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Nuno Gustavo e Pedro A Trindade

1. DAS TERMAS AO TURISMO DE BEM-ESTAR

A associação entre o turismo, o lazer, a saúde e o bem- -estar não é uma realidade desconhecida da cultura latina. A história termal e o uso de águas minerais ocupam um lugar único no imaginário da saúde e do bem-estar em Portugal. Com a ocupação da Península Ibérica pelos Ro- manos assiste-se ao desenvolvimento dos primeiros es- paços e rituais de saúde e bem-estar associados à água na Península Ibérica (Acciaiuoli, 1952). Os mais variados lo- cais sucumbiram às invasões bárbaras. No entanto, mais tarde, os visigodos vieram a recuperar os espaços que po- dem, ainda hoje, ser observados em Vidago, Chaves, São Pedro do Sul, entre outros (Contreiras, 1951).

Posteriormente, em 1488, surge, mais a sul, nas Cal- das da Rainha, o primeiro hospital termal português com consultas e apoio médico. Podemos dizer que se inicia, por esta altura, o conceito de turismo médico. De facto, e de acordo com Pinto e Mangorrinha (2009), o Hospital das Caldas da Rainha foi o primeiro hospital moderno do mundo que apresentava o recurso a águas termais. Este foi edificado por acção mecenática, de acordo com uma visão estratégica política da Casa Real portuguesa, que pretendeu promover a qualidade das águas existentes. É neste sentido que se desenvolveu a necessária desloca- lização de uma primeira vaga de pessoas para tratamen- tos, o que vai implicar obrigatoriamente a pernoita dos mesmos nesse local. A necessidade de pernoita deve-se, não só, à eventual gravidade das situações como, também, à hipotética distância do local de residência.

Entre 1890 e 1920, assiste-se ao exponencial desenvolvi- mento do termalismo em Portugal, através de uma elevada procura e, aliado a este facto, o interesse de investidores e do Estado para o correspondente sector de atividade, validando e dando persecução a relatórios de reconhecimento de nas- centes, projectos de balneários, hotéis e, posteriormente, de casinos (Ferreira, 1995). É sobre este signo de redescoberta dos espaços termais, enquanto locais de diversão e culto do físico e da mente, que se vai viver o séc. XVIII e XIX, acom- panhando a evolução das técnicas terapêuticas e hidro-mine- rais registadas em toda a Europa. Aliás, a primeira metade do séc. XIX ficará conhecida como “Franzosenzeit”, a época dourada do termalismo. É a época das grandes estâncias de renome internacional, como Vichy, Baden-Baden, Marien- bad... Até ao início do séc. XX, estes espaços serão ocupados pela grande aristocracia europeia (Fúster, 1991). Estava, à data, criado o conceito de turismo de saúde que, no entanto, em muito difere daquele que hoje se conhece. A vertente do

bem-estar, que facilmente pode ser aliada a uma perspectiva de saúde, transporta-nos para uma discussão bastante mais ampla e fundamentada.

Se as termas, enquanto actividade medicinal, ao in- cluírem os meios medicinais, sociais, sanitários, adminis- trativos e de acolhimento de forma estruturada, para fins terapêuticos, através de águas minerais, do gás termal e de lamas (Ramos e Santos, 2008) tiveram, reconhecida- mente, um papel fundamental nos primeiros anos do sé- culo XX, parece-nos que, na actualidade, se configura um novo paradigma.

A procura, outrora expoente máximo de uma sociedade que após buscar a cura através das águas medicinais pro- curou a ostentação e o deslumbramento das festas e dos casi- nos, que proliferavam junto às estâncias termais, terminou. Após muitos anos, perspectivou-se a recuperação através de fortes investimentos que, contrariamente aos anterior- mente feitos, são detidos por entidades privadas. No fundo, para que pudesse existir oferta turística num determinado destino deveria estar reunido um conjunto de variáveis fun- damentais para todos aqueles que desejem cruzar dois rel- evantes fatores, o destino e o produto turístico.

É através deste pressuposto que se desenha uma nova realidade. Ao perspectivarmos as termas enquanto oferta emblemática do conceito de bem-estar, mormente na sua complementaridade do destino, constatamos um elevado antagonismo com os pressupostos do desenvolvi- mento adequado de produtos turísticos. As estâncias ter- mais não tiveram a capacidade de se reinventar, o sistema do serviço nacional de saúde alterou-se, a procura esmo- receu e, logicamente, o produto termas, como o conhecía- mos, não fazia sentido para o consumidor.

Por outro lado, de acordo com a Associação da In- dústria Hoteleira e Similares das Termas de São Pedro

do Sul (AIHS.TSPS, 2014), esta procura, generalizada, de lazer e bem-estar tem vindo a registar uma significativa evolução levando a que, nos anos de 2012-2013, os prati- cantes de termalismo de bem-estar suplantassem os de termalismo clássico.

Se atendermos às opções motivacionais do turista de saúde e bem-estar, encontramos factores relevantes que nos transportam para uma procura de produtos ou ser- viços cada vez mais diferenciados (Dann, 1981; Dimanche e Havitz, 1994; Goossens, 2000), relacionadas com neces- sidades subjectivas ou baseadas em experiências, com o foco nos sentimentos de excitação, autoconfiança ou fan- tasia que o produto oferece (Solomon, 2013). Na sequên- cia desta ideia, de acordo com Goossens (2000), podemos referir que o lazer é essencialmente uma experiência su- bjectiva que, ao compreender estados, emoções e senti- mentos, pode levar a que o turista desenvolva uma ele- vada consciencialização sobre a sua saúde.

Aliás, o abandono da generalização, em favor da plu- ralidade da experiência turística (Uriely, 2005), sustenta um cenário de transformação da experiência turística con- temporânea, em que se enfatizam os processos de desdife- renciação, diversificação e pluralidade (Joaquim, 2015). O turismo de saúde e bem-estar expressa estas questões, ao oferecer um papel central ao turista na experiência, num contexto de procura de relaxamento, de prazer ou da me- lhoria física e psíquica (Chen, Prebensen e Huan, 2008).

Para Azman e Chan (2010) todo o conceito de relaxa- mento é directamente associado a SPA, termas e ativi- dades aquáticas. A este propósito Chen, Prebensen e Huan (2008) referem a importância de o turismo poder oferecer produtos e serviços especialmente criados para melhorar a qualidade de vida do seu consumidor, através da satisfação de um conjunto de necessidades relacionadas com a saúde.

2. OS SPA COMO SINÓNIMO ATUAL DE BEM-ESTAR