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Dados pessoais

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 133-138)

4 ESPAÇO SOCIAL DE TRABALHO E O PERFIL DO CATADOR EM PASSO

4.1. ADENSAMENTO E ACELERAÇÃO URBANA NA REGIÃO DA PRODUÇÃO

4.2.1 Características básicas dos catadores

4.2.1.1 Dados pessoais

Este bloco de dados retrata as variáveis Idade, Sexo, Etnia e Escolaridade dos catadores.

a) Faixa etária dos catadores de materiais recicláveis

Mediante amostra aleatória, não representativa, que tivemos a oportunidade de constituir, conforme Gráfico 1, podemos observar que o maior índice etário se fixou na faixa de idade dos 41 a 50 anos, com percentual de 23,3% do total do público questionado. Seguindo, com o percentual imediatamente menor, outras duas faixas de idade (31-40 e 51-60) com valor igual a 21,7%. Se agruparmos as três faixas etárias, temos o indicativo de 66,7% (dois terços da amostra) dos casos pertencentes a um estrato etário correspondente a pessoas de meia-idade, ou seja, em fase adulta constituída, não considerados jovens, nem idosos.

Por tratar-se de faixas etárias limítrofes, podemos compreender que existe uma indicação de que uma grande parte dos sujeitos que desenvolvem a atividade de catação pela cidade de Passo Fundo possui uma idade superior a 30 anos de idade. Ou seja, é um público com considerável experiência de anos vividos, embora tenhamos identificado catadores em todas as faixas de idade, desde um adolescente

com idade de 15 anos até aqueles muito idosos – uma senhora que faz o trabalho de catação na rua nos declarou que sua idade era de 99 anos. Também observamos, em outros momentos, fora desse levantamento quantitativo, crianças fazendo o trabalho de catação, seja acompanhando os pais e/ou parentes ou realizando o trabalho com outras crianças da mesma idade.

Gráfico 1 – Idade dos catadores, em números absolutos e em percentuais

IDADE Qt. % cit. Não resposta 1 0,8% 10 A 15 1 0,8% 16 A 20 4 3,3% 21 A 25 7 5,8% 26 A 30 10 8,3% 30 A 40 26 21,7% 41 A 50 28 23,3% 51 A 60 26 21,7% 61 A 70 13 10,8% 71 A 80 2 1,7% 80 A 90 2 1,7% Total 120 100,0% 0,8% 0,8% 3,3% 5,8% 8,3% 21,7% 23,3% 21,7% 10,8% 1,7% 1,7%

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

A partir desse levantamento, podemos, enfim, perceber, em nossa amostragem, uma segmentação substantiva de pessoas pertencentes a uma condição etária adulta, de meia-idade, embora haja extremos, pessoas muito jovens e idosas realizando o trabalho de reciclagem.

b) Divisão por sexo

Em relação ao sexo dos pesquisados (Gráfico 2), 55,8% da amostra identificaram-se como sendo homens e 44,2% mulheres. Diante de nossas evidências de pesquisa, observando os empreendimentos associativos e pelos relatos de catadores em diferentes momentos de nossas incursões a diferentes locais da cidade, existem mais mulheres compondo os ambientes associativos de

81 anos ou + 31 A 40

trabalho. Ou seja, as mulheres desenvolvem de forma predominante suas atividades nas associações e os homens nas ruas e avenidas da cidade (ver dados na sequência). Embora, conforme sugerido, isso não seja absolutamente uma regra, depende da própria estrutura e das condições de trabalho das associações e das circunstâncias e possibilidades dos sujeitos, de como julgam ser mais apropriado seu trabalho em relação às demais atividades que executam e às responsabilidades que administram em suas vidas cotidianas.

Gráfico 2 – Divisão por sexo, em números absolutos e em percentuais

SEXO Qt. % cit. Masculino 67 55,8% Feminino 53 44,2% Total 120 100,0% 55,8% 44,2%

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

Identificamos, ainda, que há certa divisão de tarefas por sexo nas associações e em menor grau entre aqueles que trabalham na rua, “de forma autônoma”, como costumam referir-se. Nas associações, o trabalho voltado à classificação dos materiais fica mais a cargo das mulheres, que fazem a separação do material dentro de uma rotina de identificação, separação e destinação dos recicláveis mediante suas características. Esse trabalho é o mais meticuloso de todo o processo de reciclagem dos catadores, uma vez que os indivíduos devem conhecer a denominação dos materiais e a prática de classificação para que seja dado o destino correto ao produto, validando os encaminhamentos e as orientações dos compradores. Materiais mal classificados perdem o valor na hora de sua venda, pois necessitam de uma nova triagem e reclassificação do produto para que seja disposto adequadamente ao seu destino final. As pessoas de sexo masculino, nas associações, por sua vez, ficam mais direcionadas à prensagem e ao enfardamento dos materiais que foram classificados anteriormente, bem como realizam o trabalho mais operacional ligado ao transporte e à alocação dos fardos de materiais. Geralmente, os homens também vão buscar os materiais que são doados e que

exigem maior esforço físico no transporte ou desmonte do que lhes foi disponibilizado.

Quando o trabalho é desenvolvido de forma autônoma, por uma família de catadores, o trabalho é praticamente igual entre homens, mulheres e até crianças. A catação na rua é feita, geralmente, por todos. Há casos, porém, que os homens catam na rua e as mulheres se prontificam a classificar o material coletado na residência da família, já que elas executam o trabalho extra de cuidar da casa e dos filhos e/ou desenvolver outras tarefas e trabalhos fora da residência. Há muitos casos de mulheres “chefes de famílias” que, em algumas circunstâncias, recebem ajuda dos(as) filhos(as) para a execução das atividades, mas, na grande parte desses casos, elas trabalham rigorosamente sozinhas, executando todos os processos, da catação à venda de sua “produção”, conforme verificamos nos contatos estabelecidos com essas catadoras.

c) Identificação étnica

Quanto à dimensão étnica, 39,2% dos entrevistados se identificam como morenos e outras denominações semelhantes dentro do quesito ”Outra Etnia”, contemplada no questionário e representada no Gráfico 3, apresentado a seguir.

Em segunda posição, 29,2% identificam-se como “Brancos”. Cabe destacar que há muitos catadores de origem italiana, como observamos quando faziam questão de dizer todo o seu nome quando perguntávamos como gostariam de ser chamados. A cidade de Passo Fundo possui um grande contingente de pessoas de origem italiana, muitas provenientes das áreas rurais de antigas colônias de imigrantes no Estado do RS.

Gráfico 3 – Estratificação por etnia autorreferenciada pelos catadores, em números absolutos e em percentuais ETNIA Qt. % cit. Não resposta 2 1,7% Branca 35 29,2% Preta 16 13,3% Amarela 2 1,7% Parda 13 10,8% Indigena 2 1,7% Não sabe 3 2,5% Outra 47 39,2% Total 120 100,0% 1,7% 29,2% 13,3% 1,7% 10,8% 1,7% 2,5% 39,2%

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

d) Formação escolar

Quanto à escolaridade, destacamos a homogeneidade das respostas encontradas. Oitenta por cento (80%) da amostra, representada no Gráfico 4, não têm instrução ou possui apenas o ensino fundamental incompleto, ou seja, estudaram até a segunda ou terceira série do ensino básico. Culturalmente e por necessidade das suas famílias, as crianças e os adolescentes, principalmente em décadas atrás e no meio rural, começavam a trabalhar cedo com os pais, seja na lavoura ou já na cidade, o que os fazia abandonar os estudos. Alguns entrevistados destacaram também o pouco acesso às escolas no interior das cidades, seja pela distância ou pelos obstáculos físicos encontrados, seja pela falta de valorização e senso prático, inviabilizando a assiduidade e importância escolar nesse meio.

Como mencionamos, uma grande parte pertence a uma faixa de idade de 40 a 60 anos, isso nos indica que, realmente, as oportunidades de estudos sempre foram precárias na medida em que a universalização do ensino no Brasil ainda é bastante recente, condição de apenas algumas décadas atrás.

Não apenas em função disso, mas existe ainda no seio de determinados estratos populares uma relativização da importância da formação escolar (FONSECA, 1994), já que as oportunidades de trabalho e melhores rendimentos ligados às atividades desse segmento possui pouca interface com a melhoria da

formação escolar dos indivíduos, aspecto muito difundido entre os jovens de estratos populares, como podemos constatar nas abordagens que fizemos, o que torna pouco atraente o investimento à capacitação escolar, priorizando-se o acesso ao trabalho e a manutenção imediata das condições de vida desse segmento social. Apenas sete (7) catadores (5,8%), conforme Gráfico apresentado na sequência, responderam que tinham o ensino médio completo. Um deles destacou que começou a fazer a faculdade de jornalismo quando era jovem, mas teve que desistir do curso quando ainda morava em Porto Alegre e trabalhava na Cia. Jornalística Caldas Junior.

Gráfico 4 – Estratificação por escolaridade dos catadores, em números absolutos e em percentuais

ESCOLARIDADE

Qt. % cit. Sem instrução ou fundamental incompleto 96 80,0%

Fundamental completo ou médio incompleto 17 14,2%

Médio completo e superior incompleto 7 5,8%

Superior completo 0 0,0% Não determinado 0 0,0% Total 120 100,0% 80,0% 14,2% 5,8% 0,0% 0,0%

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 133-138)