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Variáveis relacionadas

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 149-155)

4 ESPAÇO SOCIAL DE TRABALHO E O PERFIL DO CATADOR EM PASSO

4.1. ADENSAMENTO E ACELERAÇÃO URBANA NA REGIÃO DA PRODUÇÃO

4.2.2 Variáveis relacionadas

Para maior compreensão das características que os diferenciam e os tornam semelhantes, organizamos mais um bloco das variáveis já apresentadas que circunscrevem os catadores de materiais recicláveis. Aqui elas estarão dispostas e relacionadas entre si para maior percepção das qualidades e disposições que contornam e amplificam esses atores sociais.

a) Sexo e Integração a uma associação de trabalho

Destacamos na Tabela 3, como previamente tínhamos sinalizado, um maior conjunto de pessoas do sexo feminino integrando as associações formais de trabalho: 62,3% das mulheres questionadas faziam parte de associações de trabalho, contra 20,9% dos homens entrevistados. Isso quer dizer que encontramos mais homens nas ruas fazendo o trabalho de catação e mais mulheres nas associações formais de trabalho coletivo. Aprofundaremos empiricamente ainda mais esta condição, buscando aportes para compreender esse fenômeno.

Tabela 3 – Sexo e integração a um trabalho associativo formal, em percentual

SEXO INTEGRA ASSOCIAÇÃO DE TRABALHO

Sim Não TOTAL

Masc. Fem. TOTAL

20,9 62,3 39,2 79,1 37,7 60,8

100 100 100

De qualquer forma, percebemos que, em algumas associações, essa predominância é ainda mais saliente, principalmente naquelas em que há um grupo historicamente consolidado de mulheres, o qual denominamos associados históricos. Essa denominação faz sentido na medida em que, para este grupo de associados consolidados, as associações de trabalho já se tornaram uma proposição de suas vidas, com vínculos que estruturam sua forma de ser e permeiam seus hábitos cotidianos. Esse fenômeno é amplamente percebido, e alguns catadores relataram que o grupo a que estão vinculados transcende a mera forma de ganhar dinheiro, pois lhes possibilita maior integração social e ajuda mútua (aqui traduzo um sentimento, principalmente, das catadoras, embora não utilizem este tipo de argumentação aqui explicitada).

Outra compreensão possível de ser analisada e aprofundada conjuntamente com o quesito relações de gênero, com essas e outras formulações, são os níveis hierárquicos de poderes entre os associados e suas repercussões na órbita do trabalho, como questões envolvendo violência doméstica, religião, entre outros aspectos.36

b) Integra associação de trabalho e ganhos financeiros

Como expusemos no primeiro bloco de questões, a variável renda nos possibilita observar um nível de heterogeneidade relativo no montante dos ganhos dos catadores. O maior percentual de ganhos fica na faixa de 17,5% para quem ganha de 601 a 800 reais, não distando de forma considerável de outras 4 faixas de rendimentos que estão acima e abaixo desses ganhos médios por mês. Em geral, os menores índices percentuais do contingente estratificado por rendimento ficam nas faixas extremas – 50-200 e mais que 2.001 reais – (Tabela 4). Apenas uma faixa do meio da tabela – 801 a 1.000 Reais – fica substantivamente com índice inferior a outros indicadores de renda que estão no seu entorno. Fator a ser considerado a partir de outras informações que dispomos e por nossas próprias observações é de que os associados que ganham mais estão concentrados na maior cooperativa da

36 Observamos um leque de opções que pode ser mote para ser explorado em seu devido tempo. Nossa opção aqui é traçar um panorama geral e perpassar amplamente por algumas categorias que conformam o perfil e a realidade desses trabalhadores, o que nos faz adentrarmos ainda na complexidade das relações e questões que envolvem os núcleos de relações e trabalhos desenvolvidos por esses atores e que, infelizmente, não poderão ser abordados exaustivamente por um único trabalho científico. Mas devem, pelo menos, ser apontados como possíveis problemas de pesquisas de futuros trabalhos que tenham por perspectiva compreender uma parte da gama de aspectos que possam estar relacionadas a este público a que nos atemos aqui.

cidade (Recibela), conforme já expomos, pois fica a sua disposição um grande montante de material para ser selecionado na Cooperativa.

Por outra via, há catadores com maiores ganhos que se caracterizam por serem não associados, mas que desenvolveram estratégias de trabalho com maior estrutura instrumental (possuem caminhonetes, gaiotas e um aporte de contatos com doadores construídos ao longo do tempo). Ou aqueles com características de tratar o trabalho como um negócio ao estilo empresarial, tendo recursos para tal empreendimento; alguns até compram de outros catadores e já arregimentam outro montante de trabalhadores para executarem atividades em suas dependências. Esses catadores, de certa forma, estão próximos de se tornarem essencialmente atravessadores do processo de compra e venda de materiais reciclados no município, explorando a mão de obra de colegas de profissão, utilizando o jargão tradicional.

Tabela 4 – Integra associação formal de trabalho e média de ganhos financeiros em reais com a reciclagem, por mês, em números percentuais

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

Por outro lado, até 800 reais é o montante de quem trabalha mais na rua ou em pequenas associações com dificuldades para se manterem ativas e produtivas na totalidade do tempo. A faixa de 801 a 1.000 reais, aquela faixa que recebeu poucos registros, no meio da tabela, é uma faixa realmente intermediária (limítrofe) daqueles que possuem mais dificuldades de rendimentos e aqueles melhores

INTEGRA ASSOCIAÇÃO DE TRABALHO MÉDIA DE GANHOS COM A RECICLAGEM (MÊS)

NR 50 A 200 201 A 400 401 A 600 601 A 800 801 A 1.000 1.001 A 1.500 1501 A 2.000 2.001 A 2.500 Mais que 2.500 TOTAL

Sim Não TOTAL

27,7 6,9 15,0 0,0 6,9 4,2 4,3 21,9 15,0 8,5 15,1 12,5 14,9 19,2 17,5 0,0 5,5 3,3 25,5 11,0 16,7 19,2 5,5 10,8 0,0 2,7 1,7 0,0 5,5 3,3 100 100 100

colocados, ou seja, com maior poder para desenvolverem estratégias de trabalho em suas escolhas. Os que não responderam são basicamente associados novos inseridos nas cooperativas que ainda não receberam ou receberam em parte algum resultado de trabalho.

Talvez o aspecto mais importante, o traço mais original desta tabela, esteja na possibilidade de mostrar que os catadores associados se posicionam em faixas de ganhos diferenciadas. Se agruparmos duas faixas de ganhos, criando uma terceira (401-800), temos um contingente de associados de 23,4%. Esses associados estão estabelecidos em associações menores, com menor aporte de recursos de materiais levados até elas (Coama, Arevi, Contraempo), diferente daqueles associados que fazem parte da maior cooperativa de reciclagem do município, com ganhos nas faixas entre 1.001 a 2.000 reais. Em sua maioria, os catadores não associados conseguem equivaler ou superar os seus ganhos apenas dos associados que possuem rendimentos menores, não superando os associados da Recibela, salvos alguns que conseguem até superar os rendimentos desse grupo associativo, conforme já tínhamos apontado. De qualquer forma, a faixa financeira em que há maior equilíbrio entre associado e não associado é a faixa de 601 a 800 reais, valor abaixo do salário-mínimo nacional, que é de 880 reais, e da menor faixa do salário- mínimo regional do Rio Grande do Sul, que é de R$ 1.006,88 (referências do ano de 2015 quando o levantamento foi realizado).

c) Sexo e idade

A relação sexo e idade apresenta em nossa amostra uma paridade entre as variáveis, com uma pequena sinuosidade numérica ora para um gênero, ora para outro, nas escalas de idade criadas para esta pesquisa (Tabela 5).

Podemos observar também uma leve tendência, em termos gerais, de que à medida que a idade aumenta, os homens são a maioria a partir da idade em torno de 50 anos. De qualquer forma, não podemos ser determinantes neste e em outros quesitos desse levantamento.

Tabela 5 – Sexo e idade, em números absolutos SEXO IDADE NR 10 A 15 16 A 20 21 A 25 26 A 30 30 A 40 41 A 50 51 A 60 61 A 70 71 A 80 Mais de 80 TOTAL

Masc. Fem. TOTAL

0 1 1 1 0 1 0 4 4 5 2 7 4 6 10 14 12 26 12 16 28 16 10 26 12 1 13 2 0 2 1 1 2 67 53 120

Fonte: questionário socioeconômico elaborado pelo autor (2015).

d) Sexo e escolaridade

De forma semelhante às variáveis anteriores, há pouca significância quantitativa nas categorias informadas (Tabela 6) quanto a sexo e escolaridade, uma vez que os dois gêneros correspondem de forma semelhante. A escolaridade é muito homogênea e concentra-se nas séries iniciais da formação escolar. De todas as informações e dos dados estatísticos, a escolaridade é o fator mais semelhante entre todos os catadores que tivemos a oportunidade de conversar. São raríssimos os casos de pessoas que ainda estudam ou que têm a intenção de retomar as atividades escolares de forma regular.

Tabela 6 – Sexo e escolaridade, em números absolutos

SEXO ESCOLARIDADE

Sem instrução ou fund. incomp. Fundamental comp. ou médio incomp. Médio comp e superior incomp. Superior completo

TOTAL

Masc. Fem. TOTAL

52 44 96

9 8 17

6 1 7

0 0 0

67 53 120

e) Ouviu falar do MNCR e escolaridade

A maioria dos catadores desconhece o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, conforme representado na Tabela 7. Grande parte daqueles que dizem conhecer o MNCR ainda o confunde com outros movimentos ou com antigas políticas públicas que visavam organizar os catadores em associações de trabalho em Passo Fundo, principalmente ações desenvolvidas pela Prefeitura. Uma parcela menor que diz conhecer o Movimento está ligada à Cooperativa Recibela, pois representantes do MNCR estiveram na Cooperativa uma única vez para conversar com os associados (lembremos que o ano deste levantamento é 2015). Na oportunidade que fizeram tal reunião, cadastraram os catadores no Movimento e deixaram uma bandeira estampada na parede do pequeno escritório da Cooperativa, a qual visualizamos. Muitos catadores da Recibela, porém, lembram-se pouco do que foi discutido pelo grupo do MNCR. Basicamente relataram-nos que os integrantes do Movimento estavam ali para auxiliá-los na mobilização e que deveriam unir-se para avançar nas conquistas, além de valorizar o seu trabalho. Ou seja, mesmo aqueles que dizem ter conhecido pessoas do MNRC, possuem baixo conhecimento sobre a história desse movimento social e dizem não fazer parte de suas ações, embora tenham sido cadastrados nele.

Quanto à escolaridade relacionada a este item – Ouviu falar sobre o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – não há nenhuma significância estatística, mesmo porque, conforme item “d” anteriormente apresentado, a condição escolar dos questionados é muito homogênea e se encontra na linha referente a “Sem instrução ou fundamental incompleto”, não dando margem substantiva para qualquer outra variação.

Tabela 7 – Ouviu falar do MNCR e escolaridade, em números absolutos

22- MNCR ESCOLARIDADE

Sem instrução ou fund. incomp.

Fundamental compl. ou médio incomp. Médio compl. e superior incomp. Superior completo

TOTAL

NR Sim Não TOTAL

1 41 54 96

1 5 11 17

0 4 3 7

0 0 0 0

2 50 68 120

No documento ARI ROCHA DA SILVA 2018 (páginas 149-155)