• Nenhum resultado encontrado

No modelo de gestão dos CEEs, a lógica da avaliação estava estruturada em duas vias:

a) sistema de avaliação e acompanhamento escolar e sistema de avaliação de desempenho e bonificação.

O primeiro tinha como finalidade avaliar a atuação da gestão de um modo mais amplo e definir as linhas de melhoramento a partir de um diagnóstico dos pontos positivos e negativos. O processo era finalizado por meio da obtenção de um conceito “x”, resultante de um processo externo, que variava de A [Excelente] à D [Insuficiente]

Já o segundo sistema, articulado ao primeiro, tinha como finalidade o controle individual do desempenho dos profissionais da escola através de uma avaliação que premiava os desempenhos satisfatórios. Dentre os critérios dessa avaliação estavam: a) índice de aprovação da comunidade [clientes]; b) evolução no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); c) aprovação dos discentes em relação à escola [consumidores]; d) avaliação externa (com questões de vestibulares) aplicada aos professores; e) cumprimento do programa traçado no termo de compromisso; e afins.

Nesse caminho, a estratégia do Procentro para pressionar uma rotina de trabalho docente focada em resultados, tendo em vista sua cultura organizacional abertamente formatada como se fosse uma empresa, era sua relação direta com o “julgamento” e a opinião pública da sociedade civil [investidores]. Um dos lemas do Procentro era: “satisfação e avaliação direta do cliente” como vistas a legitimar o modelo de gestão por concessão.

Conforme um dos documentos analisados, “[...] as redes municipais e estaduais não oferecem canais de informação voltados a servir ao aluno de forma eficiente, na perspectiva de “cliente”

(DIAS; GUEDES, 2010, p. 49).

Por último, cabe ressaltar que o modelo de avaliação do Procentro já previa algo nuclear para a avaliação em larga escala que seria aprimorado pelo pacto pela educação, a saber: uma estrutura de avaliação estatística e fundamentalmente pautada em: “[...]

indicadores mensuráveis, no caso dos resultados tangíveis ou quantitativos [...] [e] Critérios previamente estabelecidos para os intangíveis ou qualitativos” (ICE, s/d, p. 43).

A generalização da “cultura de auditoria” nas escolas inaugurada com o Procentro, mas, retomada pelo PEI, PMGP-ME e aprimorada pelo PPE, exigia uma lógica de avaliação de caráter sistêmico que pudesse acompanhar a expansão do PEI na rede estadual de ensino e, portanto, a generalização da rotina de trabalho baseada na TESE. É nesse escopo que surge o Sistema de Avaliação de Pernambuco - SAEPE, realizado pela primeira vez em 2000, e que se consolida como a política pública de avaliação do estado, passando a ser realizada anualmente a partir de 2008.

Trata-se de uma versão estadual do Sistema de Avaliação da Educação Básica – Saeb.

A metodologia utilizada pelo sistema está fundamentada na Teoria de Resposta ao Item (TRI) e na escala do Saeb. Conforme Freitas (2014, p. 1095), trata-se de

[...] lidar com maior precisão com a produção, aplicação e processamento dos itens de avaliação das provas (calibração de itens). Tais processos são vitais na padronização dos resultados da aprendizagem e, por medirem

“traços latentes”, têm a vantagem de poder descolar-se de um determinado conteúdo específico medindo competências e habilidades latentes no desenvolvimento da aprendizagem.

Segundo o portal SIEPE, os principais objetivos do SAEPE são:

- Produzir informações sobre o grau de domínio dos estudantes nas habilidades e competências consideradas essenciais em cada período de escolaridade avaliado. Estes são pré-requisitos indispensáveis não apenas para a continuidade dos estudos, mas para a vida em sociedade.

- Monitorar o desempenho dos estudantes ao longo do tempo, como forma de avaliar continuamente o projeto pedagógico de cada escola, possibilitando a implementação de medidas corretivas, quando necessário.

- Contribuir diretamente para a adaptação das práticas de ensino às necessidades dos alunos, diagnosticadas por meio dos instrumentos de avaliação.

- Associar os resultados da avaliação às políticas de incentivo com a intenção de reduzir as desigualdades e elevar o grau de eficácia da escola.

- Compor, em conjunto com as taxas de aprovação verificadas pelo Censo Escolar, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco – Idepe127.

Sendo uma adaptação estadual do Saeb, obviamente que são considerados como

“habilidades e competências” essenciais o domínio dos conteúdos referentes a português e

127 Disponível no Portal Siepe:

<https://www.siepe.educacao.pe.gov.br/WebModuleSme/itemMenuPaginaConteudoUsuarioAction.do?actionT ype=mostrar&idPaginaItemMenuConteudo=5912> Acesso em: 07 jun. 2020.

matemática que juntamente com o fluxo escolar definirão o Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) que, por sua vez, orientará o conceito de qualidade educacional pernambucana. O IDEPE é a combinação dos resultados da avaliação (SAEPE) e da taxa de aprovação da escola. É ele que irá demonstrar em que medida as metas que estão definidas no Termo de Compromisso e Responsabilidade Metas pela Educação, instrumentos do pacto pela educação que a escola firma com a secretaria de educação, foram atingidos.

Esses fatores demonstram a existência de uma relação orgânica entre SAEPE, IDEPE e o PPE, formando uma imensa rede de conexões de controle da rotina do trabalho docente em Pernambuco.

Isso nos leva a considerar que o novo sistema de avaliação em sua articulação com o PPE e sua sistemática de monitoramento constituem uma inovação importantíssima de restauração da TESE no PEI quando permite generalizar sua estrutura de monitoramento e avaliação. Se antes as metas eram pactuadas por escolas [nos CEEs], agora é possível a pactuação através da adesão das escolas e supervisão das GREs, secretaria de educação e Seplag das metas firmadas no termo de compromisso. Portanto, o caráter de avaliação clientelista da unidade escolar ganhou uma complexidade sistêmica maior e mais robusta.

Essa mudança na nova concepção de avaliação para generalizar a TESE na rede estadual de ensino demandou também outras formas de financiamento mais amplas para contemplar o caráter de política pública dessa estratégia. Para tanto, o novo sistema de avaliação recebeu financiamento do Banco Mundial através do projeto de desenvolvimento da educação e da gestão pública no estado de Pernambuco no valor de US$ 154 milhões (SANTOS, 2016). Conforme as palavras do diretor do Banco Mundial no Brasil, Makhtar Diop, disponíveis no próprio site do Banco Mundial128, entre os objetivos da iniciativa estão:

“[...] fortalecer o monitoramento e a avaliação, que representam um pilar da abordagem baseada em resultados que o Estado concebeu para o setor”129. Em outro trecho ainda no site é apontado que um entre os principais focos do financiamento na administração da educação pernambucana estão:

Monitoramento e Avaliação – O PERA financiará a modernização e operacionalização do sistema de monitoramento de estudantes individuais e a implementação do Sistema de Avaliação da Educação de Pernambuco (Saepe). O programa também disponibilizará informações para pais e escolas.

128 Disponível em: https://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2009/04/14/brazil-us154-million-loan-to-improve-quality-efficiency-and-equity-of-public-education-in-pernambuco-state Acesso em: 15 out. 2020.

129 Idem.

Intervenções na Gestão do Sistema Educacional – Têm como objetivo desenvolver e implementar um plano estratégico que incorpore o gerenciamento com base em resultados e realizar estudos para o aumento de eficiência no setor de educação130.

Como podemos observar, trata-se da participação de órgãos de fomento estrangeiro no projeto de implementação da racionalidade gerencial-empresarial em Pernambucano. Essa influência aponta o nexo da articulação do bloco empresarial, partidos políticos e estado em Pernambuco com os grupos, fundações e frações de classe internacionais, vinculadas com maior representação do capital financeiro, que atuam como representantes da agenda neoliberal para os países da periferia.