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5. CLAÚSULAS ABUSIVAS NO CÓDIGO BRASILEIRO DE DEFESA DO

5.1 PRINCÍPIOS ADOTADOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

5.1.2 Princípio da Transparência Informação

Princípio básico norteador das relações jurídicas pautadas na boa-fé, a transparência, quando respeitada nas relações contratuais entre consumidor e fornecedor, torna o eventual ajuste das partes plenamente eficaz. Isso porque o consumidor ciente de todas as características do produto ou do serviço, dos termos contratuais que lhe tragam maior ônus etc., certamente ao contratar com o fornecedor terá melhor discernimento se poderá convalidar o ato da contratação e dar cabo das obrigações assumidas durante a execução do contrato. Já o consumidor que não tenha obtido por parte do fornecedor todas as informações relevantes pertinentes à contratação, muitas vezes poderá vincular-se a determinada obrigação sem saber que futuramente não terá condições de adimpli-la ou até mesmo pelo fato do produto ou serviço adquirido lhe ser imprestável. O Superior Tribunal de Justiça já proferiu entendimento de que a oferta de determinado serviço e, quando do fornecimento outro é prestado ao consumidor, há o completo inadimplemento do contrato, assim, a Ministra Nancy Andrighi exarou seu voto quando do julgamento do REsp n. 773.994 – MG - 3ª Turma, j. em 22.05.2007: “Assim, oferecer ao consumidor um mestrado, e fornecer-lhe uma especialização não reconhecida pela CAPES/MEC não implica adimplemento defeituoso da obrigação contratual, mas inadimplemento absoluto”, o que torna o serviço imprestável ao objetivo do consumidor, especialmente àqueles que cursam o mestrado para obter a docência, exigida por diversas instituições de ensino.

A transparência que se exige do fornecedor é aquela ativa, ou seja, que o obriga a fornecer todas as informações relevantes ao consumidor, independentemente deste não questionar o contrato, o produto ou o serviço que está no mercado de consumo. A ausência de informação clara ao consumidor não produz efeitos contrários a ele. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo vem reconhecendo em diversos contratos a inaplicabilidade de cláusula restritiva de direito se não informada com transparência ao consumidor: “A exclusão de

determinado tipo de cirurgia em plano de saúde, abstraída a questão de adaptação da Lei 9.656/98, deve ser clara, indiscutível e precisa no contrato” (TJSP, Ap. Cív. 378.809.4/0-00, rel. Des. Gilberto Souza Moreira, j. 22.03.2006).124

Ademais, o fornecedor deve envidar esforços para expor ao consumidor todas as limitações do contrato que está prestes a ser celebrado. Essa obrigação do fornecedor para com o consumidor de obrigá-lo a uma compreensão precisa deve ser adotada em todos os contratos, sob pena de não obrigar as partes quando da interpretação do contrato com o instrumento do artigo 49 (interpretação favorável ao consumidor) e 4º, ambos do Código Protetivo e com acolhida nos tribunais. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo quando apreciou a Apelação Cível n. 169.475.4/5-00, no voto do rel. Des. Sebastião Carlos Garcia, j. 23.08.01, interpretou cláusula de exclusão genérica em contrato de seguro-saúde contrariamente ao seu redator, por não dar os limites do contrato ao consumidor, violando o princípio da transparência das relações de consumo:

“Ademais, conquanto se admita a aplicação à hipótese do art. 1.460, do Código Civil, cuidando-se de cláusula limitativa do direito do consumidor segurado, era mister que fosse redigida ‘com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão’ (C.D.C., art. 54, § 4º). Ora, a alínea ‘h’, da cláusula 3ª, do contrato de seguro sub judice, ao dispor que o seguro não compreende as despesas decorrentes dos ‘casos crônicos e suas conseqüências’, não permite de modo algum ao segurado a compreensão da precisa extensão dessa exclusão. Aliás, tal cláusula limitativa genérica é mesmo contrária ao princípio da transparência nas relações de consumo (C.D.C., art. 4º, caput), cujo corolário é o direito do consumidor à informação”.125

Para Cláudia Lima Marques, houve efetiva inversão ex lege de ônus da prova com troca de posições entre fornecedor e consumidor. O consumidor que era o

124 No mesmo sentido: “Obrigação de fazer com tutela antecipada – Alegação de procedimento não autorizado e sem cobertura – Relação de consumo – Necessidade de informação e transparência no contrato com relação à exclusão de doenças e procedimentos – Inocorrência no contrato discutido – Ação julgada procedente - Recurso da ré improvido” (Ap. Cív. 203.315.4/2-00, rel. Des. Álvares Lobo, j. 24.08.2005).

responsável e o interessado pela busca das informações decorrentes do contrato em vias de ser celebrado tornou-se o elemento passivo na relação, na qual cabe ao fornecedor dar-lhe todos os esclarecimentos decorrentes do contrato, mesmo que este não solicite.126 A eventual omissão do fornecedor viciará a contratação, não obrigando o consumidor, conforme expresso no artigo 46 do Código de Defesa do Consumidor.

A transparência exigida do fornecedor deve estar presente em todos os momentos da contratação, seja no momento da fase pré-contratual127, durante a execução do contrato ou até mesmo após a execução do contrato. O artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor trata da responsabilidade pós-contratual, mas, possui ligação com o direito à informação do consumidor, pois constatado o vício (ou defeito quando gerador de acidente de consumo) no produto ou serviço deve o fornecedor não apenas comunicar o fato às autoridades competentes, mas também aos consumidores, como atitude intrínseca ao princípio da transparência nas relações de consumo. Com fundamento no princípio da transparência, cabe ao fornecedor o dever de informar corretamente o consumidor para que este tenha absoluta ciência das obrigações que serão assumidas e para a própria segurança jurídica do fornecedor, que terá celebrado, então, uma contratação válida e, conseqüentemente, menos sujeita à intervenção administrativa ou judicial. A possibilidade de intervenção pode ser reduzida com a adoção de redação mais clara por parte do fornecedor, mas isso não o exime de eventuais abusos contratuais.128