Das notas taquigráficas para substituir acórdão

O inciso X do art. 2º da instrução normativa em estudo define a incompatibilidade ao Processo do Trabalho do art. 944 do NCPC, que traz possibilidade da substituição do acórdão por notas taquigráficas.

De notável simplicidade, tal dispositivo não ensejaria a uma primeira vista amplas divagações teóricas. Todavia, há peculiar questão jurisprudencial e principiológica envolvida, se não vejamos.

De efeito, conceituam-se as notas taquigráficas como sendo os registros dos órgãos colegiados em que constam as discussões e os fundamentos dos votos, e que, dado o conteúdos nelas contido, possibilitam às partes a elaboração de recurso contra o julgamento, notadamente na falta ou em complemento ao conteúdo do respectivo acórdão.169

Nesse azo, o novo diploma processual, em homenagem ao princípio da celeridade processual e da duração razoável do processo, estabeleceu, em seu artigo 944170

NOTAS TAQUIGRÁFICAS - INDEFERIMENTO DE JUNTADA AOS AUTOS - AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL Não existe na Lei Maior nem nas hierarquicamente inferiores dispositivo obrigando a extração e juntada de notas taquigráficas aos autos de processo julgado nesta Corte especializada. (TST - AG-ED-E-RR: 2757085719965025555 275708- 57.1996.5.02.5555, Relator: Wagner Pimenta, Data de Julgamento: , que a não publicação do acórdão no prazo de 30 (trinta) dias da data da realização da sessão de julgamento ensejará a sua substituição pelas notas taquigráficas correspondentes, para todos os fins legais e independentemente de revisão.

Doutra face, na legislação trabalhista não há qualquer previsão de obrigatoriedade na juntada de notas taquigráficas ao acórdão, segundo nos aponta jurisprudência do TST:

169 _{NEVES, op. cit. p. 1537}

170 _{CPC/15 - Art. 944. Não publicado o acórdão no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data da sessão de}

julgamento, as notas taquigráficas o substituirão, para todos os fins legais, independentemente de revisão. Parágrafo único. No caso do caput, o presidente do tribunal lavrará, de imediato, as conclusões e a ementa e mandará publicar o acórdão.

16/10/2000, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,, Data de Publicação: DJ 10/11/2000.) (grifo nosso)

Em verdade, trata-se de ponto omisso na disciplina legal, o qual foi preenchido pela prática jurisprudencial trabalhista, que, em geral, considera necessária a juntada das notas taquigráficas sempre que necessário à apreensão do teor acórdão, à elucidação de pontos específicos dos meandros do decisium, e à elaboração das razões recursais, em sendo solicitado pela parte. Seguem excertos jurisprudenciais que ilustram o papel das notas taquigráficas no processo trabalhista:

O Autor opõe novos embargos de declaração, aduzindo que o acórdão embargado, em que rejeitados os primeiros embargos declaratórios, não examinou o pedido de juntada das notas taquigráficas da sessão de julgamento da SBDI-2 desta Corte Superior, ocorrida em 11.11.2014, aos autos.

Alega que a juntada das notas taquigráficas tem como escopo suprimir a omissão quanto ao momento em que concedido o benefício da justiça gratuita.

[...]

Ademais, infere-se dos argumentos lançados nos embargos de declaração em análise que a juntada das referidas notas taquigráficas tem como objetivo fixar o momento processual em que concedido o benefício da justiça gratuita. [...]

(TST - ED-ED-RO: 285000420095050000, Relator: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 10/03/2015, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 20/03/2015)

“[...] Ocorre que, naquela sessão, conforme se extrai das respectivas notas taquigráficas, deixou registrado o seu pedido de vista regimental, “caso ficasse vinculado ao julgamento do presente feito”, mas, naquela mesma oportunidade, houve esclarecimentos no sentido da sua não vinculação [...].” (TST - ED-ED-AIRR: 486402720055100011 48640-27.2005.5.10.0011, Relator: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 22/06/2011, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/06/2011) (grifamos)

O mesmo julgado também assevera posicionamento jurisprudencial do TST de que os embargos de declaração não constituem instrumento idôneo a solicitar a juntada ao acórdão, in verbis:

Conforme consignado no acórdão embargado, as questões aventadas nos primeiros embargos de declaração não se amoldavam às estritas hipóteses de omissão, contradição ou obscuridade do decisum – referindo-se à retificação de possível erro na certidão de julgamento e suposto vício de composição do Colegiado. Da mesma forma, consignou o acórdão embargado que se mostrou inadequado o pedido de juntada, aos autos, das notas taquigráficas, por não se inserir entre as hipóteses trazidas pelos arts. 535 do CPC e 897-A da CLT, pedido este que também certamente seria indeferido, haja vista que, nos termos do art. 4º do Ato GDGCA.GP. nº 130 de 29/03/2004, as notas

taquigráficas são documentos de consulta interna dos Ministros e dos Diretores de Secretaria.171

Relativizou-se, portanto, o princípio da celeridade processual colocado em primazia pelo dispositivo rejeitado do NCPC em homenagem a princípios como o da segurança jurídica, do tecnicismo e da formalidade

Nesse ínterim, pondera-se que não há, em tese, norma expressa ou mesmo entendimento jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho que impeça a aplicação do art. 944 do Novo CPC, que permite a substituição do acórdão pelas notas taquigráficas quando do retardo por mais de 30 (trinta) dias do tribunal na publicação do decisium. Tratar-se-ia, destarte, de norma subsidiária do Processo Civil claramente aplicável ao Processo Trabalhista.

Portanto, frente ao presente inciso da Instrução Normativa nº 39/2016 do TST, que determina a não aplicação da hipótese legal aventada à Justiça do Trabalho, aparenta-se estar diante de decisão discricionária dos membros do tribunal, que preferiram não permitir a substituição do documento polido, formal e inteiriço do acórdão pelas notas taquigráficas, as quais constituem anotações de cunho acessório, procedimental e de consulta, suscetíveis a incorreções técnicas e terminológicas.

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171 _{TST - ED-ED-AIRR: 486402720055100011 48640-27.2005.5.10.0011, Relator: Dora Maria da Costa,}

Data de Julgamento: 22/06/2011, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/06/2011

172 _{Princípio da formalidade no processo, porque o formalismo é necessário, não só como exigência de}

interesse geral, para assegurar o bom funcionamento da justiça, mas também a serviço do interesse privado do litigante, como salvaguarda de seus direitos. Assim, ‘o princípio formalista do processo, em uma acepção, significa as formas precisas e determinadas dos fatos e atos jurídicos que constituem o conteúdo do processo, quer dizer, atos e fatos processuais que são o procedimento mesmo’ [...] por fim, acrescenta que o formalismo no Processo do Trabalho deve ser caracterizado pela simplicidade, diante das condições de uma das partes, o trabalhador, pessoa culturalmente não preparada. (NASCIMENTO, op. cit. p. 110)

– princípio específico do Processo do Trabalho – orbitando, é claro, a proteção dos valores ligados aos hipossuficientes tutelados pelo direito trabalhista.

4.4.3 Da desnecessidade de o juízo a quo exercer controle de admissibilidade na