• Nenhum resultado encontrado

DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL

No documento eca comentado murillo digiacomo (páginas 192-196)

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável

[580]

:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à

família

[581]

;

II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e

tratamento a alcoólatras e toxicômanos

[582]

;

III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico

[583]

;

IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação

[584]

;

V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e

aproveitamento escolar

[585]

;

VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento

especializado

[586]

;

VII - advertência

[587]

;

VIII - perda da guarda

[588]

;

IX - destituição da tutela

[589]

;

X - suspensão ou destituição do poder familiar

[590]

.

Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste

artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.

580 Vide arts. 16 e 18, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989; art. 226, caput e §8º, da CF; arts. 19, 90, inciso I, 100, 101, inciso IV e 136,

inciso II, do ECA e arts. 2º, incisos I e II e 23, par. único, da LOAS. Nunca é demais lembrar que o “responsável” a que se refere o presente dispositivo é o

responsável legal, assim considerados (além dos pais) apenas o guardião, o tutor e o dirigente da entidade na qual a criança ou adolescente estiver

eventualmente acolhida (cf. arts. 32 e 92, §1º, do ECA), aos quais as medidas aqui relacionadas podem ser aplicadas, também de forma isolada ou cumulativa (a exemplo do previsto no art. 99, do ECA). A família, primeira das instituições convocadas pelo art. 227, caput, da CF, para defesa dos direitos infanto-juvenis é, por força do art. 226, da mesma Carta Magna, considerada a “base da

sociedade” e, como tal, destinatária de “especial proteção”, por parte do Estado

(lato sensu), que deverá ser proporcionada “na pessoa de cada um dos que a

integram”. O ECA procura dar efetividade a este comando constitucional,

prevendo medidas específicas voltadas à orientação, apoio e, se necessário, tratamento aos pais ou responsável de crianças e adolescentes. As medidas destinadas aos pais ou responsável devem ser aplicadas em conjunto com as medidas de proteção do art. 101, do ECA, tendo sempre a perspectiva de

fortalecer vínculos familiares (cf. art. 100, caput, segunda parte, do ECA) e

permitir que a criança ou adolescente seja “resgatado” no seio de sua família. Juntamente com as medidas de proteção à família (art. 129, incisos I a IV, do ECA), são também previstas várias sanções (art. 129, incisos VII a X, do ECA), que devem ser relegadas ao segundo plano, como a destituição do poder familiar (art. 129, inciso X, do ECA). Todas as sanções somente devem ser aplicadas em situações extremas, quando mesmo após o indispensável trabalho de “resgate” sociofamiliar, realizado com seriedade e proficiência, ainda assim se mostrar incapaz de reverter a situação periclitante em que a criança/adolescente se encontra, por responsabilidade exclusiva de seus pais ou responsáveis. A exemplo do que ocorre em relação às medidas de proteção a crianças e adolescente (art. 101, do ECA), não basta a aplicação meramente “formal” das medidas de proteção à família (art. 129, incisos I a IV, do ECA), mas sim é necessário garantir condições para que estas atinjam - de maneira concreta - os seus objetivos, o que pressupõe a elaboração e implementação de uma

verdadeira política de proteção à família, preferencialmente através da atuação

conjunta dos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência

Social, consistente em programas e serviços especializados, que permitam a orientação, o apoio, a assistência e o adequado tratamento de que cada um dos membros da família (cf. art. 226, §8º, da CF), necessite, respeitadas suas peculiaridades e deficiências específicas. Como dito anteriormente, em todas as ações a serem desenvolvidas, é necessário ter em mente e respeitar, o quanto possível, o princípio da autonomia da família, cabendo ao Estado auxiliar e

jamais substituir esta no desempenho de seu imprescindível papel no

desenvolvimento saudável de uma criança ou adolescente. A intervenção estatal deve ser realizada da forma menos “invasiva” possível, observando os critérios de atualidade, necessidade e proporcionalidade, sendo sempre precedida de uma avaliação técnica e seguida de um acompanhamento do caso (respeitadas suas peculiaridades), de modo a avaliar a eficácia das medidas tomadas que, se necessário, poderão ser substituídas a qualquer tempo (aplicação analógica do disposto no art. 99, do ECA). Sobre as medidas de proteção aplicáveis no caso de violência doméstica contra a mulher, vide o disposto nos arts. 18 a 24, da Lei n° 11.340/2006, de 07/08/2006, a chamada “Lei Maria da Penha”.

581 Vide arts. 3º, incisos I, III e IV e 226, caput e §8º, da CF; arts. 23, par. único, 90, inciso I e 101, inciso IV, do ECA e art. 23, par. único, da LOAS. Vide também o disposto na Lei nº 10.836/2004, de 09/01/2004, que cria o

Programa Bolsa Família, e Decreto nº 5.209/2004, de

17/09/2004, que a regulamentou. Medida não por acaso relacionada

como a providência primeira a ser tomada em relação a famílias que se

encontrem numa situação sócio-econômica precária. Deve corresponder a

programas específicos de atendimento, desenvolvido fundamentalmente por

órgãos públicos da área da assistência social.

582 Vide art. 19, do ECA. Os programas de orientação e tratamento para pais ou responsável usuários de substâncias psicoativas, a exemplo do que ocorre com os similares voltados a crianças e adolescentes (cf. art. 101, inciso VI, do ECA e art. 227, §3º, inciso VII, da CF) devem ser desenvolvidos com recursos

orçamentários próprios do setor de saúde.

583 Aqui, mais uma vez, a exemplo do que ocorre com medidas similares aplicáveis a crianças e adolescentes (cf. art. 101, inciso V, do ECA), os programas a serem desenvolvidos devem ser custeados com recursos orçamentários próprios do setor de saúde, respeitando ainda as disposições da Lei nº 10.216/2001, de 06/04/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, assim como trata das internações psiquiátricas involuntárias e voluntárias. Vide também Portarias nºs 336/2002/GM, de 19/02/2002 e 245/2005/GM, de 17/02/2005, que dispõem sobre os Centros de Atenção Psicossocial - CAPs. 584 Vide art. 90, inciso I, do ECA. Os referidos cursos e programas devem

contemplar desde informações básicas sobre cuidados e higiene de crianças recém-nascidas a orientações sobre como proceder diante de casos de desinteresse pelos estudos, rebeldia e mesmo prática de atos infracionais por adolescentes. Tudo na perspectiva de fazer com que os pais e responsáveis conheçam os deveres que têm para com seus filhos e pupilos e os exerçam com responsabilidade. Devem ser desenvolvidos conjuntamente pelos setores responsáveis pela saúde, assistência social e, acima de tudo, educação (valendo neste sentido observar o disposto no art. 205, da CF). A orientação pode ser ainda prestada nos moldes do previsto nos arts. 4º e 6º, da Lei nº 9.263/2003, de 12/01/2003, que regula o art. 226, §7º, da CF, que trata do planejamento familiar.

585 Vide arts. 55 e 101, inciso III, do ECA e art. 6º, da LDB. Medida a ser aplicada conjuntamente com a prevista no art. 129, inciso IV, do ECA.

586 Vide art. 101, incisos IV, V e VI, do ECA.

587 A presente medida, deverá ser invariavelmente acompanhada da medida prevista no art. 129, inciso IV, do ECA de modo que os pais ou responsável recebam a orientação necessária ao cumprimento de suas obrigações, assim como sejam informados das consequências do descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar, ou decorrentes da tutela ou guarda.

588 Vide art. 9°, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989; arts. 35 e 169, par. único, do ECA e art. 1584, par. único, do CC. A aplicação desta medida é de competência exclusiva da autoridade judiciária. Pode ser decretada tanto em relação aos pais quanto em relação guardião propriamente dito, devendo a criança ou adolescente, preferencialmente, ser colocada(o) sob a guarda de um parente próximo (cf. art. 100, caput, segunda parte, do ECA) ou pessoa que com eles mantenha relação de afinidade e afetividade (cf. art. 28, §7º, do ECA).

589 Vide arts. 23, 24, 164 e 169, do ECA; arts. 1194 a 1198, do CPC e arts. 1764, inciso III e 1766, do CC. A aplicação desta medida é de competência exclusiva da autoridade judiciária, devendo ser a criança ou adolescente colocada(o) sob a tutela de outrem, de modo que não fique sem representante legal.

590 Vide Princípio 6°, da Declaração dos Direitos da Criança, de 1959 e art. 9°, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989; arts. 23, 24, 155 a 163 e 169, caput, do ECA e arts. 1635 a 1638, do CC. A aplicação desta medida é de competência exclusiva da autoridade judiciária. Importante relembrar que o

art. 19, caput e §3º do ECA, em consonância com o princípio consignado no art. 100, par. único, inciso X, do mesmo Diploma Legal, dá preferência à

permanência da criança ou adolescente no seio de sua família de origem, que por sua vez, na forma do disposto no art. 226, da CF, tem direito à “especial

proteção por parte do Estado”. A suspensão ou destituição do poder familiar,

portanto, se constitui numa providência excepcionalíssima, que somente deve ser tomada em situações extremas, quando comprovadamente não mais houver outra solução. A criança ou adolescente deve ser então, preferencialmente colocada em família substituta, nas modalidades guarda ou tutela, optando-se pela adoção (que uma vez consumada importa no rompimento, em caráter permanente, de todos os vínculos familiares do adotado em relação a seus pais e parentes biológicos), apenas quando não se vislumbrar condições mínimas de futura reintegração à família de origem e não houver parentes interessados e em condições de assumir sua guarda ou a tutela. Vale mencionar que o decreto da suspensão ou destituição do poder familiar não afetam o dever de sustento que os pais têm relação aos filhos, cujo fundamento se encontra não apenas no ECA, mas também no art. 5º, inciso LXVII, da CF e arts. 1694 a 1710, do CC. Assim sendo, nada impede (e é mesmo salutar) que pais suspensos ou destituídos do poder familiar sejam compelidos a prestar alimentos a seus filhos, ainda que estes permaneçam sob a guarda ou tutela de terceiros. Apenas com a eventual adoção dos filhos, e o consequente desaparecimento da relação de filiação daí resultante (que não é afetada pela simples suspensão ou destituição do poder familiar), é que o dever de prestar alimentos também desaparece.

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos

[591]

, opressão ou abuso

sexual

[592]

impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá

determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor

[593]

da moradia

comum

[594]

.

591 Vide art. 136, do CP; arts. 13 e 56, inciso I, do ECA; arts. 796 a 811, do CPC (processo cautelar) e Portaria nº 1.968/2001/MS que dispõe sobre a notificação às autoridades competentes, de casos de suspeita ou confirmação de maus- tratos contra crianças e adolescentes atendidos pelo SUS. A interpretação do alcance do termo “maus-tratos”, a que se refere o dispositivo, deve ir além do enquadramento penal do tema, também abrangendo graves abusos ou privações de ordem emocional ou psíquica, que tornem desaconselhável o convívio com o agressor.

592 Vide art. 227, §4º, da CF; arts. 213 a 232, do CP; Lei nº 9.970/2000, de 17/05/2000, que institui o dia 18 de maio como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, e Lei n° 11.577/2007, de 22/11/2007, que torna obrigatória a divulgação, em hotéis, motéis, pousadas e outros que prestem serviços de hospedagem, bares, restaurantes, lanchonetes e similares, casas noturnas etc., de mensagem relativa à exploração sexual e tráfico de crianças e adolescentes apontando formas para efetuar denúncias. 593 Vide arts. 19 e 101, §§1º e 2º, do ECA. Trata-se aqui de um verdadeiro

princípio. A criança ou o adolescente vitimizado também tem direito à

convivência familiar, devendo o quanto possível permanecer na companhia de seus irmãos e do pai, mãe ou responsável que não tenha sido o(a) causador(a) do abuso praticado, de preferência em sua própria residência. Assim, antes de se pensar em abrigar a criança ou adolescente vitimizado, afastando-a do restante de sua família e de seu meio de vida, deve-se preferencialmente buscar o

afastamento do agressor da moradia comum, através da propositura de medida

judicial específica, pelo Ministério Público ou qualquer outro legitimado, sem embargo, obviamente, das providências necessárias no sentido da apuração de sua responsabilidade penal pelo ocorrido, assim como da eventual propositura de

ação de suspensão ou destituição do poder familiar, destituição de tutela ou guarda, na forma prevista no art. 129, incisos VIII, IX e X, do ECA. Vale também destacar que, se o agressor for o pai ou mãe, seu afastamento do lar e mesmo o eventual decreto da suspensão/destituição do poder familiar não afetam seu

dever de sustento em relação aos filhos, cujo fundamento se encontra não

apenas no ECA, mas também no art. 5º, inciso LXVII, da CF e arts. 1694 a 1710, do CC. Assim sendo, quando do afastamento do agressor pai ou mãe, deve-se ter a cautela de fixar os alimentos que o(a) mesmo(a) terá de prestar ao(s) filho(s), nos moldes do previsto no art. 33, §4º, do ECA. Sobre a matéria, vide também art. 227, §4º, da CF. Sobre o afastamento do agressor da moradia comum, vale transcrever o seguinte aresto: APELAÇÃO CÍVEL. ECA. MEDIDA

PROTETIVA DE AFASTAMENTO COMPULSÓRIO DO LAR. NECESSIDADE DE PROTEÇÃO DOS INFANTES E DO ADOLESCENTE QUE EFETUOU O REGISTRO DE OCORRÊNCIA POLICIAL CONTRA O DEMANDADO. SENTENÇA QUE DETERMINOU O AFASTAMENTO DO RÉU DO LAR QUE MERECE SER MANTIDA. Comprovado que o demandado, ao ingerir bebida alcoólica, coloca em risco a vida de 4 menores e um adolescente no lar onde reside, correta a determinação de seu afastamento compulsório. Preliminar de Cerceamento de Defesa que não merece guarida, segundo bem gizou a douta Procuradoria de Justiça em seu parecer. APELAÇÃO IMPROVIDA. (TJRS. 7ª C. Cív. Ap. Cív. nº 70025638552. Rel. Des. Vasco Della

Giustina. J. em 10/09/2008).

594 No mesmo sentido, vide art. 22, inciso II, da Lei nº 11.340/2006, de 07/08/2006 (também chamada “Lei Maria da Penha”), que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e dá outras providências e prevê, como uma das medidas protetivas de urgência aplicáveis aos autores de

violência doméstica o “afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com

a ofendida”. Em qualquer caso, a criança ou adolescente vítima deverá receber a

devida assistência psicológica, na perspectiva de evitar ou minimizar possíveis traumas decorrentes da violência sofrida, valendo neste sentido observar o disposto no art. 39, da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, de 1989.

TÍTULO V - DO CONSELHO TUTELAR

No documento eca comentado murillo digiacomo (páginas 192-196)