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3 O PROCESSO FORMATIVO ATRAVÉS DO EXERCÍCIO DE

3.9 TERCEIRA ATIVIDADE: EU E O MEU MUNDO

3.9.1 A nova descrição de dados

A nova descrição deve ser ditada pelo condutor e apresentando a seguinte estrutura:

a) Associações. Associar a personagem a: um animal; uma planta ou mineral (natureza); uma cor; um sabor; uma forma geométrica e uma arma. Não basta apenas escrever a associação, deve ser explicado por escrito o motivo dessas associações.

b) Caso a personagem fosse feita de um elemento, qual seria? Ser todo desse elemento, ajuda ou atrapalha, no modo de se relacionar com os outros?

d) Conflito central da personagem? Já é possível intuir o conflito psicológico da personagem? Existe mais de uma possibilidade? Qual conflito aparenta ser o que dará melhor desenvolvimento para a história da personagem?

e) Quem ama? Descrever. f) Quem odeia? Descrever.

g) Qual a fraqueza oculta da personagem? Existe algum segredo ou algum medo que não é revelado?

h) Rever os pontos dois e três da descrição detalhada (condição social, profissional, família, amigos, rotina). Reler e considerar o que deve ser modificado no contexto onde a personagem se situa.

i) O que surgiu de novo que será agregado?

j) Qual seria o figurino ideal para a personagem? Justifique a escolha das peças e acessórios.

k) Qual a primeira leitura (primeira impressão) que a personagem passa.

l) Qual a nova idade e o novo nome da personagem. Desvincular a personagem do seu ponto de partida. Quais adaptações serão feitas?

Com esta nova descrição, os pilares da imaginação e experimentação se reforçam, levando o aluno à busca de uma ampliação em seu processo. Busca-se, claramente, um afastamento da pessoa real observada e uma aproximação para a personagem da ficção. O aluno preencherá as lacunas existentes na história da personagem com as referências experimentais que estão sendo agregadas no decorrer do processo. Dessa forma, as indicações podem servir à sua construção como molas propulsoras para novas descobertas.

Quanto à nova idade e o novo nome da personagem, trata-se de trazer o trabalho para o campo da ficção, ao qual a construção da personagem se vincula. Assim como no início foi dito sobre as adaptações ao modelo para circunstâncias do aluno, novamente, opta-se por uma adaptação para se afastar da realidade através de um novo nome. É importante trabalhar o híbrido para que o aluno não fique com a visão primária do ponto de partida.

INDICAÇÕES AO CONDUTOR:

A capacidade de recordar é um diferencial para qualquer ator. O condutor deve reforçar essa necessidade com seus alunos. O processo contempla um somatório de nossas lembranças para se chegar às certezas.

O condutor deve alertar seus alunos da importância da instalação da personagem. Não é plausível fazer um esforço físico tão grande para a fisicalização da personagem, a ponto de não poder interpretar variações com essa personagem. O aluno deve ter cuidado para não ter somente: uma perna torta; uma voz aguda; uma boca entortada ou um olhar tenso e achar que esta simples alteração física é sua personagem. A personagem que buscamos construir é bem mais ampla do que pontos exagerados no corpo do ator.

Ao mesmo tempo, o condutor precisa perceber e questionar os alunos sobre aqueles que têm dificuldade com a fragmentação. A partir dessa fase será necessário “separar” momentos ou movimentos para torná-los contínuos depois. Isto se confirma pela ação de toda e qualquer nova realidade, a qual provocará uma mudança no ser – mesmo que sutil. Estados emocionais, pessoas à volta e até necessidades físicas interferem em nossa ação exterior.

Outra abordagem necessária que somente agora, após as três primeiras atividades, deve ser feita pelo condutor junto aos seus alunos é: “como vocês refletem sobre a capacidade que possuem de trabalhar com a imaginação”. O condutor deve valorizar com seus alunos a importância de ver com os “olhos da imaginação”. Um ator visualiza imagens e estas interferem na sua interpretação positivamente. Sobre esta condição, vale aqui citar as palavras de Stela Adler (1992, p. 36):

Noventa e nove por cento do que você vê e usa no palco vêm da imaginação. Em cena, você nunca usará seu próprio nome e personalidade, nem estará em sua própria casa. Cada pessoa com quem fala terá sido criada pela imaginação do dramaturgo. Cada circunstância em que se encontre será imaginária. E desse modo, cada palavra, cada ação, deve ter origem na imaginação do ator. Se um fato não conseguir por sua imaginação de ator, ele parecerá falso.

O que acontece é que muitos dos que estão na sala de aula não foram despertados antes para o fato de que a imaginação também pode ser treinada. A imaginação deve ser exercitada e ativada não somente em situações confortáveis para o ator. Ou seja: a maioria das pessoas não tem como entendimento comum a idéia de imaginação associada ao trabalho, ao

treinamento. Por essa razão, a reflexão deve recair justamente sobre este ponto. Esta é uma necessidade do nosso ofício:

A imaginação diz respeito à habilidade do ator em aceitar novas situações de vida e acreditar nelas. Da sua imaginação vêm as reações às coisas de que você gosta ou desgosta. Se você não pode fazer isso, é melhor desistir de representar. Sua vida inteira dependerá da capacidade de reconhecer que está numa profissão onde seu talento é construído sobre a imaginação. (ADLER, 1992, p. 39)

Nessa terceira atividade e nas próximas, existirão momentos nos quais o aluno irá se expressar. O condutor precisa valorizar tais momentos. Não pode permitir que o aluno simplesmente “se livre” desses momentos, realizando-os com pressa. É importante que o condutor insista que as apresentações existem para começar a “externar” a construção. Outra ferramenta que o condutor sempre deve valorizar são os pontos de segurança. Quais já são as certezas percebidas? Se não existem certezas, quais as percepções positivas?

Ao dar indicações durante as experimentações, as palavras do condutor devem tocar o cerne das circunstâncias propostas. Os estímulos dessa fase do processo servem para auxiliar o aluno a construir cada situação. O condutor precisa incentivar também a compreensão dos alunos para sempre ter como meta agir na experimentação. Não se deve pensar nos “nexos de ligação” durante a atividade. Alguns alunos deixam de experimentar possibilidades porque ficam pensando se aquele estímulo é coerente ou não com o seu “roteiro”. Mas, o processo está ainda sendo feito! Nunca se deve racionalizar se a indicação “serve ou não”. O aluno deve deixar esta análise para depois da atividade, quando ele estiver realizando sua reflexão escrita.

Somente nas três primeiras atividades, todos experimentaram tantos improvisos que é necessário descartar alguns. Aliás, nem seria possível manter todas as experimentações. Isto referenda a importância de anotar as descobertas do processo e ir fazendo suas escolhas. É essencial fazer isto quando o material – a emoção – ainda está fresco em nossa memória. O condutor deve checar também com os alunos como anda a capacidade de concentração deles. Houve melhora? A maioria, se não for a totalidade, responderá afirmativamente. Tal situação acontece porque a própria prática ensina.

Um ponto importantíssimo para o condutor é não abrir espaço para alunos que queiram desviar a atenção dos outros. Muitos alunos manifestam atitudes que geram uma dispersão coletiva. Uma brincadeira ou interação desnecessária levará tempo para ser esquecida e perde

minutos preciosos. O condutor precisa frisar que o respeito para com o processo é um dos requisitos para nosso ofício e uma diretriz desse trabalho.

Sobre a nova descrição de dados, o condutor deve salientar que trata-se de uma importante ferramenta de trabalho. Ela será necessária em atividades práticas posteriores, portanto, os alunos não devem adiar sua realização. O aluno deve ser alertado para não desmerecer esta ferramenta. É muito comum se entregar à preguiça de pensar que “tenho tudo na cabeça”.

Para finalizar, o condutor deve reforçar que o exercício visa a construção de uma “pessoa fictícia” que conjuga traços da pessoa observada (real) com situações imaginadas e experimentadas (imaginário). O aluno precisa dessas novas descobertas para compor sua personagem. Por ser assim, um novo nome é primordial. O nome novo desvincula o referencial anterior e é uma adaptação para sair da visão primária do ponto de partida.

• Ator é alguém que lembra.

• Importância de conhecer fisicamente a instalação da personagem. • Estados emocionais, pessoas e necessidades interferem na ação exterior.

• O esforço demasiado para fisicalização pode não permitir variações. Uma personagem não é uma parte do corpo alterada.

• Veja com os olhos da imaginação. Um ator visualiza imagens e estas interferem na sua interpretação positivamente.

• Entre agir e pensar, opte pela ação. Não queira fazer análise e experimentação juntas. Primeiro uma, depois a outra.

• Anotar as descobertas positivas. Não confie somente na memória. • O ponto de partida já foi. Agora é a hora das novas descobertas.