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6. ANÁLISE DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS NOS DIVERSOS CONTRATOS DE

6.3 CONTRATOS DE PLANOS DE CAPITALIZAÇÃO

6.3.3 Reflexos dos Contratos de Capitalização no Mercado de Consumo

6.3.3.1 Da Problemática dos Corretores de Títulos de Capitalização

No contrato de capitalização, o responsável pelo fornecimento das informações primárias básicas ao consumidor é o corretor de capitalização, mesma função do corretor de seguros. O corretor de capitalização (pessoa física ou pessoa jurídica) é o responsável direto pelas informações prévias transmitidas ao consumidor até porque sua função é representar o consumidor perante à empresa de capitalização. O corretor de capitalização é o técnico responsável em explicar todos os detalhes da contratação em que o consumidor pode vir a contratar. A profissão do corretor é regulamentada no Decreto 56.903, de 24 de setembro de 1965.195 Os corretores de capitalização, como as próprias empresas de capitalização sofrem a fiscalização da SUSEP e podem ser punidos quando extrapolam os limites de suas funções,

195 “DECRETO 56.903 DE 24 DE SETEMBRO DE 1965

Regulamenta a profissão de Corretor de Seguros de Vida ou de Capitalização, de conformidade com o artigo 32, da Lei n. 4.594, de 29 de dezembro de 1964.

Capítulo I

Do Corretor de Seguros de Vida e de Capitalização e da sua Habilitação Profissional

Art. 1° - O Corretor de Seguros de Vida ou de Capitalização, anteriormente denominado Agente, quer seja pessoa física, quer jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e a promover contratos de Seguros de Vida ou a colocar Títulos de Capitalização, admitidos pela legislação vigente, entre Sociedades de Seguros e Capitalização e o público em geral.

Art. 2° A profissão de Corretor de Seguros de Vida ou de Capitalização somente será exercida por pessoas devidamente inscritas na Superintendência de Seguros Privados – SUSEP.

conforme expressa o mesmo Decreto 56.903, em seu artigo 15.196 E por certo que diversos problemas ocorrem em decorrência da má prestação de serviços dos corretores de capitalização ou até mesmo pela má-fé em alguns casos, atitude que deve ser repelida em qualquer âmbito de discussão de conflitos envolvendo relações de consumo, pois o corretor atua em prol do consumidor.

O corretor de seguros recebe pelo serviço de venda e é um técnico no assunto, sendo pessoa habilitada pela SUSEP, devendo prestar todas as informações ao consumidor. Caso o corretor não cumpra com essa obrigação, poderá ser punido profissional, civil e criminalmente pelos atos que praticar, nos termos dos artigos 10 e 11 do Decreto 56.903, de 24 de setembro de 1965.

Tanto os magistrados como os órgãos administrativos de proteção e defesa do consumidor devem observar a particularidade de um representante autônomo comercializar um produto mediante imposição legal, mas também, pouco importará essa observação em um caso concreto, pois há previsão em lei que não exime o fornecedor real (a empresa de capitalização) de assumir o ônus causado por uma venda viciada, com fundamento no artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor. Desse modo, teria a empresa de capitalização o direito de regresso contra o corretor causador do dano. Todavia, a autonomia do corretor em relação à companhia de capitalização é tão relevante, que a simples aplicação do artigo 34 muitas vezes não se apresenta como a solução mais justa, tanto pelo fato de punir o fornecedor que tem um controle limitadíssimo dos corretores, seja pela não punição imediata do corretor que apenas poderá sofrer sanção administrativa pela SUSEP, e não pela companhia de capitalização que ele representa. A própria representação das companhias de capitalização pelo corretor é parcial, eis que o corretor pode comercializar títulos de capitalização de qualquer empresa, inclusive de todas existentes concomitantemente, pois cabe ao corretor analisar qual título de capitalização é mais adequado ao objetivo do consumidor. O papel do corretor é de tamanha relevância que o vício na informação primária pode levar muitos consumidores a contratarem um título de capitalização como se fosse um contrato

196 “Capitulo IV

Da Repartição Fiscalizadora

Art. 15. Compete à Superintendência de Seguros Privados – SUSEP – aplicar as penalidades neste Decreto e fazer cumprir as suas disposições”.

de compra e venda de um bem de consumo, mas não um contrato para que possam acumular um capital e, ao final do plano, optar pela aquisição do bem.

A jurisprudência vem dando a resposta esperada quando há vício de informação por parte do corretor, agente intermediário responsável pela comercialização dos títulos de capitalização, determinando a manutenção da oferta feita pelo corretor como integrante do contrato. Mesmo não havendo participação dos corretores na execução do contrato, que deve ser adimplido pela empresa de capitalização, a venda realizada pelo corretor, muitas vezes de forma equivocada, por certo vicia todo o negócio jurídico. E mesmo que a atuação do corretor seja independente, ou autônoma em relação à empresa de capitalização, há julgados que entendem que o objetivo do corretor é vender os títulos de capitalização no mercado de consumo e a responsabilidade da companhia é solidária não apenas em razão do artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor, mas também pela primordial função do corretor de seguros, que é a de angariar clientes para a companhia que é beneficiada diretamente pelo seu trabalho.197 Indenizado o consumidor, cabe o direito de regresso por parte da empresa de capitalização contra o corretor responsável pela venda viciada, além das penalidades administrativas que está sujeito.

Não obstante a responsabilidade da empresa de capitalização em razão da venda efetuada pelo corretor, nos termos do artigo 34 do Código de Defesa do Consumidor, a solidariedade entre esses agentes recebeu interpretação diversa quando do julgamento do Recurso Especial n. 149.997 – RJ (DJ 29.06.98), em que excerto do voto proferido pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior expõe, in

verbis:

“A corretora exerce a atividade de intermediação na celebração do contrato de seguro e assume, pela prestação de tal serviço, a responsabilidade que lhe advém da legislação civil e comercial, em especial do Código de Defesa do Consumidor, no seu relacionamento com o cliente. Ela não responde pelo

197 TJDF, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais – Ap. Cív. J. rel. Juiz

pagamento do seguro, o que é de responsabilidade da companhia seguradora. As responsabilidades são autônomas no sentido de que cada um dos intervenientes na operação ocupam uma posição própria e respondem, no âmbito contratual, pelo que decorre do descumprimento ou do cumprimento imperfeito do contrato. Com isso, quero dizer que a corretora, no desempenho da sua atividade, pode agir com culpa que venha a ser condenada a indenizar o seu cliente por quantias iguais ou superiores ao valor do seguro, mas por causa do defeito na prestação do seu serviço e não porque responda solidariamente com a companhia seguradora, como se também participasse do contrato de seguro na condição de segunda seguradora. Reza o art. 126 do Decreto-lei nº 73/66: ‘O corretor de seguros responderá civilmente perante os segurados e sociedades seguradoras pelos prejuízos que causar por omissão, imperícia ou negligência no exercício da profissão’. Pelo mau exercício profissional decorre solidariamente a companhia seguradora; a inversa também é verdadeira: o corretor não responde solidariamente com a seguradora pelo não cumprimento do contrato de seguro. Por isso, tenho como inadequada a aplicação dos dispositivos legais sobre a responsabilidade solidária, seja do Codecon, seja do CCivil”. (grifo nosso)

Caracterizada, em nosso entender, a autonomia dos corretores de seguros pelo Superior Tribunal de Justiça, que também deve ser considerada quando analisado um contrato comercializado por corretores de capitalização, mas a solidariedade do artigo 34, ainda é a interpretação que prevalece, pelo fato de facilitar a defesa do consumidor.

Menezes Cordeiro quando trata da boa-fé como regra de conduta, mesmo não sendo especificamente ao caso do representante corretor de capitalização, analisa a situação de confiança gerada com o representante e sua responsabilidade autônoma na relação jurídica que, deve ser analisada em cada situação típica.198

198 CORDEIRO. António Manuel da Rocha Menezes. Da boa fé no direito civil. Coimbra: Almedina, 2007. p. 633-634.

Comprovada a importância do agente intermediário na comercialização dos títulos de capitalização, sendo obrigação da SUSEP e também de todos os partícipes dessa relação de consumo (incluindo-se também a empresa de capitalização em razão de sua responsabilidade solidária com esses intermediários, em casos específicos), a fiscalização de sua atuação no mercado de consumo visando à contratação hígida entre consumidor e fornecedor.