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4 ASPECTOS NÃO APLICÁVEIS

4.1 Relativos a prazos processuais

4.1.3 Da prescrição intercorrente

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138 CPC/2015 - Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias,

cujo termo inicial será a data:

I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição;

.

II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I;

III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.

§ 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no

inciso II será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência.

§ 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, havendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência.

139 CPC/2015 - Art. 921. Suspende-se a execução:

I - nas hipóteses dos arts. 313 e 315, no que couber;

II - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução; III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

IV - se a alienação dos bens penhorados não se realizar por falta de licitantes e o exequente, em 15 (quinze) dias, não requerer a adjudicação nem indicar outros bens penhoráveis;

V - quando concedido o parcelamento de que trata o art. 916.

§ 1o Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se

suspenderá a prescrição.

§ 2o Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos.

§ 3o Os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem

encontrados bens penhoráveis.

§ 4o Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem manifestação do exequente, começa a correr o prazo de

prescrição intercorrente.

§ 5o O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a

Em síntese, ocorre que, na hipótese do Art. 921, III, do CPC/15, a execução é suspensa quando o devedor não possuir bens penhoráveis, ou quando os bens localizados forem impenhoráveis ou insuficientes para cobrir o pagamento das custas processuais (art. 836, caput, CPC/15). Em isso ocorrendo, preceitua o §1º do Art. 921 que a execução seja suspensa pelo prazo de um ano140

Como primeiro pilar de tal celeuma temos o Art. 884, §1º da CLT, que consagra a prescrição como matéria de defesa alegável nos embargos à execução. Por lógico, interpreta-se que tal prescrição a ser alegada há de ser a intercorrente, delimitada no interregno entre a coisa julgada da sentença de mérito e a execução

, findo o qual, ante a inércia do exeqüente (§4º), e, após manifestação das partes em prazo de 15 (quinze dias), poderá o juiz decretar de ofício a prescrição intercorrente da pretensão executória.

Todavia, mesmo havendo a Instrução Normativa estabelecido a não aplicação desses preceitos do Novo CPC ao processo trabalhista, ainda persiste celeuma doutrinária e jurisprudencial lamentavelmente ainda não sanada dentro da própria legislação trabalhista a respeito da aplicação da prescrição intercorrente ao Processo do Trabalho.

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Mesmo considerando que no Processo do Trabalho a execução pode ocorrer ex officio

.

142, o que diminui sobremaneira a possibilidade de ocorrência desse lapso

temporal prescritivo, totalmente admissível seria ao executado alegar a prescrição intercorrente por inércia do exeqüente em não solicitar a liquidação por artigos (que depende de iniciativa da parte) dentro dos prazos prescricionais de dois ou cinco anos do Art. 11 do Código Obreiro143

Ante esta possibilidade de aplicação da prescrição intercorrente ao processo trabalhista, formaram-se duas correntes jurisprudenciais, num embate entre a aplicação da Súmula 327 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual “o Direito Trabalhista

.

[...]

Art. 924. Extingue-se a execução quando: I - a petição inicial for indeferida;

II - a obrigação for satisfeita;

III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida; IV - o exequente renunciar ao crédito;

V - ocorrer a prescrição intercorrente.

140 NEVES, op. cit. p. 1478 141 LEITE, 2016, op. cit. p. 710

142 CLT - Art. 878 - A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo

próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.

143 CLT - Art. 11 - O direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve:

I - em cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato; Il - em dois anos, após a extinção do contrato de trabalho, para o trabalhador rural.

admite a prescrição intercorrente” e a Súmula 114 do Tribunal Superior do Trabalho, a determinar que “é inaplicável na Justiça do Trabalho a Prescrição intercorrente”.

A primeira corrente, outrora em voga na Seção Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do TST144

144 INSERIR AQUI CITAÇÃO INDIRETA DO ARTIGO EM: https://jus.com.br/artigos/38155/o-

conflito-entre-a-sumula-327-do-stf-e-a-sumula-114-do-tst-a-prescricao-intercorrente-aplica-se-ou-nao-na- justica-do-trabalho

, permitia a utilização do instituto em comento, apoiando- se no enunciado da Súmula 327 do STF, notadamente frente a atos de inércia e descaso atribuíveis ao próprio exeqüente. Nesse sentido, jurisprudência:

'PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. CABIMENTO. REINTEGRAÇÃO. INICIATIVA QUE CABE EXCLUSIVAMENTE AO CREDOR. Se é certo que a execução trabalhista pode (deve) ser iniciada de ofício, não é menos certo que, em algumas hipóteses, ela pressupõe ato a cargo exclusivo do credor, caso em que, para tanto intimado, tem início a prescrição. Interpretação que se pode extrair da Súmula 114 do Tribunal Superior do Trabalho, notadamente à vista do que dispõe o art. 884, § 1º da CLT e do entendimento consagrado na Súmula 327 do Supremo Tribunal Federal. Precedentes do próprio Tribunal Superior do Trabalho. Agravo a que se dá provimento para extinguir a execução.' (Ag. Pet., ACÓRDÃO Nº: 20050614961 PROCESSO Nº: 02230-1991-007- 02-00-3, TRT 2ª Reg., Rel. J. SERGIO J. B. JUNQUEIRA MACHADO, 3ª T., j. 6/09/2005,DOE 20/09/2005).

'PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NA EXECUÇÃO TRABALHISTA: Exceção ao E. 114 do TST - O E. 114 do TST visa proteger o trabalhador que pode ver seu crédito, de natureza alimentar, esvair-se, por momentânea insolvência do devedor, e, assim proferida a sentença de liquidação não existe mais a possibilidade do credor furtar-se ao pagamento qualquer que seja o tempo transcorrido. Porém a partir da intimação para a apresentação dos cálculos conforme art. 879, parágrafo 1º, b da CLT, se o credor não providencia a liquidação, por sua incúria, no prazo de 2 (dois) anos, ocorre a prescrição expressamente contemplada como matéria de defesa em embargos à execução, de acordo com o artigo 884, parágrafo 1º da CLT. g.n.' (AP 00271-1990-014-02-00- 2, Rel. Maria José Bighetti Ordoño Rebello, 5ª Turma).

'PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE - EXECUÇÃO - APLICAÇÃO AO PROCESSO DO TRABALHO. De acordo com a Súmula 327 do C.STF: 'O direito do trabalho admite a prescrição intercorrente'. Autoriza a aplicação da prescrição intercorrente no Processo do Trabalho a inércia do exequente que deixa de atender atos processuais por mais de 2 anos. Assim, a partir do momento em que os atos à serem realizados dependem exclusivamente do autor e ele abandona a causa por mais de dois anos, há que se extinguir a execução pelo decurso da prescrição intercorrente. Agravo de Petição inicial provido.' (A. Pet., ACÓRDÃO Nº: 20070008455 PROCESSO Nº: 01381- 2000-073-02-00-1, TRT 2ª Reg., Rel. J. RICARDO VERTA LUDUVICE, 11ª T, j. 17/01/2007, DOE 13/02/2007).

'EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. Aplica-se a prescrição intercorrente na execução trabalhista em sendo o devedor solvente e não tendo o credor praticado ato a seu cargo exclusivo, muito embora para tanto intimado. Entendimento da Súmula 114 do TST, combinado com a Súmula 327 do STF.' (A. Pet., ACÓRDÃO Nº: 20060383342 PROCESSO Nº: 01210-1985-013-02-00-9, TRT 2ª Reg. Rel. J. JOSÉ RUFFOLO, 5ª T., j. 30/05/2006, DOE 20/06/2006).

Há ainda interpretações ecléticas a conciliar a aplicação de ambas as súmulas, defendendo que, a teor da Súmula 114 do TST, a prescrição intercorrente não vigora na Justiça do Trabalho, em regra, sendo aplicada a Súmula 327 do STF de forma residual às ações que versam sobre “direito trabalhista” lato sensu – utilizando o próprio vocabulário da súmula – e que não tramitem no âmbito da Justiça do Trabalho. Ou seja, aplicar-se ia a prescrição intercorrente, por exemplo, a concursados celetistas, cujo processo, embora verse sobre direitos trabalhistas, tramita na Justiça Comum145

Todavia, a segunda corrente, com a posição extremada contrária, atualmente foi sedimentada no TST

.

146, determinando a peremptória não aplicação da prescrição

intercorrente à Justiça do Trabalho, em obediência irrestrita à Súmula 114 da casa e em homenagem à coisa julgada e ao princípio do impulso oficial da execução trabalhista. De forma bastante didática delineou a ilustre Desembargadora Kátia Magalhães Arruda, em recente julgado147

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. O entendimento prevalente nesta Corte é no sentido de que a execução trabalhista, por comportar o impulso oficial (artigo 878 da CLT), e pelo fato de existir a coisa julgada material, com potencial para surtir , o qual ora colacionamos:

É certo que a coisa julgada material torna imutável e indiscutível a sentença. Em consequência, se tornam imutáveis também os efeitos por ela produzidos. Reconhecido o direito do reclamante à percepção dos valores pleiteados e atribuída à respectiva sentença a eficácia da coisa julgada, o juízo da execução somente conclui seu ofício quando integralmente satisfeita a obrigação correspondente. Não havendo renúncia, a satisfação dessa obrigação opera-se com a entrega dos valores em questão ao credor.

Nos termos do art. 878 da CLT, não há como acolher o instituto da prescrição intercorrente no Processo do Trabalho, uma vez que a execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou de ofício pelo próprio juiz ou presidente ou Tribunal competente. Assim, não cabe aplicar a prescrição intercorrente por eventual "descuido" do exequente no andamento da execução, uma vez que outras pessoas poderão promovê-la.

Nesse sentido orientam-se os julgados mais recentes do Superior Egrégio Trabalhista, in verbis:

145 ALMEIDA, Victor Nunes. Prescrição intercorrente no processo trabalhista. Jus Navigandi, 30 de

maio de 2014. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/29061/prescricao-intercorrente-no-processo- trabalhista >. Acesso em 24 abr. 2016.

146 VILLAR, Alice Saldanha. O conflito entre a Súmula 327 do STF e a Súmula 114 do TST: a prescrição

intercorrente aplica-se ou não na Justiça do Trabalho?. Jus Navigandi, 14 de abril de 2015. Disponível em <https://jus.com.br/artigos/38155/o-conflito-entre-a-sumula-327-do-stf-e-a-sumula-114-do-tst-a- prescricao-intercorrente-aplica-se-ou-nao-na-justica-do-trabalho>. Acesso em 24 abr. 2016.

plenamente os seus efeitos jurídicos (artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, c/c o artigo 467 do CPC), não comporta a prescrição intercorrente, ressalvada a hipótese de processo de execução fiscal (artigo 889 da CLT e artigo 1º da Lei 9.873/1999 c/c o artigo 40, §§ 4 º e 5º da Lei 6.830/1980). Daí decorre o entendimento extraído da Súmula 114 do TST. Recurso de revista conhecido e provido.” TST - RR: 1880002320035180011, Rel. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DEJT 10/10/2014

EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INAPLICABILIDADE NA JUSTIÇA DO TRABALHO. Esta Corte uniformizadora tem firmado entendimento no sentido de que afronta o artigo 7º, XXIX, da Constituição da República, por sua má aplicação, a decisão por meio da qual se extingue o direito da exequente de promover a execução, em face da incidência da prescrição intercorrente. Recurso de revista conhecido e provido. (...)” TST - RR: 2487009820015020004, Rel. Lelio Bentes Corrêa, 1ª Turma, DEJT 31/03/2015.

RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. Esta Corte firmou o entendimento de que é inaplicável a prescrição intercorrente na Justiça do Trabalho, ante a possibilidade de que a execução seja promovida por qualquer interessado, ou de ofício, pelo juiz ou presidente do tribunal competente. O prazo bienal para prescrição, previsto no art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, refere-se ao biênio posterior à extinção do contrato de trabalho para pleitear créditos trabalhistas, e não pode ser utilizado na fase de execução em desfavor do empregado que ajuizou reclamação trabalhista e foi vitorioso em sua pretensão. (...)” TST - RR: 500005619975020445, Rel. Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, DEJT 26/09/2014.

Portanto, ante o desfecho da cizânia jurisprudencial apresentada, a interpretação correta a se fazer do artigo 2º, inciso VIII da Instrução Normativa nº 39 do TST deve ser alinhada com a posição jurisprudencial atual e sedimentada no âmbito do próprio tribunal que a editou, sacramentando a inaplicabilidade do instituto da prescrição intercorrente ao processo trabalhista.