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Da intervenção do Programa Polis em espaços verdes públicos

1.1. Definição do objeto e problema

1.1.2. Da intervenção do Programa Polis em espaços verdes públicos

O Programa Polis é um programa de grande escala, iniciado nos anos 2000, de iniciativa governamental, através do então Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. Foi implementado através de um modelo de parcerias urbanas para o planeamento gestão e governança e visou, na sua primeira fase, a ―requalificação urbana e valorização ambiental

das cidades‖ (MAOT 2000), tendo as suas bases sido lançadas em resultado de uma

preocupação crescente e mais vasta ao nível das políticas de ambiente urbano, quer em termos nacionais, quer em termos europeus (Baptista 2009; Queirós & Vale 2005; Partidário & Nunes Correia 2004; MAOT 2000).

Os espaços verdes que resultaram da obra do Programa Polis, constituem a escala de alcance desta investigação, assim como o universo de seleção dos casos de estudo. Grande parte destes espaços são novas arquiteturas de ocupação de áreas incultas, expectantes, ou de reconversão de espaços degradados. Em muitos casos são implementados em zonas de Reserva Ecológica Nacional e/ou Reserva Agrícola Nacional, ou até em zonas periféricas de expansão de perímetros urbanos, onde o solo não é edificável ou tem um valor residual.

Com objeto nos espaços verdes, efetuou-se, durante o ano de 2010, uma consulta às 28 cidades da primeira componente do Programa, em que foi possível recolher dados e inventariar 28 casos executados, ou em execução, até então. Estes dados permitiram auscultar a intervenção do Programa Polis em termos de implementação de espaços verdes públicos, que constituem o ponto de partida para esta investigação, na medida em que permitem encontrar uma população de espaços verdes, executados no período contemporâneo, com intervalo temporal balizado, bem como um enquadramento programático que implicou um modelo de planeamento e gestão comum. Este inventário permite assim encontrar o objeto de avaliação, que corresponde à finalidade desta investigação. A tabela da Figura 59 (cf. Ponto 3.4.3), mostra aquela listagem, resultante da recolha de dados por consulta às autarquias.

A intervenção em 28 cidades-alvo da primeira componente do Programa, advém de uma tomada de consciência de que, até então, e especialmente no final do século XX, o planeamento urbano fora ineficaz e desadequado, produzindo transformações estruturais muito profundas na ocupação do território e erros urbanísticos graves. Várias razões são apontadas (MAOT 2000), tais como as mudanças económicas e sociais que após a Revolução de 25 de Abril de 1974, geraram o crescimento explosivo, provocando fluxos migratórios significativos e não inteiramente previstos.

De todos os objetivos enunciados nos planos estratégicos daquelas 28 cidades e listados na tabela da Figura 1, os mais frequentemente citados são ‗promover o ordenamento e qualidade do espaço urbano‘ (D), expressado em 23 cidades e ‗melhorar a mobilidade e acessibilidades urbanas‘ e ‗valorizar a paisagem e a estrutura verde na malha urbana‘ (objetivos G e H, respetivamente), também citados em mais do que 20 casos. A implementação do Programa proporcionou a muitas cidades o investimento na criação de espaços verdes públicos, abrindo uma janela importante para a investigação sobre o Parque Público Urbano Contemporâneo em Portugal.

Cod. Objetivo Descrição

A Valorizar o turismo urbano Especificamente à valorização do turismo na cidade. B Reforçar a ligação com a

envolvente natural à cidade

Valorização da envolvente natural da cidade como elemento de interesse e mais valia ao desenvolvimento do município; áreas envolventes, assumidas como zonas de proteção e essenciais à preservação dos ecossistemas; e zonas que pela sua harmonia apresentam valores cénicos dignos de proteção.

C Promover a economia da cidade e atrair novos investimentos

Indução de novos investimentos públicos ou privados na área industrial e comercial, consequentemente fonte geradora de emprego; e desenvolvimento económico, com vista à

dinamização e modernização dos sectores produtivos da região. D Promover o ordenamento e a

qualidade do espaço urbano

Tratamento e requalificação do espaço público; qualificação do desenho urbano, com vista à melhoria das condições de vivência humana; construção de praças em espaço público;

repavimentações em largos, praças ou ruas pedonais; e qualificação do desenho urbano com vista à valorização cénica da cidade.

E Preservação da identidade e património locais e

desenvolvimento cultural

Preservação e valorização de elementos de elevado valor histórico e patrimonial, cultural ou edificado; salvaguarda da identidade das regiões e recuperação de centros históricos; e construção de centros de interpretação ambiental e outros edifícios de âmbito cultural.

F Desenvolver a fileira da saúde e do desporto

Promoção da atividade física e do desporto, como meio de atingir uma vida mais saudável.

G Melhorar a mobilidade e acessibilidades urbanas

Pedonalização de centros urbanos ou históricos e restrição automóvel; construção ou remodelação de eixos rodoviários regionais e inter-regionais; construção de parques de estacionamento; e promoção e desenvolvimento do uso de transportes públicos.

H Valorizar a paisagem e a estrutura verde na malha urbana

Construção ou remodelação de espaços verdes em meio urbano, como sendo: jardins, parques urbanos ou parques da cidade, parques lineares e arranjos paisagísticos; valorização da

paisagem na malha urbana como ampliação da fruição da cidade e da natureza; e recuperação e valorização de estruturas

ecológicas inseridas na área urbana. I Valorizar as atividades de

recreio e lazer na cidade

Construção de edifícios ou áreas para instalação de equipamentos de recreio e lazer; e potenciar atividades de recreio e lazer na malha urbana.

Figura 1 - Tabela de codificação da descrição dos objetivos estratégicos das cidades extraídos dos Planos Estratégicos para as intervenções do Programa Polis. Adaptados de MAOT 2000 e codificados pelo autor.

O investimento na infraestrutura verde e mais especificamente nos espaços verdes públicos é muitas vezes o objeto de programas governamentais de grande escala, dado tratar-se de um tema que assume atualmente importância central quando se abordam questões de ordenamento do território, requalificação urbana, qualidade do ambiente, condições de vida em sociedade, ou se fala em sustentabilidade. O Programa Polis, ou o Programa de Renovação do Parque Escolar, são disso exemplos recentes em Portugal. Até 2011 e perspetivando os resultados para uma década de implementação, de acordo com a publicação ―Polis em Números‖ (MAOT 2002), o Programa planeou executar 593,5ha de Parques e Áreas Verdes criados ou beneficiados; 185,2ha de outros espaços públicos requalificados; 73,7Km de frentes de rio requalificadas; 15,8Km de frentes marítimas requalificadas; 103,1Km de ciclovias; 15ha de área de cidade resgatada aos automóveis; 135,9Km de novos percursos pedonais; 23052 lugares de estacionamento nas periferias. As políticas hoje tendem a ser estratégicas, focadas em resultados, colaborativas, inclusivas, robustas, flexíveis e inovadoras (GB-SPMTCO 1999) e os programas de grande escala garantem uma forma possível de as implementar, produzindo resultados com grande incidência local. Podem por isso ser considerados o meio pelo qual se consuma uma visão para o mundo. Podem dizer-se de grande escala, pois são frequentemente de iniciativa governamental, aplicáveis a um território. Também porque estão usualmente dependentes de uma coordenação central, em termos de organização da sua estrutura e processos. Idalina Baptista (2009), na sua tese de doutoramento, defendida na Universidade da Califórnia, Berkeley, tendo como caso de estudo o Programa Polis, dá conta da característica excecional dos programas públicos de grande escala, que enquadram, por exemplo, as parcerias urbanas como forma alternativas de planeamento e gestão, que já haviam sido testadas com sucesso para a implementação da EXPO‘ 98.

Estes programas proporcionam impulsos extraordinários à criação de espaços verdes, porque conjugam a vontade de implementar uma política, com a disponibilidade de recursos e com a necessidade de produção de resultados localmente. São também oportunidades para implementar novas formas fazer, favorecendo por isso mudanças institucionais e promovendo a evolução na cultura de governança.

Contudo, durante e após a sua conclusão não devem ser descurados os processos de avaliação, a vários níveis e focados em vários objetos. Este tipo de políticas deve ser visto como um processo de aprendizagem contínua, que deve ser instruída com a experiência do sucesso e do insucesso. ―This means that new policies must have evaluation of their