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Matriz 1. Agrupamento de escolas pesquisadas

5.1 Delimitação do campo empírico

No Brasil desenvolvemos nossa investigação em Uberlândia/MG. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município citado apresenta uma população de 604.013 habitantes (em 2013, a população estimada é de 646.673 hab.), distribuídos em uma área de 4.115,206 km², com densidade demográfica de 146,78 hab/km². Ocupa a terceira posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) municipal do estado, atrás apenas de Nova Lima e da capital Belo Horizonte. Uberlândia possui um alto IDH (0,789 em 2010), em um processo de crescimento em relação aos 0,702, em 2000 e 0,577, em 1991, de acordo com oAtlas Brasil 2013 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento12.

No contingente educacional, de acordo com o Censo Escolar 2013 (Inep/MEC), o número de estudantes matriculados no Ensino Fundamental é de 76.903, sendo que nos anos iniciais do Ensino Fundamental é de 41.938, e nos anos finais, 34.96013. Em relação à dependência administrativa, estavam no Ensino Fundamental, na rede estadual, 29.637 estudantes; na federal, 677; na municipal, 35.204; e na privada, 11.385. Iniciamos a delimitação do campo empírico no primeiro semestre de 2012. Por meio do site da 40ª Superintendência Regional de Ensino (SRE), obteve-se uma listagem de 504 escolas da SRE Uberlândia; destas, 331 estão no município e abarcam instituições privadas, municipais, estaduais e federais. Nosso foco voltou-se para as escolas estaduais, visto que no ano de 2011 (momento da seleção das escolas da pesquisa) se observava a histórica luta dos professores por melhores condições de trabalho, em uma greve de 112 dias que tinha, dentre outras pautas, a cobrança do cumprimento da Lei Nacional do Piso Salarial (Lei n. 11.738/2008). Do total de escolas da rede pública, 69 eram estaduais, das quais 68 estão localizadas na zona urbana. Na

12 Dados disponíveis em:

<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=317020&search=minas- gerais|uberlandia|infograficos:-informacoes-completas>. Acesso em: 12 jun. 2014.

Tabela 1 a seguir, há a discriminação de estudantes na rede, de acordo com o nível de abrangência.

Tabela 1. Número de escolas, matrícula e professores da rede estadual – Uberlândia

Fonte: Elaboração da autora, com dados da 40ª Superintendência Regional de Ensino (2011). Dentre as 68 escolas estaduais urbanas, selecionamos apenas as que atendiam ao Ensino Fundamental (foco da pesquisa), mas que abarcavam tanto os anos iniciais (1º ao 5º ano) quanto finais (6º ao 9º), pois a presença dos testes estandardizados em ambos os níveis gera maior densidade de avaliações sobre o coletivo da instituição de ensino. Ao excluirmos as escolas que atendem apenas uma das etapas do Ensino Fundamental, obtivemos a seleção de 39 escolas, como delineado na Tabela 2.

Tabela 2. Escolas estaduais por área de atuação – Uberlândia

Fonte: Elaboração da autora, com dados da 40ª Superintendência Regional de Ensino (2011).

O segundo critério de seleção das escolas esteve relacionado ao resultado do Ideb 2005/2007/2009 (dados disponíveis no site do Ideb/MEC, coletados em dezembro de 2011). Limitamos a pesquisa às escolas que apresentavam dados nos três anos avaliados, haja vista o propósito de envolver na pesquisa sujeitos cuja aproximação com

os testes estandardizados fosse mais intensa. A partir desse critério, selecionamos 30 instituições escolares.

Ainda em relação ao número de escolas, vale ressaltar que na definição dos critérios não era relevante para nossa pesquisa a estratificação das instituições de ensino escolhidas entre as “melhores” e as “piores” colocadas, de acordo com o Ideb. Nosso interesse precípuo era abarcar na análise o processo de flutuação/movimentação dos índices, ou seja, as migrações do status das escolas e os mecanismos utilizados por elas para garantir a mobilidade. Essa migração foi, por nós, considerada importante, pois possibilitaria apreender tanto os elementos dos processos internos da organização da escola – que no olhar dos professores ocasionaram a modificação da performance da instituição – quanto as diferentes influências sobre o trabalho docente, de acordo com as discrepâncias de realidade. Neste estudo nos dedicamos a essa análise e ao confronto das variáveis que nos levaram a ampliar o olhar para além das dicotomias das escolas situadas em bairros central e periférico; de baixo e alto Ideb; e de alto e baixo poder aquisitivo dos moradores da região.

Efetivado esse procedimento, iniciamos o contato preliminar nas escolas, a fim obter a participação voluntária dos sujeitos. Para tanto, agendamos e realizamos reuniões com todos os diretores das 30 instituições selecionadas. No encontro com os gestores, foram apresentados os objetivos da pesquisa, a metodologia e os indivíduos da escola que estariam diretamente envolvidos (professores do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental; Especialista da Educação Básica e gestor) e que participariam das entrevistas, os quais seriam individualmente consultados quanto à disponibilidade em participar. Essas reuniões em muitos casos foram remarcadas por uma ou duas vezes, e em apenas três ocasiões foi necessário marcar com o vice-diretor da escola, o que gerou problemas no desenvolvimento das atividades nesse local, visto que o diretor havia suspendido os horários agendados com os professores, e apenas após conversarmos foi possível continuar com as atividades.

Do número total de 30 escolas, apenas uma não foi incorporada à pesquisa, ainda que não tenha destacado de forma explícita a manifestação pela não participação, pois realizamos muitas tentativas de agendamento da reunião com o gestor na escola e não obtivemos resultado positivo – mesmo ao visitar a escola, não fomos recebidas. De forma geral, houve abertura das instituições quanto à participação para o presente estudo, sobretudo ao mencionarmos o tema da pesquisa, compondo, ao final, um

universo de 29 escolas [ao longo do trabalho, elas serão identificadas com numerais de 1 a 29 (E1; E2; E3...), o que aparece registrado nos excertos citados]. Outro fator que conduziu à permanência desse universo de 29 escolas era que, ao iniciarmos o contato com as instituições de ensino, não tínhamos a certeza sobre quantos professores aceitariam participar da pesquisa, uma vez que, após a autorização dos diretores, os docentes da instituição poderiam ou não ter interesse em ser entrevistados.

Na análise dos dados do Gráfico 1, pudemos mapear algumas dimensões que caracterizam as escolas que compõem o quadro pesquisado. Nele ressaltamos os desempenhos expressos no Ideb, a localização das escolas e as condições socioeconômicas dos bairros nos quais essas instituições estão inseridas. Tais dados apontam a complexidade e as particularidades da realidade de trabalho dos professores, fatores nomeadamente desconsiderados na “nota” final da escola, mas que são variáveis a ser estudadas quanto avaliamos os impactos das exigências de metas na concretude da realidade em que cada instituição está inserida. Nosso pressuposto é que essas diferenças acarretam demandas distintas ao docente.

Gráfico 1. Ideb e renda média nominal no bairro onde as escolas pesquisadas estão inseridas – Uberlândia

Fonte: Elaboração da autora, a partir de dados do Inep/Ideb e do IBGE (2010).

No Gráfico 1, em relação ao Ideb exploramos a média do 5º e 9º ano do Ensino Fundamental no ano de 2009 (na época da seleção das instituições de ensino, esse era o

resultado mais recente), quando a grande concentração das escolas se encontrava entre 4,5 e 6. O nível do poder aquisitivo14 dos moradores nos bairros onde as escolas estão inseridas é significativamente distinto, desde R$ 800,76 a 2.771,82 (renda média dos indivíduos por família). Vale salientar que, no IBGE de 2010, não há dados de sete bairros em que estão localizadas as escolas pesquisadas, os quais estão situados em regiões mais periféricas e pobres da cidade15.

Os dados iniciais apresentados no Gráfico 1 poderiam ser usados para justificar visões “tendenciosas” como, por um lado, de que a realidade socioeconômica em que a escola está inserida não é fator relevante para os índices, selecionando, como exemplo, a relação entre os resultados das instituições E2, E9 e E29; contudo, na aproximação com essas escolas, despontam-se novos elementos, como na escola E2, que na realidade tem seu quadro formado basicamente por estudantes que são conduzidos em ônibus da prefeitura e que moram em bairros diferentes e constituídos por famílias carentes, situação que inclusive dificulta o contato da família com a escola, em razão da distância; de outro lado, poder-se-ia justificar que os problemas enfrentados pela escola são decorrentes apenas das diferenças de condições sociais; para tanto, utilizar como referências E14 e E16, negando os dados da E23, que possui um Ideb elevado; ou desconsiderar que há escolas em contextos “aparentemente” semelhantes e com resultados muito distintos, ou o inverso, a exemplo da E2, que apresenta uma renda intermediária (R$ 1.655,81), está situada em uma região central e possui o Ideb mais baixo dentre as instituições pesquisadas, e da E12, que tem a renda mais elevada (R$ 2.771,82), situada em bairro nobre da cidade e com Ideb de 6,2.

Como nosso interesse é entender os processos conduzidos pelas escolas na migração nos resultados do Ideb e seus efeitos para o trabalho docente, diante da constituição de tais índices e não apenas do resultado em si, os diferentes contextos ou aparentes similitudes presentes no Gráfico 1 são fatores importantes para a análise do impacto das exigências que as metas provocam sobre os professores. Além disso, como

14 Desde os impactos gerados pela análise de Coleman (2008) na década de 1960 nos Estados Unidos,

acerca do papel das escolas no desempenho dos alunos, e a sua conclusão sobre a força das diferenças socioeconômicas na diferença de resultado, muitas foram as posições sobre essa temática (Cf. BROOKE; SOARES, 2008).

15 De acordo com a Base de informações do Censo Demográfico 2010: resultado do universo por setor

censitário (IBGE, 2011), os bairros são subdivisões intraurbanas legalmente estabelecidas a partir de leis ordinárias das Câmaras Municipais e sancionadas pelo prefeito. Assim, os bairros não localizados remetem a esse provável não estabelecimento em lei da agregação oficial. É digno de nota que Uberlândia, vista como uma cidade com elevado nível socioeconômicas, justamente não apresenta, nos dados no IBGE, os bairros onde observamos as condições mais precárias.

salientaremos no Capítulo I, serão apontadas as possíveis manipulações diante dos dados quantitativos e da seleção ou não de variáveis para a composição da análise.

Em relação ao campo empírico em Portugal, trabalhamos com um agrupamento de escolas situadas em Braga. O contato inicial foi intermediado pelo professor supervisor do estágio doutoral, Prof. Dr. Almerindo Afonso Janela. O(a) diretor(a) do agrupamento aceitou participar da pesquisa que se desenvolveu durante o período de outubro de 2012 a fevereiro de 2013. Como destacamos anteriormente, o agrupamento de escolas pesquisado é formado por nove escolas, sendo quatro Jardins de Infância, quatro escolas de Ensino Básico do Primeiro Ciclo (EB1) e uma escola de Ensino Básico do Segundo e Terceiro Ciclo (EB2, 3). O processo de instalação desse agrupamento ocorreu em 2003.