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“A dança faz sentido e cria novos sentidos, tanto para aquele que dança quanto para aquele que aprecia. Como numa grande teia, tais sentidos se entrecruzam, transformam-se e geram outros infinitamente”.

Karenine Porpino

Foi nessa proposição desvelada por esta professora, pesquisadora, bai- larina e escritora, afirmada no livro “Dança é Educação: interfaces entre corporeidade e estética”36 que a dança se apresentou para a

comunidade do Potengi. Inicialmente, como uma temática da disci- plina Educação Física para os alunos dos 2º anos dos cursos de Meio Ambiente e Edificações, na perspectiva de vivenciar a dança e refletir sobre o corpo que ao dançar comunica, sensibiliza, emociona e educa. O corpo, ao expressar-se com todas as gestualidades e expressões 36 Livro publicado em 2006.

possíveis e criativas, provoca o homem a refletir sobre essa linguagem que permeia os sentidos e evidencia uma realidade que nem sempre é explicável. Ultrapassar obstáculos, vencer a timidez, expor emoções e desvelar gestualidades foram alguns dos objetivos dessa vivência arrebatadora.

A dança ultrapassa a concepção de arte e se estabelece como um modo de viver. Pois, desde os primórdios das sociedades, o homem se afirma como membro de uma comunidade através dos cantos e das danças. Para Garaudy (1980), dançar é viver, é partilhar, é celebrar e se constitui como uma forma de expressar as relações do homem com a sociedade. Ao dançarem, os dançarinos comunicam todo um uni- verso de códigos e símbolos que afetam a cinestesia de quem os apre- cia. Nóbrega (2015), traçando a relação entre o artista e o espectador anuncia:

Através da arte, o espectador é convidado a sen- tir fortes emoções, como o medo, a piedade ou o entusiasmo se cair no desespero ou em um perigo real. Após a experiência dessa sensação de angús- tia, um suspiro de alívio denota um novo senso de equilíbrio. Em público essa estesia contribui também para reforçar o sentimento de comuni- dade, pois partilhamos essas emoções que ligam razão e afetividade em uma dimensão estética. (NÓBREGA, 2015, p. 118).

Atingir, provocar, desequilibrar, compartilhar o espaço do outro, tanto do dançarino quanto do apreciador, sensibilizar pelo movimento da dança, arte que representa e simboliza um universo de códigos e condutas. Ainda referenciando Nóbrega (2015), vale suscitar quando esta autora recorre a Merleau-Ponty (2002) sobre a condição de des- velar um corpo estesiológico e aponta:

Atingir o espaço sensível do coração, aquele onde estamos situados e que é heterogêneo, tendo rela- ção com nossas particularidades corporais, nossos desejos, nossas preferências, memória. É pre- ciso, então, questionar o dogmatismo, a coerên- cia do mundo, do pensamento do homem adulto, civilizado. Somos convidados, amorosamente, a reexaminar, sem complacência, a redescobrir toda espécie de fantasma, devaneios, fenômenos obscuros onipotentes em nossa vida particular e pública. Somos motivados a buscar as lacunas nas quais se insinuam a poesia e a criação, o senti- mento e a expressão não como julgamento trans- cendental, juízo ou crítica de valor estético ou moral, mas como transformação de si e de nossas relações com o outro e com o mundo. A noção de estesiologia como conhecimento do corpo e de suas sensações desperta nossos potenciais de transformação, de invenção, de criação da vida, afecções de corpo e partilhas sociais por meio da linguagem, da comunicação e da expressão. (NÓBREGA, 2015, p. 101).

Proporcionar uma experiência estética com a dança, na disciplina Educação Física, implica um longo caminho a percorrer, inúmeros obstáculos a serem ultrapassados, entre eles: concepções machistas que veem a dança como exclusividade do gênero feminino, questões religiosas, o contato físico mais próximo com o outro, reflexão sobre a influência da mídia sobre a dança e formas de dançar, entre outros. Porpino (2011) chama a atenção que o ensino da dança no Ensino Médio deve favorecer a compreensão, a apreciação e a participação dos alunos nas produções de dança em seus contextos culturais e a refletir a dança como conhecimento e não como mero entretenimento. Essa autora também ressalta que é relevante o professor considerar a diversidade cultural das danças presente no universo dos jovens, bem

como a amplitude de acesso à informação e às tecnologias pertinentes ao seu meio sociocultural.

Para o ensino da dança há uma diversidade de procedimentos metodológicos que podem ser utilizados, dentre eles: leituras de textos, leituras de poesias, leituras de letras de músicas, apreciação de vídeos e filmes, provocando o olhar a partir de questões problematizadoras, análise de coreografias considerando os elementos coreológicos, tra- balhos em grupo, improvisação ou composição coreográfica a partir de temas, objetos, palavras, características gestuais de danças já existentes, apreciação de espetáculos, aprendizado de gestos técnicos de danças específicas, pesquisas de campo ou na internet, entre outros. Procedi- mentos utilizados e comprovados por professores de dança, como; Por- pino (2011), Tiburcio (2006), Barreto (2004), Medeiros (2011), e outros. É válido salientar que o objetivo em desenvolver uma produção cultural de forma crítica na dança fomentou nos alunos do IFRN/ SPP37 a apreciação, a vivência e o reconhecimento de que, dançando

se pode produzir arte, assim como por ela ser sensibilizado. É impor- tante ressaltar que a escola não é espaço de formação de bailarinos. Para este fim existem as companhias de balé. Entretanto, o objetivo da proposta lançada no início do semestre de 2015 em compor uma coreografia a partir dos elementos da coreologia38 foi alcançado. Oito

coreografias foram apresentadas no Auditório do IFRN/SPP nos turnos matutino e vespertino, sendo o processo de escolha da metodologia, da composição coreográfica e da avaliação apresentado no decorrer deste trabalho.

37 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte,

Campus São Paulo do Potengi (IFRN/SPP). Nomenclatura utilizada para situar o leitor

de qual Campus do IFRN o trabalho foi produzido.

38 A Coreologia compreende o estudo incessante do movimento humano por Rudolf Laban (1978), onde além dos aspectos mecânicos, a expressividade era o fator fundamental. Assim, a Coreologia enquanto a ciência da dança engloba o estudo dos elementos que constituem essa arte, sendo eles o dançarino, o movimento, o espaço e o som.