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I. Fundamentação Teórica

1.5 Concepção de tarefa

1.5.1 Definição de tarefa

Na Área Educacional, em geral, e em outros campos, como na Psicologia, por exemplo, temos diferentes definições de tarefas, sendo também encontrada uma grande variedade delas no campo de Ensino/Aprendizagem de LE. Diante de tal diversidade de posturas e perspectivas, limitar-se-á ao domínio de interesse para a pesquisa.

Long (1985: 89), define tarefa como:

um trabalho realizado para si mesmo ou para os outros, gratuitamente ou em troca de algo. São exemplos de tarefas: pintar uma cerca, vestir uma criança, preencher um formulário, comprar um sapato, fazer uma reserva em um avião, emprestar um livro da biblioteca, fazer um exame para condutor, datilografar uma carta, pesar um paciente, organizar cartas, fazer uma reserva em um hotel, preencher um cheque, procurar uma rua e auxiliar alguém a atravessá-la. Ou seja, por tarefa, entende-se uma centena de coisas que as pessoas fazem cotidianamente, no trabalho, no lazer e nos entremeios. a12

Em Long, vê-se que sua definição apresenta-se não-técnica e não-lingüística, uma vez que indica como tarefa uma série de ações desempenhadas por um indivíduo no seu cotidiano, sendo algumas delas desenvolvidas sem necessariamente envolver a linguagem. Assim, o termo refere-se às atividades realizáveis nos domínios ocupacional, vocacional e acadêmico, sem, contudo, um propósito lingüístico.

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A tradução de todas as citações usadas, nesse capítulo, estão ao final do mesmo, indicados por letras minúsculas em ordem alfabética.

Na visão de Richards et al (1986), no entanto, vê-se uma perspectiva pedagógica13 ao conceituar tarefa, visto que a definem em termos do que o aprendiz poderia realizar durante uma aula, ao invés do que faria fora dela. Assim, segundo Richards et al (op. cit.: 289), tarefa é:

uma atividade ou ação realizada como resultado do processo ou entendimento da língua (i.e. como uma resposta). Por exemplo, desenhar um mapa enquanto se ouve uma fita, ouvir uma instrução e desenvolver um comando [...]. As tarefas podem ou não envolver a produção de língua. As tarefas geralmente requerem um professor para especificar o que será considerado como sua conclusão bem-sucedida. O uso de vários tipos de tarefa torna o ensino de língua mais comunicativo [...] pois estabelece um propósito que supera a prática da língua em si mesma.b

Prosseguindo, vê-se que, para os autores, o termo tarefa é concebido tanto como uma atividade verbal quanto não-verbal, resultante de resposta do aluno frente a sua compreensão da língua-alvo, em que seu foco de atenção esteja mais direcionado ao significado do que à forma.

É dessa maneira que, para eles, o uso de tarefas justifica-se, principalmente, devido ao seu propósito comunicativo de comunicar uma resposta a partir da compreensão do insumo abordado, com a condição de que tal propósito supere a prática da língua em si mesma.

Prabhu (1987) também privilegia o tipo de tarefa pedagógico, desde que estimule no aprendiz processos psicolingüísticos internos de aquisição da língua, como inferência, dedução e raciocínio prático, uma vez que tais processos seriam responsáveis por sua compreensão do insumo ou parte dele presente na informação, possibilitando- lhe executar a tarefa proposta.

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Segundo Nunan (1989), as tarefas são justificadas em atividades com o foco no ‘mundo real’ ou com foco ‘pedagógico’. As primeiras requerem, em sala de aula, que os aprendizes aproximem seu comportamento a tipos de comportamentos exigidos deles fora do contexto escolar, não sugerindo, contudo, que a classe não seja um contexto real. Já as segundas, por outro lado, requerem que eles façam coisas que, geralmente, não fazem fora da sala de aula, tarefas do tipo que estimulam processos de aquisição interna. De fato, segundo o autor, não se pode dizer que essa distinção seja estática, mas que se apresenta em um contínuo.

Conseqüentemente, para o autor (op.cit.: 24), tarefa é:

uma atividade que requer uma resposta a ser dada pelos alunos, a partir de uma informação previamente fornecida por meio de algum processo de pensamento e que permite aos professores controlarem e regularem esse processo.c

A partir do exposto, pode-se perceber que o interesse de Prabhu está não no tipo de comunicação que envolva aspectos sociais/interacionais entre seus partícipes, mas, ao contrário, seu interesse está canalizado nos processos cognitivos de aquisição da LE estimulados pelo uso de tarefas, sob a interferência e controle do professor.

O autor sugere que, durante a execução da tarefa pelo aprendiz, há um período de esforço auto-sustentado por ele, a fim de alcançar um objetivo claramente compreendido (como, por exemplo, interpretar um horário ou um mapa, dar uma série de direções, etc).

Na opinião do autor, ainda, tarefas que têm pouco a ver com aquelas possíveis de ocorrer no mundo real possuem, no entanto, uma validade particular, pois continuariam a engajar os alunos em atividades intelectuais.

Concebendo-a em um sentido mais amplo, para Breen (1987a: 23), tarefa seria qualquer tipo de atividade que se realize em contexto instrucional, considerando, dessa forma, tarefa tanto as atividades estruturais como as comunicativas.

Assim, o autor compreende o termo como:

qualquer esforço de aprendizagem de língua [...] que apresenta um objetivo determinado, conteúdo apropriado, procedimento de trabalho especificado e uma variedade de resultados para os que a realizam. [...] uma variedade de planos de ação tendo como propósito facilitar a aprendizagem da língua – de um simples e curto exercício para atividades mais complexas e longas, tais como resolução de problemas em grupo ou simulações e tomadas de decisão.d

Em conformidade com a definição dada acima, vê-se que o autor a define como uma variedade de planos de ação combinados a seus objetivos, conteúdos e procedimentos metodológicos – seus elementos essenciais – sendo estes, segundo seu proponente, reinterpretados e redefinidos pelo aprendiz no processo de trabalho com a

tarefa, uma vez que esta resultaria em tantas diferentes aprendizagens tal forem os diversos resultados aos quais o aprendiz chegue.

Ao considerar o que acontece durante a aprendizagem de línguas por meio do uso tarefas, Breen atesta ser possível distinguir entre os planos de ação propostos pela tarefa e o processo de trabalho real com a mesma, sendo este último gerador de diversos resultados de aprendizagem.

Scaramucci (1996: 4-5) define tarefa como:

um termo usado em Lingüística Aplicada para se referir a uma atividade de ensino ou de avaliação diferente daqueles usados nos moldes tradicionais. Elas têm um propósito comunicativo, especificando para a linguagem usos que se assemelham àqueles que se tem na vida real. São exemplos de tarefas: assistir a um vídeo e ser capaz de se posicionar com relação ao assunto apresentado, escrever uma carta solicitando informações, deixar um recado em uma secretária eletrônica, etc.

A autora, além de relacioná-las aos eventos cotidianos do chamado mundo real, revela uma perspectiva mais pedagógica, já que a canaliza a contextos instrucionais de ensino/aprendizagem de línguas, enfatizando ainda seu carácter comunicativo nas interações.

De acordo com Nunan (1989:10), tarefa constitui-se em:

um trabalho de sala de aula que envolve os alunos na compreensão, manipulação, produção ou interação na língua-alvo, enquanto o foco da atenção está principalmente voltado para o significado do que para a forma.e

Para esse autor, tarefa é definida como um meio pelo qual os alunos compreendem a língua-alvo e trabalham com ela, a fim de promover uma interação com propósito comunicativo.

Segundo Willis (1996: 53), tarefa é:

uma atividade voltada para um objetivo que permite aos alunos usar a língua-alvo para chegarem a uma resposta verdadeira. Ou seja, os alunos usam quaisquer recursos da língua-alvo a fim de resolver um problema, solucionar um enigma, jogar um jogo ou partilhar e comparar experiências.f

Consoante essa definição, tarefa é uma atividade na qual os alunos utilizam recursos disponíveis na língua-alvo para cumprirem o propósito comunicativo sugerido pela tarefa, sem que esta especifique, no entanto, estruturas lingüísticas a ser usadas.

Para Candlin (1987), a tarefa envolveria a interação entre as dimensões pragmáticas e cognitivas contempladas pelos aprendizes, sendo as primeiras responsáveis por sua competência comunicativa e as segundas, pelo raciocínio estimulado por elas. Nas palavras do autor (op.cit.: 10), tarefa é:

é uma em um conjunto de atividades diferenciadas, seqüenciadas, problematizadoras, envolvendo aprendizes e professores na seleção conjunta de uma série de variados procedimentos cognitivos e comunicativos a serem aplicados a um novo conhecimento, na exploração e busca coletiva de objetivos previstos ou emergentes num contexto social. g

Além disso, segundo Candlin, tarefa é uma atividade que requer o envolvimento do aluno com o insumo oral e/ou escrito na língua-alvo, podendo ser de natureza gramatical ou não, com a finalidade de promover a compreensão, expressão e/ou negociação de significados nessa língua, conscientização gramatical e/ou raciocínio para que possa alcançar um produto final (i.e. uma resposta).

Seria por meio da tarefa, portanto, que os alunos poderiam engajar-se em uma interação metacomunicativa, por meio de atividades voltadas para o significado, ou metalingüística, por meio de atividades voltadas para a gramática contextualizada e reflexiva.

Dessa forma, com base em sua definição, o autor demonstra seu interesse tanto por aspectos sociais/interacionais quanto cognitivos, instigados pelo uso de tarefas na sala de aula de LE.

Diante disso, dentre as definições citadas, a de Candlin apresenta-se como uma das mais completas, visto que contempla tanto as tarefas comunicativas com o foco nos significados, quanto aquelas comunicativas com foco no próprio código lingüístico contextualizado e reflexivo.

O autor ainda sugere que as tarefas sejam atividades distintas entre si, seqüenciadas, problematizadoras e que envolvam aprendizes e professores na seleção conjunta de procedimentos cognitivos e comunicativos a serem aplicados a um novo conhecimento, supostamente previsto ou emergente em um contexto social. Na visão do autor, por conseguinte, o objetivo é tornar os alunos co-responsáveis por sua própria aprendizagem.

Assim, a partir das definições contempladas acima, pode-se concluir que, com exceção à definição de Long (1985), devido a sua natureza não-lingüística, todas as demais compartilham a concepção de que as tarefas envolvem o uso comunicativo da língua em que a atenção dos usuários esteja focalizada no significado ao invés da estrutura lingüística.

Nesse trabalho, compreendo tarefa como uma atividade de ensino que seja orientada à comunicação em contextos reais e que, por sua vez, envolva os aprendizes na compreensão, manipulação, produção, construção de significados e interação na LE.

Diante disso, por meio dessa atividade, entendo que os alunos possam engajar- se em uma interação metacomunicativa (direcionada para o mundo real – atividades voltadas para o significado) ou metalingüística (direcionada para o foco pedagógico – atividades voltadas para a gramática contextualizada e reflexiva).

Assim, definida minha concepção de tarefa para o presente trabalho, passa-se à caracterização de seus componentes, dentre os quais se podem citar: objetivos da atividade, insumo disponível para o seu trabalho, tipos de atividades, papel do aluno e do professor diante desse trabalho e contexto onde o mesmo se dá.