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A investigação instrumental assume um papel central no reconhecimento da validade dos estudos de natureza científica, pelo que o processo de construção e validação de instrumentos de medida constitui uma etapa nuclear da qual depende igualmente o valor e rigor da informação recolhida (Almeida & Freire, 2008; DeVellis, 2003).

Na presente investigação foi utilizado um conjunto de seis instrumentos de medida112. Após uma cuidada revisão bibliográfica, concluiu-se pela inexistência de instrumentos previamente elaborados e aferidos que servissem na plenitude os objetivos da presente investigação, pelo que foram, assim, desenvolvidas ações conducentes à construção e validação daquele conjunto de instrumentos (DeVellis, 2003; Netemeyer, Bearden, & Sharma, 2003; Spector, 1992). Procedeu-se, assim, à aplicação rigorosa e cuidada de procedimentos conducentes à operacionalização dos constructos113 centrais do presente estudo. Deste modo, na presente secção, explicitam-se as etapas e procedimentos, por um lado, de construção dos instrumentos de medida utilizados na investigação realizada e, por outro, de averiguação da sua validade de conteúdo. A obtenção das versões finais destes instrumentos de medida, administradas no âmbito da recolha de dados, envolveu, assim, um conjunto faseado de ações e de procedimentos, baseado sobretudo nas propostas de Almeida e Freire (2008), DeVellis (2003), Fink e Kosecoff (1985), Moreira (2004), Spector (1992) e Netemeyer et al. (2003).

4.4.1. Construção dos Instrumentos de Medida

Após a delimitação de parâmetros relativos aos constructos a avaliar e sua definição, ao âmbito e objetivos dos instrumentos a construir, bem como à população-alvo, iniciou-se o processo de construção dos instrumentos de medida (Almeida & Freire, 2008; DeVellis, 2003; Moreira, 2004). Este envolveu o desenvolvimento de cinco principais etapas: (i) definição do formato para a operacionalização dos constructos em estudo; (ii) operacionalização dos constructos pela formulação dos indicadores; (iii) seleção da escala de medida; (iv) organização do conjunto de itens; e (v) formulação das instruções.

No que se refere à definição do formato de operacionalização dos constructos em estudo, enveredou- se pela formulação de itens sob a forma de afirmações. O Questionário de Partilha de Conhecimento

112 De referir que o conjunto de instrumentos de medida foi aplicado na sua totalidade apenas ao nível das empresas associadas.

No que se refere aos restantes dois níveis institucionais da rede associativa empresarial da região centro, (i.e., CEC/CCIC e associações empresariais), apenas se procedeu à aplicação e tratamento do Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional, assim como do Questionário de Caracterização Organizacional (cf. Anexo A1 e Anexo B3).

113 Tal como afirmaram Almeida e Freire (2008), o processo de operacionalização dos constructos designa a passagem do

constructo à variável. Enquanto os constructos reportam a “entidades abstratas ou a dimensões latentes do comportamento” (Almeida & Freire, 2008, p. 53), as variáveis traduzem-se nos indicadores dos constructos, ou seja, operacionalizam e definem os constructos em termos concretos, observáveis e mensuráveis.

Interorganizacional constitui, no conjunto dos instrumentos de medida construídos, uma exceção. Face aos objetivos estabelecidos para o presente estudo, aplicaram-se os tradicionais parâmetros utilizados e recomendados no contexto da metodologia de análise de redes sociais para a construção de questionários (e.g., Knoke & Yang, 2008; Wasserman & Faust, 1994), envolvendo um diferente tipo de formato face ao escolhido para os restantes instrumentos de medida (cf. secção 4.4.3.3. do presente capítulo).

No que concerne ao processo de operacionalização dos constructos, este teve, na sua essência, dois principais pilares de sustentação inicial. Por um lado, considerou-se o reconhecimento etnográfico da rede associativa empresarial em estudo, atendendo à sua estrutura formalizada, à sua missão e visão, aos seus objetivos, bem como ao seu modus operandi em termos formais e informais. Os diversos contatos estabelecidos e mantidos com elementos do topo estratégico, assim como com outros colaboradores do CEC/CCIC constituíram um meio privilegiado de recolha de informações facilitadoras do processo de construção de conhecimento acerca da realidade em estudo (e.g., Netemeyer et al., 2003; Spector, 1992). Neste âmbito, é de referir os momentos de interação que proporcionaram a oportunidade de serem colocadas questões e induzidas reflexões, através das quais se procurou a exploração dos sentidos e significados das ligações entre as características da realidade associativa empresarial e seus atores, e os constructos e variáveis que constituem o foco de operacionalização e de análise na presente investigação. Adicionalmente, a pesquisa e análise documentais a que se procedeu (cf. secção 4.3.1. do presente capítulo) constituíram igualmente meios que possibilitaram e facilitaram uma construção estruturante e estruturada de conhecimento acerca da rede associativa empresarial da região centro.

Por outro lado, a literatura revista foi determinante para esta fase do nosso trabalho, na medida em que constituiu o pilar de sustentação central e de orientação fundamental em todo o processo de operacionalização dos constructos em estudo. Para a seleção das fontes bibliográficas de referência, neste âmbito, considerou-se como critério a apresentação de uma definição conceptual e operacional dos constructos por parte dos autores, bem como (quando possível) de instrumentos de medida que pudessem ser disponibilizados e consultados, no sentido de serem utilizados como ponto de partida para a construção dos indicadores de medida (e.g., Spector, 1992). Deste modo, a revisão de literatura apresentada na parte relativa ao estudo teórico do presente trabalho não pode ser desvinculada deste processo de operacionalização de constructos e definição de variáveis de medição, pelo que as fontes bibliográficas apresentadas reportam igualmente às já referenciadas. O Quadro 4.5 apresenta uma síntese das principais fontes bibliográficas de suporte às quais se recorreu no processo de construção dos instrumentos de medida utilizados. De referir que para a construção do Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional, para além das fontes referenciadas no Quadro 4.5, foi tida igualmente em consideração a literatura especificamente dedicada à metodologia de análise de redes sociais (e.g., Knoke & Yang, 2008; Wasserman & Faust, 1994).

Quadro 4.5

Principais Fontes Bibliográficas para a Construção dos Instrumentos de Medida

Instrumentos de medida Fontes bibliográficas

Autores Nível de análise em foco

Questionário de Comprometimento na Rede (QC-R) Allen e Meyer (1990, 1996) Clarke (2006) Meyer e Allen (1991, 1997) Quijano et al. (1997, 1999) Organizacional Interorganizacional Organizacional Organizacional Questionário de Capacidade de

Absorção Organizacional (QCA-O)

Cohen e Levinthal (1990) Ko et al. (2005) Lee (2001) Nieto e Quevedo (2005) Szulanski (1996) Tu et al. (2006) Organizacional Organizacional Organizacional Organizacional Organizacional Organizacional Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional (QPC-I) Balestrin et al. (2008) Balestro (2006) Cardoso (2007)

Cross, Parker, Prusak, e Borgatti (2001) Janowicz-Panjaitan e Noorderhaven (2008) Marques, Cardoso, e Zappalá (2008) McLeod (2010) Retzer (2010) Sammara e Biggiero (2008) Simonin (1999) Singer e Kleger (2004) Provan et al. (2005) Wittmann et al. (2008) Wong (2008) Interorganizacional Organizacional Organizacional Organizacional Interorganizacional Organizacional Interorganizacional Interorganizacional Organizacional e Interorganizacional Interorganizacional Interorganizacional Interorganizacional Interorganizacional Grupal Questionário de Confiança Interorganizacional (QC-I) Becerra et al. (2008) Blomqvist (1997) Doney e Cannon (1997) Gulati (1995) Gulati e Sytch (2008) Ko et al. (2005) Mayer e Davis (1999) Mayer e Garvin (2005) Mayer et al. (1995) Schoorman et al. (2007) Interorganizacional Interpessoal Interorganizacional Interorganizacional Interorganizacional Interorganizacional Grupal Organizacional Organizacional Questionário de Utilização do Conhecimento Partilhado (QUCP)

Bierly et al. (2009) Cross e Sproull (2004) Ko et al. (2005) Simonin (1999) Soo e Devinney (2004) Szulanski (1995, 1996) Provan et al. (2005) Wittmann et al. (2008) Interorganizacional Organizacional Organizacional Interorganizacional Interorganizacional Organizacional Interorganizacional Interorganizacional

Questionário de Valor Instrumental da Rede (QVI-R)

Balestro (2006) Rede

Considerando as bases de sustentação explicitadas anteriormente, formulou-se um primeiro conjunto de itens para cada um dos constructos em estudo. Neste âmbito, atendeu-se à orientação dada pela literatura da especialidade, que refere que o número inicial de itens deve ser superior àquele que se pretende conservar

nas respetivas versões finais (e.g., Almeida & Freire, 2008; DeVellis, 2003; Moreira, 2004; Netemeyer et al., 2003; Spector, 1992).

No sentido de serem garantidas algumas propriedades das medidas, foram igualmente tidos em consideração alguns princípios gerais para a formulação dos itens e questões (e.g., Almeida & Freire, 2008; DeVellis, 2003; Fink & Kosecoff, 1985; Netemeyer et al., 2003; Spector, 1992). Especificamente, esteve presente a preocupação em formular itens e questões que se pautassem pela objetividade, simplicidade e clareza. Adicionalmente, procurou-se garantir a sua relevância face aos constructos em investigação, assegurando, tanto quanto possível, um nível razoável de diversidade e homogeneidade no seu conteúdo. Deste modo, procurou-se assegurar que os indicadores de medida se revestissem de significado, se ajustassem e traduzissem, tanto quanto possível, o contexto e realidade das organizações na rede em estudo, tendo especial atenção em assegurar a isenção de terminologia técnica e juízos de valor, bem como de ambiguidades na construção frásica e terminologia adotada, suscetíveis de enviesar as respostas obtidas.

Atendendo às orientações referidas anteriormente, o conjunto inicial de itens e questões foi sendo alvo de um contínuo aperfeiçoamento, conducente, tanto quanto possível, a instrumentos de medida parcimoniosos quer ao nível qualitativo, quer quantitativo (e.g., DeVellis, 2003).

Relativamente à escala de medida, a decisão recaiu sobre a utilização do modelo aditivo ou escala de

Likert, com 5 pontos referenciados e sequenciais, definida pelo nível (ou magnitude) de concordância, em

função da seguinte classificação (ou descrição) semântica: 1 - discordo totalmente; 2 - discordo; 3 - nem concordo

nem discordo; 4 - concordo; 5 - concordo totalmente (e.g., Spector, 1992; Netemeyer et al., 2003). Como referem

Almeida e Freire (2008), uma escala com demasiados pontos pode contrariar os esforços de objetividade na formulação dos itens, na medida em que podem acrescer dificuldades, por parte dos respondentes, em precisarem as distâncias entre os vários pontos e posicionarem-se na escala114. Por sua vez, este aspeto pode acrescentar dificuldades à validade e fiabilidade dos instrumentos de medida (Netemeyer et al., 2003). Assim, a opção por uma escala de medida com cinco pontos foi considerada adequada para os objetivos pretendidos. De referir que o tipo de resposta, bem como as opções de resposta para o conjunto de questões e itens que compõe o Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional seguiu igualmente os formatos aplicáveis aos questionários construídos no âmbito da metodologia da análise de redes sociais (cf. secção 4.4.3.3. do presente capítulo).

No que se refere à organização dos itens, esta seguiu a orientação de duas estratégias sequenciais. Primeiramente, optou-se por organizar o conjunto dos itens, separadamente, em função de cada um dos constructos que operacionalizavam. Posteriormente, aplicável aos casos cujos itens se encontram sob a forma de afirmações, procedeu-se para cada um dos instrumentos de medida a uma aleatorização na sequência de apresentação dos seus itens115. Para esse efeito, recorreu-se a um processo de aleatorização,

114 Adicionalmente, é de referir que a ideia de que as escalas que contemplam entre 5 e 11 pontos são as mais adequadas é

considerada relativamente consensual (Friedman & Friedman, 1986). Tal como referiu Moreira (2004), “os ganhos obtidos com a adição de mais pontos na escala são mínimos e muitas vezes não compensadores face à maior complexidade que isso acarreta” (p. 68). As reflexões apresentadas por DeVellis (2003), a este propósito, definem-se em igual sentido.

115 Segundo Almeida e Freire (2008), o agrupamento dos itens de acordo com as especificidades do seu conteúdo deve ser

executável mediante a rotina complementar (syntax files) do programa informático SPSS (Statistical Package

for the Social Sciences) (Alferes, 2002).

A formulação das instruções constitui uma etapa à qual deve ser igualmente dada a devida atenção. Tal como referiram Almeida e Freire (2008) “alguns dos problemas na avaliação começam pela pouca atenção dada a estes pormenores iniciais (…)” (p. 140). Entre as principais desvantagens associadas à técnica de recolha de dados utilizada no presente trabalho (questionário autoadministrado), encontra-se a dificuldade em garantir que as instruções e o sentido atribuído às questões sejam correta e uniformemente apreendidos e interpretados pelos respondentes (e.g., Moreira, 2004; Spector, 1992). Com vista a minimizar esta limitação, uma das preocupações à qual se procurou atender foi, primeiramente, a escolha da terminologia utilizada. De modo a assegurar a legibilidade das instruções formuladas para cada instrumento de medida, procurou-se, assim, adotar uma terminologia simples e objetiva.

Para além dos referidos cuidados com a forma, procurou-se igualmente selecionar criteriosamente os conteúdos a serem incorporados, considerando especificamente: (i) informações sobre a tarefa de avaliação pedida (i.e., a que constructo particular se referem os itens/questões); (ii) diretrizes de utilização da escala; e (iii) construção de um referencial comum, no sentido de se assegurar que os respondentes partiam para as suas respostas com referenciais similares116 e, tanto quanto possível, próximos dos nossos (Almeida & Freire, 2008; Spector, 1992). Assim, na formulação das instruções, integrou-se a explicitação dos objetivos operacionais subjacentes a cada instrumento de medida, o enquadramento no tempo da informação pretendida (e.g., Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional), a explicitação sobre como proceder ao preenchimento, bem como a referência a aspetos que mereçam cuidados especiais (quando necessários) (Moreira, 2004).

Após a implementação do conjunto de etapas e de procedimentos anteriormente explicitado, deu-se por concluída a fase de construção das versões preliminares dos instrumentos de medida. Estas mesmas versões foram submetidas, posteriormente, a procedimentos de análises qualitativas e quantitativas, no sentido de averiguar a sua validade de conteúdo. Seguidamente, a fase conducente à obtenção das versões finais dos instrumentos administrados na recolha de dados será foco de explicitação.

116 Tal como referiu Spector (1992), os respondentes interpretam as descrições segundo as idiossincrasias dos seus quadros de

referência, pelo que as instruções devem, assim, contribuir para reduzir esse mesmo nível de idiossincrasia, bem como para a redução de erro.

4.4.2. Validade de Conteúdo dos Instrumentos de Medida

A validade de conteúdo reporta-se à adequação dos itens de um instrumento de medida face ao constructo que se pretende medir (Fink & Kosecoff, 1985; Nunnaly, 1978; Pasquali, 2007), considerando a dupla orientação, relevância e representatividade117 (Messick, 1980). Neste âmbito, considera-se igualmente a adequação dos itens à população a que se destinam, em termos da sua clareza e compreensibilidade (DeVellis, 2003; Netemeyer et al., 2003).

Como referiram Netemeyer et al. (2003), as preocupações com a validade de conteúdo de um instrumento de medida devem estar presentes desde a implementação dos procedimentos iniciais conducentes à sua construção. Deste modo, com intuito de maximizar (e averiguar) a validade de conteúdo dos instrumentos de medida, para além das ações referidas anteriormente (cf. secção 4.4.1. do presente capítulo), foram implementados procedimentos de estudo piloto, mediante o recurso a três etapas. Num primeiro momento, as versões preliminares foram submetidas à consideração de dois investigadores, no domínio académico da psicologia das organizações, em particular na área da gestão do conhecimento organizacional (DeVellis, 2003; Fink & Kosecoff, 1985; Netemeyer at al., 2003). Esta etapa teve como objetivo primordial obter, por parte de peritos, a reflexão e apreciação críticas relativamente ao grau de adequação dos itens construídos face aos constructos teóricos que pretendem medir. Adicionalmente, o Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional foi igualmente submetido à análise crítica de um investigador, perito na área da análise de redes sociais. Procurou-se, deste modo, obter a sua apreciação quanto ao conteúdo e formato das questões contempladas, considerando a sua clareza, compreensibilidade e adequação aos objetivos teóricos e empíricos para os quais foram construídas, bem como a possibilidade de existirem outras (importantes para a medição dos constructos) não contempladas (DeVellis, 2003). O processo iniciou-se com a leitura dos itens (e questões) e respetivas opções de resposta, à qual se seguiu a reflexão e discussão acerca da adequabilidade do conteúdo de cada um dos itens face à definição teórico- conceptual dos constructos objeto de estudo. Neste âmbito, sugestões importantes de alteração emergiram. Para além de sugestões de melhoria relativamente à forma de redação de alguns itens, outros foram referenciados para eliminação devido à sua semelhança e redundância. Reportamo-nos, neste caso, a itens iniciais relativos aos Questionários de Valor Instrumental da Rede, de Confiança Interorganizacional e de Capacidade de Absorção Organizacional. Adicionalmente, especificamente no Questionário de Comprometimento na Rede, foi sugerido o acréscimo de três itens118. Por último, no Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional, foram sugeridas algumas alterações nas primeiras opções de resposta para a questão relativa à frequência dessa mesma partilha.

117 O critério da relevância reflete a análise de que as definições mais importantes do constructo aparecem reunidas nos itens do

instrumento de medida. Por sua vez, o critério da representatividade reflete a análise de que os itens que aparecem com maior frequência correspondem às definições mais importantes da descrição do constructo.

118 Especificamente, (a) Esta empresa envolve-se muito nas atividades desenvolvidas na rede associativa da região centro, (b) Esta

empresa sente-se muito satisfeita por pertencer à rede associativa da região centro, e (c) Esta empresa preocupa-se com a reputação da rede associativa da região centro.

Num segundo momento, as versões preliminares foram igualmente submetidas à consideração de dois profissionais, colaboradores com funções próximas do topo estratégico do CEC/CCIC, com conhecimentos acerca da dinâmica funcional e estrutural da rede associativa empresarial em estudo (e.g., DeVellis, 2003; Netemeyer et al., 2003). Esta etapa teve como objetivo nuclear obter a reflexão e apreciação críticas relativamente ao grau de adequação dos instrumentos de medida face à população a que se destinam (DeVellis, 2003; Spector, 1992). O processo teve início com a explicitação dos objetivos gerais da investigação, bem como daqueles subjacentes a cada um dos instrumentos de medida. Seguidamente, foi pedido aos participantes que fizessem uma leitura atenta e uma apreciação crítica aos itens construídos, opções de resposta adotadas e instruções, bem como à estrutura global dos instrumentos de medida. Desta etapa, decorreram duas principais sugestões de alteração relativamente ao Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional. No âmbito das instruções de preenchimento, foi sugerida a introdução de uma definição simples e objetiva sobre o que se entendia por partilha de conhecimento. Adicionalmente, na questão acerca das áreas-alvo de partilha de conhecimento, foi sugerida a introdução de dois itens adicionais119.

Após uma análise cuidada e reflexão ponderada das sugestões obtidas através da implementação das etapas explicitadas anteriormente, foi tomada a decisão de aceitar essas modificações, integrando a sua totalidade no processo de aperfeiçoamento e consolidação dos instrumentos de medida. Particularmente, a sugestão de introduzir uma definição acerca do processo de partilha de conhecimento foi considerada como significativa para assegurar a validade de conteúdo do Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional, na medida em que permitia clarificar e situar os respondentes sobre o tipo de relação que estava a ser alvo de avaliação120. Pela relevância subjacente ao conjunto de informações recolhido, foi tomada a decisão de se proceder à implementação da etapa seguinte através da aplicação de versões preliminares melhoradas e aperfeiçoadas.

A última etapa realizou-se pela aplicação individual dos instrumentos de medida a 10 elementos do topo estratégico de empresas integradas em redes associativas empresariais, operantes no distrito de Lisboa, com o objetivo de averiguar a adequação dos itens construídos, das escalas e opções de respostas adotadas, bem como da estrutura global dos instrumentos de medida à população a estudar (e.g., Netemeyer et al., 2003; Spector, 1992). O processo teve início com a prestação de esclarecimentos acerca dos objetivos da investigação, assim como dos objetivos subjacentes ao estudo piloto e procedimentos que se seguiriam, ou seja, preenchimento e reflexão falada (Almeida & Freire, 2008). Deste modo, após o preenchimento

119 Especificamente, (a) Segurança e saúde no trabalho, e (b) Questões ou assuntos fiscais e administrativos.

120 É de referir que no âmbito da análise de redes sociais tendem a emergir alguns problemas que se prendem com os diversos

significados atribuídos ao conteúdo da relação por parte dos respondentes, trazendo enviesamentos de respostas e de resultados (Burt, 1983b, 1984; Knoke & Yang, 2008; Marin & Hampton, 2007). Por exemplo, Scott (2000) referiu que os constructos alvo de

medição na análise de redes sociais detêm uma componente interpretativa de natureza subjetiva, ou seja, a sua natureza não se caracteriza como sendo inteiramente objetiva. O autor descreveu, como exemplo, a utilização do constructo amigo próximo, utilizado para a caracterização de uma rede de relações de amizade, onde a perceção dos respondentes dependente do significado atribuído subjetivamente à proximidade relacional. Segundo as propostas de Bailey e Marsden (1999) e Scott (2000), uma estratégia passível de minimizar essa dimensão subjetiva corresponde à apresentação prévia e explícita de uma definição acerca do significado do tipo (conteúdo) de relação em estudo, de modo a criar um referencial comum para as respostas às questões. Esta orientação coaduna-se, assim, com a sugestão efetuada pelos participantes do pré-teste implementado e integrada como melhoria no Questionário de Partilha de Conhecimento Interorganizacional.

global dos instrumentos de medida pelos participantes, foram dadas instruções para comunicarem as suas impressões e opiniões face aos itens, às facilidades ou dificuldades encontradas, à suficiência de instruções, ao tempo requerido para preenchimento. Em termos globais, os participantes não referiram dificuldades quer ao nível da compreensão dos itens, quer ao nível da escolha da opção de resposta que melhor refletia a sua opinião. Relativamente às instruções (forma e conteúdo), globalmente, classificaram-nas como claras, suficientes e extensivas.

Adicionalmente, procedeu-se a análises quantitativas simples dos resultados obtidos. No sentido de se