – de atuantes; mas, deve deixar claro aos seus alunos que não é preciso personagens para “caracterizar” o cenário. Contudo, também não pode esquecer que dificilmente, iniciantes conseguem realizar bons improvisos com grande número de integrantes na cena, pois todos são afoitos para se integrar na interação.

A cena é uma oportunidade de revelar a personagem, o aluno não pode entrar num improviso e representar a personagem como se estivesse começando hoje. A “bagagem” deve ser aplicada na cena.

O “chuveiro de emoções” pode ser um momento libertador para muitos alunos. Estes trinta segundos contam muito na experiência do aluno porque revelam os seus bloqueios e dificuldades.

• Não pode haver “festa” no momento da caracterização. • Perceba os alunos com dificuldade com a personagem.

• O ator não cria uma personagem para guardá-la apenas dentro da sua cabeça.

• A racionalidade excessiva aprisiona a imaginação. Isso frustra e inibe a criatividade e a iniciativa na construção da cena.

• O chuveiro de emoções chega ao cerne do que o aluno não consegue exprimir.