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Do juízo de retratação e do efeito devolutivo do recurso ordinário

3 A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 9/2016 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO

3.2 Inovações do Novo Código de Processo Civil aplicáveis ao Processo do

3.2.3 Relativos a meios de impugnação de decisões

3.2.3.1 Do juízo de retratação e do efeito devolutivo do recurso ordinário

Os incisos VIII e XXVIII do art. 3º da Instrução Normativa pregam a aplicação ao Processo Laboral dos art. 485, § 7º e 1.013 a 1.014 do NCPC, que versam sobre o juízo de retratação e o efeito devolutivo do recurso ordinário.

Não é a única vez que Instrução normativa trata do Recurso Ordinário, estabelecendo como pressuposto, por evidente, seu paralelismo com o recurso de Apelação do Processo Civil.

No azo, começa por estabelecer a aplicação do §7º do artigo 485 do NCPC ao Recurso Ordinário trabalhista, que lhe confere a possibilidade de juízo de retratação, dentro de cinco dias, da interposição de apelação – in casu, Recurso Ordinário – contra as decisões que põem fim ao processo sem resolução de mérito listadas no artigo 48545

45 CPC/2015 - Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

I - indeferir a petição inicial;

II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;

III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

Lembremos que, via de regra, a apelação não permite a retratação do juizo que proferiu a sentença. Isso porque, publicada a sentença, o juiz não pode, em regra, mais alterá-la (art. 494, CPC46), mesmo verificando haver incorrido em desacertos ou vício de competência, regra denominada pela doutrina de “inalterabilidade da sentença”47

Eis as exceções relativas ao recurso de apelação: a) apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 331, CPC); b) apelação contra sentença que julga liminarmente improcedente o pedido (art. 332, §3°, CPC); c) apelação contra sentença que extingue o processo sem resolução do mérito (art. 485, §7°, CPC); d) apelação contra sentença proferida nas causas que digam respeito a direitos de criança ou adolescente (art. 198, VI, ECA).

. A Instrução normativa, portanto, admite ao processo trabalhista uma das exceções ao referido preceito, sem prejuízo da existência de outros casos do Processo Civil colacionados pela doutrina a admitir o efeito de retratação (efeito regressivo), verbis:

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No Processo do Trabalho, o efeito regressivo não é novidade, já sendo previsto para os recursos de Agravo de Instrumento (item IV, IN nº 16/1999 TST), Agravo Regimental (art. 236, RITST) e Embargos de Declaração - vide jurisprudência do TST49

IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;

VIII - homologar a desistência da ação;

IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código.

46 CPC/2015 - Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:

- pelo que o recurso de Apelação (contra decisões que encerram o julgamento sem exame de mérito) junta-se ao rol dos recursos trabalhistas beneficiados pela

I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração.

47 DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil – Volume

III: Meios de impugnação às decisões judiciais e Processos nos Tribunais. 13ª ed. Salvador: Ed. Jus

Podivm, 2016. p. 190

48 Id

49 RECURSO DE REVISTA. 1. PRELIMINAR. NULIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL. O recorrente não demonstrou ter oposto embargos de declaração, cujo efeito

regressivo permitiria a correção de eventual omissão pelo próprio órgão prolator da decisão. Assim,

a ausência de comunicação do vício formal por meio do instrumento processual adequado acarretou a preclusão do tema suscitado em recurso de revista, conforme entendimento consagrado pela Súmula nº 184. Recurso de revista não conhecido.[...] (TST - RR: 1221008520085010207 122100- 85.2008.5.01.0207, Relator: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 22/05/2013, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 31/05/2013) (grifo nosso)

possibilidade do juízo de retratação do magistrado que percebe seu equívoco ao apreender a argumentação contida no recurso interposto.

Tal providência encontra-se totalmente alinhada com os ditames do Processo Trabalhista, por coadunar-se com os princípios da simplicidade, celeridade e economia processuais, que devem sempre nortear a conduta dos órgãos da Justiça do Trabalho50

Em seguida, a Instrução Normativa adota para a seara trabalhista as disposições do Novo CPC insculpidas nos artigos 1.013 e 1.014

.

51

Analisando o dispositivo, temos que o caput do art. 1.013 dispõe sobre o plano horizontal da devolução, o qual delimita a extensão do efeito devolutivo, ou seja, “o que” será objeto de apreciação pelo tribunal. Portanto, limita a disposição o efeito devolutivo da apelação à matéria impugnada no recurso, sendo vedado ao tribunal considerar aquilo que não lhe foi devolvido

, relativas ao efeito devolutivo do recuso de apelação, aplicado ao recurso ordinário trabalhista. Pondere-se, primeiramente, que o efeito devolutivo consiste na devolução da matéria impugnada ao conhecimento do órgão ad quem, a fim de que seja realizado o reexame da decisão recorrida.

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Como projeção da regra da congruência entre o pedido e a sentença, somente é devolvida ao tribunal a matéria efetivamente impugnada pelo recorrente, em consonância com o brocardo tantum devolutum quantum appellatum. Da mesma forma que o autor fixa na petição inicial os limites do pedido e da causa de pedir, ficando o juiz adstrito a tais limites, na esfera recursal, o . Nesse sentido vejamos excerto doutrinário:

50 LEITE, 2016, op. cit. p. 936

51 CPC/2015 - Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado.

§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a

apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

§ 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o

mérito quando:

I - reformar sentença fundada no art. 485;

II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir;

III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

§ 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.

§ 5o O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na

apelação.

Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

recorrente, por meio do pedido de nova decisão, fixa os limites e o âmbito de devolutividade do recurso.53

Sem maiores minudências que fujam ao objetivo do presente trabalho, temos que os parágrafos 1º e 2º do art. 1.013 tratam da profundidade do efeito devolutivo, que tratam do seu plano vertical, ou seja, determinam “com que material há de trabalhar o órgão ad quem para julgar”54

Seguindo para os §3º e 4º, o Código versa sobre a “teoria da causa madura”, trazendo hipóteses em que, se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal fica autorizado a decidir desde logo o mérito da demanda sem restituir o processo para novo julgamento pela primeira instância. Tais hipóteses são exceções à regra geral de que o tribunal não deve avançar no exame das matérias não decididas ainda em primeiro grau, a fim de não atentar contra o duplo grau de jurisdição

.

55

O parágrafo 5º do artigo 1.013, por sua vez, foi mais uma das disposições do NCPC destinadas a sanar dúvidas doutrinárias e jurisprudenciais existentes no âmbito do código anterior, pois, ao dispor que “o capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação” coloca ponto final à antiga discussão sobre o recurso cabível contra capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela antecipada. Em homenagem ao princípio recursal da unirrecorribilidade, a decisão liminar eventualmente concedida, confirmada ou revogada na sentença há de ser combatida em sede da apelação, não se admitindo a cisão dos capítulos da sentença

.

56

Todo o regramento do efeito devolutivo no Recurso Ordinário trabalhista, não obstante a disposição expressa da Instrução Normativa em aplicar a disciplina do NCPC nesse aspecto ao processo trabalhista, já seria totalmente regulado pela legislação processual civil, em face do silêncio da CLT quanto a essa nuance do Recurso Ordinário

.

57

53 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.

401-402

54 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 16 ed. v. 5. Rio de

Janeiro: Forense, 2011, p. 429.

55 OAB-RS. op. cit. p.787

56 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil:

novo CPC – Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 2.062

57 LEITE, 2016, op. cit. p. 1032

. Inevitável seria, portanto, aplicação subsidiária do regramento da apelação cível.

Por fim, no artigo 1.014, temos exceção à regra da delimitação das questões de fato a serem discutidas pelo tribunal. Lembremos, portanto, que as questões de fato não suscitadas e não discutidas no processo, via de regra, não poderiam ser apreciadas pelo tribunal, diante da regra da congruência do pedido e da causa de pedir com a sentença o que nos leva à não admissão da inovação da causa de pedir em 2º grau. Todavia, atento às diversas nuances e situações sui generis a que estão sujeitos os atores processuais, o legislador permitiu a alegação de questões novas se a parte alegar que as deixou de suscitar em face de força maior.58

Para fins de ilustração, pondera-se que a doutrina entende que essa força maior estaria presente nas seguintes situações: (i) fato superveniente à prolação da sentença (art. 493); ignorância do fato pela parte (ciência nova de fato velho); impossibilidade efetiva de comunicar o fato ao advogado ou ao juiz a tempo; e impossibilidade de provar o fato até a sentença59

Não é admissível, no recuso ordinário, argüir questões novas perante o tribunal, salvo se motivo de força maior impedia o advogado de o fazer na oportunidade devida. É aplicável a regra geral do art. 517 do CPC (de 1973). Como regra, o tribunal não pode decidir matéria não submetida à apreciação da Vara sem descumprimento do princípio do duplo grau de jurisdição.

.

Quanto a este artigo em específico do Novo CPC, não obstante a opção do TST em firmar sua aplicação ao Processo do Trabalho, ainda na vigência do diploma processual civil de 1973 já era admitida a arguição de nova matéria de fato no recurso ordinário por motivo de força maior. Vejamos a doutrina:

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A remessa necessária, lembremos, possui natureza jurídica de condição de eficácia da sentença de mérito, pois estando pendente o reexame pelo Tribunal, a Acertada e previsível, portanto, a opção do Superior Egrégio Trabalhista na aplicação dos referidos dispositivos ao processo laboral.