• Nenhum resultado encontrado

LÓGICAS DAS AÇÕES E DISPOSIÇÕES SOCIAIS

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 61-71)

2 VERTENTES DE ESTUDOS DAS AÇÕES E FLUXOS NAS SOCIEDADES

2.2. LÓGICAS DAS AÇÕES E DISPOSIÇÕES SOCIAIS

As últimas décadas do século passado e as primeiras do século XXI estampam, conforme sugerimos anteriormente, transformações consideráveis não apenas na órbita das relações dos poderes hegemônicos da economia mundial, mas que extrapolam tais dimensões e repercutem nas dimensões locais e internas de grupos sociais. Cabe considerar aqui o horizonte de novos fluxos de comunicações e influências mútuas entre princípios valorativos e culturais, antes resguardados por certo distanciamento entre espaço e tempo. No atual contexto, as relações sociais tornam-se mais intensas do ponto de vista da facilidade em que se podem estabelecer os vínculos entre entes sociais, provocando ligações e reações singulares e de difíceis previsões e de entendimentos imediatos, por seus caracteres complexos e, muitas vezes, inéditos.

O fenômeno da globalização, caracterizado pela expansão das relações sociais em âmbito mundial, da mesma forma que libera forças econômicas que se tornam hegemônicas no mercado mundial, provoca a possibilidade de movimentação e de manifestação de outros segmentos sociais para a comunicação e a interatividade. E, com isso, provoca uma maior margem à reflexividade e à ressignificação de saberes e práticas. É fundamental perceber como o alcance das relações, nesse processo, pode ser estendida e como o nível de influências recíprocas entre grupos e culturas podem tornar-se eloquentes.

À medida que ganha importância a expansão dos contatos e das trocas materiais, simbólicas e culturais, abrem-se brechas ao desenvolvimento de ações coordenadas. Tais ações tanto podem ser estratégicas ou táticas em suas variações propositivas, adaptativas, assimilatórias e resistentes às influências que se conectam entre partes que estabelecem ligações, sem descaracterizar, em tese, as relações de poderes desiguais e hierarquias de valores e dimensões ideológicas.

Conforme a antropóloga Cláudia Fonseca (1994; 2000), inexiste um hibridismo tão resoluto e equânime entre culturas, mas processos de trocas culturais permeadas por formas de disputas e hierarquias de valores, guardadas, em certa parte, as especificidades de grupos e segmentos sociais que se relacionam. Cabe

frisar também que as relações se caracterizam mediante vieses de processos relacionais em conflito, em que podem ser inclusive pautadas ora por lutas abertas, ora por lutas dissimuladas, visando reconhecimento e legitimidade social, à medida que contatos entre indivíduos e/ou grupos distintos são estabelecidos e confrontados, visando cada um o seu estabelecimento e nível de importância que os próprios sujeitos valorizam. Segundo Honneth (2003, p.280),

[...] as transformações socioestruturais nas sociedades desenvolvidas ampliaram objetivamente a tal ponto as possibilidades da autorrealização que a experiência de uma diferença individual ou coletiva se converteu no impulso de uma série inteira de movimentos políticos; certamente, suas exigências só podem ser cumpridas a longo prazo quando ocorrem mudanças culturais que acarretam uma ampliação radical das relações de solidariedade.

De forma análoga, Touraine (2006; 2007) escreve sobre as possibilidades de novos relacionamentos serem criados pelos encontros de indivíduos que mutuamente vão estabelecendo compatibilidades a partir de suas próprias subjetivações, ou seja, vão se tornando promotores de ações coletivas e desenvolvendo práticas que dinamizam processos e compõem novos e/ou renovados fenômenos. Os indivíduos imprimem em suas práticas, na equação com o diálogo com o outro, a possibilidade de criação, de confrontação, de ser sujeito ativo de transformação dos espaços em que participa efetivamente. Essa perspectiva abre um campo de investigação ainda mais instigante às Ciências Sociais, em que se observa, num contexto muito mais interativo e dinâmico, manifestações de toda ordem de expressões, compondo agregações complexas pela presença de indivíduos que se tornam atores sociais por suas ligações em comum ou divergentes, compondo projetos, espaços de identificações e diferenças, ou seja, consensos e dissensos.

Frente às novas redes de interações e influências, indivíduos se tornam mais performáticos, obrigando-se a tornar-se mais reflexivos em suas ações, o que promove, inclusive, o redirecionamento do foco de atenção de parte da teoria sociológica, ao perceber o vigor de novos canais de interação e de maleabilidade do elemento humano frente a novos contatos e interações que os envolve. Norbert Elias (1994) pontua que, por certa maleabilidade e adaptabilidade das funções relacionais humanas existentes em um determinado momento histórico, o teor da

circunscrevendo uma composição entre liberdade e integração por parte dos sujeitos envolvidos. Por outro enfoque, elucida também Yúdice (2006, p. 53-4), que a própria cultura se tornou um recurso a ser explorado pelos indivíduos, visto que “[...] à medida que a globalização se aproxima de culturas diferentes para contato mútuo, ela aumenta o questionamento das normas e, com isso, instiga a performatividade”. Ou, ainda, nas palavras de Giddens (1991) ao tratar da ação dos indivíduos, a globalização gera maior reflexividade dos indivíduos. Impelidos a traçar ações e agir sobre a ação dos outros a medida em que transcendem valores e práticas antes geralmente circunscritas a um único território e a uma única dinâmica cultural.

Em síntese, pelo teor de importância que ganha a reflexividade por parte de indivíduos que se tornam atores sociais por suas convivências mútuas, abrem-se campos de investigação para observar-se as margens de performance que se estendem via mecanismos de instituições e do Estado.

A concepção moderna de Estado-nação, como arcabouço político-territorial representativo da sociedade – instituição que muitas vezes é a projeção da própria sociedade – todavia, entra em relativa letargia. Maior reflexividade e performance, nessa perspectiva, promovem, ao mesmo tempo que são promovidas, um teor de liberdade e “descolamento” das sociedades tradicionais2 (ou eminentemente institucionalizadas). Buscando entender esse processo e transferindo o debate para o acolhimento da Sociologia Contemporânea, com o propósito de pensar as novas possibilidades de buscar-se entender as dinâmicas e as lógicas das ações dos atores sociais, Dubet (1994, p. 90-91) considera:

[...] a reflexão sobre a ação social parece estabelecer hoje um princípio de unidade do pensamento sociológico para além da diversidade dos paradigmas. É esta diversidade, precisamente, que constitui o problema e, melhor do que ver nela os elementos desmembrados de um modelo “original” e mítico, dado que é criador, preferirei interpretá-la como o desnudamento de lógicas de ação separadas pouco a pouco pela história das nossas sociedades. De fato, o tema central é o do próprio esgotamento da ideia clássica de sociedade, por pouco que se aceite dar a esta noção um sentimento preciso. Se a “sociedade” deixou de ser uma representação adequada, se já não é identificável com um sistema, se já não tem um centro e unidade, então é preciso pensar que a dispersão de lógicas de ação passa a ser a regra. A multiplicidade dos paradigmas de ação resulta

2Sociedades tradicionais aqui classificadas como aquelas que possuem um maior teor de rotinização das condutas dos sujeitos, cujo horizonte da ação é relativamente fixo e comum, ao contrário de sociedades de alta modernidade em que o âmbito de conexões e relações se intensificam e se tornam mais imprevisíveis as rotinas e dinâmicas sociais.

desta mutação. Ela convida “empiricamente” a que se oponha a noção de experiência à da ação da sociologia clássica.

Em outros termos, quer dizer que as ferramentas da Sociologia Clássica, que analisam grandes sistemas e estruturas de poder, se tornaram exclusivamente frágeis para entender ações e fenômenos sociais concretos. As ações sociais desenvolvidas por atores, em sociedades muito complexas e dinâmicas, devem ser o foco das atenções caso queiramos entender a dinâmica relacional e a heterogeneidade de elementos que se estabelecem nas próprias relações desenvolvidas. Em certo sentido, o ator nunca é totalmente socializado porque a ação não tem unidade, não é redutível a um programa único, a um sistema fechado de valores. Ao contrário, podemos destacar múltiplos registros culturais que se cruzam, não havendo mais conduta social que não seja interpretada pelos próprios atores.

Cabe esclarecer, por sua vez, que os atores não vivem num vazio cultural, mas são elementos que carregam suas disposições sociais construídas mediante suas experiências e trajetórias de vida. O que os torna plurais na profundidade de suas próprias vivências e socializações desenvolvidas, naquilo que aprendem, que desenvolvem e que incorporam como valores e insígnias das sociedades e grupos que mantêm contatos (LAHIRE, 2001). Dessa forma, realmente podemos constituir um profundo processo de confluências epistemológicas que não se circunscreve apenas à dimensão infraestrutural e dos conflitos no âmbito do trabalho e da forma de “ganhar a vida”. Mas que pode ser entendido na seara das ações sociais e dos circuitos de sentidos dados pelos atores a partir de seus aportes contextuais, relacionais e de suas movimentações.

Segundo Dubet (1994), há três condições lógicas básicas para se entender as ações dos atores vivendo em grupos e em sociedades. Os atores sociais perfazem suas ações a partir das lógicas da integração, da estratégia e da subjetivação, todas independentes uma das outras. Essas lógicas se manifestam em diferentes âmbitos da participação dos atores sociais na medida em que estabelecem relações sociais, seja mediante experiências em grupos religiosos, escolares, comunitários, no trabalho, enfim, onde há possibilidade de manifestação social por parte daqueles que atuam e formam vínculos e experiências mútuas. Ações que perfazem a lógica da integração possuem características assimilatórias às convenções dos grupos e dos arcabouços institucionais que estruturam comunidades e sociedades. Ao atuar

em sociedade, nos diz Dubet, buscamos estar inseridos em um ambiente relacional, haja vista necessitarmos estar integrados a um ritmo de convivência e compartilhamento de hábitos, formas e percepções da vida e do mundo. Enfim, para sentirmo-nos integrados a um ambiente e seguros de nossos movimentos, necessitamos identificar-nos com quem nos acolhe e com quem podemos conviver confluindo entendimentos e compartilhando espaços coletivamente.

Por outro lado, não menos importante, está a capacidade, como seres reflexivos que somos, de traçarmos cálculos estratégicos no jogo de possibilidades da realidade em que vivemos e nos relacionamos. Podemos ser proponentes de ideias e atuar de forma pragmática no campo de relações. Dubet destaca em seu trabalho que não podemos descartar o cálculo lógico de nossas ações, racionalizando-as, visto que em determinados momentos buscamos nossos interesses e manipulamos práticas voltadas a fins projetados por nós mesmos. Somos seres estratégicos em nossa reflexividade arguta ao explorar os meios para se atingirem fins, embora eles possam não ser tão nítidos e conscientes, num primeiro momento.

Em consonância em entender o caráter mais complexo das ações dos indivíduos, descartando qualquer tipo de determinismo e apriorismo, Dubet também observará as razões subjetivas do elemento que faz a ação. A lógica da subjetivação dos atores sociais, em sua manifestação, está condicionada às próprias experiências históricas dos sujeitos e de sua busca por autonomia; amparada, por conseguinte, na cultura e em formas que marcam a condição humana, como reações e resistências ao status quo e a poderes constituídos. Tal lógica caracteriza- se pelo aspecto da resistência à homogeneização social e aos aportes hegemônicos que tentam normatizar a realidade social. Por esta lógica, a referência ao Eu se constrói pela experiência e pelos registros singulares do indivíduo, mas que estão amplamente relacionados à trajetória tensionada em relação a outros indivíduos e a instituições normatizadoras.

Observamos, a partir desses elementos conceituais dispostos por Dubet, que a ação dos atores é possibilidade fundamental para perceber os próprios condicionamentos e as práticas dos indivíduos, bem como os arcabouços contextuais e movimentos reflexivos executados pelos atores vivendo em sociedades. O que torna fundamental isso tudo para entender-se a própria sociedade e suas múltiplas conformações. Ou seja:

O fato de o ator se afirmar como sujeito, naquilo que é essencial, na crítica, na distância ou no empenhamento, e de ele, em todos os casos, se demarcar da evidência e da ordem das coisas mediante o recurso a princípios cuja a generalidade é suficiente para permitir a crítica, não deve, no entanto, levar a crer que esta espécie de autodeterminação nada deve à sociedade. (DUBET, 1994, p. 151)

Nesse sentido é que podemos considerar as experiências dos indivíduos nas tramas das relações sociais, observando uma composição de elementos em constante processo, incluindo confluências e embates, jeitos de ser ou estar, à medida que as ações praticadas também são pensadas e entendidas por aqueles que as executam. Os sujeitos não são simples reflexos de sistemas unitários. Todavia, a ação em si é uma forma de interação, de uma ação proveniente da relação com o outro e com tudo aquilo que historicamente foi ou é produzido no presente. A ação do ator, por seu turno, pode ser considerada também como um reflexo de uma gestão relacional de si, expressão cunhada por Guy Bajoit (2006), em que os atores fazem escolhas, permutam suas práticas, desafiam e entram em conflitos mediante o desenvolvimento de suas socializações e trocas. E, assim, estabelecem consensos e dissensos em momentos iguais e diversos, nos transcursos de suas trajetórias e contatos.

Ao abordar a perspectiva de estudar as tramas urbanas, mantendo de certa forma a abertura para entender-se a ação do sujeito, Telles (2010, p. 13) enfatiza que: “no curso de suas vidas, indivíduos e suas famílias atravessam espaços sociais diversos, transitam entre códigos diferentes, seus percursos passam através de diversas fronteiras e são esses traçados que podem nos informar sobre a tessitura do mundo urbano”. Assim, temos a possibilidade de perceber, mediante as trajetórias e tramas sustentadas pelas lógicas e práticas dos atores, as confabulações relacionais e mobilizações dos sujeitos, as relações e os desenvolvimentos que se estabelecem na sociedade e por ela são também definidos. Com este intuito, Telles (2010, p. 21) também dirá que:

Se é verdade que o cenário urbano vem sendo alterado em ritmos muito acelerados, os vetores dessas mudanças operam em situações de tempo e espaço. Processos situados, portanto. E agenciados por um jogo multiforme de atores, de redes sociais e mediações de escalas também variadas. Por isso mesmo, só podem ser bem compreendidos nessas constelações situadas. Este é o pressuposto que orienta nosso trabalho: não se trata de partir de objetos ou entidades sociais tal como se convencionou definir de acordo com os protocolos científicos das ciências sociais (o trabalho, a família, a moradia), mas, sim, de situações e configurações sociais a serem tomadas como “cenas descritivas”, que permitam seguir o traçado dessa

constelação de processos e práticas, suas mediações e conexões. E, no contraponto entre cenas descritivas diferentes, a transversalidade das questões que se colocam.

Por essa perspectiva analítica, no contraponto de cenas que possam ser descritas, a Sociologia pode também trafegar e dar ênfase às ações dos atores quanto às suas buscas por se manterem integrados a uma sociedade de alta modernidade, mesmo que a insegurança e as incertezas dominem o quadro atual dos relacionamentos. De mais a mais, os atores também atuam a partir de lógicas do cálculo estratégico, de acordo com suas disposições culturais que os tornam também seres subjetivos no encaminhamento de suas escolhas e meios para solução de conflitos. Cabe aos cientistas sociais, segundo esse arcabouço epistemológico, também percorrer e descrever trajetórias, transcrevendo a heterogeneidade do ator e de suas expressões, nunca os tornando autômatos daquilo que definimos a priori o que seja a sua realidade.

Essa é a ideia constituidora de nosso trabalho. Não temos, em função disso, a intenção de dicotomizar as ações dos sujeitos, separando, por exemplo, esferas do trabalho e da vida íntima, mais especificamente, da vida laboral e do espaço da casa e da família. É primordial, nesse enfoque, no qual nos filiamos a Telles, perceber o trabalho e a moradia como elementos interconectados. E, do mesmo modo, com outros que compõem a complexidade da vida e da totalidade das experiências dos atores sociais em suas práticas e hábitos, como o espaço da religiosidade, da educação, das relações comunitárias e das manifestações políticas e reivindicativas frente aos poderes constituídos do Estado. O ideário de uma sociedade planificada pela relação bipolar do mundo do trabalho e da moradia tornou-se frágil como forma de interpretação da realidade. O mundo ordenado da concepção do trabalho fordista, articulado ao consumo, e da reprodução social sistemática do trabalhador, ruiu diante de novas frentes e concepções do trabalho, da reflexividade produtiva, das recorrentes mudanças e exigências que os circuitos do trabalho nos impõem e são também ajustados por nós mesmos. Diante disso, a interface entre a Sociologia e a Antropologia está posta neste trabalho e nos indica a possibilidade de um trabalho interdisciplinar e envolvente teoricamente.

Uma ressalva, porém, deve ser feita nessa reflexão, que entendemos ser importante esclarecer para a continuidade deste trabalho. O historiador e antropólogo Michel de Certeau, autor do livro A invenção do cotidiano: a arte de

fazer (1998), chama a atenção a um aspecto que se torna fundamental para o entendimento da dimensão da ação dos sujeitos em sociedade, que queremos frisar. Ele discutirá a diferença entre a ação estratégica comparada à dimensão da ação tática dos sujeitos sociais. Segundo Certeau, a ação estratégica, em linhas gerais, é condicionada pelo sujeito em seu campo de domínio. O sujeito da ação é estrategista porque planeja seus objetivos, pois tem o poder de indução das ações dos outros elementos sociais com os quais se corresponde ou mantém contato em seu ambiente de força. Dessa forma, a ação estratégica tem um teor de propulsão reflexiva respaldada no planejamento e pelas relações de dominação de quem executa o movimento. Já o movimento tático, esclarece ao embasar a sua teoria, caracteriza-se pela ação predominantemente reativa dos sujeitos “ordinários”, isto é, dos sujeitos comuns, fora de sua esfera de domínio. Esses sujeitos comuns, por sua vez, seriam suscetíveis a atores com poderes mais substantivos e hegemônicos na sociedade. Mas nem por isso deixam de usar de sua astúcia e da arte de fazer as coisas que lhe são impostas de seu jeito próprio de atuação, usando recursos táticos e adaptando-se ao movimento alheio ao seu. Ou seja, na operação tática os sujeitos são reativos aos movimentos dos outros, embora deem algo de si ao processo de fazer o movimento, ajustando a ação ao processo imposto, no campo de atuação alheio ao seu.

A astúcia na arte de fazer, a bricolagem desenvolvida, esboça a ação dos sujeitos que se encontram no ambiente de domínio do outro, estabelecendo, de certa forma, uma condição própria de atuação, mediante as relações e os mecanismos de outras forças estabelecidas. O sujeito fora de sua área de maior poder, age, assim, mais pela astúcia que desenvolve, aproveitando as brechas e possibilidades no como fazer, dando determinados termos ao imprimir seus hábitos no que é condicionado pelos agentes que detêm predominantemente as diretrizes do poder ou de determinada feitura das coisas.

Nesse sentido, a reflexão de Certeau também contribuirá com o debate teórico que respalda as ações dos atores sociais e de sua maleabilidade histórica e cultural adquirida e dinamizada, dentro da dimensão das atividades dos sujeitos e da complexidade social. Com ele podemos ponderar e buscar entender qual o local em que o sujeito se encontra ao fundar determinadas ações e como desenvolve processos de atualização e de atuação por si mesmo à medida que executa ações e cruza espaços sociais próprios ou condicionados pelos outros.

Considerando os aspectos táticos ao tratar do sujeito comum, Certeau (1998, p.88-89) afirma:

A ordem efetiva das coisas é justamente aquilo que as táticas “populares” desviam para fins próprios, sem a ilusão que mude proximamente. Enquanto é explorada por um poder dominante, ou simplesmente negada por um discurso ideológico, aqui a ordem é representada por uma arte. Na instituição a servir se insinuam assim um estilo de trocas sociais, um estilo de invenções técnicas e um estilo de resistência moral, isto é, uma economia do ‘dom’ (de generosidades como revanche), uma estética de ‘golpes’ (de operações artísticas) e uma ética da tenacidade (mil maneiras

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 61-71)