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Definições do conceito de paródia

No documento Dada e o riso (páginas 99-105)

2. Dada, o riso e a paródia

2.1. Definições do conceito de paródia

A origem do termo paródia vem do grego e significa canto paralelo, pois, refere-se ao comentário da ação clássica pelo coro. Cada trilogia trágica era, de fato, seguida pela apresentação de um drama satírico, o que pode explicar o procedimento cômico-burlesco e também o seu caráter de reversão. Ela apresenta, além disso, duas possibilidades que se delinearam desde Grécia e de Roma antigas. Trata-se, em primeiro lugar, da reprodução da passagem de um autor no contexto de um tema que lhe é impróprio, humilhante e cômico, ou, em segundo lugar, da reprodução do estilo e do pensamento de um autor, exacerbando-se seus traços mais característicos (FIKER, 2000, p. 96).

Ela sempre acabaria, assim, cumprindo um duplo papel. Inicialmente revelando e, posteriormente, anulado a partir da própria revelação feita. A revelação do texto visado normalmente acontece através da exacerbação dos seus elementos mais característicos, mas, tal desvelar também pode ocorrer pelo deslocamento daqueles componentes mais vulneráveis, ou seja, levando o texto ao seu extremo ou simplesmente retirando-o do seu contexto original chegaríamos ao mesmo resultado.

O exagero dos elementos mais característicos configura aquilo que denominamos como paródia formal, por outro lado, quando o tema, ou mesmo o pensamento, é

transformado impróprio à forma enquanto ela é mantida inalterada teríamos aquilo que chamamos de paródia temática.

Podemos obter a paródia do estilo de outro enquanto simples estilo, mas, também da maneira social e individual de ver, pensar e falar. Ela pode ser superficial quando fica atenta somente às formas de expressão verbal, mesmo aquelas mais banais ou pode ganhar maior profundidade quando passa a se preocupar com os princípios mais íntimos e fundamentais do discurso alheio.

Mikhail Bakhtin, por sua vez, entendeu que a paródia seria um elemento inseparável tanto da sátira menipéia bem como de todos os gêneros carnavalizados de maneira geral. Ela poderia ser considerada, por outro lado, como perfeitamente estranha a outros gêneros, mais puros, tais como a epopéia e também a tragédia. O autor ressalta que já na Antigüidade a paródia era inerente à percepção carnavalesca do mundo, criando, justamente, uma destronização do mundo oficial, ou seja, arquitetando a construção de um mundo às avessas. Exatamente por tal desempenhar tal função é que podemos destacar a sua extrema ambigüidade como um dos seus traços marcantes. O drama satírico, portanto, era originalmente uma imitação cômica da trilogia clássica. Devemos ressaltar, entretanto, que não seria o caso de uma negação do objeto parodiado. Trata-se, na verdade, do princípio da constante renovação através da morte, por isso mesmo, notamos que tudo, nestas sociedades, pode ser objeto de paródia. Em Roma, por exemplo, a paródia constituiu um momento obrigatório do riso ritual quer ele fosse fúnebre ou triunfal. Já no que se refere à paródia da literatura formal durante o período do Renascimento, principalmente com Rabelais, a sua ligação com a percepção carnavalesca do mundo era forte e ambivalente, pois existia a consciência de sua proximidade com a morte, entretanto, na sua concepção atual, tal ligação, segundo ele, praticamente desapareceu.

Outro ponto que deveria ser destacado nesta definição inicial acerca da paródia seria o seu caráter mágico e também desmistificador. A paródia estaria envolvida, quando revela o procedimento básico de produção de um texto, como prestígio místico que envolve a origem da realidade. Tal conhecimento, em certas culturas, confere até mesmo o poder de cura médica. Esta revelação, simultaneamente, também pode ser compreendida enquanto descoberta de um truque, anulando, desta forma, o caráter de prestidigitação do texto. A paródia assumiria, portanto, esta dupla função. Ela pode exorcizar o clichê, por conhecer a sua origem, e, ao mesmo tempo, acaba exercendo o papel do desmistificador que busca revelar ao público outras interpretações, mais críticas, mostrando-lhes, assim, a falsidade e a exaustão de muitos dos procedimentos consagrados. A crise de uma tradição, formação ou gosto literário, quando as formas literárias estão prestes a se exaurir ou já foram reduzidas à condição de clichê, são condições propícias para as manifestações, como foi o caso das atividades dadaístas, de caráter paródico.

Bakhtin, juntamente com alguns dos formalistas russos, considerou a paródia para além de sua manifestação meramente satírica. Na sua concepção, ela desempenharia, fundamentalmente, a tarefa de colocar em destaque a literalidade do texto. A própria etimologia da palavra (para – ao lado de; odos – canto) não sugere a intenção de nenhum efeito cômico, mas, tão somente o da comparação e mesmo o do contraste. Eles procuram diferenciar uma tradição da paródia marcada, sobretudo, pelo ridículo, de uma forma moderna denominada de meta-ficção, ou seja, no reconhecimento da natureza dual da obra de arte. A ironia desta meta-ficção é muito mais analítica do que destrutiva. Tal definição pode ser comprovada quando observamos uma espécie de deferência irônica que se sobrepõe ao desejo de ridicularizar eventualmente uma forma ultrapassada em relação ao texto parodiado.

Todas as formas de arte do século XX, de acordo com Hutcheon, mostraram uma crescente desconfiança quanto a qualquer crítica exterior. Tamanha ojeriza levou o artista a incorporar, numa espécie de legitimação, o comentário crítico dentro de suas próprias

estruturas (HUTCHEON, 199-, p. 11). O interesse pela paródia aparece exatamente dentro deste contexto de interrogação acerca da natureza da auto-referência e também da legitimidade da atividade artística. A paródia, neste sentido, pode ser considerada, de acordo com essa autora, como uma das principais ferramentas utilizadas para a reflexão e também como uma importante forma do discurso intertextual.

A paródia foi designada, ainda segundo esta autora, como parasitária e derivativa. A estética romântica, ao ressaltar as noções de gênio, originalidade e individualidade, considerou a paródia como um gênero de menor alcance. Esta rejeição romântica das formas paródicas, entendida como algo parasitário e até nefasto, reflete, nesta concepção que a considera como algo marginal, uma ética que pensa a literatura como qualquer outra mercadoria, podendo, assim, ser usufruída pelo indivíduo consumidor. Poderíamos considerá- la, no entanto, como um modo de chegarmos a um acordo com o legado, rico e temível, dos textos tradicionais. Ela funcionaria, neste dilema entre mudança e continuidade, como um modelo para o processo de transferência e reorganização do passado. Tal forma de tratamento positivo da tradição remontaria, por exemplo, à atitude frente ao seu patrimônio cultural adotada pelos renascentistas.

O diálogo com o passado realizado pela paródia ofereceria, evidentemente, uma versão mais limitada e mesmo controlada da tradição. A paródia sempre efetuou a criação, como já havíamos destacado anteriormente, de novos contextos, exigindo do leitor, além disso, certo conhecimento do seu legado cultural, ou seja, determinada memória, desenvolvida e apropriadamente treinada, para uma perfeita compreensão de sua ironia. Desse modo, ao ressaltar tal ligação com a tradição, torna-se claro que a paródia pode ser interpretada como algo que transcenderia aquela simples imitação que visa o escárnio e o ridículo do patrão original.

Talvez o exemplo mais conhecido e também citado da paródia elaborada no século XX seja o romance Ulisses de James Joyce. Existem diversos paralelos carregados de ironia estabelecidos nesta obra. Assim, percebemos que a Odisséia, mesmo quando Molly/Penélope não permanece casta no seu quarto insular esperando o retorno do marido, foi constantemente parodiada, contudo, não escarnecida, pois, fornece, afinal, toda uma série de episódios, como a do Patriota/Ciclope, que serão moldados por Joyce em cenas memoráveis, transformando a literatura em algo capaz de ordenar o universo.

A paródia, neste sentido, seria uma imitação caracterizada, principalmente, por uma inversão irônica. Trata-se, desta maneira, de uma repetição, mas, por ser marcada pela ironia, uma repetição com distância, enfatizando, com isso, sobretudo, a diferença e não tanto a semelhança. Não encontramos uma imitação de padrões ligados à tradição, porém, uma confrontação estilística que procura uma forma de codificar, criticamente, a realidade. As convenções do passado, por isso mesmo, acabaram sendo apropriadas, como fizeram os artistas dadaístas mesmo quando afirmavam sua completa ruptura com o passado e com toda a forma de tradição, e ganharam um novo sentido. Dada, portanto, pode ser considerado a partir da sua característica de parodiar outras manifestações da arte moderna, com isso, ele questionou, inclusive, a sua própria identidade, duvidando, de modo sistemático, até do valor do ato de produção estética do artista.

O modelo mais próximo desta paródia moderna, segundo a interpretação de Hutcheon, seria a imitação renascentista (HUTCHEON, 199-, p. 22). Ela não pode ser compreendida, assim, por aquele distanciamento crítico e irônico característico da perda na esperança humanista. Deveríamos, na verdade, compreendê-la por sua posição eficaz em relação ao passado, ou seja, por sua estratégia de repetir para alcançar maior liberdade de criação. Para nos ajustarmos às necessidades da arte do nosso século deveríamos, na visão da autora, reformular o conceito de paródia, ampliando-o muito além da mera apropriação textual, o que implicaria a criação de outros conceitos interpretativos. Esta remodelação feita pelo artista

Dada de obras do passado teve por finalidade ridicularizar, na maioria das vezes, os costumes e os valores culturais contemporâneos. Para alcançar tal objetivo a paródia utilizou uma série de procedimentos tais como a inversão, a contextualização de obras de artes anteriores em outros cenários (o que acaba distinguindo a paródia do pastiche ou da simples imitação), a execução irônica e até a tentativa de mudança estrutural da criação artística.

A paródia, compreendida a partir de tal perspectiva, pode tanto promover uma reformulação do caráter sacro da obra de arte, como também levar a sua completa dessacralização. O seu uso torna-se mais apropriado, pensando numa revisão crítica dos nossos valores culturais, do que a utilização da citação, pois, não se trata, neste caso, da adoção de uma outra obra como princípio orientador.

Ela pode ser tanto uma forma de crítica, em certos casos, quase uma admiração respeitosa, ou ainda, chegar até o âmbito do ridículo mordaz, como também pode ser interpretada como um meio arrasador, como no caso Dada, de afirmar uma postura niilista diante de uma realidade de opressão, exploração e ausência de qualquer perspectiva mais promissora. Pode, além disso, não ficar restrita ao texto parodiado, entretanto, zombar do próprio código lingüístico.

Precisaríamos restringir, por outro lado, o alcance dos seus inúmeros significados, para alcançarmos, de acordo com Hutcheon, uma melhor definição de sua essência, ou seja, trata- se de determinar que o texto trabalhado pela paródia, invariavelmente, será outra obra de arte. Tal distinção torna-se necessária para não confundirmos a paródia com a sátira que se caracteriza por ser, ao mesmo tempo, moral e social na sua atuação. Toda a forma codificada pode, assim, ser alvo de uma paródia, ou seja, ser tratado em termos de repetição com a distância crítica necessária.

O âmbito em que a paródia acaba tendo a possibilidade de atuar inclui, com pode ser facilmente demonstrado, uma ampla dimensão de alternativas estéticas. Podemos, desse modo, parodiar todo um gênero como fez Cervantes com Dom Quixote, o estilo de certo período histórico, de certo movimento artístico, um determinado artista ou até mesmo uma obra específica ou partes dela que constituem nossa herança cultural. Podemos destacar como exemplo desse último caso, a obra feita pelo pintor francês Marcel Duchamp no ano de 1919. Trata-se da sua famosa e provocativa paródia da Gioconda, intitulada L.H.O.O.Q. que escandalizou o público duplamente: inicialmente por brincar com o consagrado modelo original e depois pela conotação obscena do título dado ao quadro. Enfatiza-se, com tais possibilidades históricas, o aspecto de intertextualidade, modalidades de referência e também de reflexão abordados através da paródia. Podemos dizer que ela estabelece ligações com o seu contexto social pela discussão, sobretudo, dos relacionamentos que ocorrem no próprio âmbito das artes.

A construção paródica ocorre, de fato, pela inscrição de certa continuidade e, simultaneamente, pela manutenção de um distanciamento crítico essencial para a sua operação de formação de novos significados críticos:“Pode, com efeito, funcionar como força conservadora ao reter e escarnecer, simultaneamente, de outras formas estéticas; mas também é capaz de poder transformar, ao criar novas sínteses, como defendiam os formalistas russos” (HUTCHEON, 199-, p.32). Esta conjugação de procedimentos que enfatizam tanto a repetição como a diferença crítica, idéia que está presente mesmo na etimologia do termo, oferece elementos para compreendermos os possíveis efeitos e as conseqüências das atitudes e do riso Dada.

Existiria, portanto, uma intenção que iria muito além da simples referência estabelecida na relação entre os diferentes textos, ou seja, haveria, nesta relação com a paródia, um reconhecimento e uma intenção de interpretar a outra obra ou conjunto de convenções. O paradoxo residiria, justamente, no fato da paródia ser uma transgressão que sempre receberia um selo de autorização do passado, por legitimar os padrões culturais

legados por outras gerações. Estaria dividida entre impulsos de forças revolucionárias e de forças conservadoras, tornando-a, por isso mesmo, um gênero bastante complexo tanto por sua forma como pelo seu conteúdo.

O artista dadaísta, em quase todas as situações onde houve um confronto aberto com o padrão estabelecido, utilizou este meio para se contrapor às relações com as convenções do passado e à dominação racional promovida pela sociedade capitalista desenvolvida. Na tentativa de garantir o arranjo, permeado de melancolia e ironia, da sua arte com a tradição e com o poder, a paródia, que poderia até ser divertida se não fosse o seu tom de niilismo, acabou sendo freqüentemente requisitada pelos artistas vinculados ao Dada como uma forma de contestação da ordem social e estética.

Outros artistas, aliás, tomaram, como principais meios para a criação de novos sentidos, da ironia e da paródia para a formação de suas criações mais importantes. Não seria um mero acaso, neste contexto histórico de profundas transformações econômicas, sociais e políticas, a predileção de muitos dos principais romancistas modernos, como foi o caso, por exemplo, de vários artistas vinculados às vanguardas históricas, por formulações consagradas anteriormente. A forma moderna, ao relacionar dois textos diferentes de modo paródico, não destacava nenhum deles, pelo contrário, ela tentaria ressaltar, antes de tudo, as suas diferenças, dramatizando e ironizando esta situação para conscientizar o seu leitor para as contradições específicas da realidade social vividas naquele momento.

Como existe uma vasta literatura a respeito da paródia, devemos ressaltar que o seu significado, dependendo do período histórico e da sociedade analisada, pode sofrer profundas alterações no seu sentido. Tentaremos, por isso mesmo, aprofundar um pouco mais a definição deste conceito. Procuraremos, além disso, continuar a desenvolver algumas outras implicações que estejam mais relacionadas com o nosso estudo sobre o riso mercadoria produzido pela indústria cultural e a sua relação com o riso dadaísta.

A raiz etimológica do termo pode ser interpretada, como vimos no início deste capítulo, como canto paralelo, entretanto, ela também pode ser traduzida como um canto de oposição. O elemento odos revelaria, em contraste à sátira, a natureza discursiva ou textual da paródia. A maior dificuldade surgiria, na verdade, quando consideramos o prefixo para. Sua interpretação torna-se mais difícil porque ele possui dois significados contrastantes. O primeiro deles, freqüentemente utilizado pela maioria dos críticos, é aquele que carrega, sobretudo, a noção de oposição, antagonismo e contrariedade. A paródia torna-se, então, uma forma de contrastar os textos e um ponto de partida para ridicularizar a outra obra, transformando-a em algo caricato. Por outro lado, Para em grego também pode significar “ao longo de”, o que descartaria a idéia de oposição, enfatizando, pelo contrário, a noção de certa concordância e intimidade:

(...) A paródia é, pois, na sua irônica ‘transcontextualização’ e inversão, repetição com diferença. Está implícita uma distanciação crítica entre o texto de fundo a ser parodiado e a nova obra que incorpora, distância geralmente assinalada pela ironia. Mas esta ironia tanto pode ser apenas bem humorada, como pode ser depreciativa; tanto pode ser criticamente construtiva, como pode ser destrutiva. (HUTCHEON, 199-, p. 48).

Trata-se da elaboração de um outro contexto, de sintetizar elementos e também de elaborar, num processo que inclui a destruição irônica, várias convenções. O uso da ironia aconteceria por ela ser uma forma sofisticada de expressão, sendo, por isso mesmo, adequada para o cumprimento desta tarefa crítica. Dessa maneira, a paródia constituiria um gênero sofisticado, exigente e complexo. Os seus praticantes e intérpretes devem efetuar uma

sobreposição de textos que incorpore termos antigos na nova estrutura. Ela seria, ao contrário, por exemplo, do pastiche que termina por acentuar mais a semelhança do que a diferença, uma síntese, aproximando-se, assim, muito mais dos procedimentos da metáfora. Ambas passam a exigir a construção de uma outra significação que vá muito além das afirmações superficiais, reconhecendo, portanto, a interferência daquele pano de fundo na criação de um novo contexto.

Dessa maneira, no seu conturbado relacionamento com o modelo herdado, a paródia sempre buscou uma diferenciação transformadora e completamente adaptativa. Já o pastiche procura agir mais por semelhança imitativa e pela correspondência com o seu cânone, permanecendo, assim, dentro do mesmo gênero em que o paradigma eleito se encontra. Eles não podem ser considerados, todavia, como simples imitações textuais, afinal, existiria, nitidamente, uma enorme diferença, na intenção envolvia em cada uma das situações, em relação, por exemplo, ao plágio.

A realização e a forma da paródia incluiriam, além dessa incorporação de elementos de textos diferentes, a função de separação e contraste, ou seja, existiria a necessidade do distanciamento irônico, diferentemente da imitação, da citação e da alusão, para que ela possa continuar mantendo o seu papel, fundamental, crítico. Percebemos, de acordo com o parágrafo anterior, que a paródia, assim como a ironia, trabalharia em um plano superficial e também em um plano implícito, abordando, deste modo, um nível mais profundo da elaboração do discurso. O seu sentido final resultaria, precisamente, do reconhecimento da sobreposição destes diferentes níveis contidos no texto abordado.

Os formalistas russos também consideraram a paródia como uma importante forma de reflexão. Seria um modo de prestarmos a devida atenção, por exemplo, ao convencionalismo presente em toda a obra de arte. Ela pode ser considerada, nesse sentido, como um ato pessoal de superação e, simultaneamente, de continuidade histórica. Por isso, segundo eles, a paródia desempenharia um importante papel na transformação ou substituição dialética daquelas formas literárias que haviam sido mecanizadas pela estrutura social. No embate contra tais mecanismos de opressão a paródia conferiria outras funções para os velhos elementos desgastados pelo uso ideológico, alterando-os e desenvolvendo-os a partir das suas antigas fórmulas, porém, fornecendo-lhe, ao mesmo tempo, uma seiva crítica, fonte de continuidade e também de inovação do discurso acerca da realidade.

A repetição ocorreria, no entanto, inevitavelmente. Ela incluiria também, necessariamente, a diferença, que seria garantida pela distância crítica, permeada, principalmente, por uma ironia que tanto pode beneficiar, como prejudicar a nossa compreensão da relação entre os textos e entre o(s) texto(s) e a realidade.

Assim, podemos considerar que, pelo que foi discutido até aqui, a repetição, a elaboração a partir de elementos provenientes de diferentes contextos e o distanciamento crítico, são as características fundamentais para compreendermos o conceito da paródia. Não podemos confundir tais traços, no entanto, com a citação, pois, a referência a um texto como paródia não representa o mesmo efeito que a referência de uma obra enquanto citação. A paródia possui uma determinação em relação ao outro texto muito mais intensa do que a

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