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2 PERCURSO METODOLÓGICO

2.4 DA SELEÇÃO E DA CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA

proceder com a pesquisa, em suas dependências, foi realizado um convite formal aos acadêmicos do 9º (nono) período matutino e noturno do primeiro semestre letivo do ano de 2017, ou seja, que estavam a pouco mais de um semestre do momento de colarem grau.

Julguei ser este o público ideal para minha pesquisa, já que, quase ao fim de 5 (cinco) anos, acredito que o discente de um curso jurídico já tenha tido contato com uma parte do

conteúdo axiológico e principiológico ofertado pelo Curso, independentemente do aluno ter realizado, ou não, um giro discursivo capaz de lhe proporcionar uma formação humanística. Aqui, eu me refiro, novamente, à instância do imaginário, já que também imperam os critérios de historicidade e das condições de produção onde os discentes se encontram inseridos.

Foram convidados 200 (duzentos) alunos, dentre os quais selecionaria, no máximo, 20 (vinte) alunos para participarem das entrevistas.

Muitos alunos se mostraram interessados, num primeiro momento, porém, utilizei duas táticas diferenciadas para tentar mesurar o interesse dos alunos quanto à temática a ser pesquisada: para a turma do período matutino, ao realizar o convite, informei aos alunos que a pesquisa trataria sobre discursividade homofóbica presente no meio acadêmico do Curso de Direito.

A turma do turno noturno não foi informada sobre o teor da entrevista. De maneira bem peculiar, a turma do turno matutino, ou seja, aquela que foi informada sobre o teor da pesquisa, não se mostrou tão interessada, principalmente depois que alguns alunos perguntaram, em voz alta, sobre o que se tratava a entrevista. Ao obterem a resposta, muitos esboçaram um perceptível ar de reprovação e foram poucos os que aceitaram preencher a lista com nome e número de telefone para contato, cujo total foram de 16 (dezesseis) assinaturas dentro de uma classe de 50 (cinquenta) acadêmicos.

A turma do turno noturno, isto é, aquela que não foi informada do teor da pesquisa, era uma classe de 55 (cinquenta e cinco) alunos, dentre os quais, cerca de 30 (trinta) aceitaram listar seus nomes e telefones de contato para participarem da entrevista, ou seja, aproximadamente 50% (cinquenta porcento) superior à turma que desconhecia o teor da pesquisa. Este dado me chamou a atenção porque a homossexualidade, ao que parece, ainda causa desconforto entre várias pessoas.

No caso dos sujeitos da pesquisa e da discursividade arquetípica sexista, heteronormativa e homofóbica, observei, a partir da análise das entrevistas realizadas, que o discente se inscreve em uma posição de gozo, pois demonstra uma resistência para com a discursividade que reconhece Direitos Fundamentais aos indivíduos homoafetivos.

Dos 46 (quarenta e seis) inscritos, selecionei um número de 20 (vinte) estudantes, tendo em vista o caráter qualitativo da pesquisa. Foram selecionados 10 (dez) alunos do 9º (nono) período do turno matutino, e 10 (dez) alunos do 9º (nono) período do turno noturno. As entrevistas foram realizadas entre os dias 05 de maio a 11 de maio de 2017, respectivamente.

Por conseguinte, ao final das 20 (vinte) entrevistas, selecionei as 6 (seis) que julguei, no meu entendimento, como sendo mais interessantes e que me chamaram a atenção pelo teor

discursivo dos discentes.

Dentre os 6 (seis) acadêmicos entrevistados, detectei 4 (quatro) discursividades que parecem possuir características sexistas, heteronormativas e homofóbicas, enquanto detectei outras 2 (duas) que não apresentam tal teor.

Estas 6 (seis) entrevistas foram transcritas e analisadas, para efeitos de composição do capítulo de análise, buscando detectar, ou não, as características que formam a problematização dessa tese:

- José, sexo masculino, contando com 22 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como profissional de educação, solteiro e se declarando da cor branca e professante de religião evangélica, sem denominação específica;

- Pedro, sexo masculino, com 25 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como estudante sem profissão, solteiro e se declarando da cor parda e professante de religião católica;

- Júlio, sexo masculino, com 22 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como profissional de educação, solteiro e se declarando da cor branca e professante de religião católica;

- Julia, sexo feminino, 22 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como profissional de educação, solteiro e se declarando da cor branca e professante de religião evangélica sem denominação específica.

- Jacó, sexo masculino, com 24 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como técnico em impressoras, solteiro e se declarando como ateu.

- Joana, sexo feminino, com 21 anos de idade, estudante do 9º semestre letivo do Curso de Direito, se autodenominando como estudante, solteira, se declarando espírita e, também, homossexual assumida.

A escolha destes 6 (seis) acadêmicos se deu diante do fato de que suas discursividades me pareceram apresentar um atravessamento discursivo de características sexistas, heteronormativas e homofóbicas, além de ter se percebido que tais dizeres eram mais evidentes nos acadêmicos que se declararam como professantes da religião evangélica, seguidos dos católicos.

De acordo com o site do IBGE10, o Censo 2010 realizado por este instituto apontou que

10 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo de 2010. Amostra – Religião – Município de

Araguaína, 2010. Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/Brasil/to/araguaina/panorama> Acesso em 21 set 2018.

a população de Araguaína se declarou professante da religião Católica Apostólica Romana em número de 97.884 (noventa e sete mil, oitocentos e oitenta e quatro) pessoas, enquanto que 36.308 (trinta e seis mil, trezentos e oito) se declararam evangélicos, sendo que, em minhas entrevistas, detectei a discursividade arquetípica, sexista, heteronormativa e homofóbica na maioria dos acadêmicos que se disseram evangélicos.

Isso me chamou a atenção como um dado a ser levado em consideração: a historicidade do Município de Araguaína que inscreve em sua população uma discursividade religiosa, e que remete à existência de um elemento religioso arquetípico, conforme será abordado no capítulo quatro, mais especificamente no item 4.3.1.1, quando realizarei uma incursão pelo arquétipo religioso, que parece estar presente no inconsciente coletivo da humanidade, e que se perpetua, aparentemente, ao longo dos séculos. Além disso, tal discursividade parece conter um teor sexista, heteronormativo e homofóbico, conforme será visto nas análises das entrevistas coletadas.