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Como já examinamos em seções anteriores, as bases filosóficas da TESE são orientadas pela concepção de realidade e conhecimento do pragmatismo norteamericano. Com base nisso, os processos de treinamentos dos(as) professores(as) para se adequarem à rotina de trabalho eram realizados a partir de uma dinâmica de indução através da experiência “[...]

bastante intensiva e cuidadosa, com o objetivo de promover o alinhamento dos novos professores à cultura do PROCENTRO e de cada Centro” (MAGALHÃES, 2008, p. 80).

Ainda conforme os documentos “[...] os professores aprendem sobre a filosofia e o modo de trabalho do Centro, bem como elaborar Planos de Ação e, especialmente, vão assimilando a cultura de cada Centro” (MAGALHÃES, 2008, p. 80, destaques nossos).

A filosofia e o modo de trabalho de que trata o trecho acima como conteúdos dessas induções, enquanto treinamentos, correspondem à conformação de habilidades, aptidões e ideário filosófico, ético e moral exigidos na TESE nos(as) professores(as). Em síntese, estão relacionados com os nexos psicofísicos analisados na seção anterior: responsabilização consentida; [des]especialização polivalente e [des]politização corporativa. A metodologia desses treinamentos é basicamente estruturada na observação e sistematização simples e procedimental, buscando o “[...] estímulo à troca de boas práticas entre a rede de escolas participantes do programa” (DIAS; GUEDES, 2010, p. 40). É o que pode ser observado no seguinte trecho “[...] Se tem dificuldade em algum conteúdo, a gente organiza uma intervenção, alguém que possa ser seu mentor, treinamentos, uma visita à aula de outro professor ou a outro Centro” (DIAS; GUEDES, 2010, p. 39).

Com o PMGP-ME e o PPE, o treinamento por indução foi ganhando amplitude, sistematização e sendo incorporada na agenda da política pública do estado a partir de

diversas inciativas. Inclusive, na própria Lei complementar nº 125/2008 que cria o PEI é estabelecido que dentre as atribuições da Secretaria de Educação no programa, temos que uma delas é: “VI - disseminar as experiências exitosas para as demais escolas da rede estadual de ensino” (PERNAMBUCO, 2008b).

Expressão dessa orientação de treinamento e formação pode ser observada nos encontros promovidos pela Secretaria de Educação de Pernambuco. Para fins de demonstração, selecionamos os três últimos grandes encontros promovidos pela SEE para os(as) professores da rede estadual. Organizamos um quadro a seguir com algumas informações sobre estes encontros.

QUADRO 10 – Eventos de formação organizados pela SEE entre 2017-2019 e seus conteúdos

Ano Tema do evento Informações adicionais

2017 Formação Docente para uma Educação

Integral Humanística137

Socializar práticas educativas capazes de ampliar as dimensões pedagógica, social e ética, além de trabalhar

na qualificação técnica pedagógica dos profissionais, dando oportunidade de ser realizada uma reflexão de

suas práticas pedagógicas.

A ação promovida pelo Fórum Nacional Popular de Educação com o apoio do Fórum Estadual de Educação de Pernambuco, Secretaria Estadual de cumprimento dos Planos de Educação, de forma que

fiscalizem o corpo da lei, suas metas e estratégias.

2019 As novas tecnologias

e a tecnológica no Novo Ensino Médio: Caminhos Possíveis para Oferta do V Itinerário de Flexibilização

Curricular”, entre outras

Fonte: Site da SEE-PE (2019, grifos nossos). Elaboração própria

137 http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=&cat=37&art=3843

138 http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=&cat=37&art=4231

139 http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1&cat=37&art=5024

Mesmo sem tantas informações disponíveis, destacamos os temas e os assuntos abordados em cada uma das formações. No caso da formação em 2017, na página do site do evento não há nenhuma definição sobre o caráter e o conteúdo desse “humanismo” da educação integral proposta. Pelo contrário, nas poucas informações observadas no site, não vimos nada além do rejuvenescimento de velhos modismos pedagógicos que integram as ideologias educativas vinculados ao aprender-a-aprender, tais como: “socializar práticas educativas”, “dimensões pedagógicas, social e ética [interdimensionalidade]” e “reflexão de suas práticas pedagógicas”.

Conteúdo é similar ao do evento de 2019, em que a centralidade da prática aparece associada aos potenciais das novas TICS, algo que tem largo espaço no debate educacional há anos com pouco avanço crítico e tímido impacto real em termos de melhorias na aprendizagem, na contramão do que prometem os especialistas desse campo. Nas demais informações da notícia do site do evento identificamos que o tema na verdade busca dar maior visibilidade à linguagem e aos produtos empresariais da educação, tais como: “planejamento e mindset”, “trabalhabilidade”, “Plataforma Foco”, dentre outros. No caso desta última, a plataforma foi elaborada pela empresa Tuneduc140, especialista em dados educacionais, a partir de uma parceria com o Instituto Unibanco, Itaú BBA e Fundação Lemann. Segundo o portal141 da SEE-PE a plataforma permite

ter acesso ao resultado do IDEPE e evolução histórica dos resultados do SAEPE. Permite também analisar os resultados na versão individual e comparativa de Escolas, Regionais e Secretaria. No painel do SAEPE é possível verificar lacunas de aprendizagem em descritores de Língua Portuguesa e Matemática, avaliadas conforme a matriz de referência do exame. Já no painel do IDEPE, os dados estão detalhados por fluxo, desempenho e metas (PERNAMBUCO, 2019).

O exame destes dados nos permite inferir que as empresas do complexo industrial-escolar em Pernambuco, além de escoaram suas tecnologias para aprimorar os sistemas de monitoramento e controle da rotina de trabalho docente, também influenciam nos programas e políticas de formação e treinamento. Acreditamos que essa é uma demanda do próprio processo de racionalização, uma vez que a inserção destas novas tecnologias na rotina de trabalho docente exige também adequação, aceitação e desenvolvimento de habilidades para seu manuseio por parte dos(as) docentes.

140 https://www.tuneduc.com.br/

141 http://www.educacao.pe.gov.br/portal/?pag=1&cat=18&art=3750

Outro exemplo é o Seminário de Boas Práticas, que compõe uma das ações formativas do PPE. A ideia do seminário, seguindo a metodologia da indução, é difundir entre as escolas experiências que são consideradas como “boas práticas” nos termos da gestão por resultados.

A diferença é que agora esse processo se dá não apenas entre poucas escolas como era no Procentro, mas, levando em conta toda a rede estadual de ensino. Na figura a seguir podemos observar o que a SEE-PE considera como “boa prática” em sua avaliação passível inclusive de premiações:

IMAGEM 18 – Características das boas práticas segundo o Pacto pela Educação de Pernambuco

Fonte: Regulamento do VII seminário de boas práticas do Pacto pela educação de Pernambuco: “Foco nas Coordenações” (2019).

Como podemos observar na imagem e conforme a cartilha empresarial da gestão por resultados, uma “boa” prática educacional significa ser efetivo (impacto), generalizável (escala), simples (acessível) e barato (pouco investimento).

Na mesma linha dos instrumentos já apresentados, temos a formação continuada em serviço. Trata-se de uma inciativa da gerência de políticas educacionais do ensino médio – GPEM que propõe um processo de treinamento em menor escala de tempo e espaço, ou seja, organizada semestralmente sendo responsabilidade de cada escola realizar a sua. A intenção de processo formativo é ainda mais operacional que os demais apresentados anteriormente.

Sendo: padronizar e alinhar conteúdos, atividades e procedimentos que simplifiquem e otimizem o trabalho docente em função do que será avaliado.

Selecionamos um documento intitulado Orientações para a formação continuada dos professores do ensino médio / 3ª unidade de 2009142 produzido pela Gerência de Políticas Educacionais do Ensino Médio – GPEM (Secretaria Executiva de Desenvolvimento da Educação – SEDE). Nesse documento temos um panorama do conteúdo desses encontros. No quadro a seguir apresentamos uma síntese da estrutura do documento

QUADRO 11 – Pauta da formação continuada dos professores do ensino médio / 3ª unidade de 2009

OBJETIVO GERAL: Promover o estudo e a discussão da Base Curricular Comum, das Orientações Teórico-Metodológicas e a elaboração do planejamento bimestral por disciplina, utilizando o tempo pedagógico destinado a esta atividade para a melhoria da

qualidade do ensino-aprendizagem.

Elaboração própria. Fonte: Pernambuco (2009, grifos nossos).

142 Ver anexos deste trabalho.

Como é demonstrado no quadro acima trata-se de um treinamento focado no reforço e incorporação na rotina de trabalho das habilidades e competências de cada disciplina em função do que será cobrado nas avaliações. O fato de ser realizada bimestralmente é outro condicionante que exprime uma modalidade de racionalização para o nível mais elementar das ações, decisões, pensamentos, valores e comportamentos dos(as) docentes em sua rotina de trabalho, buscando eliminar tudo aquilo que não faz parte da “esteira da produção” do SAEPE/IDEPE.