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Necessidade de impugnação de todo o complexo normativo referente ao

3. Os Princípios Processuais e o Controle Abstrato de Normas

3.2 Os princípios processuais e sua aplicação ao controle abstrato de leis e atos normativos

3.2.3 O princípio da ação ou da demanda A inércia da jurisdição constitucional [Lei federal

3.2.3.4 A prova da violação do preceito fundamental na ADPF (Lei federal nº 9.882/99,

3.2.3.5.1 Necessidade de impugnação de todo o complexo normativo referente ao

Outra hipótese de pedido incompleto é aquela onde o autor da ação direta deixar de impugnar todos os dispositivos ou todas as leis que formam um complexo normativo. Dessa forma, se a lei A e a lei B regulam determinada matéria, a impugnação deve recair sobre ambas, caso contrário, a declaração de inconstitucionalidade não surtiria efeito prático algum e, por esse motivo, o autor seria carecedor de ação, por falta de interesse de agir (CPC, art. 267, VI).

De fato, o interesse de agir se expressa no binômio necessidade da tutela jurisdicional e adequação do meio utilizado para obtê-la e poderia ser resumido na utilidade da tutela pleiteada. No caso do pedido incompleto, ainda que haja a necessidade da tutela almejada (declaração de inconstitucionalidade), ela não se revestiria de nenhuma utilidade, pois a declaração parcial não se prestaria a sanar a inconstitucionalidade, em virtude de permanecerem válidas normas análogas àquela cujo vício foi arguido.

O pedido nesta hipótese revela-se incompleto e, por isso, inábil a alcançar o objetivo almejado pelo autor.

Como se exige que a parte provoque a jurisdição (princípio da demanda), se esta, ao provocá-la, o faz de maneira parcial, sem atacar a totalidade dos

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dispositivos que regulam a matéria, o tribunal não pode estender a prestação jurisdicional às demais normas ou dispositivos, motivo pelo qual a tutela não pode ser prestada pela corte constitucional.

O Supremo Tribunal Federal tem entendido que a impugnação de determinadas normas de um sistema, indissociavelmente ligadas a outras que não foram impugnadas via ação direta impediria o acolhimento do pedido, pois, se fosse acolhido, poderia implicar em remanescer no texto legal uma dicção indefinida, assistemática, imponderável e inconsequente. Assim, em decorrência de o tribunal não poder exercer ex officio a jurisdição, não tem como incluir no objeto da ação outras normas indissoluvelmente ligadas às impugnadas, mas não suscitadas pelo requerente. Nesse sentido, há casos em que não se conhece da ação direta de inconstitucionalidade pelas razões expostas, não obstante se ressalve a possibilidade de propositura de nova ação que impugne todo o sistema. 253

Em ação direta proposta contra lei destinada à desoneração de ICMS sobre determinadas situações, que previa, igualmente, a compensação dos Estados- membros em decorrência dessa desoneração, por determinado período, o requerente atacou apenas os dispositivos que tratavam da desoneração. O Supremo Tribunal Federal, em acórdão relatado pelo Ministro NELSON JOBIM, não conheceu da ação, pois se o pedido restringia-se aos dispositivos que tratavam da desoneração, não poderia o tribunal ex officio estendê-lo aos demais, referentes à compensação a ser repassada pela União aos Estados, que não poderiam, logicamente, ser mantidos dissociados dos outros.254

Na ADI-MC 2645-QO, o Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE não conheceu da ação em virtude de o pedido de inconstitucionalidade parcial do dispositivo atacado levar a uma hipótese em que, se declarada a inconstitucionalidade, a norma, que

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Neste sentido, veja-se a ADI 1187/DF. Relator: Ministro MAURÍCIO CORRÊA. Julgamento: 27/03/1996. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: D. J.: 30-05-1997, pp. 23175, Ement. vol. 01871-01, p. 0192. 254

Trata-se da ADI 1622/DF. Relator: Ministro NELSON JOBIM. Julgamento: 30/10/1997. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: D. J.: 17-04-1998., pp. 02. Ement. vol. 01906-01, pp. 0127, cuja ementa tem o seguinte teor: “EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR Nº 87, DE 13 DE SETEMBRO DE 1.996. ICMS. INCIDÊNCIA. PRODUTOS SEMI-ELABORADOS. PEDIDO INCOMPLETO. ATACA PARTE DOS DISPOSITIVOS. PERDAS. SILENCIA QUANTO À COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO PELO STF. Ação Direta não conhecida.”

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visava proteger determinada classe de servidores públicos, passaria a ter efeito contrário, prejudicando-os, de modo a subverter “a função de legislação exclusivamente negativa que o poder abstrato de controle abstrato de constitucionalidade outorga ao Tribunal”.255

Nesse caso, tendo em vista a impossibilidade de cisão das normas, o Tribunal tem entendido que o pedido inicial revela impossibilidade jurídica – ou, mais propriamente, falta de interesse de agir –, pois, ao declarar a inconstitucionalidade, restaria no ordenamento jurídico uma norma com sentido diverso do original, conferindo ao Tribunal uma postura de legislador ativo, que a Constituição não lhe atribuiu.256

A única exceção a esta regra seria a inconstitucionalidade consequencial ou por arrastamento, que será verificada a seguir (item 3.2.5, infra, o princípio da congruência).

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ADI-MC 2645-QO, D. JO. 29.09.2006, Ement. nº 2249-3, Tribunal Pleno. 256

Ainda exigindo a impugnação de todo o complexo normativo, podem ser mencionados os seguintes julgados: ADI 2133, Relator Ministro ILMAR GALVÃO Julgamento: 09/03/2000, Tribunal Pleno. Publicação: DJ 04-05- 2001, p. 02. Ement. vol. 02029-01, p. 0194. RTJ vol. 178-01, p. 0194; ADI nº 1187, Relator Ministro MAURÍCIO CORRÊA Julgamento: 27/03/1996, Tribunal Pleno. Publicação: D. J.: 30-05-1997, p. 23175. Ement. vol.: 01871-01, p. 0192; ADI nº 4036, relator Ministro CARLOS BRITTO Publicação: DJe 095, divulg. 22/05/2009. Publicação: 22/05/2009; e ADI nº 4043, relator Ministro EROS GRAU, que possui a seguinte ementa: “COMPLEXO NORMATIVO: O artigo 98 da Lei complementar n. 412 do Estado de Santa Catarina, não questionado, tem evidente correlação com o objeto da presente ação direta. A jurisprudência desta Corte é firme no tocante à imprescindibilidade de impugnação dos textos normativos que cuidem da mesma matéria atacada na ação direta. A demanda não pode atacar apenas um dos atos contidos no complexo normativo. O sistema de leis vinculadas a determinado tema deve ser questionado em sua íntegra. A razão disso reside no fato de a eficácia da declaração de inconstitucionalidade alcançar tão somente o ato impugnado e não o complexo no qual inserido. Nesse sentido: a ADI n. 2.174, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 7-3-03; a ADI n. 1.187, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 30-5-97; a ADI n. 2.133, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 9-3- 00; a ADI n. 2.451, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 1º-8-01; a ADI n. 2.972, Relator o Ministro Carlos Britto, DJ de 29-10-03; e a ADI n. 2.992, Relator Ministro Eros Grau, DJ de 17-12-04. Não conheço desta ação direta [RISTF, artigo 21, § 1º].” In: ADI 4.043, Rel. Min. Eros Grau, decisão monocrática, julgamento em 3-3- 09, DJE de 11-3-09).

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