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I. Fundamentação Teórica

1) Como se dá a interação no processo de ensino/aprendizagem de língua espanhola

3.4 Síntese e Discussão dos Resultados

Diante dos dados apresentados, analisados e discutidos até o momento, visando a responder à pergunta e às subperguntas de pesquisa, convém sintetizar e discutir os resultados obtidos com base nos dados coletados de modo a possibilitar a consecução coerente e clara dos objetivos do trabalho.

Uma vez considerada, a princípio, a quantidade numerosa de alunos como influência negativa aos participantes do processo (alunos e eu, professora), levando alguns alunos à indisciplina e a todos nós à desmotivação, ao redimensioná-los numa configuração em pares, trabalhando mediante o uso de tarefas, esses parecem ter sido expostos a ambientes mais naturais e propícios à interação em língua-alvo.

Isso parece ter ocorrido devido a que os trabalhos em pares, ligados ao uso de tarefas, promoveram maior intensidade de envolvimento e aumentaram a qualidade da prática da língua, do retorno e da monitoração de minha parte e da parte de alguns alunos que se mostraram motivados frente a esse trabalho.

Nessa nova configuração, alguns alunos demonstraram dialogar e discutir com os parceiros e comigo de modo mais envolvente do que no contexto anterior, onde tal interação era difícil acontecer, creditada à dificuldade de engajar um elevado número de alunos em sala.

Paralelamente a isso, em decorrência de algumas mudanças de conduta disciplinar do grupo, da negociação do planejamento com os alunos (otimização da metodologia de trabalho) e da postura interdependente e autônoma dos pares em aprender a aprender, o meu trabalho didático-pedagógico pareceu melhorar em termos de uma perspectiva condizente com o ensino comunicativo de LE.

No tocante à questão da indisciplina e da dispersividade, é importante destacar que a decisão de atribuir notas às tarefas como um recurso valorizador do processo de ensino/aprendizagem, foi, justamente, tomada no sentido de inibir tal indisciplina, dispersividade e ruído de alguns alunos, menos motivados, que continuavam comportando-se como faziam nas aulas expositivas do semestre anterior. No entanto, saliento que sou consciente de que essa não é uma postura coerente com a abordagem comunicativa que pretendo assumir.

Levando em consideração que, a partir desse procedimento tive mais condições de trabalho com essa turma, considero que o trabalho com os alunos configurados em pares, trabalhando com o uso de tarefas, minimizou minha postura de professora centralizadora e favoreceu uma postura de co-comunicadora e monitora dos aprendizes.

O trabalho com um planejamento de processo baseado em tarefas foi interessante ao proporcionar que negociássemos interpretações sobre as atividades, elaborando, assim, uma nova perspectiva própria com relação a temas e conteúdo pertinentes, à tipologia, ao insumo adequado, aos procedimentos mais interessantes, entre outros. Assim, foi possível selecionar as tarefas e ajustá-las aos interesses de aprendizagem dos alunos.

Os alunos, por sua vez, ao trabalharem colaborativamente em pares, demonstraram ter oportunidades de desenvolver sua competência em língua-alvo, de acordo com suas próprias zonas de desenvolvimento real e proximal (ZDRs e ZDPs). Dessa forma, puderam interagir, negociar e participar significados na língua-alvo, testando juntos escolhas lexicais que compensassem a carência momentânea de recursos lingüísticos, num ambiente de construção colaborativa de ‘andaimes’ e bastante positivo para a internalização da LE, a partir de seu uso real.

No entanto, embora o grupo tenha demonstrado mais chances para engajar-se no processo de ensino/aprendizagem trabalhando nessa nova configuração do que na anterior, apenas alguns alunos mais motivados evidenciaram aproveitar tais oportunidades de engajamento e interação.

Enquanto alguns pareciam motivados a interagir somente em língua-alvo, interessados, engajados e persistentes, manifestando satisfação pelo ambiente cooperativo de aprendizagem em par, num contexto de descontração e bom-humor, outros, menos motivados, pareciam não tão engajados.

Destaca-se, aqui, que os 10 participantes envolvidos, que atuaram de maneira mais direta na investigação, apresentaram-se altamente motivados para a interação com o seu parceiro em língua-alvo, fato que pareceu não acontecer com todos da classe.

Dessa forma, é importante considerar como uma limitação aos objetivos da pesquisa a maneira como foi conduzida a seleção desses 10 alunos participantes, uma

vez que, ao serem convidados, aleatoriamente, para fazer parte desse projeto, foram, automaticamente, envolvidos em um Estágio Nível Básico validado pela Universidade.

Assim, esse estágio, possivelmente, poderia ter funcionado como um chamariz aos alunos mais interessados da turma e, talvez, os mais motivados à aprendizagem de Língua Espanhola. Diante disso, não se pode descartar o fato de que, durante essa pesquisa, talvez se teria coletado dados mais expressivos dos alunos mais motivados, como atestam os dados e depoimentos apresentados por eles no decorrer da investigação.

Contudo, embora fatores como inibição, carência de recursos lingüísticos e parceiros não-motivados tenham sido apontados por alguns alunos não-participantes da pesquisa como fatores que atuariam, negativamente, sobre a sua motivação, considero que isso não os levaria a desviar-se dos objetivos das tarefas, como por exemplo, conversar sobre assuntos paralelos à atividade, rir durante a sua realização, querer ir embora antes de terminar a aula e, às vezes, deixar a cargo do parceiro a função de terminar a tarefa.

Entretanto, isso não quer dizer que tais fatores não exerçam influências negativas sobre eles, pois parece difícil que alunos alvo dessas influências consigam, plenamente, manifestar satisfação pelo ambiente cooperativo de aprendizagem em par e mostrarem-se interessados, engajados e persistentes, durante a interação propiciada pela tarefa.

Sobre essa questão, encaro que mesmo esses alunos menos motivados poderiam manifestar atitudes e comportamentos diferentes daqueles que expuseram, no sentido de que pudessem compensar a sua aprendizagem com o seu empenho e cientes de que é sua a responsabilidade de aprender a aprender, interdependente, por sua vez, de sua professora para tal.

Além disso, com base nos depoimentos dos participantes e não-participantes sobre se existiria algo que poderia ser implementado para que se motivassem ainda mais durante as aulas de Língua Espanhola, os fatores apontados parecem estar ligados a questões institucionais, como a quantidade numerosa de alunos, a falta de trabalhos com recursos audiovisuais, na sala de aula e no Laboratório de Idiomas, e o reduzido número de aulas de Língua Espanhola (80 h/a), sugerindo uma desmotivação com o próprio andamento do curso em que estão matriculados.

Um outro dado importante a ser levantado parece ser a questão da evasão escolar dessa turma de Tradutor/Intérprete de 2001, nessa Universidade, uma vez que o número de desistências ocorridas no decorrer desse ano letivo (2001) e no ato da rematrícula desse curso (2002) foi superior ao das desistências de outros cursos com corpo discente de perfil socioeconômico semelhante ao seu, durante o mesmo período.

Diante desses números, pode-se observar que a turma de Tradutor/Intérprete apresentou os índices mais altos de desistência, em comparação a outras turmas, durante os períodos descritos, levando-nos a pensar que o índice de insatisfação com o curso desses alunos evadidos poderia ser alto.

Isso não quer dizer, contudo, que esses alunos tenham se evadido devido a estarem desmotivados com o curso, pois outros fatores também poderiam entrar em jogo nessa questão, como por exemplo, fatores financeiros, o campo de trabalho para tradutores e intérpretes, que para alguns seria visto como limitado nesse município, o fato de que, à época dessa pesquisa, esse curso ainda não havia sido reconhecido pelo MEC, dentre outros fatores. Porém, essa suposição não deixa de ser uma hipótese disso.

Nessa terceira seção, foram sintetizados e discutidos os resultados de pesquisa obtidos até o momento, no intuito de possibilitar a compreensão clara e coerente dos objetivos geral e específico dessa investigação.

No próximo capítulo, serão apresentadas as considerações finais e encaminhamentos, em que serão abordadas as conclusões referentes aos pontos de interesse desse trabalho, algumas de suas contribuições para a Área de Ensino/Aprendizagem de LE e possíveis caminhos para pesquisas que estão por vir dentro dessa mesma linha.