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DA REMISSÃO [574]

No documento eca comentado murillo digiacomo (páginas 188-192)

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato

infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão,

como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e consequências

do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior

ou menor participação no ato infracional

[575]

.

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela

autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo

[576]

.

574 A remissão se constitui em instituto próprio do Direito da Criança e do

Adolescente, previsto no item 11 das “Regras de Beijing”, que pretende sanar os efeitos negativos e prejudiciais acarretados pela deflagração ou demora na conclusão do procedimento judicial destinado à apuração do ato infracional praticado por adolescente.

575 Vide arts. 180, inciso II, 181, §1º e 182, caput, do ECA e item 11, das “Regras

de Beijing”. A concessão da remissão deverá ser sempre a regra, podendo já

ocorrer logo após a oitiva informal do adolescente pelo representante do Ministério Público, ou a qualquer momento, antes de proposta a ação

socioeducativa, via representação. A remissão visa evitar ou abreviar o processo envolvendo o adolescente acusado da prática infracional, permitindo uma rápida solução para o caso. Vale lembrar que o objetivo do procedimento

socioeducativo não é a aplicação de uma sanção estatal, mas sim a efetiva

recuperação do adolescente, sempre da forma mais célere e menos traumática possível, o que pode perfeitamente ocorrer via remissão, notadamente nos casos

de menor gravidade, através do ajuste de uma ou mais medidas socioeducativas e/ou protetivas, conforme as necessidades pedagógicas específicas do

adolescente (arts. 113 c/c 100, caput e 127, do ECA). Interessante observar que a matéria chegou a ser alvo de uma súmula editada pelo E. Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual "a aplicação de medidas sócio-educativas ao

adolescente, pela prática de ato infracional, é de competência exclusiva do Juiz"

(Súmula de nº 108, do STJ). A referida súmula deve ser interpretada com cautela, de modo a evitar a conclusão apressada (e obviamente equivocada) de que o Ministério Público estaria impedido de exercer uma atribuição que lhe foi expressamente confiada pela Lei nº 8.069/1990. Para tanto, devemos partir da constatação de que a Lei nº 8.069/1990, foi bastante clara ao conferir ao Ministério Público a atribuição/prerrogativa de conceder ao adolescente acusado da prática de atos infracionais a remissão cumulada (ou não) com medidas socioeducativas não privativas de liberdade, o que se extrai da inteligência dos arts. 126 a 128, do ECA e, em especial, do disposto no art. 181, §1º, do mesmo Diploma Legal, que de maneira expressa estabelece que a autoridade judiciária, após homologar a remissão concedida pelo Ministério Público como forma de exclusão do processo, “determinará, conforme o caso, o cumprimento da

termo de remissão homologado não pudesse conter qualquer medida a ser cumprida pelo adolescente. Devemos lembrar que, por força do contido nos arts. 6º e art. 100, par. único, inciso II, do ECA, todo e qualquer dispositivo

estatutário deve ser interpretado de modo a atender aos fins sociais a que se dirige e outros fatores, sempre na busca da solução mais favorável ao

adolescente. E se a regra, como se extrai da inteligência de dispositivos como o art. 182, caput, primeira parte, do ECA, é a celeridade do procedimento, com a concessão de remissão como forma de exclusão do processo já pelo

representante do Ministério Público, e esta, por força do disposto no já citado art. 127, do ECA (que não faz qualquer “ressalva” quanto à sua utilização em se tratando de remissão concedida pelo órgão do Ministério Público), pode vir acompanhada de medida socioeducativa não privativa de liberdade, não há qualquer razão para impedir o exercício de tal prerrogativa pelo Ministério Público, que do contrário somente poderia a conceder a remissão unicamente em sua forma de “perdão puro e simples” ou, por entender necessário o

cumprimento de alguma medida socioeducativa ou protetiva na espécie, se veria obrigado a oferecer a representação socioeducativa, em prejuízo direto ao próprio adolescente destinatário da medida, seja por submetê-lo de forma desnecessária ao constrangimento de um procedimento judicial, seja por retardar a conclusão deste e a adoção da medida socioeducativa mais adequada na espécie. Sobre a matéria, vale transcrever o seguinte aresto: PROCESSO

PENAL. MENOR INFRATOR. MINISTÉRIO PÚBLICO. CONCESSÃO DE REMISSÃO CUMULADA COM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA NÃO PRIVATIVA DE LIBERDADE. POSSIBILIDADE. RECURSO MINISTERIAL CONHECIDO E PROVIDO. Nos termos dos artigos 126 a 128 e, 181, do ECA, compete ao Ministério Público conceder a remissão extintiva ao menor infrator, bem como requerer sua cumulação com medida sócio-educativa não privativa de liberdade, submetendo-a à

homologação judicial. (TJMG. 5ª C. Crim. Ac. nº 1.0024.07.351403-6/001. Rel.

Des. Pedro Vergara. J. em 02/09/2008). Dúvida alguma pode pairar, portanto, acerca da legalidade da concessão da remissão cumulada com medida

socioeducativa pelo representante do Ministério Público.

576 Vide arts. 148, inciso II, 186, §1º e 188, do ECA. Antes de oferecida a representação socioeducativa (cf. arts. 180, inciso III e 182, do ECA), a prerrogativa pela concessão da remissão é do Ministério Público, que afinal, é o titular exclusivo da ação socioeducativa. Neste caso, a remissão concedida

excluirá o processo (evitará a representação). Entretanto, após o oferecimento

da representação socioeducativa a prerrogativa pela concessão da remissão passa à autoridade judiciária (invariavelmente o Juiz da Infância e Juventude), que pode optar por tal solução a qualquer momento, antes de prolatar a sentença, após ouvir o Ministério Público (arts. 186, §1º c/c 204, do ECA e item 17.4, das “Regras de Beijing”). Em tal hipótese, a remissão poderá ser concedida como forma de suspensão ou extinção do processo. A remissão como forma de

suspensão do processo será, em regra, cumulada com medida socioeducativa

não privativa de liberdade cuja execução se prolongue no tempo (art. 127, terceira parte, do ECA), que deverá ser ajustada entre a autoridade judiciária e o adolescente, ouvido o Ministério Público. Já a remissão como forma de extinção do processo será concedida pela autoridade judiciária, também em regra, quando desacompanhada de medidas socioeducativas ou quando cumulada unicamente com a advertência (art. 112, inciso I, do ECA), que se exaure num único ato. Vale lembrar que em nenhum caso poderá ser imposta medida socioeducativa em sede de remissão. Neste sentido: AGRAVO DE

INSTRUMENTO. ECA. APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL. REMISSÃO CUMULADA COM ADVERTÊNCIA. PRELIMINAR DE NULIDADE. INOBSERVÂNCIA DE PRECEITO LEGAL. INEXISTÊNCIA DA OITIVA DO REPRESENTADO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO. A ausência da oitiva do adolescente e do Ministério Público, que em casos como o dos autos, se faz imprescindível, pois a remissão como forma de

extinção processual se constitui em verdadeira transação, dependendo, portanto, da concordância do representado ou de seu representante legal, gera nulidade que reclama a renovação do ato com as observâncias legais.

Inteligência dos artigos 127, § único, e 186, §1º do ECA. Acolheram a preliminar de nulidade da decisão. Unânime. (TJRS. 7ª C. Cív. A.I. nº 70009341579. Rel.

Walda Maria Melo Pierro. J. em 24/11/2004). No mesmo sentido: AGRAVO

REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO DE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. REMISSÃO.

CONCESSÃO SEM A PRÉVIA OITIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO ADOLESCENTE. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A concessão da remissão pelo Magistrado deve ser precedida da oitiva do menor infrator e do Ministério Público, sob pena de nulidade. Precedentes. 2. Agravo Regimental desprovido. (STJ. 5ª T. Ag.Rg. no R.Esp. nº

1025004/MG. Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho. J. em 25/09/2008).

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou

comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de

antecedentes

[577]

, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das

medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a

internação

[578]

.

577 Vide art. 5º, incisos LIV e LVII, da CF. Como a remissão visa evitar ou abreviar o término do processo, para sua concessão não há, a rigor, necessidade de apuração e/ou comprovação da autoria e da materialidade da infração, fazendo assim incidir (mutatis mutandis, pois não estamos lidando com um procedimento de natureza penal) o princípio constitucional da presunção do estado de

inocência. Também em função disto, não existe uma limitação ao número de vezes em que a remissão pode ser concedida ao adolescente, podendo este ser

com aquela beneficiado em procedimentos diversos. Vale também mencionar que os procedimentos nos quais foi concedida remissão não podem ser invocados como pretexto para imposição de medidas mais gravosas e/ou computados para fins de caracterização da “reiteração” de condutas, nos moldes do previsto no art. 122, inciso II, do ECA. Neste sentido: HABEAS CORPUS

SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL EQUIVALENTE AO DELITO DE FURTO. MEDIDA DE INTERNAÇÃO. EXCEPCIONALIDADE DA MEDIDA EXTREMA. PROCESSOS COM HOMOLOGAÇÃO DE REMISSÃO. INEXISTÊNCIA DE

ANTECEDENTES. I. A medida sócio-educativa de internação está autorizada nas hipóteses taxativamente previstas no art. 122 do ECA (Precedentes). II. A gravidade do ato infracional equivalente ao delito de furto não enseja, por si só, a aplicação da medida sócio-educativa de internação, se a infração não foi praticada mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ex vi do art. 122, inciso I, do ECA (Precedentes). III. A reiteração no cometimento de infrações capaz de ensejar a incidência da medida sócio-educativa da internação, a teor do art.122, inciso II, do ECA, ocorre quando praticados, no mínimo, 3 (três) atos infracionais graves (Precedentes). IV. A remissão não implica reconhecimento de

responsabilidade, nem vale como antecedente, ex vi do art. 127 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Precedente). Ordem concedida. (STJ. 5ª T. HC n°

54787/SP. Rel. Min. Félix Fischer. J. em 03/10/2006); e HABEAS CORPUS.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. INTERNAÇÃO.

EXCEPCIONALIDADE DA MEDIDA EXTREMA. REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE INFRAÇÕES GRAVES OU DESCUMPRIMENTO REITERADO DA MEDIDA NÃO DEMONSTRADOS. PROCESSOS COM HOMOLOGAÇÃO DE REMISSÃO. 1. Em razão do princípio da excepcionalidade, a medida de internação somente é possível nos casos taxativamente previstos pelo art. 122 do ECA. 2. Os processos nos quais foi concedido o benefício da remissão, não podem ser

considerados para efeito de reiteração, tendo em vista que tal instituto não implica reconhecimento de responsabilidade, nem vale como antecedente. 3. Ordem concedida. (STJ. 6ª T. HC nº 103287/SP. Rel. Min. O. G. Fernandes. J.

em 01/07/2008).

578 Vide arts. 100, par. único, incisos XI e XII, 101, 112, 113 e 114, caput, do ECA. A remissão pode ser concedida em sua forma de “perdão puro e simples” (sem que tenha sido ajustada qualquer medida entre a autoridade competente e o adolescente) ou acompanhada de medida socioeducativa não privativa de liberdade. Ainda em razão de a remissão importar na não deflagração ou no desfecho precoce do processo, sem a comprovação da autoria e da materialidade da infração, em sede de remissão não pode haver imposição, mas apenas o

eventual ajuste de uma ou mais medidas socioeducativas em meio aberto,

passando o instituto a assumir os contornos de verdadeira transação

socioeducativa, levada a efeito pelo Ministério Público ou pela autoridade

judiciária. Importante deixar claro que, em sede de remissão, nem mesmo a

autoridade judiciária pode impor medidas ao adolescente, que assim precisa

manifestar expressa concordância com seu cumprimento (após ser devidamente orientado acerca das implicações da concordância ou não com a proposta efetuada e opinar acerca da questão, ex vi do disposto nos arts. 100, par. único, incisos XI e XII c/c 113, do ECA). Também em razão da constatação de que em sede de remissão não pode haver a imposição de medidas socioeducativas ao adolescente (inclusive sob pena de violação do princípio do devido processo legal), caso haja o descumprimento pelo mesmo de medida aplicada em sede de remissão não se poderá por tal razão interná-lo, não incidindo o disposto no art.

122, inciso III, do ECA (onde consta expressamente o termo “medida anteriormente imposta”). Em tais casos deve haver, como consequência do

descumprimento das medidas ajustadas ou o oferecimento da representação (no caso da remissão concedida pelo Ministério Público), ou a retomada do processo

que se encontrava suspenso (no caso da remissão concedida pela autoridade

judiciária, que logicamente deve suspender a tramitação do procedimento enquanto o adolescente permanecer vinculado à medida - ou medidas -

ajustadas). Neste sentido: ECA. ATO INFRACIONAL. Não existe qualquer ilegalidade na decisão que, ante o descumprimento da medida aplicada

cumulativamente à remissão, concedida e homologada antes da apresentação do processo, recebe a representação para dar início a apuração do ato infracional imputado ao adolescente. NEGADO SEGUIMENTO. EM MONOCRÁTICA. (TJRS. 8ª

C. Cív. A.I. nº 70027502186. Rel. Des. Rui Portanova. J. em 17/11/2008) e

APELAÇÃO CÍVEL. ECA. REGRESSÃO DE MEDIDA APLICADA COM A REMISSÃO SUSPENSIVA PELO DESCUMPRIMENTO. CONTINUIDADE DO PROCESSO DE APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL. De acordo com o artigo 127, do Estatuto da Criança e do Adolescente, a medida sócio-educativa de liberdade assistida, aplicada juntamente com concessão da remissão, não pode ser regredida para a internação, mesmo em caso de descumprimento, devendo o processo de apuração de ato infracional ter seu curso, atento aos princípios do devido processo legal e da ampla defesa. RECURSO IMPROVIDO. (TJRS. 8ª C. Cív. Ap.

Cív. nº 70027394774. Rel. Des. Claudir Fidelis Faccenda. J. em 04/12/2008). Sobre a constitucionalidade da prerrogativa do Ministério Público ajustar com o adolescente medidas socioeducativas em sede de remissão, vale transcrever o seguinte aresto do Supremo Tribunal Federal: RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

ARTIGO 127 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. REMISSÃO CONCEDIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CUMULAÇÃO DE MEDIDA SÓCIO- EDUCATIVA IMPOSTA PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA. POSSIBILIDADE. CONSTITUCIONALIDADE DA NORMA. PRECEDENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O acórdão recorrido declarou a inconstitucionalidade do artigo 127, ‘in fine’, da Lei n° 8.089/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), por

Público, antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, com a aplicação de medida sócio-educativa. 2. A medida sócio- educativa foi imposta pela autoridade judicial, logo, não fere o devido processo legal. A medida de advertência tem caráter pedagógico, de orientação ao menor e em tudo se harmoniza com o escopo que inspirou o sistema instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. A remissão pré-processual concedida pelo Ministério Público, antes mesmo de se iniciar o procedimento no qual seria apurada a responsabilidade, não é incompatível com a imposição de medida sócio-educativa de advertência, porquanto não possui este caráter de penalidade. Ademais, a imposição de tal medida não prevalece para fins de antecedentes e não pressupõe a apuração de responsabilidade. Precedente. 4. Recurso Extraordinário conhecido e provido. (STF. 2ª T. R.E. nº 248018/SP. Rel.

Min. Joaquim Barbosa. J em 06/05/2008).

Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser revista

judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de

seu representante legal, ou do Ministério Público

[579]

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579 Vide art. 5º, inciso XXXV, da CF e art. 181, §2º, do ECA. Veda-se, portanto, a revisão judicial de ofício da(s) medida(s) ajustada(s) em sede de remissão. Caso a autoridade judiciária discorde da remissão concedida pelo Ministério Público, lhe resta apenas, mediante despacho fundamentado, enviar os autos ao Procurador Geral de Justiça, para sua revisão ou ratificação.

TÍTULO IV - DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU

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