• Nenhum resultado encontrado

Transportes Alternativos

6. Modelação da Mobilidade dos cidadãos

6.6.1. Definição de Jornada

As técnicas convencionais de modelação da procura de viagens utilizam como unidade de viagem a deslocação, definida como a viagem entre dois locais – a origem e o destino. Os modelos baseados em viagens têm algumas limitações devido a consideração de que cada deslocação é independente de todas as outras, agravadas pelo facto de a abordagem com zonamentos agregados não permitir uma fácil análise do encadeamento das viagens (Vovsha e Freedman, 2008a).

A definição de uma jornada como um encadeamento de viagens fechado, isto é, em que a origem da primeira deslocação é o destino da última deslocação, pode ser encarada como um passo importante no desenvolvimento de novos modelos operacionais. Esta definição permite que a jornada tenha apenas um ponto fulcral, a origem, com um ou mais potenciais destinos. Na maioria das jornadas, os pontos de origem são a residência ou o local de trabalho e o facto de ser considerada fechada permite que tenha propriedades para a tornar numa unidade de modelação extremamente conveniente:

- A escolha do modo de transporte é geralmente dependente de toda a jornada a realizar, mesmo que nas deslocações intermédias haja alguma liberdade;

- A opção entre TI ou TC é quase exclusivamente dependente de toda a jornada a realizar, uma vez que a opção do TI particular tem que ser tomada na residência;

- O número e local de destino das viagens não baseadas em casa são função das viagens baseadas em casa antecedentes e precedentes;

- E a hora de partida das sucessivas deslocações de uma jornada está limitada à hora de chegada da deslocação anterior.

A maioria dos modelos operacionais baseados em jornadas distingue entre os destinos o mais importante como o destino primário, tratando os restantes como paragens secundários a caminho ou no regresso do primário. Este conceito é fácil de perceber em viagens pendulares ou para a escola, mas em viagens para compras ou de lazer, o destino primário pode ser difícil de definir pois as mesmas podem ser de multi-propósito/destino. Se vários destinos tiverem o mesmo propósito ou duração, a distinção do destino primário pode ser realizada através da sua distância à origem, considerando o mais afastado. A metade da jornada até ao destino primário é designada de viagem direta ou saída e a metade de volta à origem de viagem de retorno ou entrada.

A hierarquia das unidades de viagem, jornada - meia jornada - deslocação, apresenta as seguintes vantagens em relação aos modelos tradicionais baseados em viagens:

- Total consistência nas escolhas do modo de transporte utilizado, do destino, e do período do dia para realizar a viagem, para todas as viagens da mesma jornada: Este tipo de modelação assegura que na escolha modal todas as opções disponíveis para cada deslocação estejam condicionadas ao modo escolhido atendendo a toda a jornada, particularmente no que se refere a disponibilidade de automóvel particular.

Assegura igualmente um padrão lógico dos locais de paragem intermédia, uma vez que a modelação tradicional tratava de uma percentagem elevada de viagens não baseadas em casa difíceis de modelar devido às fracas relações entre as suas origens ou destinos com variáveis de uso do solo e à dificuldade em segmentar as mesmas atendendo a fatores socioeconómicos (Vosvha et al., 2008b). A modelação tradicional também estima a repartição modal destas viagens não baseadas em casa geralmente apenas atendendo ao nível de serviço da rede de transportes, considerando que são independentes das restantes deslocações da jornada. A modelação com base em atividades permite uma estimação mais consistente das viagens não baseadas em casa considerando os desvios mais prováveis no trajeto entre a origem e o destino primário. Em relação ao período temporal das viagens, tal como já foi referido, a modelação com base em atividades permite um correto encadeamento das viagens intermédias atendendo às suas horas de chegada e de partida, ou seja, consideram a duração da atividade.

- A possibilidade de modelar o planeamento das atividades diárias: A modelação com base em atividades permite a modelação consistente do número, tipo e horário das

jornadas e deslocações num dia ou em vários dias, considerando as restrições temporais, como a existência de apenas 24h, ou o encadeamento lógico de determinadas atividades de acordo com o seu propósito. Permite ainda determinar as decisões e condicionantes consideradas por cada indivíduo ou pelo agregado familiar para cada jornada.

Outro aspeto que diferencia a modelação com base em atividades da tradicional é a definição não de um modelo de escolha modal mas de dois com níveis hierárquicos distintos. Haverá um modelo de nível superior que definirá o modo de transporte ao nível da jornada e um inferior (condicionado ao superior) que definirá o modo de transporte ao nível da deslocação. Um exemplo deste tipo de situação será a escolha do automóvel particular para realizar a jornada

casa-trabalho-casa, e a opção de ao almoço se deslocar a pé

.

Nem todos os modelos baseados em jornadas são automaticamente modelos baseados em atividades, apesar de o inverso na prática de verificar. Os modelos baseados em atividades incorporam episódios de atividades e a sua duração, de forma a assegurar um comportamento realista. Em termos de estrutura do modelo, os padrões individuais de viagem gerados serão assim devidamente restringidos e representam uma sequência viável de atividades, deslocações e localizações.

Outro aspeto relevante é a sua capacidade para modelar as interações dentro dos agregados familiares e as atividades e viagens conjuntas. Uma parte significativa das deslocações e atividades são decididas de forma conjunta por vários membros do agregado familiar, no sentido de sincronizar no tempo e no espaço as necessidades dos diferentes membros, afetando de forma significativa os padrões e horários diários, geralmente como condicionantes adicionais.