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As mudanças recentes ocorridas no Código de Processo Penal são uma nova tentativa de mudança na regulamentação do inquérito policial e foram implementadas por meio a Lei nº 13.964/2019, denominada de Pacote Anticrime374.

Um dos pontos mais controversos, e que está suspenso no momento em razão de decisão cautelar do Ministro Luiz Fux nos autos das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 6298, 6299, 6300 e 6305375, é a criação do juiz das garantias, que exerceria o controle da investigação criminal (art. 3º-A e ss). O grande fundamento é a ideia de que o juiz atuante na fase preliminar da persecução penal (inquérito policial) e que tem contato com elementos de investigação, pode ter sua imparcialidade maculada em razão de preconcepções sobre a atuação delituosa do investigado. Assim, na fase anterior à denúncia existiria um juiz que seria responsável pela garantia dos direitos fundamentais, e após a denúncia, um outro juiz seria o responsável pela instrução judicial e pela prolação de sentença. Dentre as competências que seriam do juiz de garantias, destacamos: decidir sobre a prisão em flagrante e eventual cautelar, inclusive com a realização de audiência de custódia; decidir sobre medidas de investigação (requerimentos de busca e apreensão, interceptação telefônica, quebras de sigilo etc.); decidir sobre o recebimento da denúncia; decidir sobre a homologação de colaboração premiada ou acordo de não persecução penal376.

Um dos dispositivos destacados é o previsto no art. 3º-B, inciso IV, que determina que o juiz das garantias deve ser informado sobre a instauração de qualquer investigação377. É um dispositivo de fundamental importância e que, diante dos meios de comunicação atuais,

373 AGRA, Wendell Beetoven Ribeiro. O controle da eficiência da atividade policial pelo Ministério Público. 2016. 345 f. Dissertação (Mestrado em Segurança Pública) – Instituto Universitario de La Polícia

Federal Argentina, Buenos Aires, Argentina, 2016. p. 176.

374 BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e processual penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3. Acesso em: 04 jul. 2020.

375 Idem. Supremo Tribunal Federal. Ministro Luiz Fux suspende criação de juiz das garantias por tempo

indeterminado. Disponível em:

https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=435253&ori=1. Acesso em: 10 abr. 2020. 376 Idem. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e processual penal.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm#art3. Acesso em: 04 jul. 2020.

inclusive do processo eletrônico, não causaria transtornos para autoridade policial. É uma forma de registro, controle e acompanhamento dos inquéritos policiais, que atualmente ficam num limbo.

Outro dispositivo modificado no CPP pelo Pacote Anticrime determina a necessidade de existência da devida defesa técnica nos procedimentos investigatórios cujo polo passivo seja algum servidor da polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros militares, polícias penais federais, estaduais e distrital, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) (art. 14-A)378.

A referida alteração legislativa obriga que o investigado seja citado sobre a instauração de procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação e, caso não o faça, deverá ser intimada a instituição a que está vinculado o investigado para que indique defensor para a representação do investigado. Necessário se fazer um destaque de erro técnico ao constar citação, visto que citação só ocorre na fase processual. Dessa forma, entende-se que o mais adequado seria a notificação do investigado. Não obstante, justamente naquelas situações em que se está investigando abuso de autoridade ou excesso da atuação da força policial, a autoridade policial ou o Ministério Público, ao instaurar o procedimento investigatório, tem que imediatamente comunicar ao investigado, o que pode resultar na completa ineficiência da investigação, que já costumam ser complexas justamente por receio das possíveis testemunhas em colaborar com as investigações.

Houve a alteração também na sistemática de arquivamento de inquérito (art. 28). Antes, o juiz poderia discordar do pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público e remeter a questão para órgão superior interno da instituição acusatória. Dessa forma, a denúncia poderia ser oferecida por outro membro do Ministério Público ou o pedido de arquivamento mantido. Tal regramento era criticado em razão de violação ao sistema acusatório. A nova redação do art. 28 exclui o controle judicial sobre o arquivamento da investigação preliminar. Agora o inquérito será remetido para homologação ao órgão superior no próprio Ministério Público e a vítima poderá se manifestar, se discordar do arquivamento.

378 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 04 jul. 2020.

Esse dispositivo veio em boa hora, contudo, encontra-se suspenso em razão de liminar deferida ad referendum pelo Ministro Luiz Fux nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6299, em 22 de janeiro de 2020, e que ainda não foi analisada pelo plenário do STF379.

Um ponto de destaque relativo à atuação do Ministério Público na fase preliminar de investigação implantado pelo Pacote Anticrime é o acordo de não persecução penal (art. 28- A). O novo dispositivo diz que, não sendo o caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave

ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Embora o tema já tivesse regulamentação por meio da Resolução nº 181/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público, um dos argumentos contrários a sua utilização era a reserva de lei em matéria processual. Assim, com entrada em vigor das alterações do Código de Processo Penal, espera-se que esse mecanismo negocial seja amplamente utilizado e que gere mais celeridade, eficiência e resolutividade na persecução criminal.

Por fim, também foram modificados no Código de Processo Penal pelo Pacote Anticrime dispositivos sobre a alienação de coisas apreendidas (art. 122, art. 124-A, art. 133 e art. 133-A), ilicitude de provas (art. 157, §5º), regulamentação sobre a cadeia de custódia da prova (art. 158-A e ss), audiência de custódia (art. 310), medidas cautelares pessoais (art. 282, §2º, art. 283, art. 287, art. 311, art. 312, art. 313, art. 315, art. 316), execução provisória da pena em condenação no Tribunal do Júri (art. 492), nulidades e recursos (art. 564, inciso V; art. 581, XXV; art. 638).

5.6 FORMAS DE ATUAÇÃO EXTRAPROCESSUAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA