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3.5. Implementação dos métodos de recolha de dados

3.5.1. Ensaio piloto 1

Desenvolvimento das técnicas de recolha de dados de observação e mapeamento de comportamentos, no ―Meadows Park‖ (Edimburgo) e Parque do Corgo (Vila Real).

O Meadows Park, em Edimburgo e o Parque do Corgo, em Vila Real, foram selecionados como casos de estudo piloto, com vista a testar o método de observação e mapeamento do comportamento, no primeiro caso para a experimentação e compreensão dos princípios da técnica de recolha de dados de modo analógico (mais habitualmente utilizada), e o segundo para o desenvolvimento e teste de uma técnica de recolha e registo de dados digital.

a) Abordagem inicial

Com os objetivos de conhecer, desenvolver e adaptar as técnicas de recolha de dados ao objeto de investigação, foram preparadas quatro rondas de observação e mapeamento do comportamento dos utilizadores do Meadows Park, em Edimburgo (Figura 106). O trabalho de campo decorreu em Abril de 2011, tendo sido baseado no procedimento explorado por Moore e Cosco (2010). Foi também importante para a definição prática do método no campo, o trabalho de Barbara Goličnik e Catharine Ward Thompson (2005; 2010) e Hazreena Hussein (2009; 2012b; 2012a).

A técnica envolvia a utilização de uma prancheta de grampo, ou ―clipboard‖, com uma impressão em papel A4 do mapa do parque, onde se registava com um marcador de feltro, através de pontos e códigos alfanuméricos, a posição dos utilizadores, os seus dados demográficos e a caracterização da sua atividade e comportamentos, assim como o tipo de interação social.

Em antecipação define-se o trajeto das rondas de observação, considerando a extensão e tempo de percurso, evitando percursos demasiado longos ou demorados, que trazem enviesamentos e inconvenientes vários à validade dos dados (Moore & Cosco 2010).

Figura 106- O Meadows Park, em Edimburgo (na metade inferior da imagem), situa-se num dos vales da cidade, a sul do castelo de Edimburgo (junto do limite superior da imagem) e da ―Royal Mile‖. No limite nascente do parque está situado um parque infantil, bastante arborizado e bem conectado com a rede de passeios urbanos, e um complexo de campos de ténis. A restante área do parque é de conceção extensiva. É percetível a rede triangular da estrutura arbórea que se manifesta em alinhamentos ao longo dos caminhos pavimentados. Os bancos ocupam também as margens dos caminhos. (captura da imagem oblíqua BingMapsTM). A recolha de dados teve lugar na área assinalada.

O procedimento implicou 4 rondas de observação e registo dos dados de 18 a 25 minutos, intervaladas por pelo menos 1h30m. As quatro rondas foram distribuídas por quatro intrevalos de hora, durante o dia e tal como explicita a tabela da Figura 107.

Ronda 1 Manhã 9h30-12h00

Ronda 2 Hora do almoço 12h00-14h00

Ronda 3 Tarde 14h00-17h00

Ronda 4 Fim de tarde 17h00-20h00

Figura 107 - Distribuição das rondas de observação e mapeamento de comportamento no Meadows Park.

Cada ronda consiste num percurso circular contínuo definido a priori de modo a possibilitar a observação de toda a área de estudo. No caso do Meadows Park, a área alvo de observação correspondeu à secção Este do parque, limitada pela Buccleuch Street e o

Middle Meadows walk (Figura 106). Durante o percurso de cerca de 20 minutos observa-se

a atividade do parque, o comportamento dos utilizadores e regista-se num mapa o género, escalão etário, tipo de interação social e o comportamento e atividade.

O registo é efetuado através de um ponto no mapa e um código correspondente aos aspetos observados. E.g., para o género e escalão etário, foram utilizados os códigos: Homem (M), Mulher (F), Criança (C), Adolescente (T), Jovem adulto (YA), Adulto (A), Idoso

(O). Estes, em combinação, retratam os aspetos demográficos observáveis. O código MYA, significará ―homem, jovem adulto‖. Sempre que uma determinada atividade ou comportamento se manifesta em grupo, de 2 ou mais indivíduos, esse fator é adicionado ao código. No mesmo exemplo anterior, 2MFYA significará ―casal de jovens adultos‖.

Figura 108 – Mapas resultantes do registo analógico dos dados de observação e mapeamento de comportamentos. À esquerda o mapa resultante de uma ronda no parque ―The Meadows‖ em Edimburgo, em Abril de 2011 e à direita um teste no Parque de Santo António, utilizando o mesmo método, em Agosto de 2011.

O mapa resultante dos trabalhos de campo contém assim os pontos com a localização geográfica dos utilizadores do parque e as suas descrições através de códigos alfanuméricos (Figura 108).

Para efeitos de aplicação piloto, foi inicialmente utilizada uma chave em uso corrente no

OpenSpace Research Centre, para estudos idênticos de observação e mapeamento de

comportamento em espaços verdes públicos. Esta, utlizada para o registo das atividades e comportamentos no parque, para além dos elementos relativos ao género e escalão etário anteriormente descritos, contém informação que permite relacionar a atividade com a interação social, descrever o tipo de atividade e comportamento e referenciar aspetos de mobilidade que limitam a atividade (Figura 109).

Gender Age group Social status Activity and Behaviour Mobility

Male (M) Child (C) Alone (1) Watching (Wa) Cane/crutch Female (F) Teenager (T) Not alone: Talking (Ta) Weelchair

Young adult <40 (YA) - With another person (2) On mobile (Mob) Pushchair Older Adult 40-65 (A) - With pet (Dog) Eating €

Older person >65 (O) - With baby (Bab) Working (Wo) - In small group <5 (Gnº) Standing (St) - In big group (Gnº) Sitting (Sit)

Walking (W) Runing (R) Cycling (Cy) Playing ball (Bal) Other sports (Sp)

Figura 109 - Chave utilizada para a recolha de dados por mapeamento da atividade e comportamento dos utilizadores, na aplicação piloto (adaptado de OpenSpace Research Centre).

b) Identificação de dificuldades e limitações

Verificou-se que o método analógico usado tem a vantagem de permitir o registo expedito, contudo reúne algumas limitações:

 A recolha de dados gera um registo confuso e difícil de decifrar devido à sobreposição de pontos e texto, já que depende da associação de códigos aos pontos, no mesmo suporte (o mapa A4);

 A transcrição dos dados para um formato digital utilizável para análise estatística é morosa;

 A chave provou-se útil e aplicável ao caso do parque ―The Meadows‖, contudo, considerando observações anteriores, nos parques verdes em Portugal, optou-se pela sua adaptação após teste no parque do Corgo (Vila Real);

 O trabalho de campo é demorado e dispendioso, considerando a distribuição geográfica dos casos de estudo.

c) Alterações à abordagem

Na sequência da abordagem inicial no Meadows Park e consequente identificação das suas limitações e dificuldades, julgou-se conveniente ajustar a técnica à recolha digital dos dados, de modo a possibilitar um interface de utilização mais eficiente.

O registo confuso e muitas vezes difícil de decifrar poderia ser minimizado se a recolha de dados fosse efetuada por uma equipa de duas pessoas, ficando uma responsável pela identificação dos pontos no mapa e outra pelo preenchimento de uma tabela de dados que

descreva cada entrada numérica no mapa. Com esta alternativa perde-se contudo alguma autonomia, tornando-se também menos expedita e mais dispendiosa.

Foi nesta sequência que se optou por uma técnica integralmente digital, especificamente desenvolvida no decorrer desta investigação para a aplicação dos casos de estudo selecionados. A técnica passa por utilizar um dispositivo digital ―multitouch‖, tipo ―tablet PC‖ (Figura 110). O computador multitouch portátil permite operar um sistema de informação geográfica e recolher pontos diretamente para um mapa digital. Esses pontos estão associados a uma tabela de atributos que contém todas as variáveis a observar. Adicionalmente é associado à tabela de atributos um interface de utilizador de alimentação rápida e expedita, o que torna o procedimento prático de utilizar no campo. Este dispositivo foi testado e desenvolvido no Parque do Corgo, em Vila Real.

Figura 110 – Sistema de recolha de dados desenvolvido pelo autor, que utiliza um computador Asus™ Multitouch T91mt para operar um sistema de informação geográfica gerado no Quantum GIS 1.7 Wroclaw. O computador permite operar em modo prancheta, utilizando uma caneta, provando-se de utilização expedita no campo.

Para a estruturação completa deste sistema, foi utilizado o software livre Quantum GIS 1.7

Wroclaw ®, que fornece o suporte de informação geográfica e permite a associação de um

interface de utilizador (ficheiro .ui). Este interface foi desenvolvido no software livre Qt

designer ®, parte da aplicação Qt ® que, utilizando a linguagem de programação C++,

permite a construção de interfaces do tipo formulário.

Foi então desenhado o formulário contendo as variáveis definidas com base na experiência de campo em Edimburgo e algumas saídas de campo para observação da atividade em vários parques, durante o mês de Maio e Junho de 2011. Este formulário foi então empregue no Parque do Corgo (Figura 111) e adaptado durante estes trabalhos, com vista a melhor se ajustar à recolha digital de dados e incluir as opções de registo que melhor retratam a utilização dos parques em Portugal.

Figura 111 - O Parque do Corgo, em Vila Real, é um parque linear que se desenvolve ao longo do vale do rio Corgo, seu trajeto urbano. A sua área central de acesso (em baixo ao centro), situa-se junto do Teatro de Vila Real e do edifício do Centro Comercial (maior volume, em baixo) e é a área que permite maior oportunidade para o uso recreativo. A restante ár ea é composta sobretudo por percursos lineares paralelos ao rio. (captura da imagem oblíqua BingMapsTM)

Figura 112 – Formulário de interface com o operador do sistema. O formulário surge automaticamente, em substituição da usual tabela de introdução de dados, após cada introdução de ponto no ambiente GIS. Cada uma das variáveis no formulário (marcadas em bullets , boxes e dropdown menus) corresponde a uma coluna na tabela de atributos do sistema de informação geográfica. O preenchimento do formulário é feito diretamente no ecrã tátil do pc multitouch, utilizando o dedo ou a caneta tátil. Um dos aspetos alterados após estes trabalhos foi a estrutura em grupos de dados, passando a (Figura 112, página 1): Género (1), Escalão etário (2), Estado de interação social (3 e 4), Comportamentos e atividade e nível de atividade física (5 e 6), Aspetos relacionados com a mobilidade (7). O tópico ―Carrying bag/backpack‖ foi incluído por lapso no grupo 5 do formulário, foi contudo analisado como fazendo parte do grupo 7. Adicionou-

se ainda uma segunda página para registar os dados relativos à ronda (Figura 112, página 2): horário do dia (1), data, hora e duração da ronda (2), condições climatéricas (3).

A nova estrutura agrupa agora a atividade em dois grupos, um relativo ao nível de atividade física e outro ao comportamento e atividades complementares. A lista destas atividades foi também significativamente alterada. Foram introduzidas as atividades ―cantar e tocar música‖, ―dormir‖, ―pescar‖, ―ler/estudar‖, ―namorar‖, assim como os níveis de atividade física ―parado de pé‖, ―Ginástica/Tai Chi/Yoga‖ e os aspetos relacionados com a mobilidade que permitam monitorizar a utilização por alguns grupos, incluindo ―cegueira total ou parcial‖, surdo ou com aparelho auditivo‖, deficiência mental‖.

O procedimento geral seguiu a mesma estrutura que já havia sido implementada na abordagem inicial no Meadows Park. Apesar de, agora, a recolha de dados ser digital, o procedimento passou igualmente pela preparação do mapa do parque, definição dos percursos para as rondas de observação e definição dos dados a recolher.