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2 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

No documento DIREITO DOS DESASTRES (páginas 97-101)

Sendo o objeto do presente estudo a análise da responsabilidade civil em hipótese de dano ambiental, antes de adentrar as questões e conceitos atinentes ao dano ambiental, cumpre destacar aspectos relevantes sobre a responsabilidade civil ambiental dentro da ordem jurídica brasileira. A Constituição Federal de 1988 fez

toda a diferença na matéria de responsabilização ambiental ao positivar a tutela ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para tanto, ao reconhecer o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental, a Constituição impôs um norte ao ordenamento jurídico brasileiro (STEIGLEDER, 2004).

O protecionismo constitucional conferido à preservação ambiental se tornou fundamental para as políticas econômica e social do país, de forma que normas infraconstitucionais, relativas a outros ramos jurídicos que guardem relação com o meio ambiente, consideram as normas ambientais impregnadas na ideologia constitucional (STEIGLEDER, 2004). Assim, com a crescente preocupação com os recursos naturais, bem como o meio ambiente e os seres nele inseridos, a responsabilidade civil ambiental se apresenta com o objetivo de salvaguardar o equilíbrio ambiental como bem de toda a sociedade.

Por sua vez, a responsabilidade civil clássica, em contraposição à responsabilidade civil ambiental, tem o escopo de punir o agente de maneira individualizada, fazendo surgir a obrigação de reparar o dano sem se ater à origem do evento danoso e sem se preocupar com a prevenção de riscos atuais ou futuros (STEIGLEDER, 2004). Ressalta-se que o grande desrespeito à legislação ambiental por parte dos agentes poluentes conduziu o legislador infraconstitucional a adotar um sistema de responsabilidade na modalidade objetiva, isto é, sem a apuração da culpabilidade.

A responsabilização na modalidade objetiva foi a forma encontrada pelo ordenamento jurídico brasileiro para garantir a tutela ambiental por parte dos agentes poluidores que exercem atividade gravosa ao meio ambiente, pressupondo que tais agentes, ao exercer sua atividade, assumiram os riscos inerentes ao exercício de sua tarefa (STEIGLEDER, 2004). No que diz respeito ao risco assumido por tais agentes, este risco poderá se classificar em abstrato, tendo como pressuposto o perigo da própria atividade exercida, ou em concreto, que se refere aos efeitos nocivos proporcionados pela atividade (LEITE, 2002).

Nesse âmbito, percebe-se que, para estabelecer a responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente, é necessário que esteja sendo exercida atividade que ofereça risco ao meio ecologicamente equilibrado, o que faz refletir a

responsabilidade de reparar ou indenizar de forma objetiva, isto é, independentemente da apuração de culpa. Demonstrada a responsabilidade objetiva aplicada aos agentes causadores de danos ao meio ambiente, merece destaque o nexo causal entre a conduta poluente e o evento danoso. Esse nexo de causalidade é componente essencial para se identificar a responsabilidade civil, pois é o liame subjetivo que apresenta o vínculo de causa e efeito existente entre a conduta e o dano por ela provocado.

Nesse sentido, o nexo causal é o elemento encontrado entre a conduta e o resultado, conceituado jurídica e normativamente para que seja possível concluir quem foi o causador do dano (CAVALIERI FILHO, 2015) e, por consequência, o responsável por minimizar seus efeitos. Em poucas palavras, a averiguação do nexo causal respalda-se no nexo de causa e efeito entre a conduta do agente poluente e o dano advindo da sua atividade (MILARÉ, 2001). Desta forma, aquele que explora atividade econômica que pode vir a causar danos ao meio ambiente deve se posicionar como garantidor da preservação ambiental, bem como garantidor de reparo pelos danos que guardem relação com a atividade poluente (STEIGLEDER, 2004).

Parte da doutrina pontua a dificuldade na apuração do nexo causal, como se percebe nas lições de Sérgio Ferraz e Paulo de Bessa Antunes, uma vez que geralmente existe um significativo lapso temporal entre a atividade poluidora e suas sequelas ofensivas ao meio ambiente. E, além disso, pode existir uma pluralidade de causas que corroboram para o evento danoso, fato que também cria obstáculos para a verificação do nexo de causalidade. Não bastando os obstáculos apontados, destacam-se, ainda, as atividades cujo exercício individualizado não possui potencial para provocar o dano ambiental, mas, em conjunto com outros agentes, acaba por afeiçoar sua capacidade poluidora, que antes não subsistia (BENJAMIN, 1998).

Na hipótese de danos provocados por mais de uma causa provável, todas as causas serão consideradas para produzir o dano, não havendo distinção entre causas principais e secundárias, de modo que a própria existência da atividade provocadora de risco é reputada como causa do evento danoso (STEIGLEDER, 2004). Portanto, a mera existência do risco já é elemento suficiente para vislumbrar-se a

responsabilidade do agente que desenvolve a atividade de risco. Vale mencionar a existência de linha doutrinária que defenda a inexistência de nexo de causalidade dentro do instituto da responsabilidade civil ambiental, entendendo que há uma qualidade favorável à ocorrência do dano ambiental.

A respeito deste entendimento, entende-se que a conduta poluente – por meio da qual a teoria da culpa faz recair a responsabilidade pelo resultado – seria substituída pela responsabilidade do risco em provocar o resultado danoso, desconsiderando o nexo causal (PASQUALOTTO, 1993). De toda maneira, com respaldo na modalidade objetiva de responsabilização na esfera ambiental, a responsabilização independe de culpa por parte do ofensor, não sendo feito nenhum juízo de valor sobre sua conduta, de forma que o nexo causal depende tão somente da comprovação do elo entre a conduta poluente e o dano ambiental.

No tocante à atividade desenvolvida pelo agente poluidor, é comum se sustentar a isenção de responsabilidade nas hipóteses de dano ambiental em que são obedecidas todas as regras voltadas à proteção ambiental. No entanto, a adoção da modalidade objetiva de responsabilidade civil já elimina qualquer possibilidade de isenção nesse sentido, sendo irrelevante a licitude da conduta do agente que provocar o dano ao meio ambiente. A responsabilidade civil pelos danos ambientais não depende de ofensa legal específica, vez que o Poder Público não tem o direito de consentir na agressão à saúde e bem-estar dos cidadãos (MILARÉ, 2001).

Ou seja, o risco oferecido ao meio ambiente durante o desenvolvimento de determinada atividade, por si só, já fundamenta a obrigação de reparar e indenizar quando verificada a ocorrência do evento danoso, sem necessidade de valoração acerca da licitude ou ilicitude da atividade desenvolvida. Insta ressaltar que, independentemente da licitude da atividade que se desenvolve, se o resultado por ela produzido prejudicar o meio ambiente, tal resultado configurará um ilícito, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro não confere a ninguém o direito de poluir. De tal modo, conclui-se que a licitude de determinada atividade não é excludente da responsabilidade civil (ATHIAS, 1993).

Além disso, como a Constituição Federal salvaguardou o direito ao meio ambiente equilibrado, qualquer conduta capaz de romper com este equilíbrio,

causando prejuízo ambiental, acarretará responsabilidade pela reparação e indenização, ainda que o agente poluidor esteja munido de licenças para o funcionamento da atividade que desenvolve. A Lei nº 6.938/81 (BRASIL), que dispõe sobre a Política Nacional ao Meio Ambiente, apresenta extenso alcance aos agentes poluidores responsáveis por danos ambientais, definindo como poluidor aquele responsável por atividade causadora de degradação ambiental (BRASIL, 1981).

A respeito da amplitude da área de incidência da responsabilidade civil, o termo “poluidor” entendido pela Lei nº 6.938/81 (BRASIL) engloba os que diretamente provocam o dano ambiental, como fazendeiros, empresários e mineradores, bem como os que indiretamente contribuem para a ocorrência do dano, facilitando ou, até mesmo, viabilizando a ocorrência do desastre (BENJAMIN, 1998). A crescente preocupação social em defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado é percebida, nos dias de hoje, com um maior respaldo jurídico para a amplitude de alcance dos agentes poluidores.

Desta forma, a responsabilização na modalidade objetiva pressupõe que os agentes poluidores que provocarem desastres ambientais a partir de suas atividades serão responsabilizados independentemente da apuração de culpa, uma vez que o risco oferecido ao meio ambiente durante o desenvolvimento da atividade poluente, por si só, fundamenta a obrigação de reparação e indenização nas hipóteses de desastres. Nesse sentido, resta destacar as características de tais desastres, o que será explorado no próximo capítulo, a fim de verificar a aplicação da responsabilidade ambiental na prática.

No documento DIREITO DOS DESASTRES (páginas 97-101)