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O preceito fundamental que se considera violado (Lei federal nº 9.882/99, art 3º,

3. Os Princípios Processuais e o Controle Abstrato de Normas

3.2 Os princípios processuais e sua aplicação ao controle abstrato de leis e atos normativos

3.2.3 O princípio da ação ou da demanda A inércia da jurisdição constitucional [Lei federal

3.2.3.1 O preceito fundamental que se considera violado (Lei federal nº 9.882/99, art 3º,

Trata-se de requisito específico da arguição de descumprimento de preceito fundamental, cabendo ao requerente a indicação do preceito fundamental que entende violado.

Não há um consenso doutrinário acerca da extensão do conceito referente aos preceitos fundamentais. Em linhas gerais, segundo ALEXANDRE DE MORAES, pode-se dizer que consubstanciariam “os direitos e garantias fundamentais da Constituição, bem como os fundamentos e objetos fundamentais da República, de forma a consagrar maior efetividade às previsões constitucionais”.237

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MORAES, Alexandre de. Comentários à Lei nº 9.882/99: Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. In: TAVARES, André Ramos; ROTHENBURG, Walter Claudius (orgs.), Arguição de descumprimento de preceito fundamental: análises à luz da Lei nº 9.882/99. São Paulo, Atlas, 2001, p. 17.

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Na tentativa de fornecer elementos para a identificação do preceito fundamental, decidiu o Supremo Tribunal Federal:

“Parâmetro de controle – É muito difícil indicar, a priori, os preceitos fundamentais da Constituição passíveis de lesão tão grave que justifique o processo e julgamento da argüição de descumprimento. Não há dúvida de que alguns desses preceitos estão enunciados, de forma explícita, no texto constitucional. Assim, ninguém poderá negar a qualidade de preceitos fundamentais da ordem constitucional aos direitos e garantias individuais (art. 5º, dentre outros). Da mesma forma, não se poderá deixar de atribuir essa qualificação aos demais princípios protegidos pela cláusula pétrea do art. 60, § 4º, da Constituição, quais sejam, a forma federativa de Estado, a separação dos Poderes e o voto direto, secreto, universal e periódico. Por outro lado, a própria Constituição explicita os chamados ‘princípios sensíveis’, cuja violação pode dar ensejo à decretação de intervenção federal nos Estados-membros (art. 34, VII). É fácil ver que a amplitude conferida às cláusulas pétreas e a idéia de unidade da Constituição (Einheit der

Verfassung) acabam por colocar parte significativa da Constituição sob a

proteção dessas garantias. [...] Destarte, um juízo mais ou menos seguro sobre a lesão de preceito fundamental consiste nos princípios da divisão de Poderes, da forma federativa do Estado ou dos direitos e garantias individuais exige, preliminarmente, a identificação do conteúdo dessas categorias na ordem constitucional e, especialmente, das suas relações de interdependência. Nessa linha de entendimento, a lesão a preceito fundamental não se configurará apenas quando se verificar possível afronta a um princípio fundamental, tal como assente na ordem constitucional, mas também a disposições que confiram densidade normativa ou significado específico a esse princípio. Tendo em vista as interconexões e interdependências dos princípios e regras, talvez não seja recomendável proceder-se a uma distinção entre essas duas categorias, fixando-se um conceito extensivo de preceito fundamental, abrangente das normas básicas contidas no texto constitucional.”238

Para efeito de identificação do pedido, a doutrina brasileira costuma denominar de causa de pedir remota os fatos constitutivos do pedido e de causa de pedir próxima os fundamentos jurídicos do pedido. Como bem elucida MOACYR DO AMARAL SANTOS, ao comentar o Código de Processo Civil:

“Chama-se a atenção para o texto da lei. O Código exige que o autor exponha na inicial o fato e os fundamentos jurídicos do pedido. Por esse modo faz ver que na inicial se exponha não só a causa de pedir próxima - os fundamentos jurídicos, a natureza do direito controvertido -, como também a causa remota - o fato gerador do direito. Quer dizer que o Código adotou a

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teoria da substanciação, como os códigos alemão e austríaco. Por esta teoria não basta a exposição da causa próxima, mas também se exige a da causa remota.”239

ANDRÉ RAMOS TAVARES identifica na indicação do preceito fundamental que se considera violado a causa de pedir próxima do pedido na arguição de descumprimento de preceito fundamental, isto é, o fundamento jurídico que leva à configuração da lesão:

“O art. 3º da Lei de Arguição determina que a petição inicial contenha: ‘I – a indicação do preceito fundamental que se considera violado; II – a indicação do ato questionado ...’. Nesses dois incisos é possível vislumbrar a presença do que a doutrina denomina causa petendi, em seu dúplice desdobramento, a causa de pedir próxima e a remota.

Teoricamente, a causa de pedir próxima encontra-se nos fundamentos jurídicos do pedido (inc. I). A causa de pedir remota está no fato gerador ou desencadeador do direito (inc. II). Trata-se, em síntese, de um binômio: fundamento jurídico do pedido e fatos.”240

Acrescenta TAVARES, invocando entendimento de JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI, que a causa de pedir próxima seria a fundamentação jurídica da qual decorre o pedido:

“É o ‘enquadramento da situação concreta, narrada in status assercionis, à previsão abstrata, contida no ordenamento de direito positivo, e do qual decorre a juridicidade daquela, e, em imediata seqüência, a materialização, no pedido, da conseqüência jurídica alvitrada pelo autor’.”241

E conclui, afirmando que, no caso da ADPF, a causa de pedir próxima seria configurada pelo “direito de todos à ordem constitucional, vale dizer, a causa de pedir próxima é a primazia do princípio da supremacia da Constituição na resolução de todas as situações da vida”.242

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SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1. 26ª ed., São Paulo, Saraiva, 2009, p. 172.

240

TAVARES, André Ramos. Tratado da argüição de descumprimento de preceito fundamental. São Paulo, Saraiva, 2001, p. 307-308.

241

Ibidem, p. 314. 242

112 A causa de pedir próxima, isto é, a indicação dos fundamentos jurídicos do pedido, em meu sentir, não se restringe à simples indicação do preceito fundamental supostamente violado. Essa indicação é inegavelmente indispensável, mas me parece revelar-se mais como um requisito específico da ADPF que com a indicação geral dos fundamentos jurídicos que compõem a causa de pedir próxima.

Dessa forma, tratarei da matéria em item próprio, reservado ao princípio da especificação das normas (item 3.2.4, infra) e da congruência (item 3.2.5, infra).

3.2.3.2 O dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado [Lei federal nº 9.868/99, art.