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D EMOGRAFIA H ISTÓRICA

No documento Dominios da Historia Ciro Flamarion Cardos (páginas 188-200)

Sheila de Castro Faria

A história da família e a demografia histórica têm, sem dúvida alguma, objetos e obje vos definidos. Percebe-se, entretanto, que sua área de interseção é extensa, ainda mais se considerarmos que a história da família, enquanto ramo específico de conhecimento (diferenciado da história da mulher e da sexualidade, por exemplo), iniciou-se, basicamente, através dos resultados surpreendentes da demografia histórica. Se é certo que a demografia, por um longo tempo, foi cri cada por um enfoque excessivamente empírico, não se pode negar que a par r dela se pôde fugir das abordagens ensaís cas, tão comuns em estudos anteriores. Consolidaram-se saberes e novos temas que, mesmo não tendo a demografia como dado central, dela fazem uso como pano de fundo para formar quadros explica vos mais gerais. Por outro lado, não se pode pensar no desenvolvimento de um novo objeto de interesse histórico, com instrumentos e métodos próprios sem um referencial mais amplo. Foram os ques onamentos sobre a situação da família, hoje, que levaram muitos estudiosos a enveredar por este caminho. A família, como problema, tornou-se tema atual e os ques onamentos sobre sua estrutura ou sua crise interessam tanto ao homem comum quanto aos especialistas.

Deve-se, antes de mais nada, fazer uma ressalva sobre o conceito de família. Vemos, hoje, no vocabulário erudito ocidental, o termo, num sen do restrito, ligado às relações biológicas, com ênfase no trinômio pai, mãe e filhos, e vinculado à coabitação. Em dicionários an gos1 há uma certa homogeneidade de significado e a primazia da

coabitação predominava sobre todas as outras relações, inclusive as consangüíneas. Assim, família englobava todos os que eram “gente da casa”, podendo ser criados, parentes etc. Trata-se, então, de famílias diferenciadas, tanto no tempo quanto no espaço. Na realidade, a história da família está ligada essencialmente ao espaço domés co, independente do sen do público ou privado que ele possa ter, nas diversas épocas. Outra constatação é a diversidade de pos ou composição das famílias, relacionada ao espaço domés co e aos sen mentos. Em relação ao Ocidente cristão, inexis ram um sistema familiar único e os sen mentos que o envolviam, inclusive num mesmo período de tempo. A diversidade caracterizou a história da família ocidental, embora alguns traços comuns possam ser iden ficados. Talvez o mais correto fosse a

pluralização do tulo: história das famílias, mesmo em se tratando só do mundo ocidental.

No Brasil, os estudos sobre a família (ou as famílias) acompanham, com passos mais vagarosos, as tendências historiográficas de outras áreas, como Europa, Estados Unidos e Canadá, mas com a especificidade de que, aqui, há uma relação ainda mais forte com a demografia histórica. Foram e são os demógrafos historiadores (ou, o que seria mais correto, historiadores demógrafos) a trabalhar com o tema freqüente e central da família. Jus fica-se, assim, a estreita vinculação entre história da família e demografia histórica, de que trato neste texto.

Pretendo expor, de forma ampla, um balanço das principais correntes e os ques onamentos atuais sobre a história da família ocidental, dando ênfase à sua ligação com a demografia histórica, vertente privilegiada no caso brasileiro.

História da família — principais abordagens

Os estudos sobre a família veram, de início, como lugar privilegiado de exploração, a Europa, principalmente Inglaterra e França, a par r do século XVI, estendendo-se, posteriormente, para outras áreas da sociedade cristã moderna e contemporânea. Pouco se tem escrito sobre a An güidade e a Idade Média, que contam com metodologia e enfoques bastante diferentes. As fontes arqueológicas, iconográficas e literárias ocupam, neste caso, papel fundamental. Destacam-se estudos sobre a história da vida privada, o co diano material e seus aspectos simbólicos. No período moderno, prevalecem as fontes escritas e seriadas, resultado, sem dúvida, de uma nova abordagem no registro dos fatos da vida co diana, já que a Igreja triden na passou a se preocupar insistentemente com as relações familiares2 e com a uniformização dos

registros das alianças matrimoniais que, mesmo estando presentes no IV Concilio de Latrão (ra ficadas por Trento), não eram efe vados, na prá ca, como a realização de banhos e proclamas, que deveriam anteceder os casamentos, e de registros escritos de ba zado, casamento e óbito. Vitoriosa em seus intentos, neste aspecto e em inúmeras regiões, a Igreja católica passou a produzir uma vasta documentação, antes inexistente, que se tornou a base das pesquisas que viriam estabelecer as diretrizes principais do campo da história da família, inclusive com técnicas e metodologias bem delimitadas, trazidas pela demografia histórica. Por outro lado, as transformações ocorridas na estruturação do Estado moderno, com o aparelhamento burocrá co e fiscal, possibilitaram a produção de listagens nominais de habitantes, para fins variados (militares, fiscais etc.), amplamente u lizadas como fonte de pesquisa. Os trabalhos que tratam do Ocidente cristão, mesmo levando-se em conta especificidades regionais, analisam fontes semelhantes e, por isso, com ampla possibilidade de comparação.

Na década de 1950, apareceram alguns trabalhos sobre a família ocidental, mas foi a par r da década de 1960 que ela se cons tuiu numa área específica da pesquisa histórica, com inúmeros trabalhos sendo publicados, principalmente a par r de 1970. Sua história é, portanto, rela vamente recente, mas alguns balanços historiográficos já puderam ser elaborados, como os de Michael Anderson, André Burguière e Alan Macfarlane,3 entre outros. Anderson, em especial, foi o que melhor sinte zou os

estudos, estabelecendo uma pologia com quatro linhas de abordagens: a autodenominada “psico-história” (descartada e não comentada pelo autor, pelos seus sérios problemas de método), a demográfica, a dos sen mentos e a da economia domés ca. Sintoma camente, Anderson começa sua síntese pela abordagem demográfica, precursora dos ques onamentos feitos posteriormente. Tipo de fonte e metodologia diferenciam as três abordagens, mas não se pode negar que, em muitos casos, mesmo com diferença de peso dado a alguns aspectos, elas se complementam. Segundo o autor, para se ter uma compreensão do passado da vida familiar, é necessário levar todas em conta, inclusive porque alguns trabalhos dificilmente podem restringir-se a somente uma. A divisão feita por Anderson não deixa de tender a uma simplificação, já que muitos estudos podem estar inseridos em mais de uma, mas, enquanto pologia geral e ponto de par da para uma análise historiográfica, considera-se per nente a divisão estabelecida. Tomemos, portanto, como base de organização deste texto, esta tipologia para caracterizar as principais tendências e pesquisas.

Demografia histórica e a demarcação da família como objeto de estudo

Antes da década de 1950, os estudos sobre a família, como se entende hoje, pra camente não exis am, restringindo-se a análises genealógicas, quase sempre de grupos de elite, e baseados em fontes subje vas. A vida familiar da grande massa da população não era contemplada. Foi com o desenvolvimento da demografia histórica, basicamente francesa, na década de 1950, com a u lização dos registros de ba zado, casamento e óbito, e a criação de técnica de recons tuição de famílias, que os primeiros resultados surgiram. Após 1930, alguns historiadores começaram a inserir em suas pesquisas dados demográficos, mas foi somente a partir da segunda metade de 1940 que a demografia histórica se cons tuiu em disciplina autônoma, com estudos delimitados.4

Em 1952, num ar go para a revista dos Annales, Pierre Goubert tentou sistema zar, de forma pioneira, a demografia da França do século XVIII, u lizando os registros paroquiais de ba zado, casamento e óbito.5 Mas foi com um demógrafo, Louis Henry, no Instituí

Na onal d’Études Démographiques (INED), em Paris, junto com o historiador Michel Fleury, que, em 1956, se consubstanciou, inicialmente, uma metodologia específica para o tratamento das fontes paroquiais.6 Mul plicaram-se, a par r daí, estudos de casos,

trabalhos metodológicos, sínteses e manuais,7 em vários países, inspirados nas ciências

sociais quan ta vas e nas ciências naturais,8 que modificaram as idéias iniciais. As

principais conclusões, trazidas pela verdadeira enxurrada de trabalhos monográficos europeus, foram: a idéia de que as mulheres nham um filho por ano cedeu aos dados de que, em média, o intervalo entre os nascimentos era de dois anos ou mais (dependendo da amamentação); poucos casamentos possibilitavam uma vida fér l de pelo menos 25 anos, já que as mulheres casavam com 25 anos, em média, além de muitas morrerem de parto ou ficarem estéreis antes da menopausa; como conseqüência, o número de filhos, que antes seria es mado entre 15 a 24, reduziu-se para seis ou oito; finalmente, 30% das crianças morriam antes de um ano de vida e mais de 20% não chegavam à idade de procriação — haveria, portanto, um padrão demográfico que pra camente reproduzia a quan dade de adultos, com uma pequena folga, mas mesmo

assim acompanhado de grande número de celibatários, o que poderia caracterizar a sociedade como “estacionária”, em termos populacionais.

Na Inglaterra, posteriormente (década de 1960), o chamado Grupo de Cambridge (Cambridge Group for the History of Popula on and Social Structure) desenvolveu metodologia específica, basicamente quan ta va e abrangendo um número maior de regiões, com o intuito de estandardizar as informações e torná-las comparáveis entre si, contemplando largos períodos de tempo e lugares diferentes.9

A exploração das listas nomina vas, abundantes e completas na Inglaterra, mas também existentes em várias partes do mundo, permi u que as principais questões levantadas dissessem respeito ao estudo demográfico do agrupamento domés co. As listagens nomina vas trazem informações sobre a composição das unidades domés cas e mais alguns dados variáveis, de acordo com a região, com a profissão, idade, estado matrimonial, produção etc. Com base nos trabalhos tanto da escola francesa quanto da inglesa, alguns estudiosos chegaram a conceber a existência de um regime demográfico tradicional, denominado por Michael Flinn de “sistema demográfico europeu”,10 embora

levem em conta certas especificidades locais.

Em linhas gerais, alguns dos principais ques onamentos, trazidos pela demografia histórica, que es mularam estudos sobre a família ocidental moderna, foram: (a) pela vertente francesa de recons tuição de famílias, tendo como base os registros paroquiais, a constatação de um casamento tardio tanto para homens (variando entre 27 e 28 anos) quanto para mulheres (24 e 28 anos) e o número reduzido de filhos concebidos fora do matrimônio (somente de 1 a 2% das crianças eram ilegí mas), em par cular na zona rural, surpreendeu a todos; (b) pelas pesquisas do Grupo de Cambridge, por outro lado, a exploração das listas nomina vas trouxe ques onamentos sobre a idéia inicial de que a unidade domés ca, da Europa pré-industrial era vasta e complexa — estudos, principalmente os organizados por Peter Lasle ,11 comprovaram que a dimensão média

da unidade domés ca na Inglaterra era de cerca de 4,75 membros, desde o século XVI, incluindo os criados, o que pode ser considerado como de pequeno tamanho, o mesmo ocorrendo em outras áreas do mundo. Caíram por terra, assim, concepções comumente aceitas sobre casamentos precoces e vastas unidades domés cas mul geracionais e englobando ampla parentela e membros não-consangüíneos, o que somente seria superado com os respec vos processos de industrialização.12 Obviamente que tais

resultados geraram grandes polêmicas, muitas acusando a demografia em si como responsável por distorções nos dados. Os principais argumentos diziam respeito à qualidade destes dados (significado dos termos con dos nas listagens nomina vas, ausência de séries completas para a reconstituição de famílias, possibilidade de migração etc.), à a picidade da Inglaterra (posteriormente aos estudos de Lasle , pesquisas sobre diversas áreas européias — muitas dentro de um mesmo país — demonstraram que em algumas delas as famílias complexas representavam até mais de 70% dos domicílios),13

ao “mal das médias”14 (as médias sem sempre são significa vas ou reais para todos os

grupos sociais, assim como encobrem os vários momentos do ciclo de vida familiar)15 e

ao isolamento dos dados demográficos do conjunto social. Na realidade, os estudos demográficos par am mais da qualidade das fontes (em bom estado de conservação ou cons tuídas em séries completas) de uma determinada região do que do significado

desta região para a compreensão e composição de estruturas e teorias mais amplas. Inúmeras vezes, aos resultados encontrados não se agregavam explicações consistentes. Careceriam, portanto, ao olhar para o conjunto, da percepção da diferenças de grupo e de quadros econômicos e políticos característicos.

Outra grande questão levantada pela demografia histórica diz respeito à dinâmica populacional. O exemplo mais famoso e estudado foi o inglês. Durante vários séculos, a Inglaterra registrou um crescimento populacional baixo. Entre as úl mas décadas do século XVIII e início do XIX, houve uma explosão demográfica, para depois ser reencontrado o equilíbrio. Posteriormente, constataram-se processos semelhantes em vários outros países, levando à elaboração da “teoria da transição demográfica”.16 Havia

três estágios. No primeiro, as sociedades rurais ou tradicionais, como as do An go Regime europeu, teriam como caracterís ca básica um equilíbrio demográfico: natalidade e mortalidade altas. Em determinado momento, ocorreu um rápido aumento populacional — o segundo estágio, período de transição propriamente dito. O dado explica vo para esta mudança seria o processo de urbanização e industrialização: o crescimento da população representaria uma resposta à necessidade de mão-de-obra para a indústria nascente. O equilíbrio seria de novo encontrado, no terceiro estágio, com a diminuição da natalidade, ocupando as prá cas an concep vas lugar de destaque. Tomava-se o caso inglês como padrão, em que o aumento populacional expressivo foi concomitante à Revolução Industrial. O resultado deste modelo, no século XIX, foi a vitória da família nuclear, individualista, com pequeno número de filhos, denominada, quando não havia contracepção, de “família malthusiana” e, com prá cas anticonceptivas, de “família neomalthusiana”.17

A variável básica para o momento de transição — de rápido aumento demográfico — foi a mortalidade. A taxa de natalidade, da, então, como uma constante biológica, não teria peso significa vo, já que prá cas an concep vas eram desconhecidas ou pouco u lizadas antes do século XIX. Muitos analistas, escrevendo entre as décadas de 1950 e 1970,18 man veram a mortalidade como dado central. O grande problema passou

a ser, entretanto, a ausência de explicações consistentes para a queda na mortalidade. Nada de novo, em termos de medicina, havia aparecido que jus ficasse empiricamente esta tese; nem mesmo o higienismo do século XVIII europeu pôde ser considerado suficiente. Somente com Pasteur, no final do século XIX, a eficácia da medicina preven va tornou-se uma realidade na diminuição dos óbitos. Os argumentos variavam entre uma possível melhora na dieta infan l e na saúde pública19 até a eliminação dos

chamados controles posi vos de Malthus, como as epidemias,20 todos sem dados

comprobatórios confiáveis.

Uma outra teoria, minoritária, inicialmente, em termos de seguidores, surgiu na década de 1950, recuperando a visão explica va de Malthus sobre a natalidade,21 mas

foi na década de 1980 que tomou força. A fer lidade tornou-se a variável central. Começou-se a considerar possível que uma queda da idade de casamento das mulheres poderia representar um aumento populacional expressivo, aliado à diminuição do número de mulheres celibatárias. Os trabalhos do Grupo de Cambridge continham dados empíricos suficientes para comprovar as conclusões apresentadas. A fer lidade passou a ser considerada como um dado social e não somente biológico, já que havia a diferença

fundamental entre a maturidade sexual feminina e a idade de reprodução. Na Inglaterra, desde o século XVI, pelo menos, o padrão de casamento, rela vamente estável até meados do século XVIII, nha como caracterís ca principal uma idade média de casamento da mulher sempre maior do que 25, o que significava pelo menos dez anos entre a possibilidade e a realidade de procriação, considerando-se que uma proporção irrisória de crianças nascia fora dos casamentos. Na segunda metade do século XVIII, ocorreram mudanças significa vas: a idade média do casamento caiu em cerca de três anos,22 a proporção dos que não casavam diminuiu sensivelmente23 e aumentou a

proporção de filhos ilegítimos e de noivas grávidas.24

A explicação dada pelos historiadores para estas modificações no comportamento sexual e reprodu vo inglês relaciona-se, via de regra, à circunstância econômica, em par cular o aumento dos rendimentos reais trazidos pelas mudanças então ocorridas. A vontade de se reproduzir estaria vinculada diretamente à curva dos salários. Com baixos salários, casamentos tardios, celibato, gestações legí mas e poucos filhos; com altos, casamentos mais precoces, redução do celibato, aumento de filhos ilegí mos e família prolifera. Esta visão simplista, sem dúvida, resulta da idéia de que o padrão de casamento inglês preexistente manteve-se o mesmo com o processo de industrialização.25 Desconsideram-se, neste caso, outras variáveis. Alguns historiadores

consideraram, por outro lado, que o aumento da possibilidade de emprego trazido pela industrialização fez com que o processo de proletarização permi sse que grupos anteriormente com dificuldade para casar, e que nham um padrão de casamento precoce, pudessem fazê-lo com mais facilidade — o aumento populacional teria sido, então, causado por uma ampliação horizontal dos casamentos.26 Ainda é necessário

frisar outro po de enfoque que diferencia os grupos sociais. Em áreas agrárias, camponesas, a mão-de-obra familiar é um dado não negligenciável e, ao contrário de algumas outras a vidades econômicas, um número grande de filhos (embora não excessivamente grande, para não comprometer a disponibilidade de recursos) possibilitaria um maior bem-estar familiar, mesmo que em certa etapa do ciclo de vida familiar os filhos sejam somente consumidores para, depois, tornarem-se produtores.27

Portanto, a lógica de um padrão familiar único para uma ampla região não teria sentido. Todos estes ques onamentos, inclusive as polêmicas então surgidas, a par r da década de 1960, trouxeram a família para o centro explica vo do comportamento populacional. Afinal, foram as escolhas familiares pela procriação (fer lidade) que, individualmente, se haviam responsabilizado pelas mudanças na dinâmica populacional. Ao mesmo tempo, o aumento de trabalhos demográficos sobre outras regiões, não só mas também européias, permi u que outras realidades fossem colocadas em evidência e que comparações pudessem ser estabelecidas. A unidade domés ca transformou-se em objeto específico dos estudos históricos, o que Anderson chamou de “abordagem da economia doméstica”.

Destaca-se, neste po de análise, o comportamento econômico dos membros que coabitam. A família é vista enquanto unidade de produção e consumo — household,28

conceito que abrange os que dormem sob o mesmo teto e comem à mesma mesa — e, metodologicamente, os estudos foram influenciados pela sociologia e antropologia social, sempre numa análise compara va. São priorizados como os recursos materiais e

humanos se tornam acessíveis ao grupo familiar, privilegiando-se, portanto, o comportamento econômico de seus membros. Neste sen do, entre os recursos considerados, destacam-se a transmissão dos bens (herança),29 acesso à terra e à mão-

de-obra não-familiar e relações econômicas estabelecidas entre seus componentes e com terceiros. Fundamental, neste sen do, é a economia mais abrangente, se vinculada ou não a um mercado (considerando-se, inclusive, processos de industrialização), e a presença (ou não) do Estado no suprimento de assistência social, como orfanatos e asilos de idosos, por exemplo, além de seu posicionamento no âmbito da proteção militar. Dependendo da combinação das variáveis, estabelecem-se modelos de households predominantes em determinado tempo e espaço específicos, simples, complexas ou extensas. É necessário ressaltar a vinculação estreita entre esta corrente e a demografia histórica, embora a diferença substancial esteja no fato da u lização massiva de fontes suplementares, como inventários post-mortem, testamentos, contratos pré-nupciais e de dotes e estudos sobre o Estado e as leis civis.

O avanço das pesquisas sobre o comportamento reprodu vo das famílias — tomando os registros paroquiais como fonte básica, determinando a idade ao casar,

No documento Dominios da Historia Ciro Flamarion Cardos (páginas 188-200)