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Decisões monocráticas [Lei federal nº 9.868/99, art 4º (ADI) e art 15 (ADC); Le

3. Os Princípios Processuais e o Controle Abstrato de Normas

3.2 Os princípios processuais e sua aplicação ao controle abstrato de leis e atos normativos

3.2.2 O princípio do juiz natural e o princípio ou cláusula de reserva de plenário

3.2.2.1 Decisões monocráticas [Lei federal nº 9.868/99, art 4º (ADI) e art 15 (ADC); Le

Outra questão que merece atenção é a relativa às decisões monocráticas proferidas em processos de controle abstrato de constitucionalidade.

O exame dos requisitos de admissibilidade da ação é previsto nas leis que regulam o procedimento das ações de controle de constitucionalidade, cabendo ao relator indeferi-las liminarmente [Lei federal nº 9.868/99, art. 4º (ADI) e art. 15 (ADC); Lei federal nº 9.882/99, art. 4º (ADPF)] caso não se encontrem presentes os requisitos necessários ao conhecimento e julgamento da ação.206

É preciso ter em vista que, quando o relator indefere a petição inicial por inépcia, não há exame acerca da constitucionalidade da norma, mas mera análise de requisitos de natureza processual, como a legitimidade de parte, interesse de agir, capacidade postulatória etc. Sendo a regra do artigo 97 voltada a impedir a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo sem que haja apreciação do plenário, não resta ele vulnerado pela decisão monocrática que analisa aspectos meramente processuais.

Por outro lado, ambas as leis preveem que, da decisão de indeferimento, cabe agravo (inominado) ao Tribunal Pleno [Lei federal nº 9.868/99, art. 4º, parágrafo único (ADI), e art. 15, parágrafo único (ADC); Lei federal nº 9.882/99, art. 4º, § 1º (ADPF)], no prazo de cinco dias, a assegurar o direito da parte interessada em relação a eventuais equívocos da decisão e resguardar a efetividade dos princípios do juiz natural, da colegialidade e da reserva de plenário.

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Neste ponto, GILMAR FERREIRA MENDES, em obra conjunta com IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, entende que, neste caso, aplica-se o conceito de inépcia positivado no Código de Processo Civil (art. 295), havendo de ser considerada inepta a petição que não atender aos requisitos do art. 3º da Lei federal nº 9.868/99, aplicando-se subsidiariamente o diploma processual civil. A esse respeito, v. MENDES, Gilmar Ferreira; MARTINS, Ives Gandra da Silva. Controle concentrado de constitucionalidade: Comentários à Lei nº 9.868, de 10-11-1999. 3ª ed., São Paulo, Saraiva, p. 281-282.

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É essa a posição do Supremo Tribunal Federal, como se pode verificar pelo exame do acórdão relatado pelo Ministro CELSO DE MELLO, citado acima (vide nota 198, supra). 207

Dessa forma, caso o requerente da ação declaratória não se conforme com a decisão monocrática, pode recorrer ao Plenário que, então, analisará a questão de forma definitiva. Preservados estão, assim, os princípios do juiz natural, da colegialidade e da reserva de plenário, prestigiando-se, por outro lado, o princípio da celeridade processual (CF, art. 5º, LXXVIII), na hipótese em que o requerente se satisfizer com o teor da decisão monocrática e dela não recorrer.

Já de duvidosa constitucionalidade a decisão monocrática que, com fundamento no artigo 543-B do C.P.C. e no § 1º do artigo 21 do RISTF, nega seguimento ao agravo regimental interposto contra decisão também monocrática que inadmite a petição inicial de ação direta de inconstitucionalidade.208

Aqui, com a devida vênia, parece não ter havido acerto na decisão apontada, pois, neste caso, há uma indevida e incontornável

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No mesmo sentido: “A Autora não tem legitimidade ativa ad causam para propor ação direta de inconstitucionalidade, para a qual somente são legitimadas autoridades e entidades relacionadas no art. 103 da Constituição da República. Em situações como a que aqui se apresenta, o Supremo Tribunal Federal tem admitido que o Relator, monocraticamente, negue seguimento aos pedidos de declaração de inconstitucionalidade por não estar contemplado o cidadão, como a Autora, no rol do art. 103 da Constituição da República.” In: ADI 4185/DF-DISTRITO FEDERAL. Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA. Julgamento: 05/02/2009. Publicação: DJe-030. Divulg.: 12/02/2009. Public.: 13/02/2009.

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“Ressalte-se, ainda, que o Plenário deste Tribunal reconheceu a validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar seguimento, por meio de decisão monocrática, a recursos, a pedidos ou a ações, quando inadmissíveis, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante deste Supremo Tribunal: ‘A tese dos impetrantes, da suposta incompetência do relator para denegar seguimento a mandado de segurança, encontra firme repúdio neste Tribunal. A Lei 8.038/90, art. 38, confere-lhe poderes processuais, para, na direção e condução do processo, assim agir. Agravo regimental improvido’ (MS 21.734-AgR/MS, Rel. Min. Ilmar Galvão). Nesse sentido, nos termos do art. 21, § 1º, do RISTF, poderá o Relator: ‘negar seguimento a pedido ou recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou a Súmula do Tribunal, deles não conhecer em caso de incompetência manifesta, encaminhando os autos ao órgão que repute competente, bem como cassar ou reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada nos termos do art. 543-B do Código de Processo Civil’ (grifei). Isso posto, nego seguimento ao agravo regimental. Mantida, em consequência, por seus próprios fundamentos, a decisão de fls. 25-26. Arquivem-se os autos. Publique-se. Brasília, 6 de maio de 2009.” Decisão monocrática proferida pelo Ministro RICARDO LEWANDOWSKI na ADI nº 4231 AgR/RJ-RIO DE JANEIRO. Julgamento: 06/05/2009. Publicação DJe-087 Divulg. 12/05/2009 Public. 13/05/2009.

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subtração ao Plenário do Supremo Tribunal Federal do pedido de declaração de inconstitucionalidade, que se revela inconciliável com o princípio da reserva de plenário.

É inegável que o relator tenha amplos poderes para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis, estranhos à competência do STF, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência predominante daquele tribunal, como bem tem sido reconhecido pela jurisprudência daquela Corte (RTJ 139/53 e RTJ 168/174-175). Todavia, o cerceamento absoluto ao acesso ao Plenário, por decisão monocrática que indefere seguimento a agravo regimental interposto em processo de controle abstrato de constitucionalidade, enseja mácula indelével ao princípio da colegialidade e ao princípio da reserva de plenário.209

O agravo contra a decisão do relator que indefere a petição inicial é previsto nas leis específicas (Lei federal nº 9.868/99, art. 4º, parágrafo único, e art. 15, parágrafo único; Lei federal nº 9.882/99, art. 4º, § 1º), que não contêm disposição análoga àquela prevista no artigo 543-B do CPC e no § 1º do artigo 21 do RISTF, motivo pelo qual me parece inadequada a aplicação subsidiária desses dispositivos no procedimento de jurisdição constitucional em sentido estrito.

Ressalte-se que a aplicação subsidiária do CPC e do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal neste caso poderia inviabilizar o controle da norma arguida de inconstitucional. Vislumbra-se que o controle quanto ao procedimento está intimamente ligado ao próprio exercício do controle de constitucionalidade, a ponto de inviabilizá-lo. Dessa forma, não se pode aceitar, com a devida vênia, que a decisão final acerca do cabimento da ação de inconstitucionalidade fique a cargo do relator do feito, quando a norma constitucional confere competência ao plenário do tribunal para essa análise.

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Em decisão monocrática, o Min. CELSO DE MELLO enfatiza a possibilidade de o Relator exercer amplos poderes quanto à admissibilidade da ação ou recurso, inclusive em sede de poder normativo. Todavia, esclarece que o princípio da colegialidade resta preservado desde que se assegure a possibilidade de recurso ao órgão colegiado: v. ADPF 45/DF – Distrito Federal, CELSO DE MELLO, decisão publicada no D. J. nº 84, do dia 04/05/2004.

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Essa hipótese revela-se como um típico caso em que deve se invocar o princípio da especialidade do processo de controle abstrato para impedir a aplicação subsidiária das normas do Código de Processo Civil, voltadas a regular o processo comum.

3.2.2.2 Decisões cautelares [Lei federal nº 9.868/99, art. 10 (ADI), art. 21 (ADC); e Lei