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3 O PROCESSO FORMATIVO ATRAVÉS DO EXERCÍCIO DE

3.18 DÉCIMA SEGUNDA ATIVIDADE: ENTREVISTAS

A experiência tem mostrado que são necessários mais do que dois encontros para esta atividade. Geralmente é realizada em três encontros. Isto porque nesta atividade, o condutor deve conceder atenção individualizada para cada aluno. É um processo onde cada aluno estará sob foco, em ação, num período de tempo necessário à atividade. Não há uma medida exata de duração cronometrada, mas cada aluno deve permanecer aproximadamente quinze minutos sob foco.

Antes dos alunos chegarem, o condutor prepara o local. São montados três semi-círculos com cadeiras intercaladas, frontais para uma quina da sala, na composição de uma “berlinda”. No ponto de convergência dos olhares é colocado um banco – sem encosto de preferência. É neste ponto que a personagem ficará sentado durante a entrevista, visível para todos.

Foi avisado que para esta atividade os alunos estariam responsáveis pelo processo de caracterização. Os alunos são chamados para o aquecimento e apenas percebem a estrutura montada. Caso, o condutor possa aprimorar a estrutura, melhor: como por exemplo, o uso de luz única no ator e penumbra nos participantes. Contudo, a formação simples já descrita sempre se mostrou eficaz. Os alunos devem perceber que há um clima diferente – mais denso – para esta atividade.

ESTÍMULOS DO CONDUTOR:

a) O condutor indica que todos devem andar pela sala, realizando o aquecimento com as memórias da sua personagem. Os alunos devem se lembrar das vezes em que já puseram o figurino. Lembrar-se da maquiagem e da preparação no espelho para esta caracterização.

b) Atenção para a seguinte convenção desta atividade: o aluno fará um exercício em que a personagem deve buscar a exposição. O aluno deve, com toda sua atenção, procurar falar e expor as vivências da personagem, suas histórias. Deve procurar não reter as informações.

c) O aluno não deve preparar mentalmente discursos. Deve deixar que a imprevisibilidade da situação produza o seu comportamento e perceber o clima da instabilidade porque estará exposto diante de todos para se expor.

d) O aluno deve, sobretudo, lembrar-se de que deve falar e não cair em silêncio. De nada adianta construir uma história e guardá-la para si mesmo. Não é o momento de se negar, é o momento de revelar, agir e deixar as coisas fluírem.

O condutor pede que todos venham até ele para pegar um pequeno pedaço de papel onde os alunos escreverão o nome da sua personagem. Os alunos devem utilizar o ato de escrever como instalação para a personagem, sendo esta quem entrega o papel com o nome anotado. O condutor recolhe os papéis e pede que todos se sentem nas cadeiras. Numa atmosfera apropriada, algo de tensão e suspense – sem exageros – o condutor sorteia o nome de uma personagem que é chamada a sentar-se para a entrevista.

A ENTREVISTA:

O condutor – atrás das cadeiras onde estão sentadas as personagens – começa um texto introdutório que contextualiza a chegada da personagem, lembrando-a que ela pediu para vir aqui hoje nos contar sua história. É somente um pretexto para iniciar a ação. A personagem deve começar buscando o olhar de todos, expondo quem é, contando sua vida, seus conflitos, sonhos, enfim, sua história. É importante deixar a personagem livre para falar: um terço do tempo deve ser dedicado a essa parte, isto é, aproximadamente cinco minutos livres. Caso o condutor perceba a dificuldade do aluno em apresentar a personagem, deve começar a provocar a personagem com perguntas. Faz parte do trabalho do condutor provocar a fala do aluno. É natural a intimidação e a retração do aluno, mas o condutor pode fazer a personagem verbalizar sua história com “provocações” bem colocadas.

Após essa primeira parte, todos os alunos podem fazer questionamentos à personagem. Mas, com bom senso e calma, para que o entrevistado tenha tempo para responder. Se um dos alunos percebe que não pode fazer uma pergunta específica porque sua personagem não faria, ele pode perguntar como ator. As perguntas devem causar desconforto à personagem, instaurando uma pressão psicológica, mas não se deve esquecer que o foco está na personagem e não nos entrevistadores, deve-se deixar espaço para que a personagem se expresse. O condutor deve estar atento a todos e ao “encurralado” para que este não se retraia no constrangimento.

Ao sentir que a personagem cumpriu bem o seu tempo de exposição na entrevista, revelando seu conflito e lidando com as diversas provocações sobre ele, o condutor conclui sua participação e sorteia o nome da nova personagem que será entrevistada.

PARTILHA:

Somente ao final de todas as entrevistas, o condutor revela o porquê das técnicas provocativas nas entrevistas. Desta forma, o condutor abre uma partilha, onde ele mesmo começa expondo a qualidade, a segurança e a busca de preenchimento de possíveis lacunas que a atividade da entrevista possibilita.

É fundamental o aluno perceber quem na provocação “respondeu”: ele – o ator – ou a sua personagem? Se o aluno percebe uma dificuldade na apresentação da sua história, ele encontrou um ponto que deve ser trabalhado. Se a sua história foi questionada em alguns aspectos que não foram colocados com credibilidade, estes pontos devem merecer sua atenção.

As respostas devem ter um alto grau de coerência, não podem ter o aspecto de mera “fachada”. Mesmo quando as perguntas ameaçam derrubar as bases de sua credibilidade, o ator deve tentar manter seu trabalho em pé. Somente as definições das lacunas e incoerências da sua personagem podem aperfeiçoar sua construção.

Os alunos apreciam muito esse exercício pela sua capacidade de expor os pontos fracos na construção. Mas, eles precisam compreender o objetivo do exercício: detectar e revisar as fragilidades na história contada e adequá-la às condições do mundo real.

INDICAÇÕES AO CONDUTOR:

A atividade das entrevistas é a atividade para qual o condutor deve se preparar com mais cuidado. Antes das entrevistas começarem, o condutor deve ser preciso com seus alunos nas indicações para que eles não sejam passivos no exercício, mas sim ativos. As personagens não devem querer impor o rumo da entrevista. Se o aluno-ator começar a olhar pro condutor, este deve mostrar que a personagem deve enfrentar o olhar de todos. Não é um diálogo da personagem com o condutor, a personagem enfrenta o julgamento dos estranhos.

O condutor deve estimular o aluno a participar, mas também deve ter calma na realização da entrevista. Muitas vezes, alguns alunos levam algum tempo até se soltar, é necessário perceber o tempo de cada aluno. A “berlinda” propicia uma pressão natural, mas a ação do condutor pode aumentar esta pressão. No exercício, o condutor deve procurar desestabilizar a personagem para ver se o aluno-ator segura sua história. Porém, as perguntas provocativas não devem ser ilógicas ou bobas. Devem ser perguntas que revertam as expectativas da personagem, como se duvidassem da sua história. Nesse sentido, muitas vezes, as colocações dos entrevistadores podem ser maldosas e mesquinhas – como todo ser humano é quando prejulga os outros.

O condutor também deve indicar com metáforas ao participante que ele não pode permanecer “quinze minutos calado”. As provocações geralmente fazem com que as personagens defendam sua história e confirmem seus objetivos. Quanto aos entrevistadores, é fundamental lembrar que o exercício é de quem está sendo entrevistado: uma infinidade de perguntas só serve para não se ter resposta alguma.

Na partilha final, nas explicações do processo da entrevista, o condutor deve deixar claro que ninguém quis desmerecer a construção do outro. Todos devem estar prontos para ser questionados. Isso pode ocorrer na rua e vai ser lá que o aluno irá se preocupar em achar a solução? Este exercício é um treinamento da segurança que o aluno tem com sua construção.

O aluno não pode ter raiva das lacunas, mas sim reconhecê-las e buscar seu preenchimento. As contradições encontradas não são inimigas, muito ao contrário! Elas ajudam a revelar ainda mais as personagens. No trabalho na rua quem for ouvir sua personagem, vai querer crer na sua história. Sendo assim, deve ficar claro ao aluno que na rua não devem ser feitas ações “teatralizadas”, mas sim, ações dentro das circunstâncias da sua personagem.

Também ao final da partilha, o condutor deve valorizar os alunos que embarcaram no trabalho com disposição; aqueles que realizam seu texto, mesmo que esteja sendo deturpado por uma maioria; aqueles que defenderam sua criação.

• Não permita posturas defensivas e retraídas. • Um ator sempre comunica a personagem.

• A ação do condutor deve procurar desestabilizar o ator para verificar se ele “segura” sua história.

• Boa intervenção é aquela que reverte a expectativa do aluno. Como se duvidasse da sua história.

• O exercício é do entrevistado. Não estamos num debate.

• As contradições encontradas não são inimigas. Os problemas são oportunidades para melhorar.

3.19 DÉCIMA TERCEIRA ATIVIDADE: DEFINIÇÕES PARA A RUA E PARA A