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3 A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 9/2016 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO

3.2 Inovações do Novo Código de Processo Civil aplicáveis ao Processo do

3.2.4 Relativas a aspectos diversos

3.2.4.5 Da vista regimental

O inciso XXIV do art. 3º da IN nº 39/2016 do TST traz ao Processo do Trabalho o art. 940 NCPC, que rege a vista regimental no âmbito dos tribunais.

O artigo 940 do novo diploma processual está gravado no Capítulo II do Título I, do Livro III do NCPC, que rege a Ordem dos Processos no Tribunal, regulando aspectos procedimentais desde o protocolo dos autos até a sequência de atos a serem tomados pelos membros julgadores.

Em específico, o artigo em comento regula o pedido de vista por parte do relator ou de outro juiz que não se considerar habilitado a proferir imediatamente o seu voto. O pedido de vista terá o prazo máximo de 10 (dez) dias, quando então o processo deverá retornar à mesa de julgamento, sob pena, inclusive, em não tendo sido requerida a prorrogação que se dará por no máximo mais 10 (dez) dias, de requisição dos autos e inclusão em pauta de julgamento na sessão seguinte, providência que caberá ao presidente do órgão fracionário. Tal expediente revela a preocupação do legislador em cobrar celeridade processual aos juízes de 2ª instância.

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113 Id. p. 1228

114 OAB-RS. op. cit. p. 702

Inovação do novel diploma processual é de bom alvitre, haja vista ser comum em alguns Tribunais do Trabalho, inclusive no TST, pedidos de vista que se prorrogam por mais de ano, o que muitas vezes importa em mudança de quórum do órgão colegiado ou até mesmo esquecimento de todo o debate, inclusive sustentação oral, havidos na sessão anterior.

Garantia adicional aventada pela norma é a da publicação, com inclusão em pauta de julgamento, finda a vista, posto que é corriqueiro nos Tribunais Trabalhistas a devolução do processo com vista regimental em mesa, sem publicação, pegando as partes muitas vezes de surpresa.115

Antes da opção feita pela IN 39/2016 do TST, opinava-se que, pelo critério da especialidade da norma, prevaleceria o regimento interno do TST, haja vista a lei 7.701/88 ser uma lei mais específica que o NCPC

Antes da opção feita pelo TST em adotar o referido dispositivo, haviam dúvidas se a norma do NCPC prevaleceria sobre o regimento interno do TST e dos TRT’s, que poderiam dispor de maneira diversa quanto ao pedido de vista, ante parágrafo único, do artigo 1º, da lei 7.701/88:

Parágrafo único. O Regimento Interno do Tribunal disporá sobre a constituição e o funcionamento de cada uma das seções especializadas do Tribunal Superior do Trabalho, bem como sobre o número, composição e funcionamento das respectivas Turmas do Tribunal. Caberá ao Presidente do Tribunal Superior do Trabalho presidir os atos de julgamento das seções especializadas, delas participando o Vice- Presidente e o Corregedor-Geral, este quando não estiver ausente em função corregedora.

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115 TOLENTINO, Ronaldo. Algumas novidades do novo CPC nos recursos. Migalhas, 14 de março de

2016. Disponível em <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI235609,11049- Algumas+novidades+do+novo+CPC+nos+recursos+trabalhista>. Acesso em 15 mai. 2016

116 TOLENTINO, op. cit.

em relação a procedimento no âmbito dos tribunais trabalhistas. Todavia, de bom alvitre foi a opção feita pelo Tribunal Superior do Trabalho em adotar a referida norma processual civil, carreando ao Processo do Trabalho seus inerentes benefícios à celeridade e publicidade processuais.

3.2.5 Relativas à execução

Nesse momento, trataremos dos incisos XI a XXII da instrução normativa em estudo, que adotam ao Processo do Trabalho uma série de dispositivos relativos à execução do NCPC.

Mais uma vez estamos em campo no qual não é novidade a aplicação de dispositivos do diploma processual civil ao Processo do Trabalho. Este é campo delicado da legislação obreira, vez que dadas as infindáveis nuances que podem atingir as execuções trabalhistas, nem sempre é clara a fronteira de onde se aplicam os dispositivos da CLT, onde se faz sua interpretação extensiva ou aplica-se a analogia, e onde se recorre às normas do direito processual civil. Por isso assevera Wagner Giglio:

A execução trabalhista é o calcanhar de Aquiles do Processo do Trabalho, em razão de muitas vezes não se saber a norma a ser aplicada, fazendo com que a execução seja mais demorada e haja a protelação da execução do julgado. É a vitória de Pyrrho: o trabalhador ganha mas não leva.117

Clássico caso de aplicação da legislação processual civil à justiça obreira é nas execuções fiscais, para cobrança dos créditos da fazenda pública, em que, de acordo com o art. 889 da CLT, será aplicado o Decreto-lei nº 960 de 1938, matéria que hoje é inteiramente regulada pela Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais).

No campo da execução na seara trabalhista, temos que os artigos 876 a 982 da CLT regulam a base do procedimento executório. Todavia, a legislação obreira, por não regular a plenitude dos contextos e procedimentos executórios a ela necessários, há certo tempo já alça mão de dispositivos do Código de Processo Civil de 1973.

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Emblemática também é a aplicação na Justiça do Trabalho de toda a disciplina da execução das obrigações de fazer e não fazer insculpida nos artigos 461 e 632 a 645 do CPC/1973.

Desse modo, assume a Lei de Execuções Fiscais o papel de uma das primeiras legislações subsidiárias a serem aplicadas na execução trabalhista, pelo que por diversas vezes recorre-se a dispositivos dessa lei para suprimento de lacunas.

Outro exemplo aplicado à Justiça do Trabalho é a possibilidade de promoção simultânea de execução da parte líquida e liquidação da parte ilíquida de uma mesma sentença, outrora insculpida no §2º do art. 586 no CPC/1973.

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117 MARTINS, op. cit. p. 649 118 MARTINS, op. cit. p. 651 119 MARTINS, op. cit. p. 665

Desse modo, cientes da limitação da legislação laboral, anteciparam-se à jurisprudência os ministros do Tribunal Superior do Trabalho e adotaram expressamente ao Processo do Trabalho uma série de dispositivos do novo CPC, de acordo com a compatibilidade dos preceitos e ante lacunas ou insuficiência da disciplina da CLT.

Dispõe a Instrução Normativa nº 39/2016 do TST que, do novel diploma processual, são aplicáveis ao Processo do Trabalho os arts. 497 a 501 (sobre tutela específica), os arts. 536 a 538 (sobre cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer, de não fazer ou de entregar coisa). Lembre-se que ainda na égide do diploma processual revogado, já era a execução das obrigações de fazer e não fazer reguladas pelas disposições do CPC.

Estabelece, também a aplicação do os arts. 789 a 796 do NCPC (sobre responsabilidade patrimonial, fraude à execução, fiador etc.) e art. 805 e parágrafo único (obrigação de o executado indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos para promover a execução). Salutar a adoção expressa dos preceitos do diploma processual civil sobre responsabilidade patrimonial, tendo em vista a timidez do art. 883 da CLT, que se restringe a afirmar que a execução recai sobre “tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação”. Quanto ao artigo 805, temos um princípio geral do processo de execução, o da menor onerosidade, de aplicação indubitável ao Processo do Trabalho, dado o alinhamento com sua gama principiológica específica, como o princípio da limitação expropriatória, da utilidade para o credor e da não prejudicialidade do executado.120

Na sequência, a instrução normativa adota ao Processo do Trabalho o art. 833 (sobre bens impenhoráveis), o art. 835, incisos e §§ 1º e 2º (que definem a ordem preferencial de penhora), art. 836, §§ 1º e 2º (procedimento quando não encontrados bens penhoráveis), o art. 841, §§ 1º e 2º (intimação da penhora) e art. 854 e parágrafos (que disciplinam o BacenJUD). Quanto à ordem de penhora, já disciplinava a CLT e seu artigo 882 que a ordem a ser obedecida era a do CPC. Quanto aos bens impenhoráveis, procedimento de intimação de penhora e no caso de falha em encontrar bens penhoráveis, também já se aplicava subsidiariamente a legislação processual civil121, pelo que já antevia a aplicação do novel diploma a doutrina atualizadíssima.122

Novidade fica por conta do sistema de “penhora on-line” do Convênio BACEN JUD. Trata-se de inovação que seguiu o caminho inverso, tendo sido criada inicialmente na Justiça do Trabalho por meio de convênio celebrado entre o TST e o Banco Central, disciplinado inicialmente pelo Provimento CGJT n. 3/2003, e agora trazida para o âmbito do processo civil no artigo 854 do NCPC. Esse convênio de cooperação técnico- institucional permite aos tribunais signatários, o TST e o STJ encaminhar a instituições financeiras cadastradas ofícios eletrônicos solicitando informações de contas e aplicações financeiras e determinações de bloqueios de contas de pessoas físicas e jurídicas, constituindo forme arma pela celeridade e efetividade da constrição patrimonial executória.

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120 LEITE, 2016, op. cit. p. 1343-1344 121 MARTINS, op. cit. p. 673

122 LEITE, 2016, op. cit. p. 1343-1360 123 Id. p. 1377

Por fim, quanto aos preceitos relativos à execução, abre o Tribunal Superior do Trabalho a possibilidade de aplicação à Justiça do Trabalho do art. 895 do NCPC (que permite pagamento parcelado do lanço), do art. 916 (sobre parcelamento do crédito exequendo) e do art. 918 e seu parágrafo único (sobre a rejeição liminar dos embargos à execução).

Em considerando a temática dos embargos à execução no processo trabalhista, temos mais uma vez terreno livre à aplicação subsidiária do NCPC, ante a já conhecida aplicação de dispositivos processuais civis ainda no âmbito do CPC revogado, com o exemplo de seus artigos 475-M, 736 e 739-A.124

Enunciado 52. LEILÃO JUDICIAL. PAGAMENTO

PARCELADO. POSSIBILIDADE. Admite-se, nas execuções trabalhistas de difícil solução ou que envolvam bens de alto valor, o pagamento parcelado do lanço em leilão judicial desde que apresentada proposta escrita até o início do primeiro ou do segundo leilão, mediante caução idônea ou hipoteca sobre o bem alienado, com o depósito imediato de no mínimo 25% (vinte e cinco por cento) do valor total e o restante em até 30 (trinta) prestações mensais monetariamente atualizadas, prevalecendo, em todo caso, o lanço igual para pagamento à vista ( Interessantíssimo trazer à tona, sobre o parcelamento do lanço dado em leilões, enunciado aprovado pela Escola Judicial do TRT da 10ª Região, já sob os auspícios do novo diploma processual, no evento “Jornada sobre o novo CPC: Revisão e Aprovação de Novos Enunciados”, já no ano de 2016:

CPC, art. 895).

Ademais, já é corriqueira a aplicação de medidas de parcelamento no âmbito dos Tribunais Regionais do Trabalho, conforme jurisprudência:

AGRAVO DE PETIÇÃO. ARREMATAÇÃO. PARCELAMENTO DO VALOR DO LANÇO. Embora a regra dite que a arrematação deve se perfazer mediante pagamento à vista, nada impede que o lanço possa ser parcelado diante de situação excepcional delineada nos autos: imóvel de alto valor venal, submetido a sucessivas praças, todas negativas. Relevante, apenas, a anuência do credor à proposta de parcelamento pois, por princípio, toda execução tem por finalidade satisfazer o credor. Ademais, a possibilidade do parcelamento do valor do lanço é admitida no Provimento nº 01/97 da Corregedoria deste Regional, consolidado no art. 166 do Provimento Geral nº 01/2004. Agravo de petição não provido. (TRT-24 - AP: 1054200000124006 MS 01054-2000-001-24-00-6 (AP), Relator: MARCIO V. THIBAU DE ALMEIDA, Data de Julgamento: 29/09/2004, 1ª Vara do Trabalho de Campo Grande - MS, Data de Publicação: DO/MS Nº 6375 de 29/11/2004, pag. 43)

Importante trazer à tona que, conforme frisado pela própria IN nº 39/2016, o rol de dispositivos adotados do NCPC é apenas exemplificativo – seus artigos 2º e 3º fazem questão de trazer a expressão “sem prejuízo de outros” -, o que, por conseqüência, não exclui o posterior carreamento de mais preceitos do novo diploma à práxis trabalhista, o que há de se observar doravante na jurisprudência.

Doutro vezo, já se antecipa a doutrina ao pugnar pela aplicação de diversos segmentos da execução constantes Código de Processo Civil de 2015 à Justiça do Trabalho muito além daqueles já trazidos pela instrução normativa em estudo, tais como: o cumprimento ou execução da obrigação de entregar coisa incerta125, a nomeação de depositário126, a penhora de créditos do executado127

125 “A CLT é omissa a respeito dessa espécie de cumprimento de sentença ou execução de título

extrajudicial, razão pela qual devem ser aplicadas subsidiariamente (CLT, art. 769; NCPC, art. 15) as normas do NCPC (arts. 538, 806 a 813), com as devidas adaptações ao Processo do Trabalho.” (LEITE, 2016, op. cit. p 1388).

126 Id. p. 1385 127 Id. p. 1371