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3 DA SITUAÇÃO E DA LEGISLAÇÃO ATUAL

No documento DIREITO DOS DESASTRES (páginas 183-186)

Conforme mencionado anteriormente, o SIG foi inicialmente criado com o intuito de ser uma área complementar ao Plano Piloto, razão pela qual não consta do Relatório do Plano Piloto de Brasília de Lucio Costa.

As primeiras regras estabelecidas para utilização dos lotes foram editadas em 1967, e revisadas pela última vez em 1988 (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2019).

A necessidade de atualização da destinação de uso dos lotes só foi observada a partir do processo de revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial e Urbano (Pdot). O texto foi apresentado na primeira reunião do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan).

Paralelamente a isso, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), concedeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade ao conjunto arquitetônico de Brasília (UNESCO, 1987), e com ele a obrigação de adotar medidas, inclusive jurídicas, visando à proteção e conservação desse patrimônio:

valorizar de forma ativa o patrimônio cultural e natural situado em seu território e em condições adequadas aos países, cada Estado-parte da presente Convenção empenhar-se-á em: a) adotar uma política geral com vistas a atribuir função ao patrimônio cultural e natural na vida coletiva e a integrar sua proteção aos programas de planejamento; b) instituir no seu território, caso não existam, um órgão (ou vários órgãos) de proteção, conservação ou valorização do patrimônio cultural e natural, dotados de pessoal capacitado, que disponha de meios que lhe permitam desempenhar suas atribuições; c) desenvolver estudos, pesquisas científicas e técnicas e aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitam ao Estado enfrentar os perigos ao patrimônio cultural ou natural; d) tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras cabíveis para identificar, proteger, conservar, valorizar e reabilitar o patrimônio; e e) fomentar a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou regionais deformação em matéria de proteção, conservação ou valorização do patrimônio cultural e natural e estimular a pesquisa científica nesse campo (MUNDIAL)

Nesse contexto, dentro do direito interno, o SIG passou a ser tratado dentro do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub), fazendo com

que o uso de seus lotes ficasse limitado às atividades bancárias, de radiodifusão e impressão de jornais e revistas.

Salienta-se que, no passado, não havia a obrigatoriedade de os municípios fazerem seus planejamentos urbanísticos por meio de uma lei. Esses atos eram de responsabilidade própria do administrador público.

Com o passar dos anos, consoante demonstra Pontes (2012), percebeu-se a necessidade de planejar a gestão urbana de forma mais sólida, tanto a curto, a médio e a longo prazo. Assim nasce o Plano Diretor de cada um dos Municípios, instituído por lei, com a finalidade de, dentre outras, especificar, organizar e dar destinação aos espaços urbanos.

Nos termos do art. 30, VIII, da Constituição Federal, é de competência dos Municípios a execução de atividades de política urbana, com a finalidade de planejar e organizar o espaço urbano. Já os arts. 182 e 183 da Carta Magna reforçam essa competência municipal.

No entanto, em vista da falta de uniformidade e eficiência desse processo por parte dos próprios Municípios, foi editado o Estatuto das Cidades, a Lei Federal nº 10.257/2001, estabelecendo diretrizes gerais da política urbana.

Assim, o Plano Diretor, instituído por lei municipal, se coloca então como um instrumento do Direito Urbanístico para aprimorar a regulamentação do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, sendo a base da política de desenvolvimento público e de expansão urbana.

Na visão do professor Flávio Villaça (1999, p.238), da USP, o Plano Diretor é:

Um plano que, a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região, apresentaria um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por lei municipal.

No âmbito do Distrito Federal, o Plano Diretor é regulamentado pelo art. 163 da Lei Orgânica como o instrumento básico da política de expansão e desenvolvimento urbanos, de longo prazo e natureza permanente, e foi definido pela Lei Complementar DF nº. 803, de 25 de abril de 2009.

Nos termos desse plano diretor, o Setor de Indústrias Gráficas está situado no perímetro de tombamento do Plano Piloto, razão pela qual há interesse por parte do Governo do Distrito Federal na ampliação do uso dos lotes do SIG que ainda hoje é restrito apenas às atividades bancárias, de radiodifusão e impressões de jornais e revistas.

Sabe-se que, para modificar ou alterar o Plano Diretor, em atendimento ao Estatuto das Cidades, são necessários os mesmos procedimentos para a sua elaboração, quais sejam, a participação dos poderes executivo, legislativo municipais e da participação da população, garantindo sempre a gestão democrática da cidade:

Art. 43.Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os seguintes instrumentos: I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;

II – debates, audiências e consultas públicas;

III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal;

IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

Complementando o dispositivo acima, a emenda nº 49, de 2007 da Lei orgânica do Distrito Federal estabeleceu critérios para a aprovação da alteração do Plano Diretor. Vejamos:

Art. 59. Os Planos Diretores Locais vigentes serão mantidos e incorporados, no que for pertinente, ao Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal, à Lei de Uso e Ocupação do Solo e aos Planos de Desenvolvimento Local. Parágrafo único. Os índices urbanísticos e usos que fazem parte dos Planos Diretores Locais vigentes só poderão ser alterados mediante nova consulta pública à sociedade e aprovação por meio de lei complementar.

Nesses termos, qualquer mudança na destinação hoje vigente para o uso dos lotes do SIG deverá vir por meio de alteração no Plano Diretor do DF, mediante lei

complementar, que também esteja em pleno acordo com os dispositivos da Lei Orgânica do DF, além de guardar harmonia com os princípios estabelecidos no Estatuto das Cidades e na Constituição Federal, em especial.

No documento DIREITO DOS DESASTRES (páginas 183-186)