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3.5. Implementação dos métodos de recolha de dados

3.5.2. Ensaio piloto 2

Desenvolvimento do método de entrevista aos utilizadores dos parques, técnicas de inquirição e técnica de registo de dados no Parque do Tâmega (Chaves).

a) Abordagem inicial

A primeira abordagem ao método e à aprendizagem das técnicas de inquirição foi desenvolvida no Parque do Tâmega, em Chaves, já após a definição dos casos de estudo desta investigação. Foi escrito o primeiro guião de perguntas que se testou no campo durante os meses de Setembro e Outubro de 2011. Para estes trabalhos muito contribuiu o estudo aprofundado sobre o Inquérito (Ghiglione & Matalon 2001; Foddy 1996), e mais especificamente a entrevista enquanto método qualitativo (Kvale 1996; Kvale & Brinkmann 2009) e aplicado à perceção ambiental (Jorgensen & Anthopoulou 2007), assim como algumas implementações do método com o foco na temática do parque (Moore & Cosco 2007; Marcus & Francis 1998) .

A entrevista consistia inicialmente numa estrutura em três blocos, um primeiro bloco destinado à caracterização da utilização do parque pelo inquirido, um segundo bloco sobre a avaliação pelo inquirido e um terceiro bloco de questões de caracterização demográfica (

Na primeira abordagem optou-se por levar chaves fechadas de resposta para a quase totalidade das perguntas. Parte das perguntas, como aquelas que pediam a indicação de sítios ou pontos geográficos no parque, dependiam da resposta num mapa, pelo que foi desenvolvida a técnica de registo das respostas.

Figura 113 - Formulário piloto da entrevista face-to-face aplicado aos utilizadores do Parque do Tâmega em Chaves.

Figura 114 - Mapa do parque inicialmente utilizado para recolher respostas georreferenciadas.

A recolha dos dados foi feita por entrevista in-situ, com o auxílio de uma prancheta de grampo com o formulário da entrevista em papel (

Figura 113) e com uma prancheta acrílica com um mapa desenhado para a leitura fácil por

parte do inquirido (Figura 114). As respostas eram registadas por escrito no formulário e as respostas geográficas eram registadas sobre o acrílico com uma caneta de feltro, por meio da utilização de uma chave de códigos e, após cada entrevista, fotografadas e associando o número de ID do formulário à captação.

b) Identificação de limitações e dificuldades

 As perguntas fechadas facilitam o tratamento de dados, pois não obrigam a trabalhos de codificação das respostas. Considerou-se contudo que, mesmo após calibração das opções de resposta no campo, a lista fechada de opções não responde às necessidades do inquérito, observando-se a perda de dados de natureza qualitativa.

 Comparando com o registo digital dos dados, desenvolvido para os trabalhos de observação e mapeamento do comportamento, a utilização de um formulário para registo escrito é bastante mais morosa;

 Não obstante, esta técnica de registo obriga a um grande volume de trabalho, com grande consumo de tempo, dedicado sobretudo à transcrição de dados para um formato digital;

 Tendo em conta que o registo de dados é feito em dois suportes, no formulário e no mapa (prancheta), este trabalho é de logística difícil;

 À semelhança dos trabalhos de observação e mapeamento de comportamento, tendo em conta a distribuição geográfica dos casos de estudo, o trabalho de campo considera-se moroso e dispendioso;

 Apesar de se provar muito útil a utilização de um mapa para auxiliar a inquirição, o mapa utilizado na prancheta acrílica, não se considerou eficaz, não cumprindo com o principal requisito: que fosse facilmente lido pelos inquiridos. Ao invés, obrigou a explicações prolongadas por parte do inquiridor. As razões para esta limitação são, por um lado a utilização da palete monocromática, pouco caraterística em mapas usualmente disponíveis para leitura fácil, por outro a ausência de símbolos de fácil associação ao lugar que permitissem uma referenciação e reconhecimento imediato dos lugares.

O inquérito piloto provou que as perguntas de resposta fechada – determinantes no conhecimento das motivações, preferências e necessidades dos utilizadores – que ofereciam uma chave pré-definida, não se ajustavam às respostas recolhidas na inquirição. Estas foram convertidas em perguntas de resposta aberta (Figura 115).

Formulação da pergunta Registo Relevância da pergunta

5 Quais as suas duas razões principais para visitar este parque?

T Motivação para visitar o parque

6 Que áreas do parque utiliza com mais frequência?

T, M Motivação para visitar o parque; Padrão individual de utilização; Resposta às necessidades do utilizador

9 Qual o sítio que mais gosta no parque? T, M Preferências individuais

10 Qual o sítio que menos gosta no parque? T, M Preferências individuais 19 Quais os aspetos que considera mais

negativos no parque?

T Preferências individuais; Resposta às necessidades do utilizador

20.2 O que sugere para melhorar este aspeto? (Manutenção)

T Resposta às necessidades do

utilizador; Proposta 20.4 O que sugere para melhorar este aspeto?

(Segurança)

T Resposta às necessidades do

utilizador; Proposta 20.6 O que sugere para melhorar este aspeto?

(Aspeto estético)

T Resposta às necessidades do

utilizador; Proposta 20.8 O que sugere para melhorar este aspeto?

(Usabilidade)

T Resposta às necessidades do

utilizador; Proposta 21.1 Que diferença é que acha que o parque fez

relativamente à situação anterior?

T Resposta às necessidades do

utilizador; Avaliação do sucesso do parque em relação ao contexto

Figura 115 - Lista de perguntas de resposta aberta, com indicação do suporte de recolha de dados (M: mapa, T: texto) e relevância da resposta para a análise.

Este tipo de perguntas obriga contudo a um processo de codificação posterior. Trata-se de agregar o discurso individual que possibilite a generalização da resposta: ―no momento da

interpretação dispomos de uma coleção de discursos individuais, a partir dos quais é necessário construir um único discurso. (…) Esta construção coloca o duplo problema da

agregação das respostas individuais e da sua generalização‖ (Ghiglione & Matalon 2001, p.3).

Na primeira versão do guião de entrevista, implementada no ensaio-piloto, foram introduzidas questões com o objetivo de determinar as caraterísticas dominantes de outros espaços verdes que influenciavam a preferência dos inquiridos. Dado que a sua compreensão se mostrou difícil, por desviar o foco de atenção do parque objeto da entrevista, estas perguntas foram eliminadas na versão final do guião (

Figura 116).

Figura 116- Formulário da entrevista implementada nos cinco casos de estudo, alterada em função dos resultados da entrevista piloto.

Foi adicionado um bloco de duas perguntas do tipo polar adjectives choice (Getz et al. 1982, p.262) com o objetivo de determinar as tendências de perfil geral dos inquiridos, relativamente à sua preferência por tipos de ambientes no parque objeto de entrevista e aos sentimentos que experienciam ao visitar o parque (Figura 117).

Formulação da pergunta Registo Relevância da pergunta

11 Neste parque gosta mais de:

1. Espaços abertos relvados – Espaços ensombrados com árvores 2. Percorrer o parque pelos caminhos – Percorrer por zonas sem caminhos 3. Espaços onde pode observar água – Onde não sente a presença da água 4. Espaços pavimentados e com edifícios – Espaços mais verdes

5. Zonas com equipamentos para recreio – Zonas de recreio mais livre 6. Zonas mais selvagens e naturalizadas – Zonas mais floridas e arranjadas Opções adicionais: nenhum; os dois; não sei/prefiro não responder

O Perfil de preferências por tipo de ambiente

12 Como se sente quando visita o parque?

1. Calma – Energia

2. Sente que está longe da cidade – Sente-se num ambiente urbano 3. Aborrecido – Interessado

4. Próximo da natureza – Intimidado pela natureza

O Perfil dos sentimentos

5. Confortável – Incomodado 6. Deslocado – Em casa

Opções adicionais: nenhum; os dois; não sei/prefiro não responder

Figura 117 - Bloco de perguntas de escolha bipolar, com indicação do suporte de recolha de dados (O: Opção de escolha pré- definida) e relevância da resposta para a análise.

O registo de dados num mapa revelou ajudar a referenciação da inquirição ao parque objeto da entrevista, contudo, o mapa inicialmente utilizado revelou fragilidades, já descritas. Consequentemente foi desenvolvido um mapa ajustado ao trabalho de recolha de dados no campo, tornando-se vantajoso para o objetivo requerido, que representasse com clareza e certeza o objeto sobre o qual incidia a inquirição, fosse bem compreendido pelo inquirido e ainda que fosse bem desenhado e apelativo, tal como conclui Peter Hall (2011): Usability;

Accuracy, precision and comprehension; and Aesthetics, respondendo à pergunta ―o que faz

um bom mapa?‖, ou como resume James Corner ―digging, finding and exposing on one

hand, and relating, connecting and structuring on the other‖ (idem, 7:32).

Os mapas são representações gráficas que facilitam a compreensão espacial das coisas, conceitos, condições, processos ou eventos do nosso mundo (Harley 1987). A produção de um mapa obriga contudo a um processo de seleção, representação e concetualização de uma realidade para um suporte de visualização do mundo real (Figura 118), ―that inevitable

falsifies the territory they represent, even as they communicate valuable information about the territory― (Padron 2007, p.284). Há por isso que definir bem os elementos selecionados

para incluir no mapa; a forma encontrada para os representar, com vista à melhor leitura e associação aos códigos reais; o conceito que se pretende passar ao interlocutor com a criação do mapa, que deriva do próprio sitio a representar; mas também do objetivo da criação do mapa.

Figura 118 – Visões sobre as formas de visualização. Fonte: (van Wijk 2005, p.8)

Ao adicionar ao processo de inquirição a visualização através de um mapa do lugar que as pessoas conhecem bem, é-lhes possível recordar histórias e significados associados a esse lugar (Harley 1987). Tem também o benefício de permitir abstrair o inquirido da sua posição geográfica dentro do parque, procurando que este o visite total e instantaneamente ao observar o mapa. Ao mesmo tempo o mapa oferece a noção dos limites do parque e, por conseguinte, do objeto sobre o qual inside a inquirição, que doutra forma, cada utilizador decidiria de acordo com a sua própria conceção e experiência.

Nesta sequência produziram-se mapas para os cinco parques, que definissem com clareza os limites do espaço sujeitos à avaliação por parte dos inquiridos. Para além disso, procurou-se utilizar códigos de representação que se aproximassem daqueles mais habituais nas visualizações em mapa dos espaços urbanos, tal como acontece nos mapas turísticos das cidades, equipamentos de GPS, ou outros mapas de livre acesso (Figura 119). Os cinco mapas desenvolvidos são apresentados no ponto 3.4.3 a propósito da descrição dos casos de estudo.

O espaço urbano adjacente ao parque foi representado com os mesmos códigos recorrentemente utilizados. As áreas de circulação do parque foram representadas de forma a contrastarem com as áreas verdes permeáveis e as cores selecionadas são aquelas que melhor comunicam o código que se pretende representar. Procurou-se também adicionar realismo à visualização, através da representação de sombras das árvores e edifícios, bem como das áreas mais expostas dos relvados. O mapa foi complementado com uma legenda iconográfica, de rápida leitura e com a toponímia dos principais eixos e marcos urbanos.

Figura 119 - Prancheta acrílica com mapa do estado atual do parque do Mondego (Coimbra)