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As redes interorganizacionais constituem atualmente uma evidência saliente das mudanças prosseguidas e dos ajustamentos concretizados pelas organizações no sentido de responderem às dinâmicas do contexto no qual operam (e.g., Franco & Barbeira, 2009; Gray, 2006; Huggins & Johnston, 2009; Kitaoka et al., 2011; Mu et al., 2008; Seufert et al., 1999). Apesar desta forma estrutural de organização coletiva não constituir uma realidade característica e exclusivamente contemporânea, é inegável que o interesse da investigação teórica e empírica pelo estudo, análise e compreensão desta dimensão do comportamento organizacional tem vindo a crescer (e.g., Alves et al., 2013; Balestrin et al., 2010; Dyer & Hatch, 2006; Huggins, 2010; Iacono et al., 2012; Provan et al., 2007; Torfing, 2005). Concomitantemente, os processos e práticas que trabalham e operacionalizam a gestão do conhecimento organizacional têm vindo a ser projetados para um nível que não se circunscreve às tradicionais fronteiras organizacionais, de

natureza intraorganizacional (e.g., Balestrin et al., 2008; Bergman et al., 2004; Easterby-Smith et al., 2008; Ho & Chiu, 2011; Peña, 2002; Seufert et al., 1999; Verburg & Andriessen, 2011). Neste sentido, em termos gerais, procura-se contribuir, teórica e empiricamente, para a maturação da investigação que se centra no estudo, compreensão e operacionalização dos processos de gestão do conhecimento em redes interorganizacionais.

Atendendo às considerações tecidas anteriormente, o estudo empírico levado a cabo encerra em si dois objetivos centrais, constituindo o núcleo duro e operacional à volta dos quais objetivos específicos foram igualmente definidos. Assim, o primeiro objetivo centra-se na identificação e caracterização, quer em termos estruturais quer descritivos, da rede de partilha de conhecimento existente no contexto da rede associativa empresarial da região centro de Portugal. Salienta-se neste âmbito que a literatura dedicada ao estudo das redes interorganizacionais tende a definir como premissa teórica subjacente à sua construção (e desenvolvimento) a existência de oportunidades de partilha e troca de recursos tangíveis (e.g., dinheiro) e intangíveis (e.g., conhecimento), quer se tratem de estruturas formais ou informais, com mecanismos de funcionamento ou controlo mais ou menos formalizados (e.g., Alves et al., 2013; Boschma & Ter Wal, 2007; Corno et al., 1999; Gulati, 1999; Hackney et al., 2005; Inkpen, 2000; Khamseh & Jolly, 2008; Khanna et al., 1998; Pardini et al., 2009; Peña, 2002; Podolny & Page, 1998). Enquanto veículos e plataformas de ação coletiva, as redes interorganizacionais são definidas e delimitadas com base em pressupostos estratégicos, conducentes à construção de vantagens para as organizações quer no seu todo coletivo quer individual (e.g., redução de custos e incerteza; ganhos de prestígio, legitimidade e eficiência; melhoria e inovação de processos internos; obtenção de recursos escassos) (e.g., Becerra et al., 2008; Edström et al., 1984; Gulati, 1999; Gulati et al., 2000). Todavia, por um lado, a construção e manutenção de uma rede interorganizacional não garante, por si só, a existência por exemplo de fluxos de conhecimento entre os parceiros (Huggins, 2010; Inkpen & Tsang, 2005), nem a utilização desse conhecimento para a implementação intraorganizacional de melhorias e inovação (e.g., Cricelli & Grimaldi, 2010; Mariotti, 2011; Tortoriello & Krackhardt, 2010). Como afirmou McLeod (2010), “there is need to understand whether a network is indeed an instrument of knowledge capture” (p. 98). Por outro, tal como referiram Provan, Veazie, Staten, e Teufel-Shone (2005) e Watts (1999), por norma, os membros de uma rede tendem a construir uma visão pessoal das dinâmicas de interação, bem como dos processos que ocorrem no interior da rede que integram. A construção de uma visão mais objetiva é facilitada pelo recurso à análise estrutural e descritiva da rede, podendo constituir, mediante os resultados obtidos, uma oportunidade de compreensão e reflexão acerca do seu funcionamento.

O objetivo explicitado, de natureza exploratória e descritiva, encerra em si um evidente valor instrumental, contribuindo para a construção de uma compreensão mais objetiva acerca das características estruturais que envolvem o processo de partilha de conhecimento no seio da rede associativa empresarial em estudo. Considera-se deste modo a exploração das seguintes questões de investigação, definidas através de um raciocínio dedutivo80: (i) o processo de partilha interorganizacional de conhecimento é passível de ser

80 Define-se como um dos principais métodos para a formulação de problemas/questões de investigação, onde o ponto de

identificado no contexto da rede associativa empresarial da região centro de Portugal?; (ii) preconizando uma resposta positiva à pergunta anterior, quais as características estruturais dessa rede de partilha de conhecimento?; (iii) qual a frequência da partilha interorganizacional de conhecimento?; (iv) quais os meios utilizados para a concretização da partilha interorganizacional de conhecimento?; (v) quais as áreas de conhecimento que são alvo de partilha interorganizacional?.

Foi igualmente objetivo central do presente trabalho propor um modelo conceptual explicativo que contribua, teórica e empiricamente, para a reflexão e compreensão do comportamento organizacional desenvolvido e aplicado em contexto de rede. Para a delimitação deste modelo, considerou-se a integração estrutural e relacional de um conjunto de variáveis, onde os processos de gestão do conhecimento considerados para a presente investigação, designadamente partilha interorganizacional de conhecimento e utilização do conhecimento partilhado, se definem como núcleo central. Assim, neste âmbito, atribui-se particular relevo às relações causais que definem os seus potenciais fatores de facilitação (ou inibição), bem como às dimensões sobre as quais se refletem (ou manifestam) positivamente. Este segundo objetivo foi delineado nuclearmente a partir da linha de investigação, teórica e empírica, que reúne preocupações e interesses (científicos e empresariais) de análise, compreensão e reflexão acerca de potenciais fatores, passíveis de exercer um papel influente e significativo nos processos de gestão do conhecimento.

Concomitantemente, objetivos de natureza secundária foram igualmente delineados. Em primeira instância, foram definidos como objetivos incontornáveis para a presente investigação a construção e validação de instrumentos de medida, passíveis de operacionalizar os constructos alvo de estudo, assim como aplicáveis ao comportamento organizacional em rede. A sua concretização contribuiu determinantemente para os objetivos nucleares sobre os quais se edificou o presente trabalho. Atendendo à falta de instrumentos de medida passíveis de serem aplicados e adaptados para o presente estudo, salienta-se igualmente o contributo ao nível da investigação instrumental81.

Atentando aos membros centrais da rede associativa empresarial e seus principais beneficiários (i.e., as empresas associadas), considerou-se igualmente como objetivo específico caracterizar os seus níveis de comprometimento para com a rede, de capacidade de absorção organizacional, de confiança interorganizacional, de utilização do conhecimento partilhado, assim como os níveis de valor instrumental que atribuem à rede.

Delimitou-se ainda como objetivo específico analisar o impacto e associação de um conjunto de variáveis organizacionais (considerando apenas as empresas associadas participantes) face ao comprometimento na rede, capacidade de absorção organizacional, confiança interorganizacional, utilização do conhecimento partilhado e valor instrumental da rede. Deste modo, definiu-se como objetivo averiguar, por um lado, a existência de diferenças entre grupos de participantes, definidos mediante características

verificação (Popper, 1959). Neste sentido, atende-se à seguinte maxima: “there is nothing more practical than a good theory” (Lewin, 1952, p. 169). Em contraste, o método indutivo parte de um conjunto singular de fenómenos, procurando reunir aspetos de unificação. Ou seja, parte do específico para o geral (Almeida & Freire, 2008).

81 Neste contexto, a investigação instrumental define o campo de estudo orientado para a construção, adaptação e validação de

instrumentos de medida, passíveis de serem utilizados em investigações, avaliações e intervenções no âmbito do comportamento organizacional.

‘naturais’ ou atributos da estrutura organizacional e, por outro, a associação de atributos relativamente aos constructos mencionados anteriormente. Procurou-se, assim, contribuir para a construção de uma leitura mais minuciosa e compreensão mais construtiva de dimensões do comportamento organizacional que remetem para processos e dinâmicas existentes no contexto de rede, atendendo especificamente aos atores nodulares da rede associativa empresarial em estudo (i.e., as empresas associadas).

Por último, definiu-se igualmente como objetivo considerar um conjunto de variáveis organizacionais passível de contribuir para a compreensão mais detalhada de algumas características estruturais da rede interorganizacional de partilha de conhecimento operante, atendendo designadamente às medidas de densidade e centralidade.