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DAS GARANTIAS PROCESSUAIS

No documento eca comentado murillo digiacomo (páginas 155-157)

Art. 110. Nenhum adolescente

[485]

será privado de sua liberdade sem o devido

processo legal

[486]

.

485 Nem se cogita da privação de liberdade de crianças acusadas da prática de ato infracional, que na forma do art. 136, inciso I deverão ser encaminhadas ao Conselho Tutelar (que não irá instaurar procedimento para apuração de ato infracional, mas sim apenas aferir a presença da situação de risco a que alude o art. 98, do ECA), que irá aplicar as medidas de proteção mais adequadas às suas

necessidades pedagógicas (conforme arts. 100, caput e 101, incisos I a VII, do

ECA) e, se for o caso, também aplicará aos pais ou responsável as medidas previstas no art. 129, incisos I a VII (conforme art. 136, inciso II), do ECA. 486 Vide art. 5º, inciso LIV, da CF e arts. 1º e 6º c/c 171 a 190, do ECA. O

procedimento para apuração de ato infracional praticado por adolescente, embora revestido das mesmas garantias processuais e demandando as mesmas cautelas que o processo penal instaurado em relação a imputáveis, com este não se confunde, até porque, ao contrário deste, seu objetivo final não é a singela aplicação de uma “pena”, mas sim, em última análise, a proteção integral do jovem, para o que as medidas socioeducativas se constituem apenas no meio que se dispõe para chegar a este resultado (daí porque não é sequer obrigatória sua aplicação, podendo o procedimento se encerrar com a concessão de uma remissão em sua forma de “perdão puro e simples” ou com a aplicação de medidas de cunho unicamente protetivo, tudo a depender das necessidades

pedagógicas específicas do adolescente - cf. arts. 113 c/c 100, caput, do ECA).

Para tanto, o procedimento possui regras e, acima de tudo, princípios que lhe são próprios, cuja inobservância, por parte da autoridade judiciária, somente pode conduzir à nulidade absoluta do feito. Neste sentido: ESTATUTO DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Prática de ato infracional definido no art. 121, §2º, inc. IV, do Código Penal. Aplicação da medida sócio-educativa da internação. Inobservância de normas constitucionais e estatutárias.

Procedimento eivado de nulidade absoluta. Decretação ‘ex officio’. Concessão de ordem de ‘habeas corpus’ de ofício, em caráter liminar. Desinternação imediata dos adolescentes. Inteligência do art. 101, inc. I, do ECA. Submissão de um dos representados à avaliação psiquiátrica, para a apuração de sua sanidade mental. Se não foram observadas normas constitucionais e estatutárias, desde a audiência de apresentação dos adolescentes, é de ser decretada a nulidade absoluta do feito, a partir daquele momento procedimental, colocando-se, consequentemente, em liberdade os representados. (TJPR. 1ª C. Crim.

Rec.Ap.ECA. n° 155.76406. Rel. Des. Tadeu Costa. J. em 03/06/2004).

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras

[487]

, as seguintes

garantias:

I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação

ou meio equivalente

[488]

;

II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e

III - defesa técnica por advogado

[490]

;

IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da

lei

[491]

;

V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente

[492]

;

VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do

procedimento.

487 Partindo do princípio que “a criança e o adolescente gozam de todos os direitos

fundamentais inerentes à pessoa humana” (cf. art. 3º, do ECA), da inevitável

incidência da regra básica de hermenêutica segundo a qual toda e qualquer disposição estatutária somente pode ser interpretada e aplicada no sentido da

proteção integral infanto-juvenil (conforme princípio expressamente consignado

no art. 100, par. único, inciso II, do ECA - que se aplica às medidas socioeducativas por força do disposto no art. 113, do ECA), e da previsão expressa da aplicação, em caráter subsidiário, das regras gerais contidas na Lei Processual Penal (cf. art. 152, caput, do ECA), não é possível, lógica e

legalmente, negar ao adolescente acusado da prática de ato infracional qualquer dos direitos e garantias assegurados tanto pela Lei Processual Penal quanto pela Constituição Federal aos imputáveis acusados da prática de crimes, aos quais ainda se somam aqueles especificamente relacionados no próprio ECA. Ainda

sobre a matéria, vide arts. 37, alínea “d” e 40, alínea “b”, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989 e item 7.1 das “Regras de Beijing”. 488 Vide arts. 5º, inciso LV e 227, §3º, IV, da CF e art. 184, §1º, do ECA.

489 Vide arts. 5º, incisos LIV e LV e 227, §3º, inciso IV, da CF. O dispositivo deve ser aplicado, inclusive, quando da instrução de incidentes de execução, como quando da substituição de medidas (cf. arts. 99 c/c 113, do ECA) e da reavaliação da necessidade ou não de continuidade de execução da medida de internação (cf. art. 121, 2º, do ECA), devendo em qualquer caso, logicamente, ser também assegurada a defesa técnica mencionada no inciso seguinte.

Desnecessário mencionar que a igualdade na relação processual se constitui num verdadeiro princípio, que se aplica a ambas as partes. Neste sentido: AGRAVO

DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. ECA. APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL. INDEFERIMENTO DA PROVA TESTEMUNHAL PELO MUNISTÉRIO PÚBLICO. VIOLAÇÃO DOS POSTULADOS DA ISONOMIA PROCESSUAL E DO CONTRADITÓRIO. O indeferimento da prova testemunhal pretendida pelo Ministério Público na representação que apura a participação de adolescente em ato infracional implica em violação aos postulados do contraditório e da isonomia processual, causando prejuízo à atividade ministerial na apuração de ato infracional. Prova emprestada que diz respeito a processo-crime em que respondem co-réus imputáveis pela prática do mesmo fato, podendo ser utilizada desde que sem prejuízo ao exercício de provas no processo de apuração de ato infracional. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (TJRS. A.I.

nº 70032810640. Rel. Des. André Luiz Planella Villarinho. J. em 20/10/2009). 490 Vide art. 227, §3º, inciso IV, da CF; arts. 184, §1º, 186, §2º e 207, do ECA e

item 15 das “Regras de Beijing”.

491 Vide arts. 5º, inciso LXXIV e 134, da CF; art. 206, par. único, do ECA e Lei nº 1.060/1950.

492 Vide arts. 179 e 186, do ECA. O direito em questão pode ser invocado em qualquer fase do procedimento e mesmo quando da instrução e julgamento dos incidentes de execução.

CAPÍTULO IV - DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS

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No documento eca comentado murillo digiacomo (páginas 155-157)